Já pensou realizar um curta-metragem em 48 horas? Essa é a proposta da Noite de Kino, uma gincana audiovisual realizada em parceria com escolas de cinema do estado de São Paulo, que faz parte da programação especial da 29ª edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.
Com a orientação do diretor e roteirista Fabio Montanari, professor da Academia Internacional de Cinema (AIC), um grupo de até 6 alunos realizam um filme de 3 minutos. A temática é proposta pelo próprio Festival.
A gincana começa amanhã e termina com a exibição do filme na segunda, dia 27/09, na cinemateca de São Paulo. Confira aqui o filme feito na edição passada do Festival.
A presença dos alunos da AIC já é uma tradição. Além da Noite de Kino, os alunos também participam de outras duas atividades paralelas: a Programação em Curso e a filmagem e a edição do Making Of do Festival.
Mostra de Curtas do Festival na AIC – Programação em Curso
A Programação em Curso é uma mostra paralela do Festival de Curtas de São Paulo que acontece dentro da AIC e conta com a curadoria dos alunos da escola. As exibições dos filmes selecionados acontecem no próximo dia 29 (quarta-feira), às 19h30 e são seguidas de debate com algumas das diretoras.
A sessão, intitulada de “Outras Vozes”, tem o foco voltado a assuntos relevantes e temas urgentes. As alunas responsáveis pela curadoria são: Sara Soares, Cíntia Molter, Andressa Ribeiro, Eva Moreira, Rafaela Scaff, Letícia Yabá e Érica Pierre.
“A seleção foi feita pensando no contexto social que o país atravessa, principalmente ligados a questões estruturais que ainda não receberam a devida atenção e/ou que nunca tiveram reparação. Todos os filmes são de realizadoras e trazem a mulher como protagonista de sua percepção sobre o mundo, possibilitando uma diversidade de experiências e realidades”, contam as alunas curadoras.
Juliana Salazar, coordenadora de produção da AIC, diz que a proposta é desenvolver a atividade curatorial, que consiste em escolher os filmes a partir dos curtas selecionados para a Mostra Brasil. “A ideia não é só pensar nos melhores filmes, mas como eles se articulam entre si. Ou seja, além das alunas escolherem os filmes, elas decidem a ordem que as obras serão exibidas, que pode ser a partir de um tema ou um estilo. Para isso elas assistiram a 53 curtas e escolheram seis obras”.
Ao final da sessão as diretoras Pâmela Peregrino, Dedê Maia e Nara Normande – vencedora do prêmio de Melhor Curta no Festival de Gramado, participarão de um debate com os convidados. O bate-papo será mediado pela diretora Lina Chamie.
Os filmes selecionados em ordem de exibição são:
XINÃ BENA, dirigido por Dedê Maia e Sebastião Fonseca
GUAXUMA, dirigido por Nara Normande
NOME DE BATISMO – ALICE, dirigido por Tila Chitunda
CATADORA DE GENTE, dirigido por Mirela Kruel
ÒPÁRÁ DE ÒSÙN: QUANDO TUDO NASCE, dirigido por Pâmela Peregrino
PERIPATÉTICO, dirigido pela ex-aluna da AIC – Jessica Queiroz
Além das atividades paralelas, alunos e professores da AIC participam do Festival. Confira aqui os filmes.
SERVIÇO
Mostra de Curtas do Festival na AIC – Programação em Curso
Dia 29/08/2018 às 19h30
Na Academia Internacional de Cinema de São Paulo
Rua Gabriel dos Santos, 142, Higienópolis
Fone (11) 36607883
Com mais de 10 anos em experiência na área cultural em gestão de projetos, Paola Teles é professora do novo curso online de Produção Executiva da AIC. Atualmente trabalha como gerente de negócios da O2 play, distribuidora do grupo O2 Produções.
O que faz exatamente um produtor executivo? Como conseguir recursos para tirar uma história do papel? A Academia Internacional de Cinema (AIC) convidou a produtora Paola Teles, professora do novo curso de Produção Executiva online da escola e gerente de negócios da O2 play, distribuidora do grupo O2 Produções, para explicar sobre as funções de um produtor de cinema e sua importância dentro da indústria cinematográfica.
AIC – O que faz exatamente um produtor executivo?
PAOLA TELES: O papel do produtor executivo é bem amplo, ainda mais quando falamos das produtoras de pequeno porte, onde se tem um acúmulo de funções, atuando como produtor e produtor executivo; seja trazendo um projeto já desenvolvido ou coordenando o desenvolvimento e criação de uma propriedade intelectual.
De um modo geral, cada produtora opera num modelo de gestão. O que acaba sendo comum é o processo de captação, as relações comerciais e institucionais, a gestão dos projetos junto aos órgãos públicos, como a ANCINE.
O produtor executivo, dentro do processo de produção do filme, é o responsável por pensar de maneira global a arquitetura financeira do projeto. Isso envolve decisões de como adquirir uma propriedade intelectual ou como desenvolver um projeto. Além disso, existe todo o processo que precisa ser pensado e executado. É na figura do produtor executivo que se concentra as negociações de investimento, podendo ser público ou privado, ou nas negociações das contratações de profissionais como: roteirista, diretor, diretor de fotografia, montador e elenco; principalmente dos profissionais que se envolvem no processo criativo ou que têm participação nas receitas do filme, como roteirista e diretor, por exemplo. É nesta fase que estão presentes muitas questões legais e artísticas do projeto e que o produtor precisa ter segurança jurídica para negociar direitos que ele pode deter ou não sobre a obra. É nessa arquitetura financeira e de direitos que ele precisa ter segurança para seguir sem problemas na execução.
O produtor executivo deve entender exatamente o tamanho do seu projeto para chegar no melhor orçamento, no plano de financiamento viável, entender como funcionam as formas de viabilização e em como captar recursos para a produção de TV ou Cinema. Além de pensar na comercialização para lançamento e na cauda longa do projeto. Em suma, o produtor executivo atua desde a identificação da ideia a ser desenvolvida até nas formas de distribuição de conteúdo para chegar ao consumidor final.
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AIC – Quais as principais características e atribuições para ser um produtor?
PA: O mercado de audiovisual tem muitos percalços. O processo de captação de um filme pode ser muito trabalhoso, o que demanda uma estrutura emocional para lidar com situações adversas como, receber uma negativa de investimento para algum projeto. Os motivos da recusa não são de ordem pessoal, certamente a recusa se dá por questões relativas à proposta que foi apresentada.
O produtor deve ter poder de persuasão, mas ao mesmo tempo ser flexível numa negociação, sem comprometer as cláusulas contratuais já firmadas para não ter problemas legais. Por isso é de extrema importância que o produtor saiba exatamente o que ele está assinando em um contrato. E para isso, é preciso que o produtor entenda o mercado audiovisual, suas práticas e mecanismos.
Vim do terceiro setor e migrei para o audiovisual há pouco mais de três anos. Certa vez ouvi do meu primeiro chefe na Spcine (Empresa de cinema e audiovisual de São Paulo) a seguinte dica: leia todos os tipos de contratos! Assim fiz. Ali estava uma das formas de entender como o mercado funciona.
AIC – Como executar um projeto, tirando a ideia do papel? Quais são as etapas? E como executar um projeto pensando na boa gestão dos recursos?
PA: O primeiro ponto é assegurar a segurança jurídica da propriedade intelectual para execução do projeto, ter o registro da obra, os contratos necessários para aprovar o projeto na ANCINE e seguir nas negociações e captação de recurso.
As etapas de produção de um filme envolvem o desenvolvimento do projeto, que pode ser através da aquisição de um livro para adaptação ou na construção de uma propriedade intelectual desenvolvida pela própria produtora. Todo projeto começa com uma boa análise técnica e um bom desenho de produção. É exatamente isso que vai determinar como se dará às demais fases. A pré-produção pode envolver pesquisas de locação, casting, desenho de fotografia entre outras. O processo da produção é a gravação propriamente dita. A pós-produção é onde o todo material gravado é editado, montado, inserido os efeitos de pós, mixagem e outros. E, por fim, a distribuição e exibição do filme.
O orçamento de um projeto sofre alterações durante todo o processo de produção. O produtor executivo deve operar o orçamento conforme as normas estabelecidas nos diversos contratos. Caso seja necessário a realização de qualquer gasto que não esteja previsto em contrato ou previamente aprovado, o produtor deverá informar, solicitar as mudanças e acompanhar a aprovação das alterações. Um orçamento bem estruturado e planejado ameniza as margens de erro numa gestão.
AIC – Por que o novo curso online de Produção Executiva: Negócios de Cinema e TV é importante para os produtores e quais são os objetivos do curso?
PA: É fundamental que o produtor saiba identificar exatamente o que ele está assinando em um contrato. O curso de Produção Executiva Negócios de Cinema e TV possibilita que o produtor adquira noções de como identificar o potencial comercial e artístico de cada tipo de projeto, saiba quais fontes de recursos acessar, como vender e exibir seu conteúdo. O curso traz uma visão global de todas as etapas de construção de um projeto e as práticas de negociação que estão envolvidas em cada etapa.
O objetivo do curso é mostrar um panorama do mercado audiovisual brasileiro e trazer para as aulas, de uma forma didática e prática, questões negociais e contratuais mais usadas em cada umas dessas etapas. Nosso objetivo é que o aluno, ao final do curso, possa adquirir um domínio e compreensão sobre as possibilidades de negócios e que consiga construir propriedades intelectuais mais consistente e lucrativas para a produtora. Além de possibilitar a compreensão da linguagem e de produtos através de análise de cases que serão apresentados no curso. A proposta é fazer com que os alunos possam estruturar um projeto a fim de viabilizar um produto para a negociação com possíveis player e parceiros.
Por ser uma carreira desafiadora e com constantes mudanças exige estudo constante e entendimento das práticas do mercado como foco no audiovisual brasileiro.
No dia 30 de agosto estreia em várias capitais “A Destruição de Bernardet”, dirigido por Pedro Marques e Claudia Priscilla, que assina o roteiro junto com Kiko Goifman, professor do curso de documentário da Academia Internacional de Cinema (AIC) de São Paulo. Goifman também participou como produtor e atuou no filme, que transita entre a ficção e documentário.
O filme é sobre o maior crítico de cinema vivo do Brasil, Jean-Claude Bernardet. No longa, Jean-Claude, com 80 anos, critica a indústria farmacêutica, fala sobre virar ator aos 70 e conversa sobre a morte e o suicídio. Segundo os diretores, não se trata de uma biografia convencional e sim de um projeto construído com o próprio personagem ao longo da filmagem. Um ensaio sobre a apropriação do próprio corpo na velhice.
O filme estreou internacionalmente em Locarno e, no Brasil, no Festival de Brasília. No Festival Mix Brasil, ganhou prêmios de melhor direção e melhor interpretação. Entrará em cartaz nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Salvador e Curitiba.
Estão abertas as inscrições para o Los Angeles Brazilian Film Festival – LABRFF 2018 até 31 de outubro. Serão selecionados curtas e longas produzidos a partir de 2016, que não tenham estreado nos Estados Unidos e que tenham brasileiros envolvidos na produção. Todos os filmes devem ser legendados em inglês. O Festival ocorre entre os dias 2 e 6 de dezembro. As inscrições devem ser feitas através da plataforma Film Freeway.
A 3ª edição do FESTICINI – Festival Internacional De Cinema Independente está com inscrições abertas gratuitamente até o dia 23 de agosto. A partir do dia 24 de agosto até 22 de outubro, os filmes nacionais pagarão uma taxa de 20 reais, e os estrangeiros de 10 dólares. O FESTICINI acontecerá do dia 9 a 18 de novembro na cidade de Guararema, em São Paulo.
O festival premiará produções independentes de longa, média e curta metragem, além de documentário e animação, em diversas categoria e prêmio especial para filme com temática de meio ambiente. Os trabalhos inscritos deverão ter sido finalizados entre 2013 e 2018. As inscrições devem ser feitas no site www.festhome.com
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AIC ONLINE
No Brasil, o acesso à educação audiovisual ainda é, de certa forma, concentrado no eixo Rio-São Paulo, apesar das dimensões continentais e diversidade cultural do pais. A AIC Online abre seus horizontes e estende a mesma experiência e qualidade de seus cursos presenciais a todo o Brasil – ampliando os espaços de representação das culturas locais através do audiovisual .
Seguindo a mesma filosofia dos cursos presenciais, os cursos online da AIC seguem uma metodologia própria, onde teoria, criatividade e prática andam juntos.
Aulas semanais ao vivo e gravadas
O aluno tem aulas semanais, seguindo um cronograma de conteúdos com complexidade crescente. As aulas são ao vivo, mas ficam gravadas e podem ser assistidas posteriormente caso o aluno não possa participar no horário agendado.
Materiais e exercícios
A cada semana o aluno lê os materiais e conteúdo da aula, realiza exercícios com auto resposta para avaliar a retenção do conteúdo.
Atividades práticas
O aluno envia atividades práticas semanalmente ao professor, que avalia o trabalho e dá feedbacks individualizado.
Duração
Os cursos têm duração entre 8 e 12 semanas, seguindo um ciclo que se repete semanalmente, podendo incluir ainda um projeto final.
Networking
O aluno conta com alguns dos principais elementos das aulas presenciais: as aulas ao vivo (streaming de vídeo) permitem a interação com os professores, que são profissionais atuantes no mercado, e com outros alunos do curso.
O que foi o movimento cinematográfico, suas principais características estéticas, filmes e cineastas mais importantes e suas influências para o cinema contemporâneo.
“Eu acredito que os filmes do futuro usarão cada vez mais esses ‘ângulos de câmera’ ou, como prefiro chamá-los, esses ‘ângulos dramáticos’. Eles auxiliam o pensamento cinematográfico.”
F.W. Murnau
O Expressionismo alemão é um dos estilos do cinema mudo mais reconhecidos, embora às vezes seja difícil de definir. O movimento expressionista nas artes foi algo que despontou na poesia e na pintura, no início do século 20, influenciando também o teatro, a arquitetura e, naturalmente, o cinema, em especial depois da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918).
O que o Expressionismo buscava era uma representação subjetiva do mundo, que fosse capaz de revelar as angústias da existência humana através de imagens distorcidas e afastadas da realidade, remetendo a pesadelos. Esses conceitos se originam, em parte, do Romantismo alemão.
Com seu uso de sombras e contrastes, histórias abordando temas inquietantes, além de cenários, maquiagens e figurinos exagerados, o cinema mudo alemão dos anos 1920 estabeleceu as bases para dois grandes gêneros do cinema moderno: o filme de terror e o filme noir.
Nesse artigo você vai conhecer a história, o desenvolvimento, as características, principais obras e diretores do movimento. Vamos entender como o Expressionismo Alemão marcou presença no início da sétima arte e se tornou um dos gêneros fundadores do cinema moderno.
O que foi o movimento
O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920)
O Expressionismo alemão consistiu em uma série de movimentos criativos na Alemanha, na época da Primeira Guerra Mundial, que teve seu auge em Berlim, nos anos 1920. Esses acontecimentos faziam parte de uma tendência expressionista mais ampla, que tomava conta da cultura europeia daquele período e que, basicamente, caracterizava-se por uma rejeição das convenções ocidentais, mostrando a realidade de maneira extremamente distorcida para causar impacto emocional.
Muito influenciados por artistas plásticos como Vincent van Gogh, Edvard Munch e El Greco, os expressionistas não se preocupavam tanto em produzir composições esteticamente agradáveis, mas buscavam gerar reações profundas do público ao seu trabalho, por meio de contrastes, ângulos e formas abruptas. Em sua essência, o movimento explorava a relação entre arte e sociedade, abrangendo inúmeros campos, incluindo o cinema.
Assim como as pinturas expressionistas, os filmes desse período buscavam abordar as experiências pessoais e subjetivas do ser humano. No cinema, essa característica é mais particularmente associada a sets pouco realistas, ângulos profundos e sombras marcantes, para intensificar a atmosfera do filme.
Para compensar a falta de grandes orçamentos, os primeiros filmes expressionistas usavam cenários pouco realistas, com desenhos pintados nas paredes e nos pisos para representar luzes, sombras e objetos. As histórias e narrativas geralmente tratavam de loucura, insanidade, traição e outros temas existenciais trazidos à tona pelas experiências traumáticas da Primeira Guerra Mundial.
O antirrealismo extremo do Expressionismo teve vida curta, dissipando-se depois de poucos anos. No entanto, os temas do movimento permaneceram, de forma um pouco mais sutil, nos filmes produzidos em anos subsequentes, entre as décadas de 1920 e 1930.
Essa escola de cinema sombria e melancólica acabou sendo levada para os Estados Unidos, mais tarde, quando os nazistas conquistaram o poder e muitos cineastas alemães foram obrigados a emigrar para Hollywood. Esses artistas perceberam que os estúdios norte-americanos estavam dispostos a acolhê-los, e diversos diretores e operadores de câmera alemães obtiveram sucesso no país, produzindo filmes hollywoodianos que impactaram o cinema como um todo.
Um pouco de história
O Anjo Azul (Josef von Sternberg, 1930)
Os filmes expressionistas tiveram sua origem em solo alemão, em um momento histórico no qual o país se encontrava em relativo isolamento. Em 1916, o governo baniu a exibição de filmes estrangeiros no país. A partir de então, a demanda das salas de cinema por mais filmes levou a um aumento da produção doméstica, que ganhou popularidade e passou de 24 filmes por ano em 1914 para 130 filmes em 1918.
Não demorou muito para que esse novo estilo conquistasse o público também de outros países. No início dos anos 1920, diversos cineastas já faziam experimentações com a estética arrojada do cinema alemão. O público europeu também começou a apreciar esse estilo, em parte devido a uma diminuição do sentimento anti-alemão que predominava na Europa, com o término da Primeira Guerra. Quando o banimento de importação de filmes deixou de vigorar na Alemanha, o cinema nacional já havia se tornado uma indústria internacional.
O movimento terminou depois que a moeda se estabilizou, tornando mais barata a compra de filmes estrangeiros. Os estúdios da Universum Film AG (UFA) entraram em colapso financeiro e os produtores alemães começaram a negociar com os italianos. O poder norte-americano na indústria cinematográfica também levou alguns cineastas germânicos a continuarem suas carreiras nos Estados Unidos. O último filme da UFA foi O Anjo Azul (Der Blaue Engel), de Josef von Sternberg, em 1930, considerado uma obra de arte expoente do Expressionismo alemão.
As características estéticas propostas pelos cineastas expressionistas na Alemanha eram bem aceitas durante a República de Weimar (1919 a 1933), período democrático antes da ocupação nazista, mas aos poucos foram se diluindo e se misturando com outras abordagens e estilos visuais. Essa variação do Expressionismo perdurou por muitas décadas subsequentes – nos ângulos acentuados e nos jogos de sombras dos filmes noir, por exemplo.
Principais características estéticas
O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920)
Por ter florescido em meio aos horrores da guerra e à devastação econômica que dominou a Alemanha depois disso, o cinema expressionista buscava expressões viscerais de emoção e desprezava a obediência das regras de composição e representação. Embora tenha sido um movimento que emergiu do mesmo clima cultural que deu origem ao nazismo, os expressionistas eram um grupo de rebeldes que pregavam valores artísticos como a abstração e o antagonismo à tradição, aliados à necessidade quase obsessiva de expressar seus sentimentos, o que fez com que se referissem a si mesmos como os “adolescentes apocalípticos”.
Muitos críticos vêem um link direto entre o cinema e a arquitetura da época, já que os cenários e a direção de arte dos filmes em geral mostravam prédios com ângulos pontiagudos e ambientes grandiosos, visualmente sobrecarregados, como a Torre de Babel no filme Metrópolis, de Fritz Lang. Fortes elementos do monumentalismo e do modernismo aparecem nos filmes canônicos do Expressionismo alemão, como o próprio Metrópolis, em que a arquitetura se apresenta de maneira massiva e muitas vezes opressora.
Os pintores expressionistas alemães que inspiraram o Expressionismo no cinema rejeitavam a representação naturalista de uma realidade objetiva. Eles retratavam figuras humanas, prédios e paisagens de maneira distorcida e estilizada, sem muita preocupação com as convenções da perspectiva ou da proporção, para desorientar o observador. Essa abordagem era usada para transmitir emoções internas e subjetivas por meio de ferramentas externas e objetivas.
O principal exemplo do estilo visual expressionista é a atmosfera de sonho do filme O Gabinete do Dr. Caligari, reconhecido como um dos marcos do cinema expressionista. Hermann Warm, o diretor de arte do filme, trabalhou com os pintores e diretores de arte Walter Reimann e Walter Röhrig para criar sets fantásticos, que remetiam a pesadelos, com criaturas retorcidas e paisagens com formas pontiagudas e linhas oblíquas. Alguns desses desenhos foram construídos, outros pintados diretamente em telas.
Os filmes expressionistas alemães não apenas sintetizam o contexto sociopolítico no qual foram criados, como também trabalhavam problemas intrinsecamente modernos de auto-aceitação e identidade, expressando um pouco do que se passava na consciência coletiva da época. Segundo J.P. Telotte, em ‘Expressionismo Alemão: Um Problema Cinemático/Cultural’ do livro Tradições do Cinema Mundial (2005), o movimento voltou seu foco ao “poder dos espetáculos” para oferecer ao público uma espécie de imagem metonímia de sua própria situação.
Os filmes expressionistas permanecem marcados por seus cenários e atuações extremamente estilizados, seu visual altamente contrastado e edição simples. A maior parte deles era gravada em estúdios, onde se podia usar iluminação e ângulos de câmera deliberadamente exagerados e dramáticos, para enfatizar algum aspecto particular dos personagens – medo, horror, dor, etc. Algumas das técnicas expressionistas foram posteriormente adaptadas por diretores norte-americanos e incorporadas em muitos filmes de Hollywood.
Principais filmes
O Gabinete do Dr. Caligari
Entre os filmes mais emblemáticos do Expressionismo alemão, certamente é preciso destacar O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari), de 1920, dirigido por Robert Wiene. O filme é famoso por sua atmosfera angustiante e pela história macabra, na qual o personagem Francis tenta resolver uma série de assassinatos que ele suspeita serem obra de um hipnotizador, o Dr. Caligari, e de seu comparsa sonâmbulo, Cesare.
Nosferatu
Outro filme extremamente representativo do movimento foi Nosferatu (1922), de F.W. Murnau. Embora tenha usado diversas locações reais, o que não era comum nos filmes da época, o filme desenvolve o desespero e a angústia de maneira crescente e assustadora. O diretor transforma o familiar em algo estranho, dando toques expressionistas às paisagens da vida real, o que gradualmente transporta o espectador da realidade para o pesadelo.
Metrópolis
Metrópolis (1927), de Fritz Lang, também é considerado um dos mais famosos filmes do Expressionismo e do cinema mudo como um todo. O longa-metragem mistura elementos góticos com uma estética futurista que ainda hoje inspira o gênero de ficção científica. Sua visão extremista de uma sociedade movida pela luta de classes, com os ricos vivendo no topo iluminado da cidade e os pobres embaixo, nas sombras.
M, o Vampiro de Dusseldorf
Mais um filme de Fritz Lang, conhecido especialmente por suas ideias ousadas, dessa vez inspirando-se em um caso real de um sequestrador infantil para, mais uma vez, fazer um paralelo com a realidade dentro do expressionismo. A crítica era voltada para a criminalidade e disputas de poder dentro da República De Weimar, mas essa inserção de realidade não foi a única novidade: M, o Vampiro de Dusseldorf também é o primeiro filme com som do diretor.
O Homem Que Ri
Cruzando para o além mar, O Homem Que Ri foi possivelmente o filme expressionista estadunidense mais importante do período. Dirigido pelo alemão Paul Leni, a obra adapta o romance de mesmo nome de Victor Hugo em que um jovem é condenado a rir para sempre. O filme se destacou pela caracterização macabra do personagem principal com um sorriso perene e bizarro e que, aliado a estética expressionista forte, faz com que o filme seja sempre aliado ao terror por mais que esteja muito mais próximo da construção de um melodrama.
Legado para o cinema
Alfred Hitchcok dirigindo um de seus primeiros filmes.
O cinema expressionista alemão dos anos 1920 defendia a premissa de que o filme se transforma em arte na medida em que suas imagens se afastam da realidade. Essa interpretação particular acabou influenciando alguns dos mais relevantes cineastas do século 20. O estilo seminal do Expressionismo conseguiu transpor em imagens o sentimento popular de um período turbulento da história europeia, dando origem a obras poderosas com um olhar revelador sobre a sociedade da época, expressando toda a desilusão, desconfiança e isolamento enfrentados pelo povo alemão.
Os filmes mudos da Alemanha estavam muito à frente do que era produzido em Hollywood no mesmo período. De certo modo, o cinema no mundo inteiro se beneficiou com o desenvolvimento desse estilo e das novas técnicas, que se tornaram cada vez mais visíveis nas telas. A estética expressionista ainda é incorporada por cineastas e diretores de fotografia contemporâneos.
No campo das artes plásticas, o russo Wassily Kandinsky foi um dos pintores fortemente inspirados pelo Expressionismo. O mesmo pode-se dizer do escritor Franz Kafka, na literatura, e do compositor austríaco Arnold Schoenberg, na música. Já no cinema, dois gêneros foram especialmente influenciados: os filmes de terror e os filmes noir.
Inspirado pelo movimento expressionista, o fundador dos estúdios da Universal, Carl Laemmle, ficou famoso por produzir filmes de terror para o cinema mudo norte-americano, como O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera), em 1925. Cineastas de origem alemã, radicados nos Estados Unidos, como Karl Freund (que foi diretor de fotografia de Drácula, em 1931), ajudaram a definir a atmosfera dos filmes de monstros produzidos pela Universal nos anos 1930. Com suas características peculiares de direção de arte e de fotografia, esses profissionais criaram um modelo estilístico para as futuras gerações.
Em 1924, o jovem Alfred Hitchcock foi enviado para trabalhar no filme The Blackguard (Die Prinzessin und der Geiger), como assistente de direção e diretor de arte para os estúdios UFA, em Berlim. O efeito imediato desse ambiente de trabalho pode ser visto no design de seus cenários para esse longa-metragem. O Expressionismo alemão influenciou o diretor ao longo de toda a sua carreira, assim como o cinema de Hitchcock influenciou diversos outros cineastas modernos.
Em seu terceiro filme, O Inquilino (The Lodger: A Story of the London Fog), de 1927, Hitchcock apresentou ao público técnicas de iluminação e truques de câmera ousados, contra a vontade do estúdio. Essa influência expressionista também pode ser percebida no bem sucedido Psicose (Psycho), de 1960, no qual a imagem borrada do assassino, vista através de uma cortina de banheiro, é uma reminiscência a Nosferatu, na cena em que o vampiro é mostrado por meio de uma sombra.
Nos anos 1940, diretores como Fritz Lang, Billy Wilder, Otto Preminger, Orson Welles, Carol Reed e Michael Curtiz introduziram o estilo expressionista nos dramas norte-americanos, expandindo ainda mais a influência do movimento no fazer cinematográfico moderno.
O expressionismo no cinema moderno
Batmna: O Retorno (Tim Burton, 1992)
Mais recentemente, em 1979, o filme Nosferatu: O Vampiro da Noite (Nosferatu: Phantom der Nacht), do cineasta alemão Werner Herzog, foi um tributo ao longa de F.W. Murnau, usando as mesmas técnicas expressionistas para contar uma história de valor simbólico muito profundo. Outro filme recente que usa contraste acentuado e elementos fantásticos é a produção norte-americana Cidade das Sombras (Dark City), de 1998, dirigida por Alex Proyas.
Elementos estilísticos empregados do Expressionismo são comuns atualmente em obras de ficção científica – por exemplo, Blade Runner: O Caçador de Androides (Blade Runner), de Ridley Scott, lançado em 1982 e visivelmente influenciado por Metrópolis; e Neblina e Sombras (Shadows and Fog), de Woody Allen, de 1991, uma homenagem aos cineastas expressionistas Fritz Lang, Georg Wilhelm Pabst e F.W. Murnau.
O estilo também pode ser percebido também na filmografia do diretor Tim Burton. Batman: O Retorno (Batman Returns), de 1992, é muito citado como uma tentativa moderna de capturar a essência do expressionismo alemão. As formas angulares dos prédios e a aparência agressiva da cidade de Gotham evocam a hostilidade e a ameaça presentes em Metrópolis. Além disso, o Gabinete do Dr. Caligari foi a inspiração para a aparência grotesca do Pinguim, interpretado por Danny DeVito.
As influências expressionistas de Burton são ainda mais aparentes no conto de fadas moderno Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands). O protagonista é uma referência ao servo sonâmbulo de Caligari. Burton provoca desconforto com os ambientes do filme, desde o subúrbio colorido até o castelo gótico do protagonista. A seu modo, o diretor subverte o pesadelo de Caligari com uma narrativa surpreendentemente inspiradora, apresentando o outsider como herói e os habitantes da vila como vilões. O mesmo pode-se dizer sobre o filme Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street), de 2007, também dirigido por Tim Burton, cujo protagonista aparece sempre com roupas escuras, maquiagem branca no rosto e olheiras profundas.
*Texto e pesquisa: Katia Kreutz
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