Entre os dias 31 de julho a 03 de agosto, a partir das 19h, a Academia Internacional de Cinema (AIC) apresenta a 11ª edição da Semana de Cinema e Mercado AIC, com convidados que irão debater sobre temas fundamentais e que estão aquecendo a indústria do cinema: Trabalho, Festivais, Streaming e Inclusão.
O tradicional evento abre o segundo semestre do Curso Filmworks e promete movimentar a comunidade audiovisual, trazendo reflexões sobre a relação de trabalho no audiovisual, as produções brasileiras em plataformas de streaming, festivais nacionais e internacionais e a inclusão no cinema.
Inscrições Encerradas para o evento!
Confira os temas e os dias das palestras:
Dia 31/07
Mesa sobre Direitos e Relações de Trabalho no Audiovisual
Sônia Santana
Coordenadora de produção audiovisual e presidente do Sindcine, Sindicato dos Técnicos do Cinema e Audiovisual. Ela acompanha diariamente questões trabalhistas dos profissionais que atuam na produção de séries, filmes e documentários, é hoje uma das lideranças mais importantes do País no audiovisual, e é consultada constantemente em questões políticas e econômicas relativas ao setor.
Jandilson Vieira
Profissional com experiência em atuação, direção artística, direção de arte, roteiro e produção. Formado em Artes Cênicas, explora diferentes aspectos da dramaturgia e do teatro. Além disso, é diretor financeiro na Sated SP – Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo.
Rita Teles
Mulher preta, descendente de afro-mineiros, é atriz, produtora cultural de artes negras de afro-brasileiros e africanos em diáspora, arte educadora, artvista, articuladora de micropolíticas e vice-presidenta do Sated SP.
Gabrielle Araújo
Atriz, comunicadora, produtora cultural e curadora artística. Também ocupou a Coordenadoria de Programação e Projetos Especiais da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, dirigindo a curadoria e a organização de eventos como Virada Cultural, Circuito Municipal de Cultura e Aniversário de São Paulo.
Dia 01/08
Panorama dos Festivais Nacionais e Internacionais
Eduardo Valente
Desde 2016 é membro da equipe de programação do Olhar de Cinema – Festival Internacional Curitiba, assim como delegado para o Brasil do Festival de Berlim. Como cineasta, ganhou o Primeiro Prêmio da Cinefondation do Festival de Cannes em 2002, realizou outros dois curtas e um longa metragem, todos também exibidos no Festival de Cannes, entre outros festivais pelo mundo. Dirigiu o setor internacional da Ancine (Agência Nacional de Cinema) e trabalhou como programador em inúmeros festivais de cinema no Brasil.
Dia 02/08
Mesa sobre Produções Brasileiras nas Plataformas de Streamming
Fábio Cesnik
Ex-presidente da Comissão de Mídia e Entretenimento, do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), e ex-presidente da Comissão de Direitos Autorais, Imateriais e Entretenimento, da OABRJ. Desde 2010, é listado como principal referência na área de Mídia & Entretenimento pelo guia Chambers.
Fabiano Gullane
Sócio-Diretor da Gullane Filmes, com mais de 25 anos de uma vasta experiência de criação, produção e comercialização das produções para TV e cinema que realiza. No mercado internacional é reconhecido como um dos principais articuladores da nova onda do audiovisual brasileiro pelo mundo, sendo o responsável direto pela difusão e exportação de dezenas de produções brasileiras para os mais diversos países.
Dia 03/08
Mesa Caminhos para Inclusão no Audiovisual
Andrey Haag
Nascido em Ribeirão Pires, criado na periferia de Praia Grande, litoral de São Paulo, Andrey é fotógrafo , diretor , produtor audiovisual autodidata e articulador social periférico desde 2016. Direciona seu trabalho a realização de conteúdos audiovisuais em diálogo com a quebrada, buscando superar uma representação comum pautada por estereótipos de imagens e narrativas.
Luma Reis
Articuladora de inserção e educação continuada no Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, ONG responsável pela formação em audiovisual de jovens em situação de vulnerabilidade social e sócia da empresa OJÔ – Arte, Cultura & Educação.
Julia Barbosa Fonseca
Julia Barbosa Fonseca, 19 anos, técnica em produção multimídia e marketing pela Etec, também técnica em cinema pelo INC. Trabalha com marketing e sustentabilidade em uma construtech em São Paulo. Dentro do Quilombarte atua como Diretora de Fotografia.
SERVIÇO:
ACADEMIA INTERNACIONAL DE CINEMA
Rua Dr. Gabriel dos Santos, 142. Higienópolis – São Paulo.
Dias, 31/07 a 03/08/2023. 19h apresentações (musicais) Talentos AIC – com pipoca. 19h30 início das palestras (término previsto 21h).
Hoje é dia de rock, bebê! No dia 13 de julho é comemorado o Dia Mundial do Rock, uma data que celebra um dos gêneros musicais mais icônicos e influentes da história. O rock teve suas raízes no início dos anos 1920 com a Sister Rosetta Tharpe, uma das poucas mulheres negras que tocavam guitarra naquela época. Após se mudar para os Estados Unidos e se encantar pelo Blues, ela uniu o gênero ao gospel com batidas mais aceleradas, dando origem ao rock!
Desde então, esse gênero musical se espalhou pelo mundo, conquistando corações e revolucionando a música. Com suas letras impactantes, riffs de guitarra enérgicos e uma atitude rebelde, o rock se tornou um fenômeno cultural que atravessou décadas e continua a inspirar pessoas de todas as idades.
Em comemoração, selecionamos 07 obras que exploram o universo do rock de diferentes maneiras, incluindo documentários, minisséries, filmes e comédias musicais.
The Beatles: Get Back (2021)
Uma imersão de quase oito horas que acompanha a banda The Beatles durante os 22 dias de gravação do álbum “Let It Be” em 1969. A série documental, dirigida e produzida por Peter Jackson, conhecido por sua direção na trilogia de “O Senhor dos Anéis“, se baseia principalmente em imagens não utilizadas e material de áudio originalmente capturado para o documentário de 1970 de Michael Lindsay-Hogg, com o mesmo título. Essa série documental oferece um material inédito de uma das bandas mais icônicas do século XX e está disponível no Disney+.
“Pistols” (2022)
Dirigida por Danny Boyle, esta minissérie biográfica conta a história da icônica banda punk Sex Pistols. O filme explora o surgimento da banda, sua conturbada trajetória em um período marcado pelo sexo, drogas e rock ‘n’ roll, até o seu desfecho trágico com a morte do baixista Sid Vicious em 1979. Além de abordar a dinâmica entre os membros dos Sex Pistols, a minissérie mostra o impacto da banda no cenário musical e suas conexões com influentes dos bastidores e da cena musical britânica. Disponível na Star+.
Titãs – A Vida Até Parece uma Festa” (2009)
Este documentário explora a trajetória de uma das bandas mais lendárias do rock nacional, Titãs. A história é contada por meio de imagens inéditas feitas pelos próprios músicos, principalmente Branco Mello, e mostra o dia a dia da banda, as viagens, camarins, discussões, ensaios, shows e gravações. Dirigido por Tony Bellotto e Oscar Rodrigues Alves, o filme aborda desde a formação da banda até o sucesso, explorando os desafios enfrentados ao longo de mais de 25 anos.
“Do ventre à volta” (2018)
Pitty, uma das referências no cenário do rock nacional, além de realizar turnês, também explora outro lado artístico por meio de documentários. São várias as obras em que ela mostra os bastidores de shows, como em Dê um Rolê as gravações de um CD em Pela Fresta e Matriz, que relata sua jornada. No entanto, o destaque de hoje vai para Do Ventre à Volta, um documentário feito pela cantora em parceria com o diretor e fotógrafo Otávio Sousa. O filme conta a história do retorno aos palcos após um período ausente devido à maternidade. É um diário intimista em primeira pessoa que propõe uma reflexão sobre ser mãe e o trabalho. Todos esses documentários estão disponíveis no YouTube.
Chorão – Marginal Alado (2021)
Um dos nomes mais conhecidos no cenário do rock nacional, a série Chorão: Marginal Alado conta de forma profunda e intimista a vida e a carreira do vocalista da banda Charlie Brown Jr., Alexandre Magno Abrão, conhecido como Chorão. Através de depoimentos de familiares, amigos e colegas de banda, a série retrata a trajetória do músico desde sua infância até seu trágico falecimento em 2013. Além de explorar sua influência no cenário musical brasileiro e sua marcante presença nos palcos, o documentário aborda os desafios enfrentados por Chorão, suas lutas pessoais e a intensa relação com as drogas. Dirigido por Felipe Novaes, o documentário oferece uma comovente e memorável imersão na vida e na música de um dos ícones mais emblemáticos do rock nacional e está disponível na Netflix.
Dirigido por Cameron Crowe, este filme é um verdadeiro clássico do rock. A história acompanha um jovem jornalista contratado pela revista Rolling Stone para acompanhar e escrever sobre a banda fictícia Stillwater. Com uma trilha sonora marcante, o filme retrata a emocionante jornada de autodescoberta e amadurecimento do protagonista.
“Escola do Rock” (2004)
Dirigida por Richard Linklater,Escola do Rock é uma divertida comédia que conta a história de Dewey Finn, um músico desempregado e sem perspectivas que se passa por professor substituto em uma escola conservadora. Ao descobrir o talento musical de seus alunos, ele decide formar uma banda de rock, transformando a sala de aula em um verdadeiro palco de rock ‘n’ roll. Com humor, música contagiante e uma mensagem inspiradora sobre a importância da criatividade e paixão pela música, o filme conquistou o público de todas as idades e se tornou um clássico cult do gênero.
Prepare e pipoca e celebre o Dia Mundial do Rock com essa seleção que trazem histórias envolventes e trilhas sonoras marcantes. Viaje pelo universo do rock e mergulhe na cultura e na paixão que envolvem esse gênero musical.
Você conhece todos os cursos de Documentário oferecidos na Academia Internacional de Cinema? Qual tem mais a ver com você?
Documentário Semestral
112 horas e 16 encontros
Um programa completo que aborda desde a ideia geradora até a finalização de um documentário, passando por todo o processo de produção: concepção do roteiro, estrutura narrativa, filmagem e edição. Você irá criar um trabalho autoral pronto para ser apresentado para os players audiovisuais, que podem incluir, entre outros, festivais, canais de TV e plataformas de streaming.
Documentário Online
12 encontros de 1 hora cada
O objetivo do Curso de Documentário Online da Academia Internacional de Cinema (AIC) é fornecer as ferramentas necessárias para que você conheça o campo do documentário, aproprie-se das ferramentas e exercite o fazer documental com técnica e criatividade.
Documentário Musical e Biográfico
36 horas e 12 encontros
O curso apresenta uma visão geral sobre todas as etapas do processo de criação, produção e direção de um documentário sobre músicos / artistas – desde o desenvolvimento da ideia, pesquisa, argumento e roteiro, à produção, finalização e distribuição.
Qual deles combina mais com você? Para saber mais sobre a área confira o artigo Quero Fazer Documentários.
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Estão abertas as inscrições para o Bogotá Short Film Festival – BOGOSHORTS. Filmes de até 30 minutos de duração podem ser submetidos à seleção, desde que não tenham nenhuma exibição pública na Colômbia, não sejam publicados na internet (exceto clipe) e tenham sido realizados após 01 de janeiro de 2022. A inscrição vai até 06 de agosto pelo site.
Como parte do evento, a Competição Internacional receberá cineastas de todo o mundo e irá premiar as categorias de Ficção, Documentário, Animação, Experimental e Videoclipe, oferecendo a chance de conquistar o prêmio Santa Lúcia.
Além disso, os candidatos também poderão se inscrever em duas outras competições. A primeira é a Competição F3 – Fanatic Freak Fantastic, que se destina a curtas-metragens de terror, ficção científica, fantasia e outros gêneros afins. A segunda é a Competição VR, que busca filmes curtos no formato de realidade virtual. A vigésima primeira edição do evento será de 5 a 12 de dezembro na cidade de Bogotá, na Colômbia.
“Ser um corpo trans no Brasil, sobreviver aos 35 anos e viver de arte é um ato radical, insurgente, poético e profundamente transformador. É claro que temos orgulho disso. Você não teria?”.
A fala é de Daniel Veiga, roteirista, dramaturgo, ator e professor da Academia Internacional de Cinema (AIC) no Curso Técnico – Filmworks,
Nesta Dia do Orgulho LGBTQIAP+ entrevistamos Daniel Veiga, um artista que conquistou seu espaço no mercado audiovisual brasileiro. Sua jornada no audiovisual começou na adolescência no teatro da escola, mas foi só em 2009 que ele decidiu abrir mão da carreira corporativa e se dedicar exclusivamente às artes.
Daniel tem participação na sala de desenvolvimento de sitcom pela produtora Floresta, na sala Narrativas Negras pela Paramount e no Colaboratório Criativo, uma iniciativa da AFAR Ventures em parceria com a NETFLIX.
Como ator já acumulou mais de 20 anos de experiência e foi premiado com o KIKITO (Festival de Cinema de Gramado), o Araibu (Festival de Cinema do Vale do Jaguaribe) e o Troféu Vento Norte. Além de participações nos seriados 3% do Netflix e LOV3 da Amazon.
Também é um dos dos cofundadores do CATS – Coletivo de Artistas Transmasculines, que busca promover representatividade e empregabilidade de artistas transmasculines em várias formas de expressão.
Como você sente que o mercado audiovisual trata corpos trans?
Eu vejo que cada vez o tema acerca do gênero e as narrativas trans têm ganhado espaço, sobretudo na ficção. Também acredito que, em termos de ficção, essas narrativas estão começando a evoluir e ficar mais naturais e fluídas.
Mas esse movimento ainda acontece de forma muito lenta, sempre graças ao tremendo trabalho que nós, artistas trans, temos empenhado. Ainda enfrentamos muitos conflitos e falácias, como as acusações de que somos censores ou as produções que insistem em sequestrar nossas narrativas nos ignorando no processo de feitura da obra.
Há uma grande resistência e sinto que ainda não conseguimos fazer com que as pessoas cisgêneras entendam que nossa pauta e nossas demandas são, não só artísticas, mas também políticas e econômicas.
Daniel em filme “Monstro” de Diogo Leite. Crédito: Filmes de Mentira
É possível ver esse mesmo movimento nas contratações de profissionais para compor as equipes?
Ainda são pouquíssimos os profissionais trans circulando nesses espaços, menos ainda nos lugares de tomadas de decisão. E isso porque eu estou falando de São Paulo, que é onde a coisa acontece. Em pleno 2023 o Brasil tem apenas 1 roteirista chefe de sala trans e eu posso contar nos dedos quantos roteiristas homens trans somos.
Se falarmos de interseccionalidades como transgeneridade e raça, as estatísticas são ainda mais terrível. E isso não significa que esses artistas não existam. Esses artistas simplesmente são ignorados. Sem contar os potenciais talentos que sequer chegam a ser descobertos por conta de toda violência envolvendo vidas trans.
Somos uma população cuja adolescência, em grande parte, é expulsa de casa aos 14 anos. Somos uma população com 82% de evasão escolar antes do Ensino Médio. Nossa expectativa de vida permanece em 35 anos e o Brasil ainda lidera o ranking de assassinatos de pessoas trans. Como considero a arte pedagógica e o entretenimento revolucionário, é urgente que a cisgeneridade assuma sua parcela de responsabilidade nesta cadeia cruel e se alie à transgeneridade, trazendo cada vez mais artistas trans para trabalhar consigo e contar suas histórias por meio de seus próprios corpos com trabalho, cachê, prêmios, reconhecimento e por aí vai. Somente assumindo o protagonismo de nossas narrativas, mostraremos ao mundo quem somos de verdade – e de mentira.
Como é a sua visão com relação a atores cis interpretarem uma personagem trans?
Quando vejo um artista cis, por exemplo, abrir mão de um papel trans e evitar a prática do transfake – quando um ator cis faz um personagem trans – é muito mais para evitar um potencial cancelamento do que por consciência do real significado do quão prejudicial esta prática é, não só para artistas trans, mas também para o público trans do outro lado da tela. Além disso, garantir que atores e atrizes trans representem personagens trans é apenas uma parte pequena da luta. A luta é para que artistas trans estejam em TODOS os lugares, incluindo os de criação, os de tomadas de decisão a até fazendo aqueles papeis cuja natureza do gênero não importe (eu mesmo só tenho atuado personagens em que não importa se são homens cis ou homens trans). Precisamos ocupar, portanto, os lugares de roteiristas, diretores, fotógrafos, produtores executivos, etc.
Como é estar em sala de aula como professor?
Certamente eu tenho o olhar mais aguçado e treinado para entender as demandas e discussões de alunos trans, porque essa é minha vivência, este é o meu corpo. E também discuto com propriedade a produção audiovisual que tem a população LGBTQIAP+ – sobretudo a trans – como tema e/ou como realizadora, não por ser trans, mas porque esse é meu campo de estudo já há alguns anos. A questão é: sou completamente apaixonado por dar aula porque eu acredito de verdade na troca. Me considero menos professor e mais um artista com certa experiência que gosta de trocar com outros artistas com certa experiência. Não é mentira nem demagogia quando declaro que eu sempre aprendo quando ensino. Estou à frente de salas de aulas desde 2019 e sempre fui muito respeitado. Além disso eu amo o que eu faço e acho que isso fica à vista de todo mundo.
Daniel é premiado com o troféu KIKITO
Você considera importante pessoas trans compartilharem sobre suas realidades para ampliar esse diálogo ou é uma característica particular sua e que tem relação com seu trabalho artístico?
Eu sou uma pessoa do diálogo, antes de tudo. Se não fosse, não daria aula, ainda mais de dramaturgia. Entendendo que cada um tem seu tempo e contanto que sua vida não esteja em risco, acho importantíssimo que artistas trans assumam e reforcem sua identidade e posição política sempre que puderem. Mais que isso, acho estratégico.
Cada artista que assume que é trans é mais uma pessoa trans vista nas telas no dia a dia. Hoje em dia, você chega do trabalho, vai preparar a janta enquanto deixa rolar a novela das sete e BAM! Tem um corpo trans e preto lindo e talentoso lá [em referência a Alan Oliveira na novela Vai Na Fé!]. Você bota um filme ou uma série no Streaming e tem uma história sexy e envolvente, um suspense porreta, uma comédia romântica ou um terror de dar medo e são todos protagonizados por corpos trans de verdade, feitos por artistas assumidamente trans.
E assim, nossos corpos vão ficando naturalizados entre Kikitos e Óscars, entre blockbusters e filmes de arte. E nós, cada vez mais orgulhosos de dizer quem somos porque, sim, isso é motivo de orgulho.
O mercado da dublagem está bastante aquecido atualmente devido ao número de obras sendo produzidas para diversos serviços de streaming, exigindo que novas vozes sejam inseridas nos estúdios. O streaming permite que o público tenha acesso a outras histórias em idiomas além do Inglês, aumentando o volume de produções que precisam passar pelo processo de dublagem. Isso sem falar nos games. Ser um dublador ou uma dubladora, hoje mais do que nunca, é uma escolha que vai ao encontro de uma demanda crescente da indústria do entretenimento.
Para se aprofundar na profissão, é preciso entender um pouco de como o som chegou ao cinema. A cena é icônica: Cosmo Brown, interpretado por Donald O’Connor, tem a ideia de dublar a atriz de um filme (Lina Lamont, interpretada por Jean Hagen) com a voz de uma outra atriz (Kathy Selden, vivida por Debbie Reynolds). Em Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, 1952), acompanhamos esse momento em que os envolvidos na produção de um um longa-metragem descobrem que podem utilizar outras vozes para substituir as vozes dos atores filmados nos sets. Sob diferentes ângulos, esse momento crucial para o cinema como conhecemos hoje ganhou contornos de ficção também nos filmes O Artista (The Artist, 2011) e Babilônia (Babylon, 2022).
Antes da dublagem e da legendagem serem consideradas solução para a exportação de filmes para públicos estrangeiros, os estúdios desenvolveram produções multilíngues. Nelas, um mesmo filme era rodado simultaneamente em outros idiomas, algumas vezes ao mesmo tempo e com um mesmo diretor. Essa abordagem inflou os orçamentos e o método foi usado apenas por um breve período, entre 1929 e 1933.
Uma opção às legendas, a dublagem traz para filmes estrangeiros vozes no idioma do país de exibição, sendo mais ou menos popular de acordo com a cultura local. No Brasil, um dos primeiros filmes a serem dublados foi Branca de Neve e os Sete Anões, em 1938 – 11 anos depois do lançamento do primeiro filme que marca o nascimento do cinema sonoro: O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927). Já o primeiro filme que permitiu gravar outras vozes em estúdio para substituir as originais captadas no set foi The Flyer (1930), resolvendo o problema para os donos dos estúdios.
A era do cinema falado mudou os filmes e a forma como eles eram produzidos. Mudou também a forma como eles seriam distribuídos, pois a dublagem seria uma nova etapa que deveria entrar na lógica de produção de cada um deles. Anterior a isso, bastava que as cartelas com os diálogos dos filmes fossem trocadas de acordo com o idioma do país onde eles seriam exibidos.
O Brasil, ao lado de França, Espanha, Itália e Alemanha, é reconhecido pelo mercado por ter uma das melhores dublagens do mundo devido ao tempo que esses países vêm aprimorando a técnica e o quanto os filmes dublados são difundidos no mercado interno. Já países que possuem o inglês como segunda língua acabam preferindo as legendas.
Veja também nossos outros artigos da série Profissões do Cinema:
Primeiro, é preciso diferenciar rapidamente a dublagem de outro formato, para fins de entendimento: o voice over. Esta técnica grava a voz de um narrador por cima do áudio original e é muitas vezes utilizada em matérias jornalísticas internacionais ou documentários para televisão, por exemplo. O voice over se diferencia tanto no conteúdo final para o qual a dublagem se destina, quanto na técnica, uma vez que a dublagem envolve uma mixagem de som mais detalhada já que os estúdios recebem o projeto com cada faixa de áudio separada no software de edição, sendo assim possível substituir apenas a voz do ator sem alterar a trilha e efeitos sonoros.
Retomando: Seja pelo aspecto cultural ou gosto pessoal, a opção por ver um filme com o idioma original ou dublado vai ser sempre atendida pelo trabalho de atores. Isto porque para ser um dublador, a pessoa deve ter formação profissional e o registro de trabalho, conhecido como DRT (registro profissional emitido pela Delegacia Regional de Trabalho). Todas as dublagens consumidas em séries, filmes e games são trabalhos de atores que participam do processo de produção de uma obra.
Os dubladores entram no projeto em versões mais avançadas da edição, quando o filme já tem uma cara mais definida e está se encaminhando para a versão que será lançada nos cinemas. Mas, dependendo do diretor, isso pode mudar. Michael Bay, diretor da franquia Transformers, por exemplo, pede que os diretores de dublagem, responsáveis pela supervisão de toda etapa, comecem a trabalhar já nas primeiras versões de seus filmes.
O roteiro utilizado pelo dublador é adaptado por um tradutor capacitado para a tradução direcionada a dublagem, o que garante que as falas já sejam pensadas a partir do sincronismo labial, tendo o conteúdo original como referência. A adaptação é algo inerente a tradução, seja ela feita para dublagem ou para legendagem. A diferença é que, para a dublagem, o texto deve ser editado considerando a sincronia e os contextos culturais de cada país. Já a legendagem, apesar de permitir uma tradução mais literal, precisa se ater a uma média de palavras que uma pessoa consegue ler antes que novas legendas apareçam.
Uma das características principais do trabalho de dublagem é aproximar o contexto cultural da obra para o país estrangeiro em que está sendo exibido. Isso pode acontecer desde referências a nomes de lugares, a também expressões populares. Muitas vezes não é sobre a precisão da tradução de uma determinada fala, mas sim sobre a percepção de determinado elemento a partir das referências culturais locais.
Esse trabalho é feito tanto de forma prévia, durante a tradução do filme, como também pode surgir dentro do estúdio por sugestão do ator. O profissional também pode sugerir, dependendo do contexto, variações de uma fala para que ela fique melhor com relação ao movimento da boca do ator que vemos em cena. A duração da fala e a velocidade com que é dita também podem influenciar adaptações feitas na hora da gravação.
Um dos elementos principais para um filme funcionar é a imersão que ele proporciona na história. Ao contrário do teatro, não vemos os elementos que permitiram que ele fosse feito, como a câmera e o microfone, por exemplo. O dublador faz parte desta tarefa e precisa que seu trabalho seja impercetível, como nas outras funções. Se tudo estiver acontecendo de forma harmoniosa na tela, o que vai predominar é a história e não a capacidade técnica de um determinado profissional.
RESPONSABILIDADES DE UM DUBLADOR
Para os estúdios, o mais econômico seria, sem dúvidas, apenas legendar um filme. Além de exigir mais tempo, a dublagem também é cerca de dez vezes mais cara, uma vez que exige a contratação de diversos profissionais especializados. Mas além da predileção de parte dos espectadores, entra aí outro motivo essencial para a dublagem existir e ser amplamente difundida: a acessibilidade de pessoas com deficiência visual.
Por este motivo, também é de extrema importância a seleção de elenco para um personagem que irá ficar anos em uma série ou franquia de filmes, por exemplo. Caso fosse necessário alterar o dublador ou dubladora entre uma temporada e outra, isso poderia afetar negativamente a experiência de quem assiste e depende das vozes para acompanhar o conteúdo.
Outro papel social da dublagem é permitir o acesso à cultura por parte da população analfabeta. No Brasil, segundo o IBGE de 2019, 11 milhões de brasileiros não sabem ler. A dublagem ajuda a garantir que essa população tenha acesso ao entretenimento, trabalhando a inclusão e também o repertório cultural de grande parcela da população.
DIFICULDADES E DESAFIOS
Um bom aquecimento vocal e disciplina são essenciais para que o ator realize um bom trabalho por anos seguidos, preservando sua saúde e oferecendo uma gama de variações que seu alcance vocal permite. A quantidade de horas dedicadas a uma variedade de projetos deve levar esse fator em consideração, assim como os limites físicos de todo aparelho vocal para que o dublador não o prejudique.
Um desafio grande também envolve o profissionalismo do ator fora do estúdio. Uma vez tendo acesso à obras antes de seu lançamento, a pessoa deve manter o sigilo requerido em contrato e não falar sobre o roteiro antes da data liberada. Isso pode prejudicar futuros trabalhos, uma vez que ela pode ser vista como alguém não confiável pelos estúdios e deixar de ser chamada para trabalhos.
Como afirmado no início do texto, esse é um ótimo momento para a dublagem e, embora talento possa ajudar alguém que está começando a entrar no mercado, são profissionalismo e técnica afinada que vão manter o profissional trabalhando. Pontualidade, cordialidade e preparo são elementos-chave para essa e qualquer função.
A seleção de um ator para um papel é trabalho do diretor de dublagem, que irá seguir as especificações enviadas pelo estúdio. A partir daí é realizada uma seleção de elenco, processo semelhante ao que aconteceu no início da produção, quando o elenco original foi escolhido. A seleção será apresentada à produtora da obra original e, se aprovada, receberá o sinal verde para as gravações iniciarem. Em média, a gravação da dublagem para um longa-metragem dura um mês, considerando uma obra que tenha entre 100 e 120 minutos de duração.
Entre trabalhos, o dublador pode se manter ativo adotando uma rotina de exercícios vocais, consumindo produtos dublados atento ao processo (quem sabe até analisando as dublagens de outros países) e também estudando outros idiomas, o que pode trazer maior familiaridade com os movimentos labiais típicos daquela língua. Ter um bom sample da sua voz, sem efeitos sonoros ou trilhas, também é algo que se pode ter sempre atualizado para conseguir fechar mais trabalhos.
Tanto o ator quanto o dublador iniciantes podem encarar longos intervalos entre trabalhos antes de se consolidarem no mercado e é importante manter uma boa saúde mental nesse meio tempo. Lembre-se que existem inúmeros fatores para a seleção de um elenco e nem todos estão relacionados a habilidades técnicas.
QUANTO GANHA UM DUBLADOR x QUANTO TEMPO DURA CADA PROJETO
Dublagem é um trabalho freelancer, ou seja, o profissional trabalha de projeto em projeto, de papel em papel. Por isso, o cachê que ele receberá por cada papel está ligado a quanto tempo de gravação cada projeto precisa.
A frequência na qual o papel aparece na história (se é um protagonista, coadjuvante ou apoio) é um dos fatores que irá determinar a remuneração do dublador naquele trabalho. O tipo de produto também altera o valor a ser recebido, sendo que games e filmes para o cinema costumam pagar um valor mais alto. Já uma série pode durar uma temporada ou dez anos, garantindo uma renda fixa para o profissional neste período.
É utilizada uma métrica específica para contabilizar o número de horas de um dublador. Em São Paulo ela é chamada de anéis, já no Rio, loops. Uma hora de dublagem equivale a 20 anéis. Esta divisão é feita através de softwares específicos que analisam o roteiro e dividem as falas (sem contar os silêncios) a partir da métrica. Se o dublador fizer 20 loops em uma hora, ele recebe o equivalente a esses 20 loops. Se ele for muito produtivo e gravar, digamos, 60 loops em uma hora, vai receber o equivalente a três horas. Isso porque a métrica é o que manda, e não o número de horas em si.
Segundo o SATED SP (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo), os protagonistas de uma produção (ou seja, os dois personagens com maior número de anéis/loops) devem receber R$158,95 por loop como piso. Já os coadjuvantes (3º e 4º personagens com maior número de anéis/loops) R$155,35. O elenco de apoio (todos os demais personagens), R$144,51. Em média, oitos horas de trabalho por dia podem equivaler a R$1.600.
COMO SE TORNAR UM DUBLADOR?
Treinamento profissional como ator é essencial para o desenvolvimento do dublador. Quando na cabine de gravação o dublador está atuando e isso envolve, basicamente, as mesmas técnicas utilizadas no processo do ator que está sendo dublado. Os dois estão interpretando um mesmo personagem e, por mais que o dublador precise ter a atuação original como parâmetro para suas falas, ele não pode simplesmente emular as emoções que precisa imprimir em suas cenas.
Os cursos de atuação geralmente não abordam a dublagem em seus currículos, sendo focados mais na atuação para teatro ou em frente as câmeras de cinema e televisão. Porém, para conseguir o DRT, o interessado deverá aprender a trabalhar nesses outros meios. Por mais que o desejo de alguém possa ser especificamente a dublagem e essa pessoa saiba que sua voz será o principal instrumento no desenvolvimento de uma personagem, ela não pode se enganar: corpo e movimento fazem parte do trabalho do ator e, ter prática nessas linguagens a ajuda a ler uma cena não só pelo o que está sendo ouvido, mas também pela forma como os atores ocupam seus espaços em cena.
Para o trabalho como dublador é necessário um treinamento voltado à área, como o oferecido aqui na AIC. Nele é possível aprender técnicas específicas da dublagem, como sincronização e respiração, além de ferramentas para lidar com a musicalidade de cada idioma.
Para ingressar na área, o profissional deve enviar seu sample para estúdios de dublagem. A indicação de como deve ser o envio muitas vezes está no site de cada estúdio, mas na dúvida, ele pode entrar em contato e perguntar a melhor forma para enviar seu material.
Como em qualquer área, frequentar eventos relativos à atividade escolhida é importante para ampliar uma rede de contatos e ficar por dentro do mercado em que se quer inserir.
REFERÊNCIAS E CONSELHOS
A forma mais natural de nutrir o interesse pela dublagem é consumindo produtos dublados e se atentando ao trabalho realizado por cada profissional. Perceba como determinadas falas são adaptadas para seguirem os movimentos da boca dos atores originais, principalmente em consoantes como o P e o M, que possuem movimentos bastante claros.
Assistir a um mesmo filme duas vezes, uma no idioma original e outra dublado, ajuda no entendimento da lógica para a escolha de determinada voz, além das adaptações necessárias para cada fala. Também é benéfico assistir ao filme dublado com o roteiro original em mãos, algo que evidencia essas adaptações e treinar a agilidade para acompanhar o filme na tela e no papel.
Com o tempo, é possível reconhecer vozes em diferentes conteúdos, tendo uma noção da versatilidade exigida para os dubladores e ao mesmo tempo entendendo qual o escopo deles em termos de casting. Saber também quem são os diretores de dublagem e quais os estúdios envolvidos com cada produção pode familiarizar o dublador com nomes do mercado.
Conhecimento e curiosidade são chaves para qualquer função desenvolvida. É preciso bastante persistência e, por isso, é bom lembrar que a carreira como ator/dublador não é uma corrida curta e sim uma maratona. Esteja preparado, se preserve e mantenha viva a vontade inicial que te levou a escolher esta profissão.
Leu tudo e se identificou? Conheça o curso livre de DUBLAGEM da AIC, em São Paulo
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*Por Leandro Reis e equipe da Academia Internacional de Cinema
* Fontes consultadas para esse artigo: Subtitles Vs. Dubbing: The Big Business of Translating Foreign Films in a Post-‘Parasite’ World, Livro: Vocês Ainda Não Ouviram Nada – Celso Sabadin, Getting Started As A Voice Actor, Quando surgiu a dublagem no Brasil e no mundo?, Entrevista com a dubladora Beatriz Villa, Entrevista com o dublador Guilherme Briggs, Entrevista com o dublador Wendel Bezerra (1) | Entrevista com Wendel Bezerra (2), Quanto tempo demora para dublar um filme? Tabela SATED SP