
Quero ser Produtor
*Por Katia Kreutz e equipe da Academia Internacional de Cinema
“Eu não acredito em muitas coisas, mas a arte é definitivamente uma delas”. As palavras de Megan Ellison, uma das mais badaladas produtoras norte-americanas da atualidade, mostram que produzir um filme é, sim, uma tarefa para artistas. A produção é a espinha dorsal de qualquer projeto audiovisual, responsável pelo planejamento e pela execução de todas as ações que viabilizam o filme.
Em resumo, é o produtor quem dá condições para que os demais departamentos funcionem de maneira adequada, a fim de que o projeto fique pronto no tempo previsto pelo cronograma e dentro do orçamento. Ou seja, nenhum filme acontece sem produtor. Por isso, fazer a produção de uma obra cinematográfica, seja de curta ou longa-metragem, não é tarefa das mais fáceis e requer muita dedicação e gosto pela profissão.
Neste artigo, vamos responder às principais dúvidas sobre a carreira de um produtor:

- O que faz
- Dificuldades e Desafios
- Responsabilidades
- Dia a Dia
- O Tempo de Cada Projeto
- Quanto ganha
- Como se Tornar
- Referências e Conselhos
- Cursos de Produção Audiovisual
- Quero ser Diretor de Cinema
- Quero ser Roteirista
- Quero ser Diretor de Fotografia
- Quero ser Diretor de Arte
- Quero ser Ator
- Quero ser Produtor
- Quero ser Editor
- Quero trabalhar com Som para Cinema
- Quero ser Documentarista
- Trabalhar com Cinema, Sonho ou Realidade?
O que faz um produtor?
O produtor é a pessoa que, literalmente, tira o filme do papel. Seu trabalho está ligado a questões conceituais e técnicas, lidando com recursos humanos, artísticos, materiais, financeiros e de planejamento – o que inclui, naturalmente, cronograma e orçamento. Em alguns casos, esse profissional começa a atuar já na fase de desenvolvimento ou preparação, seguindo pelas etapas de pré-produção, produção/filmagem e, dependendo do projeto, também na pós-produção. Por ser muito amplo e abranger diversas funções, o termo “produção” pode gerar um pouco de confusão em quem não trabalha na área. Em geral, as principais funções envolvendo produção no cinema estão relacionadas ao produtor executivo e ao diretor de produção. Contudo, é importante ressaltar que o acúmulo dessas funções muitas vezes acaba acontecendo, de acordo com o tamanho e verba de cada filme. A função de um produtor executivo diz respeito à captação de recursos e ao conhecimento de editais e leis de incentivo, bem como a inscrição do projeto nesses mecanismos. Ele é o responsável por preparar o orçamento global e dividir as verbas entre pré-produção, produção, pós-produção, distribuição e comunicação. Em poucas palavras, é esse profissional quem corre atrás do dinheiro e de possíveis patrocinadores. O diretor de produção é subordinado ao produtor executivo. Ele administra os recursos do projeto e tem contato direto não só com o diretor, mas também com o restante da equipe. Sua função é fazer com que o filme descrito no roteiro se torne realidade, sem sair do orçamento determinado. Ou seja, é um profissional que atua tecnicamente, administrativamente e criativamente. Em seu departamento, podem ser contratados também assistentes de produção, que darão apoio logístico a essas tarefas. Ainda inseridas no campo da produção estão diversas outras subdivisões, como produção de casting ou de elenco, produção de objetos, produção de figurino, produção de locação e produção de alimentos. Isso quer dizer que a produção está ligada a todas as áreas envolvidas em uma filmagem, pois sua função é gerenciar as ações, auxiliar e cobrar os demais membros da equipe, desde a construção do cenário até a devolução dos materiais utilizados em cena.Dificuldades e desafios
O maior desafio de um produtor é saber interpretar bem o roteiro, que é a base de todo o projeto. Como a maior parte dos filmes parte de um conteúdo escrito para um produto audiovisual, é natural que as diversas pessoas da equipe imaginem coisas diferentes. Cabe ao diretor fazer com que todos “falem a mesma língua” e, consequentemente, façam o mesmo filme, mas é responsabilidade de cada profissional compreender esse filme, principalmente quem trabalha com produção. Outro grande desafio do produtor, independentemente de seu cargo na hierarquia cinematográfica, é ter jogo de cintura e capacidade de planejamento. A cada passo do processo ele terá que ser flexível e se adaptar a imprevistos. Será preciso calcular o tempo de uso das locações, sabendo que algo pode acontecer e o que foi planejado mudar. Se você ganha algumas horas na ordem de gravação do dia, pode ser que perca essas mesmas horas devido a problemas que vão surgindo. Ou seja, a todo momento é necessário buscar novos caminhos, tomando decisões que influenciam diretamente o resultado final. Aprender a lidar de maneira inteligente com os empecilhos é a grande questão. Por isso, o produtor não apenas deve pensar e agir rápido, mas ter uma excelente compreensão sobre como funcionam as demais áreas do fazer cinematográfico, conhecendo suas necessidades específicas e limitações, já que precisará dar apoio constante a esses departamentos. Muitas vezes, esse profissional acaba tendo que negociar e fazer acordos com o resto da equipe, para que as coisas andem. É impossível agradar a todos, o tempo inteiro, mas certamente ninguém trabalha mais em prol do filme do que o produtor. Lidar com pessoas não é nada simples. O produtor, em especial, precisa saber interpretar o diretor e exercer diariamente a tolerância e a paciência, não apenas com os colegas no set, mas também com os colaboradores do projeto. Trabalhar com pouco dinheiro é uma dificuldade com a qual os produtores brasileiros já estão acostumados. No entanto, isso nunca impediu que existisse uma produção audiovisual no país, pois é justamente nas situações difíceis que se coloca à prova a criatividade. Os editais são mecanismos que ajudam a viabilizar produtos audiovisuais, mas o fator financeiro muitas vezes acaba impondo limitações. Essas condições exigem ainda mais do produtor, que precisa encontrar soluções com poucos recursos.Quais as responsabilidades de um produtor?
A produção está presente em todo o processo de um filme. As diferentes tarefas que a área envolve podem ser executadas por um ou mais profissionais, dependendo do orçamento do projeto. Por exemplo, na pré-produção e filmagem existem as funções de produtor executivo, diretor de produção, produtor de locação, produtor de elenco, produtor de set, ou ainda produtores ligados a departamentos específicos, como o produtor de figurino e o produtor de objetos. Já na pós-produção, quem atua geralmente é o produtor de finalização. Todas essas são funções diferentes dentro da produção. Vamos explicar mais a fundo as principais delas, ou seja, aquelas que são mais comumente encontradas num filme de longa-metragem nacional. O produtor executivo é o profissional que participa de todas as fases, desde a leitura do roteiro até a distribuição do filme. É ele quem cuida da viabilização financeira, buscando a verba necessária para realizar o projeto. Normalmente, nas produções brasileiras, essa função está ligada à inscrição em editais e leis de incentivo, mas há também quem busque alternativas em fontes atípicas, como o financiamento coletivo ou a iniciativa privada. Nesse contexto, a defesa conceitual e a defesa de viabilização são partes bastante complexas do desenvolvimento de um projeto. Uma vez aprovado, começa a fase de captação de recursos e busca de apoios, tarefas em geral também realizadas pelo produtor executivo. Assim que se tem em mãos os recursos financeiros para realizar o filme, inicia-se a fase de pré-produção, momento em que o produtor executivo começa a contratar a equipe de filmagem. Esse profissional acompanha o diretor até o final do processo, por isso é comum encontrar diretores que também fazem o papel de produtores em seus próprios projetos. O diretor de produção, por sua vez, atua como uma espécie de braço direito do produtor executivo. Seu trabalho está relacionado à execução de tudo aquilo que foi determinado no planejamento, sempre levando em conta o orçamento e o cronograma. Esse produtor entra em cena na pré-produção e, além de comandar toda a equipe de produção, está sempre em contato com os “cabeças” das demais áreas (arte, fotografia, som, etc.). Sua função é viabilizar o trabalho dos demais setores, como um alicerce para a equipe. Enquanto o produtor executivo administra as questões gerais do filme, do ponto de vista macro, o diretor de produção está conectado ao dia a dia da pré-produção e da filmagem, gerenciando os problemas práticos. A tarefa de produtor de pós-produção ou de finalização também é comum em longas-metragens, já que essa fase exige a contratação de diversos prestadores de serviços terceirizados (montador, editor de som, profissional de colorização, de mixagem, de animação, etc.). Nesses casos, como é necessário buscar empresas ou profissionais especializados, é preciso alguém para lidar com os contratos e questões técnicas. As equipes se moldam de acordo com as necessidades de cada filme. Em projetos estudantis ou de baixo orçamento, é normal que o produtor acumule funções. Quando o orçamento permite, são contratados diferentes profissionais para atuar como produtores de locação (para a busca e fechamento dos locais de filmagem) e de elenco (para realização do casting e contratação dos atores). Essas são duas funções extremamente importantes, porque, enquanto não forem definidos os locais e atores, é muito difícil seguir adiante com a produção. Além disso, ambas as funções exigem conhecimentos específicos, embora também seja comum que o produtor de locação atue como produtor de set (sendo responsável pelo contato com o dono do local de filmagem e pela orientação da equipe no que diz respeito às regras daquela locação). Se a quantidade de pessoas no set for muito numerosa, é indispensável a presença de um produtor de alimentação. A preocupação com os alimentos é algo crítico, já que o cinema normalmente envolve jornadas de trabalho muito longas, em situações pouco confortáveis (intempéries, imprevistos, mudanças de locação, desgaste físico). O mínimo que a produção pode fazer é compensar esse desconforto com uma boa oferta de comidas para todos. Você pode economizar com tudo, menos com algo tão básico como manter sua equipe bem alimentada e hidratada. Isso porque, conforme o nível de glicose das pessoas vai diminuindo, as consequências podem ser mau humor, distrações e até mesmo acidentes. Para que todos sejam bem atendidos, o ideal é ter um profissional cuidando exclusivamente disso no set de filmagem.Como é o dia a dia de um produtor?
O dia a dia de um produtor muda muito, dependendo da fase do filme que está sendo executada. Tudo começa com a pré-produção. Esse é o período de preparação, no qual são realizadas as pesquisas referentes a cada área: objetos, figurinos, locações, casting, etc. O trabalho de pesquisa tem o objetivo de oferecer as melhores opções para o diretor, trazendo referências e soluções para as necessidades levantadas após a leitura do roteiro. Os instrumentos usados para isso são a internet, revistas especializadas, contatos do produtor e conversas com profissionais da área. Na pré-produção também é realizado todo o planejamento do filme, estabelecendo um cronograma de ações dentro do orçamento disponível. Então se começa a contratar os serviços técnicos e artísticos necessários, além de buscar e visitar as possíveis locações. Nessa fase, é realizada ainda a produção de casting, uma busca minuciosa pelos atores ideais para cada papel, de acordo com o briefing da direção. São feitos testes/audições, ensaios e provas de figurino. A rotina de um produtor envolve muita negociação, por isso é tão importante conhecer o filme a fundo; assim, ele será capaz de explicar aos colaboradores a importância de apoiar o projeto – por exemplo, um restaurante que fará parceria, ou uma pessoa que emprestará objetos de cena. A equipe de um filme não é algo fechado, todas as áreas estão em contato uma com a outra, mas o produtor é a chave dessas relações. Ele possui uma variedade enorme de tarefas, especialmente em produções de baixo orçamento, e lida com uma enorme diversidade de pessoas e departamentos. Conciliando todos esses universos técnicos e criativos, pode-se dizer que cada dia é diferente na vida de um produtor cinematográfico. A fase da filmagem é uma das mais tensas, não só para o produtor, como para toda a equipe. É quando tudo o que foi planejado, calculado e pensado será, de fato, executado. Como se a pré-produção fosse uma espécie de treino para uma partida decisiva. Quando se planeja com cuidado cada detalhe, fica mais fácil resolver os eventuais problemas que vão aparecendo, adaptando o projeto aos imprevistos, sem que a história seja prejudicada por isso. Na filmagem, o diretor de produção trabalha para que seja realizada a gravação do número de planos determinados para cada diária. Toda a estrutura tem que andar bem, por isso o profissional deve ficar de olho no cumprimento da ordem do dia, lidando com possíveis atrasos, gerenciando a equipe e trabalhando junto ao assistente de direção para que sejam gravados todos os planos de que o diretor precisa. Logo depois da filmagem, o diretor de produção realiza a “desprodução” do set. Isso porque, quando a gravação não ocorre em estúdio, é normal que a locação seja alugada ou emprestada. Nesse caso, é obrigatório deixar o local como estava inicialmente, limpo e em ordem, e devolver os objetos ou figurinos utilizados. Essa é uma das tarefas mais delicadas do produtor, já que tudo precisa ser devolvido da forma combinada, estreitando assim os laços com os parceiros – e possibilitando retornar a eles para futuros favores. Essa relação de confiança e de respeito com os colaboradores é essencial, até mesmo por uma questão de mercado. Se alguém tiver uma experiência ruim com uma equipe de cinema, todas os profissionais do audiovisual que procurarem a ajuda dessa pessoa futuramente já estarão “queimados”. É sempre importante deixar portas abertas para outros projetos e cineastas que precisem de auxílio, principalmente em um país onde boa parte da produção está fundamentada em apoios. Na pós-produção, o produtor executivo é o profissional que acompanha o diretor na finalização do filme, até sua distribuição e divulgação. A equipe, nessa fase, geralmente é um pouco menor e mais técnica. Ainda assim, o produtor precisa participar para que seja cumprido o cronograma, sem estourar o orçamento. Muitos diretores se preocupam apenas em filmar, mas esquecem que, na pós, também é necessário administrar tempo, dinheiro e pessoas. É comum que projetos para leis de incentivo acabem não contemplando a pós-produção e a distribuição, ou deixando pouca verba para essas etapas finais. Vale lembrar que um filme no HD não é nada, ele só faz sentido quando chega ao público. Portanto, é preciso ter uma cópia de boa qualidade, com chances de competir em festivais. Isso inclui a montagem, mixagem e criação de trilha original. As produções cinematográficas brasileiras, em geral, têm dois anos de “vida útil”. Primeiro, o filme passa por festivais que têm como regra o ineditismo. Posteriormente, é exibido em festivais que não exigem produtos inéditos. Finalmente, vai para as salas de cinema, seguindo para serviços de streaming e TV. Por último, é disponibilizado em sites como o YouTube ou Vimeo. Claro que é possível seguir por outros caminhos, como produzir um longa diretamente para a Netflix, por exemplo. O que deve ser pensado pelo produtor, ainda na fase do desenvolvimento, é essa estratégia de distribuição e divulgação. São detalhes que precisam estar no projeto e no planejamento inicial.