Noites de Alface, longa de ficção de estreia do premiado diretor de curtas e documentarista Zeca Ferreira, professor do curso de documentário da Academia Internacional de Cinema (AIC) do Rio de Janeiro, entrou no circuito nacional de cinemas na semana passada (24/06).
O cineasta, que também assina o roteiro, se inspirou no romance homônimo da escritora e jornalista paulista Vanessa Barbara. Rodado em 2018 na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, o filme é estrelado por Marieta Severo e Everaldo Pontes. “Noites de Alface é um filme sobre a perda, sobre os vazios, os silêncios que se seguem, mas também sobre seguir a vida”, conta Zeca.
A história
Ada (Marieta Severo) e Otto (Everaldo Pontes) passaram a vida toda em uma bucólica cidade no interior, onde todos se conhecem. A rotina pacata do casal e de seus vizinhos ganha contornos de mistério com o sumiço repentino do carteiro. Tentando vencer a insônia com o chá de alface preparado por Ada, Otto atravessa as noites entre espiadas pela janela e a leitura de um intrigante livro de suspense. Dono de uma personalidade mais reservada, ele vê realidade e ficção se embaralharem ao revisitar lembranças e conversas para tentar descobrir o que aconteceu de fato.
“A história dessas pessoas, dessa comunidade que tem uma vida sem grandes acontecimentos, sem grandes aventuras, mas que, ao mesmo tempo, tem uma capacidade de inventar, através da ficção, a vida delas”, diz Marieta Severo.
Elenco e Produção
Além de Marieta Severo e Everaldo Pontes o filme conta no elenco com nomes como João Pedro Zappa, Romeu Evaristo, Pedro Monteiro, Izak Dahora, Teuda Bara, Inês Peixoto e Eduardo Moreira, os três últimos integrantes do Grupo Galpão além de outros professores da AIC: Ana Paula Cardoso assina a Direção de Arte e Lívia Arbex a montagem.
Produzido por Alexandre Rocha e Marcelo Pedrazzi, da Afinal Filmes, com coprodução do Canal Brasil e recursos geridos pelo FSA/BRDE, o longa tem distribuição da Pipa Pictures e conta com recursos do edital da Lei Adir Blanc no lançamento comercial.
Confira a Ficha Técnica e o Trailer do Filme
Direção e Roteiro: Zeca Ferreira Produzido por: Marcelo Pedrazzi e Alexandre Rocha Baseado no livro “Noites de Alface” de Vanessa Bárbara Produção Executiva: Tânia Leite Direção de Fotografia: Miguel Vassy Montagem: Livia Arbex Direção de Arte: Ana Paula Cardoso Som: Etienne Chambolle Figurinista: Fernanda Fabrizzi Maquiagem: Italo Parigi e Matheus Pastricchi Produtor Associado: Vitor Brasil Uma produção Afinal Filmes Coprodução Canal Brasil Distribuição Pipa Picture
A noite de quinta-feira 08/07 será especial, dia do último cineclube do primeiro semestre da Academia Internacional de Cinema (AIC). Para fechar, o filme Druk: mais uma rodada (2020), vencedor da categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2021 e uma indicação ao Bafta de Melhor Ator para Mads Mikkelsen.
O longa de Thomas Vinterberg conta a história de um grupo de quatro amigos, professores entediados com suas realidades, que resolve testar a teoria do psiquiatra Finn Skarderud. Segundo ele, o acréscimo de 0.05% de álcool no sangue seria o segredo para uma vida mais produtiva e alegre. De início os resultados são animadores, porém no decorrer da experiência, eles percebem que as coisas não são tão simples.
A experimento, que vai muito além da bebedeira do grupo, aprofunda-se no tema e fala sobre os efeitos negativos de estar entorpecido para driblar a realidade e a crise de meia-idade.
Filmado depois da morte da filha do diretor, Ida, de 19 anos, que morreu em um acidente de carro.
“O cineasta Guillermo del Toro me perguntou outro dia se foi o filme que me livrou da insanidade. E achei uma maneira muito precisa de definir. ‘Druk’ me afastou da queda livre. Virou um propósito fazer para ela, honrando sua memória”, disse o diretor dinamarquês em entrevista ao Estadão.
Os atores e o Dogma 95
Além de Mads Mikkelsen, o elenco conta com os atores Magnus Millang, Thomas Bo Larsen e Lars Ranthe que dão vida a narrativa. O filme conquistou a Concha de Prata de melhor atuação masculina para seus quatro atores.
Vale lembrar que o diretor é um dos nomes do movimento Dogma 95 ao lado de Lars Von Trier. Juntos, os cineastas criaram o “Manifesto Dogma 95” e o “Voto de Castidade”, estabelecendo algumas regras para o fazer cinematográfico, baseadas em valores tradicionais – como história, atuação e tema, desprezando o uso de efeitos especiais elaborados ou de recursos tecnológicos. Foi uma forma de colocar novamente o poder nas mãos do diretor, como artista, ao invés de simplesmente dar aos estúdios a autonomia sobre a criação dos filmes.
Onde assistir
O filme está disponível no NOW e para alugar ou comprar na Apple TV e no Google Play.
Assista ao filme e participe da discussão na próxima quinta 08/07, às 18h30, no canal do Youtube da escola.
Estreia amanhã (25/06) no Canal Brasil, às 21h30, a série original de ficção “Colônia“, de André Ristum. Todos os dez episódios estarão disponíveis nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay e o primeiro episódio estará disponível para não-assinantes por sete dias.
A história
Baseada em uma dolorosa história real, a trama é uma adaptação inspirada no livro “Holocausto Brasileiro“, de Daniela Arbex, e na história real das pessoas que passaram pelo Hospício Colônia, em Barbacena, Minas Gerais, no qual milhares de pacientes foram internados à força e em alguns casos até mesmo exterminados. Os internos, muitos sem qualquer diagnóstico de doença mental, sofreram abusos, maus tratos, violência, tortura e encarceramento indevido.
A produção conta a história de Elisa (Fernanda Marques), uma jovem de vinte anos que chega ao Hospício grávida de quatro meses de sua grande paixão juvenil e foi enviada para o local pelo pai, Júlio (Henrique Schafer), que fica enfurecido ao descobrir que a filha arruinara seus projetos de casá-la com um rico vizinho de fazendas. Elisa logo se depara com a verdadeira loucura ali presente, mas rapidamente consegue descobrir que, assim como ela, muitas outras pessoas sem nenhum tipo de diagnostico de doença mental estão internadas.
O Elenco
“Colônia” é uma produção de Sombumbo e Tc Filmes, em coprodução com a Gullane, produzida por André Ristum e Rodrigo Castellar. A produção e direção de elenco foi feita pela professora do Curso Técnico em Atuação para Cinema e TV da AIC, a cineasta Alessandra Tosi. Estrelada por Fernanda Marques no papel da jovem Elisa, a série tem no elenco atores como Andréia Horta, Augusto Madeira, Naruna Costa, Bukassa Kabengele, Arlindo Lopes e Rejane Faria, além de participações especiais de Stephanie de Jongh, Rafaela Mandelli, Christian Malheiros, Eduardo Moscovis, Marat Descartes, Nicola Siri e conta com os ex-alunos Camila Maria, Bruno Hoffmann, Guilherme Dourado, Barbara Barroso, Silvio Junior e Mauricéia Rocha. A professora e coordenadora do curso, Vanessa Prieto, também fará parte da série.
Estreia amanhã, 25 de junho, às 21h30 no Canal Brasil e horários alternativos na madrugada de sábado/domingo, 1h55, e madrugada de segunda/terça, 0h55.
Cantareira, curta do ex-aluno da Academia Internacional de Cinema (AIC) Rodrigo Ribeyro, foi selecionado para o Festival de Cannes 2021, na Cinéfondation, mostra dedicada a produções estudantis. O curta foi produzido como trabalho de conclusão do curso Filmworks – o curso técnico com ênfase em direção cinematográfica da escola e contou com a participação de outros alunos da AIC.
Em 23 minutos de duração, a obra narra a história de Bento, trabalhador e morador do centro de São Paulo, que decide voltar ao lugar onde cresceu, a casa do avô Silvio na Serra da Cantareira, buscando não somente a paz, mas também um emprego.
Em uma bate-papo virtual, Rodrigo contou como foi o todo o processo para a realização do filme.
AIC – Fale um pouco sobre a construção do roteiro Rodrigo Ribeyro: O roteiro vem parcialmente de uma experiência pessoal, que foi a minha mudança da Serra da Cantareira para o centro de São Paulo quando eu tinha 16 anos. Eu cresci nesse lugar tranquilo, aonde o tempo corre (ou corria) numa outra velocidade e aonde o som colabora (ou colaborava) para um estado muito mais sereno do que aquele que eu encontrei quando me mudei. Chegar no centro de São Paulo e perceber todas essas diferenças foi a faísca, foi a sensação que passou a me habitar desde 2012 e que moldou minha visão de mundo, de vida. Junto disso, já no centro, eu era vizinho de uma lanchonete no estilo PF (prato feito). Frequentava lá quase que diariamente, muitas vezes só pra conversar e acabei desenvolvendo uma intimidade com os trabalhadores desse lugar. Com eles, de forma recíproca, dialogava sobre questões mais cotidianas como futebol, notícias ou acontecimentos do bairro, mas também sobre família, passado, saúde, política e planos para o futuro. Muitos desses trabalhadores moram no local de trabalho, inclusive. Através desse contato, resolvi combinar a minha experiência com a deles e, assim, criar o personagem do Bento.
AIC – Como foi a produção do filme Rodrigo Ribeyro: Foi um processo de aprendizado extremo, não só no sentido organizacional de estrutura de produção, mas também no entendimento das emoções que perpassam, das relações que se dão e também do prazer que é filmar algo com vontade. Sou extremamente grato a todos que toparam fazer esse filme comigo pois não só abraçaram um projeto de formação, mas estiveram abertos para trabalhar com um diretor em formação, lidando com seus vários anseios e expectativas. É importante humanizar esses processos porque eles não são cartesianos, principalmente num início de trajetória. Acho muito bonito e necessário olhar para o Cantareira não só como um filme, mas uma experiência coletiva de aprendizado e amadurecimento, algo tão importante quanto o próprio resultado.
AIC – Como foi a relação com os alunos de outros cursos da AIC? Rodrigo Ribeyro: São vários os colegas, funcionários, professores que de alguma forma ajudaram o filme, seja discutindo o projeto comigo ou conversando e compartilhando momentos. Acho importante que um ambiente criativo se desenvolva de forma acolhedora. Tentei colocar nos agradecimentos os nomes de todos que sinto que, de coração aberto, fizeram parte disso. Dentro dessas relações, é importante citar que grande parte da equipe se deu na união de estudantes de diferentes cursos da instituição. A equipe de produção formada por Isis Ramos, Wagner Vieira e Juliana Cristina Santos veio toda do curso de produção da AIC, com indicação e colaboração vital da Professora Alessandra Haro. A diretora de arte, Gabriela Taiara, foi aluna do curso de direção de arte da AIC. Eva Moreira, assistente de direção, e Dani Drumond, diretor de fotografia, foram alunos do Filmworks. Além disso, dois integrantes do elenco foram alunos do curso de atuação para cinema coordenado por Vanessa Prieto. Eles são Guilherme Dourado e Emiliano Favacho, este último inclusive intérprete do personagem principal. Menciono aqui também Almir Guilhermino, Margot Varella e Gelson dos Santos, atores externos à AIC que completam o elenco do filme e também Shay Peled e Uirá Ozzetti , que forneceram contribuições essenciais ao projeto. Nina Kopko, Leandro Afonso, Teresinha Cipolotti, Antonio Vanfill, Dicezar Leandro, Eduardo Chatagnier, Pedro Jorge, entre outros, são alguns professores sempre abertos ao diálogo e a troca, elementos tão valiosos para um projeto, ainda mais no âmbito escolar.
AIC – O que representa essa seleção para Cannes Rodrigo Ribeyro: Acho que vai muito da perspectiva pela qual você escolhe observar. É claro que é um feito que traz reflexões, que me trouxe questões dentro de um projeto de carreira, dentro de possíveis caminhos a seguir, mas é um momento muito específico de um processo muito mais amplo. Tento aceitar a ideia de que, de certa maneira, o filme consegue comunicar alguma coisa. Eu, particularmente, sou muito envolvido no som do filme. Foi tendo aula com Lina Chamie e com Larissa Figueiredo que pude me questionar sobre o trabalho de som que gostaria de desenvolver e como esse recurso contribuiria para criar atmosferas que dialogassem com a subjetividade dos personagens. Mas falo do som apenas porque foi um processo desenhado por mim, contando obviamente com toda sensibilidade e capacidade técnica do Uirá Ozzetti, responsável pelo som direto, e de Ricardo Zollner, que fez a mixagem. Mas quero, principalmente, que essa seleção funcione como combustível para criar mais e para que todos envolvidos sintam-se energizados e potencializados. Assim como desejo que as ambiguidades da experiência de vida urbana ou dessa estrutura econômica centralizada sejam expostas e revistas. São Paulo concentra renda, concentra gente, concentra desigualdades e concentra violências. Não há necessidade de uma geografia tão egocêntrica.
AIC – Novos Projetos pela frente? Rodrigo Ribeiyro: Tenho alguns projetos de curta escritos, entre eles um em especial que está pronto pra ser filmado. Falta só o financiamento. Além disso, tenho um projeto híbrido sem duração definida. A filmagem responderá isso, mas a tendência é que seja um longa. Além disso, estou desenvolvendo o roteiro de um longa de ficção. Também pretendo aprofundar meus trabalhos com música, tanto no sentido de composições próprias quanto no sentido de aplicar o audiovisual ao trabalho de outros artistas. Clipes, programas, entrevistas, documentários… Enfim, pretendo manter o audiovisual e a música bem presentes na minha vida.
O FestCurtas Fundaj 2021 – II Festival Nacional de Curtas do Cinema da Fundação On-line está aberto a realizadores de todo o Brasil, residentes ou não no país, até o dia 5 de julho. O evento será realizado de 28 de julho a 01 de agosto. Na sua primeira edição, o FestCurtas recebeu mais de 500 filmes vindos de várias partes do Brasil. O festival atraiu mais de 100 mil acessos aos 44 curtas selecionados.
Podem ser inscritos filmes de até 30 minutos, sejam ficção, documentário ou animação, produzidos a partir de junho de 2019. A inscrição é gratuita e deve ser efetuada, exclusivamente, com o preenchimento da ficha disponível no site do festival.
O sistema de estúdio (Studio System) que dominava Hollywood desde os anos 1930 até o final da década de 1940, sempre esteve atrelado ao fato de que a produção cinematográfica visava única e exclusivamente o lucro, a compensação financeira. Esse sistema funcionava como a indústria de produção automobilística: produção, direção, roteiro, distribuição e comercialização eram peças independentes que se juntavam para entregar o produto final, como numa linha de montagem dos automóveis. Toda essa engrenagem era operada sob as ordens e a supervisão dos executivos dos grandes estúdios.
O sistema de estúdio se estabeleceu como uma força propulsora de lucro, começou a sofrer o primeiro revés com o advento da televisão, na década de 1950, que mantinha grande parte dos espectadores em casa, longe dos cinemas, portanto sem pagarem ingresso.
Após a derrubada da lei que garantia esse sistema, Hollywood teve de se reinventar, produzindo filmes de grande orçamento, épicos e espetaculares, com inovações como a “widescreean”, exatamente para fazer frente à “telinha” dos aparelhos de televisão.
A seguir, na década de 1960, marcada pelos movimentos pelos direitos civis dos afroamericanos e protestos contra a guerra do Vietnã, Hollywood é vista como algo que vai na contramão da “contracultura”, que propagava a liberdade em todas as esferas da população civil.
Aliado a todos esses movimentos, chegava aos Estados Unidos os ecos da “Nouvelle Vague” (movimento do cinema francês que pregava o cinema “autoral”, onde o diretor deveria ter toda a liberdade para fazer o seu filme), que inspiraram diretores e produtores independentes.
Apesar de perderem o completo domínio sobre seus filmes, os executivos dos grandes estúdios ainda exerciam o poder de interferir nas decisões dos profissionais contratados para cada filme (não eram mais funcionários dos estúdios), sobretudo sobre a escalação de elenco e direção.
Nesse contexto aparece o diretor Francis Ford Coppola, que de posse de um Oscar pelo roteiro de “Patton“, filme de grande sucesso de público, foi convidado pela Paramount Pictures para dirigir a adaptação do livro “The Godfather” de Mario Puzo, que aliás já tinha feito a versão para o cinema.
Vale ressaltar que Coppola não foi o primeiro nome cogitado pela Paramount, mas surgiu depois da recusa dos diretores Sergio Leone e Peter Bogdanovich (ambos já consagrados no circuito independente, à margem de Hollywood). Ele não havia ainda obtido sucesso e se encontrava endividado na ocasião, daí aceitou a missão com reservas, pois sabia o que iria enfrentar: a interferência do estúdio nas suas decisões. Só que isso não o impediu de bater de frente com o produtor sobre a contratação do elenco – os nomes de Marlon Branco e Al Pacino não eram aceitos, sobre a época em que se passaria história – o estúdio queria adaptar o livro para a então década de 1970, visando uma contenção no orçamento, e novamente Coppola manteve-se irredutível em filmar como no livro original (a década de 1940).
Um detalhe importante dessa nova geração de profissionais do cinema, é que eles frequentaram universidades do cinema (Coppola veio da UCLA – Faculdade de Cinema da Universidade da Califórnia) chegando na “Nova Hollywood” com ideias e posturas revolucionárias que não cabiam mais naquele controle que Hollywood exercia até então, anteriormente pelo “Studio System”, e depois pela pressão dos produtores a mando dos executivos dos grandes estúdios.
Assim, Francis Ford Coppola com sua postura irredutível em dirigir “O Poderoso Chefão” fielmente de acordo com as suas ideias, abriu caminho para que a indústria Hollywoodiana entendesse que os filmes, apesar de “independentes”, poderiam gerar muito lucro (“O Poderoso Chefão” teve um orçamento de U$8 milhões, e arrecadou U$300 milhões).
Coppola também carimbou definitivamente a expressão “Cinema de Autor”, quando o diretor tem absoluta liberdade para filmar de acordo com as suas ideias e conceitos, sem a interferência de produtores e executivos da indústria cinematográfica.
Após dois anos da estreia, Coppola filmou a continuação do “O Poderoso Chefão” com toda a tranquilidade e liberdade dadas pela mesma Paramount Pictures.