O que é a fotografia de um filme?

“Nós escrevemos histórias com a luz e a escuridão, com o movimento e as cores. É uma linguagem com seu próprio vocabulário e com ilimitadas possibilidades de expressar nossos pensamentos e emoções.” – Vittorio Storaro

As palavras do diretor de fotografia italiano, um dos mais conceituados do mundo e responsável pela cinematografia de verdadeiras obras primas da sétima arte (como O Último Imperador e Apocalipse Now), expressam bem a importância desse trabalho na realização de um filme.

 

O que é fotografia – cinematografia?

A fotografia no cinema ou cinematografia é o elemento que diz respeito à captação das imagens, por meio de filmagens em película ou utilizando câmeras digitais. Ou seja, ela abrange tudo o que se relaciona à “impressão” daquilo que será visto pelo espectador, posteriormente.

Isso quer dizer que a direção de fotografia é a área que controla o processo de construção e o registro das imagens, levando para a tela toda a atmosfera e a linguagem imaginadas na pré-produção, por meio de ferramentas técnicas como iluminação, filtros, lentes, movimentos de câmera, enquadramento, cor, exposição, etc.

Uma definição genérica seria dizer que o diretor de fotografia ou cinematógrafo é o profissional que usa a câmera e a luz para transformar o texto do roteiro em imagens. Aliás, a palavra “cinematografia” vem do grego, numa junção entre kinema (que significa “movimento”), e graphein (“gravar”).

 

Quem faz a fotografia?

Dependendo do orçamento do filme, o diretor de fotografia não é o único profissional envolvido nessa função. Sua equipe, no set de filmagem, pode conter ainda o operador de câmera (chamado por alguns de cinegrafista), o assistente de câmera, o foquista (que faz o foco), além do eletricista (responsável por cuidar da iluminação) e do maquinista (que cuida dos maquinários, como trilhos e grua). Muitas vezes, esses profissionais também contam com sua própria equipe, de acordo com o tamanho e as necessidades da produção.https://www.aicinema.com.br/o-que-e-a-fotografia-de-um-filme/

 

Da pré-produção à finalização

Em um filme de longa-metragem, o ideal é que o diretor de fotografia esteja presente em todas as partes do processo, desde a pré-produção até a finalização. O arquivo, que você pode fazer o download ali em cima, é uma tradução da página da American Society Cinematographer (ASC), que diz quais são as responsabilidades do diretor de fotografia em cada etapa da produção.

Na pré-produção, algumas das responsabilidades desse profissional são a pesquisa e o estudo de referências para conceitualizar o roteiro e chegar a um consenso visual para a história, além da escolha de equipe e do equipamento, testes, visitas às locações, conversas com a direção de arte e análise da decupagem com o diretor.

Quando a equipe chega ao set de filmagem para a gravação, é hora de realizar o que foi pensado. Nessa etapa, o trabalho relativo à iluminação, ao controle de tempo, à movimentação de câmera, maquinário, enquadramento, composição e mesmo a liderança da equipe de cinematografia são algumas das principais responsabilidades do diretor de fotografia.

É também durante o processo de filmagem que a parceria da equipe de fotografia com a de arte se torna essencial. Cada uma dessas áreas tem seu tempo para preparar o set de acordo com as escolhas criativas daquele departamento. Nesse sentido, o diretor de fotografia e o diretor de arte devem trabalhar em conjunto, extremamente sintonizados, para a concepção e a execução da atmosfera visual do filme.

Por fim, a pós-produção ajuda a completar o processo da captação. Quando o fotógrafo está com o diretor até o filme ficar pronto, suas tarefas na pós incluem participar do trabalho de correção de cor com o colorista, dando soluções e sugestões para o ajuste fino das imagens, e fazer os testes de projeção.

 

Talento brasileiro

Edgar Brasil é considerado o patrono dos diretores de fotografia brasileiros. Ele trabalhou em Limite (1931), de Mário Peixoto, filme de linguagem ousada e extremamente inovadora. Já Luiz Carlos Barreto (pai dos cineastas Bruno e Fábio Barreto), foi diretor de fotografia de duas das mais importantes obras do Cinema Novo: Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha.

No cinema contemporâneo, um dos principais nomes da fotografia no Brasil é Walter Carvalho, responsável pela cinematografia de filmes como Central do Brasil (1998), Lavoura Arcaica (2001), Janela da Alma (2001), Madame Satã (2002), Amarelo Manga (2003), Crime Delicado (2005), O Céu de Suely (2006), A Febre do Rato (2011) e O Filme da Minha Vida (2017).

Outros brasileiros de renome na direção de fotografia são Adriano Goldman (O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, Cidade dos Homens e Jane Eyre), Affonso Henrique Beato (O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, Tudo Sobre Minha Mãe e Carne Trêmula), Edgar Moura (Cabra Marcado para Morrer, A Hora da Estrela e Tieta do Agreste), Adrian Teijido (O Palhaço, Elis e Narcos), Carlos Ebert (O Bandido da Luz Vermelha, República da Traição e Metamorphoses), Heloísa Passos (Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo e Mulher do Pai) e Flora Dias (O Duplo, Sinfonia da Necrópole, Califórnia).

Quebrando barreiras

Para quem acha que essa área ainda está carente de destaques femininos, a verdade é que – em uma indústria potencialmente machista – a direção de fotografia sempre foi considerada “técnica demais” para as mulheres.

No entanto, esse cenário começa a mudar. Em 2017, a diretora de fotografia norte-americana Rachel Morrison entrou para história como a primeira mulher a ser indicada para o Oscar de Melhor Cinematografia, pelo filme Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi.

“Não se trata apenas de cinematografia. É sobre acreditar em si mesmo e acreditar que tudo é possível. Eu acredito que o trabalho do diretor de fotografia é visualizar emoção – coisa que nós, mulheres, fazemos inerentemente bem”, contou ela, em entrevista ao Daily Mail.

Mais recentemente a diretora de fotografia Rina Yang tem tomado uma posição de destaque dentro da indústria. Depois de angariar feitos na publicidade, ela marcou presença na segunda temporada de Euforia da HBO. A fotógrafa caiu nas graças de alguns artistas pop e recentemente tem trabalhado muito em videoclipes, todavia, tem sido figurinha marcada nos créditos de produções americanas independentes, tendo recebido, inclusive, uma indicação ao BAFTA em 2018.

 

 

Nas palavras dos mestres

“Luz. Eu acredito que luz é conhecimento. Conhecimento é amor. Amor é liberdade. Liberdade é energia. Energia é tudo. Sem luz, não podemos ter imagens.

Todos os grandes filmes são resoluções de um conflito entre a escuridão e a luz. Não há um único jeito correto de se expressar. Há infinitas possibilidades para usar a luz, com sombras e cores. As decisões que você toma com relação à composição, ao movimento e às inúmeras combinações desses e de outros elementos é o que faz a arte.” – Vittorio Storaro (O Último Imperador, Apocalipse Now, O Último Tango em Paris)

“Eu acho que o público não sabe como um filme é iluminado, mas ele pode sentir. A linguagem do cinema é muito distante da linguagem do teatro e mais próxima da música. É abstrata, mas ainda assim narrativa.

Quanto mais ferramentas nós tivermos, diretores e fotógrafos poderão se expressar melhor e criar diferentes universos e sentimentos. É como ter mais instrumentos em uma orquestra.” – Emmanuel Lubezki (A Árvore da Vida, Filhos da Esperança, O Regresso)

 

“Não há tantas surpresas com a cinematografia digital, mas você pode se arriscar mais. Também ajuda a dormir melhor o fato de que você não precisa acordar às 4h da manhã e ligar para um laboratório para ver se ainda tem trabalho a fazer naquele dia.” – Jeff Cronenweth (O Clube da Luta, Abaixo o Amor, A Rede Social)

 

“Cada cena é um desafio. Há desafios técnicos, claro, mas muitas vezes são os obstáculos mais simples que dão um senso de conquista, quando superados.

Eu gosto de simplicidade. Gosto de usar fontes naturais de luz. Gosto que as imagens pareçam naturais – como se alguém, sentado em uma sala do lado de uma lâmpada, estivesse sendo iluminado por ela. Se você grava com um bilhão de câmeras, não há perspectiva. A ideia é usar um plano de cada vez, então é melhor descobrir sobre o que trata esse plano antes de gravar, ao invés de tentar criar algo na edição, algo que depois acaba se tornando genérico.” – Roger Deakins (007 – Operação Skyfall, O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Fargo).

 

*Texto e pesquisa: Katia Kreutz

 

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Professor e crítico de cinema Sérgio Rizzo debate produção brasileira em Harvard

No próximo dia 20/04 o professor da Academia Internacional de Cinema (AIC), crítico e curador Sérgio Rizzo estará na Universidade de Harvard para palestra, aberta e gratuita, sobre produção cinematográfica brasileira.

Com o tema “Brasil, século 21: um país turbulento nas ruas, mas tranquilo nas telas” Sérgio Rizzo falará sobre a produção cinematográfica brasileira de ficção que chega ao circuito comercial e de como ela não representa as complexidades sociais, políticas e culturais do país.

Além do seminário, Sérgio Rizzo apresentará dois curtas-metragens.

SERVIÇO

Quando – Sexta-feira, 20/04/2018
Horário: Das 14h às 15h30
Barker Center, Sala 114 (Kresge Foundation Room), 12 Quincy Street, Cambridge, Massachusetts

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pontos de vista

“Pontos de Vista” continua carreira em festivais

“Charlie possui o pescoço torto, mas pensa que é reto, então tenta desentortar o mundo ao seu redor.” A premissa do curta Pontos de Vista, de Isa Meneghini, é simples e, ao mesmo tempo, repleta de estranheza. O protagonista é um rapaz que não se sente parte do mundo onde vive, por conta de sua visão particular – e até mesmo distorcida – da realidade.

​Não foi fácil tirar essa história do papel, mas os resultados positivos do esforço ​da cineasta e de sua equipe já começam a aparecer. O filme já passou por vários festivais, confira a lista completa:

  1. Filmworks Filme Festival
  2. Mostra de Cinema Brasileiro em Viena (Áustria)
  3. Rodando en Bicicleta (Colômbia)
  4. Internacional Delhi Shorts Film Festival (Índia)
  5. Chhatrapi Shivaji International Film Festival (Índia)
  6. Piggy Bank International Film Festival (Índia)
  7. Zoom International Film Festival (Polônia)
  8. Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cinema de Bento Gonçalves – RS
  9. Prêmio de Melhor Direção no festival FECEA – Festival de cinema escolar de Alvorada, RS
  10. Prêmio Júri Popular Mostra Online no Festival de Direitos Humanos – ENTRETODOS

“Sempre gostei de um humor tragicômico, um tanto nonsense, de personagens excêntricos em um universo próximo das fábulas”, conta a diretora e roteirista, ex-aluna do Filmworks na Academia Internacional de Cinema (AIC). ​Ela acrescenta que, n​o roteiro​, tentou abordar o bullying e a pressão social, principalmente nas escolas, além do distanciamento dos adultos com relação às crianças e adolescentes.

​A história trata de duas pessoas diferentes​, que​ se encontram uma na outra e acabam se sentindo menos sozinhas. “Pesquisei bastante sobre ansiedade, depressão… temas que rondam o ambiente familiar e escolar dos jovens”, explica Isa, que tentava ​filmar Pontos de Vista desde 2014. “Eu não conseguia encontrar pessoas que topassem arriscar e fazer algo completamente fora de uma linguagem naturalista. ”

Foi em 2016, como trabalho de conclusão do curso na AIC, que a diretora conseguiu gravar o filme, tendo Chico Alencar no papel de Charlie. Como o curta é todo filmado ​de maneira subjetiva, ​do ponto de vista do protagonista, ele foi também o câmera. A direção de fotografia é de Paulo Fischer e a direção de arte fica a cargo de Ana Piller, que faz uma pontinha atuando. A própria Isa também trabalha como atriz, no papel de Julieta. ​​

​A produção fica por conta de Julia Hausner e Murilo Paiva (que também atuou como primeiro assistente de direção). Mateus Henrique e Raphael Cubakowic são responsáveis pela montagem. ​O​s demais membros da equipe, também alunos da AIC, são Julia Rantigueri (segundo assistente de direção), Rafaella Kaufman (som ​direto​), Felipe Soares e Guilherme Fiorentini​ (sound design)​. A trilha original é de Diogo Henrique, a colorização e masterização​ da Zumbi ​Post. No elenco, estão ainda ​José Roberto Rodriguez, Suelen Santana e Thiago Thalles.​​

De acordo com a cineasta, um dos fatores que levaram a equipe a confiar em sua “ideia maluca” foi um consistente caderno de produção, com 100 páginas. “Foi o curta mais desafiador que já fiz. Jamais teria conseguido executá-lo se não tivéssemos conseguido bater a meta do crowdfunding“, completa. Entre as dificuldades, a diretora cita a necessidade de criar um capacete específico para o ator principal e operador de câmera, ​para aguentar o equipamento 5D utilizado na gravação.

Isa Meneghini ​sempre ​esteve envolvida com teatro e cinema. “Desde criança, gostava de me reunir com amigos e gravar uns curtas de terror, uns videoclipes malucos”, lembra. Em 2011, começou a participar de um grupo de curtas com amigos ​de seu colégio​ que, assim como ela, também ​se identificavam com linguagens audiovisuais um pouco mais “bizarras”. Quando ​Isa começou a estudar cinema na AIC, passou também a conhecer melhor as funções cinematográficas. “Eu fazia tudo na hora, sem pensar muito. Fui começando a entender um pouco mais sobre um set profissional e isso também me fez crescer como atriz. ”

*Texto Katia Kreutz

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Elegia de Um Crime, Cristiano Burlan

“Elegia de um Crime”, do professor Cristiano Burlan, concorre no É Tudo Verdade

 

Mais uma vez o ex-aluno e professor da Academia Internacional de Cinema (AIC), o cineasta Cristiano Burlan, concorre na Mostra Competitiva Brasileira do Festival É Tudo Verdade. “Elegia de um Crime” conta sobre a morte de Isabel Burlan da Silva, mãe do diretor, assassinada pelo parceiro em 2011. O filme encerra a “Trilogia do Luto”, que aborda a trágica história da família.

Em 2013 Burlan venceu o mesmo festival com o segundo filme da trilogia, “Mataram meu Irmão”.

“A ‘Trilogia do Luto’ que se inicia em 2007, quando realizei o documentário ‘Construção’ em homenagem a meu pai que havia falecido de forma até hoje pouco esclarecida. O segundo filme da trilogia chama ‘Mataram meu irmão’ onde reconstituo os detalhes da morte de meu irmão, Rafael Burlan da Silva, ocorrido em 2001. Me lancei numa jornada pessoal que me conduziu ao coração de um círculo de violência em torno dos bairros da periferia paulistana – como o Capão Redondo, onde morava com minha família e meu irmão. Ele tinha 22 anos quando foi brutalmente assassinado com sete tiros pelas costas. Para fechar a trilogia embarco agora numa viagem vertiginosa e investigativa na construção deste documentário que dou o título de ‘Elegia de um Crime’. O documentário se inicia nos primórdios da tragédia que assolou minha família. Fomos até Porto Alegre e a partir de uma pesquisa prévia, fizemos entrevistas com familiares e amigos e percorreremos locais e ambientes que fizeram parte da infância de minha mãe e de minha própria família”, conta Burlan.

A 23ª edição do festival acontece de 12 a 22 de abril, em São Paulo e no Rio de Janeiro e traz a nova safra do documentário brasileiro e internacional. “Adoniran – Meu nome é João Rubinato” abre o festival em 11 de abril em São Paulo e “Caravana”, em 12 de abril, no Rio de Janeiro.

A Competição Brasileira de Longas ou Médias-Metragens apresentará sete filmes – todos em estreia no país, além de “Elegia de um Crime” de Cristiano Burlan estão: “Auto de Resistência” de Natasha Neri e Lula Carvalho, “Che, memórias de um ano secreto” de Margarita Hernandez, “Espera” de Cao Guimarães, “Ex-Pajé” de Luiz Bolognesi, “Missão 115” de Silvio Da-Rin e “Neville D’Almeida – Cronista da Beleza e do Caos” de Mario Abbade.

A cineasta americana Pamela Yates, uma das mais importantes documentaristas americanas dedicadas a temas relacionados aos direitos humanos e à América Latina, é a homenageada de 2018. Também serão disponibilizados no site do Itaú Cultural os filmes de cinco diretoras brasileiras que marcaram a história do festival. A mostra on-line ficará disponível entre os dias 17 a 22 de abril.

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Documentário Olho de Peixe

DOCUMENTÁRIO e FILME DE FICÇÃO: os limites entre realidade e invenção

Para muitos documentaristas, a distinção entre o que caracteriza um filme de ficção e um documentário pode ser bastante nebulosa. No início, o cinema documental era uma ferramenta de investigação, mas essa definição perdeu espaço para concepções de narrativas mais criativas. Na verdade, o cinema nasceu como documentário; afinal, os primeiros filmes dos irmãos Lumière, pioneiros do fazer cinematográfico, lá no final do século XIX, retratavam cenas do cotidiano dos franceses da época.

 


Acredita-se que o termo documentary tenha sido cunhado pelo cineasta escocês John Grierson. Segundo ele, o princípio do documentário estava no potencial do cinema para a observação da vida, que poderia ser explorado em uma nova forma de arte. Ele defendia que o ator “original” e a cena “original” seriam melhores para interpretar o mundo moderno do que os elementos que a ficção oferecia. Ou seja, que os conteúdos tirados do “material cru” seriam sempre mais reais do que os encenados.

Para muitos estudiosos, o documentário se diferencia das outras formas de não-ficção porque oferece uma opinião, uma mensagem específica, junto com os fatos que apresenta. Vale lembrar que o documentário é uma prática cinematográfica que está constantemente evoluindo e não tem fronteiras muito claras.

Uma das maiores diferenças entre os dois estilos de filmes é de que o cinema de ficção tem suas responsabilidades éticas, naturalmente, mas no documentário essa responsabilidade aumenta. Por quê? Para um ator, o filme em que ele está trabalhando é apenas um trabalho. Já para o sujeito de um documentário, a filmagem vai acabar, mas a vida continua. Esse “personagem” tem uma experiência existencial com o filme.

 

 

Outra diferença é que no documentário você lida com a realidade de uma forma mais intensa, o que inclui as surpresas e decepções que fazem parte do mundo real. O que a realidade apresenta ao documentarista pode fazer parte do filme e enriquecê-lo, mas também podem causar problemas de logística e planejamento.  Na ficção, existe uma possibilidade muito maior de se planejar o que acontece no set, embora também exista espaço para improviso. Só que o controle é muito maior.

Enquanto que na ficção boa parte do que se vê no filme já está previamente estabelecido no roteiro, o documentário é muito mais orgânico. Ele se constrói enquanto está sendo feito: a filmagem busca o imprevisto. Nesse contexto, a pesquisa e a montagem são processos longos e importantíssimos para essa construção.

Recentemente, a cultura do documentário se expandiu e a própria ficção tem usado elementos documentais, misturando linguagens. Para muitos cineastas, a diferença entre os gêneros não importa muito, pois trabalhar conscientemente na fronteira entre as várias formas de explorar a realidade pode enriquecer qualquer tipo de arte.

A única distinção que precisa ser feita, para o artista, é de que o filme seja fiel e potente quanto à sua pretensão artística, que tenha coerência interna de linguagem. O impacto que ele vai gerar no público, no final das contas, vai depender de inúmeras variáveis que estão fora do controle do cineasta.

*Texto: Katia Kreutz.

 

 

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Foto: Documentário “Olho de Peixe” feito pelos alunos Diogo Nonato, Icaro Cooke Vieira, Felipe Portugal, Sergio Lindeberg Chaves e Carlos Gabriel Gila Silva da turma de documentário de 2015.

 

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Curso Técnico em Direção Cinematográfica

Fundo Setorial do Audiovisual (FSA)

Um dos maiores desafios, para os produtores de cinema, é conseguir recursos para tirar histórias do papel. Felizmente, algumas iniciativas públicas estão aí para fomentar a produção e reforçar um mercado que, apesar de ainda em crescimento, já mostra sinais de maturidade.

Embora a indústria cinematográfica no Brasil não seja tão estabelecida quando a hollywoodiana, é perceptível o enorme sucesso de filmes recentes nas bilheterias, tanto em salas de cinema nacionais quanto internacionais. Essa presença de produtores e diretores brasileiros no cenário mundial abre cada vez mais possibilidades de negócios e de desenvolvimento para o nosso mercado; o que, consequentemente, agrega profissionais e gera recursos para novas produções.

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Mesmo em tempos de vulnerabilidade econômica, o governo foi capaz de vislumbrar esse retorno para nossa indústria cultural e se tornou um verdadeiro parceiro dos produtores nesse mercado com tanto potencial lucrativo. Num contexto em que os produtores têm se informado, cada vez mais, sobre formas de viabilização, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) e o Ministério da Cultura têm buscado, de maneira consistente, suprir essa demanda do audiovisual brasileiro por recursos, principalmente no que diz respeito a filmes de longa-metragem.

Nesse sentido, o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) é um mecanismo de incentivo muito bem-vindo. Uma das vantagens dessa fonte de recursos é que ela atende às empresas mais diversas, desde as já consolidadas até produtoras estreantes, de praticamente todos os estados do país. Nas linhas de TV, por exemplo, mais da metade dos contratos de investimento celebrados foram com proponentes que realizaram poucos projetos anteriores com recursos públicos.

Histórias de sucesso

Entre os filmes nacionais produzidos por meio do FSA, não faltam exemplos de produções bem-sucedidas, junto ao público e também à crítica. Hoje eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro, chegou a ser o representante brasileiro na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, há alguns anos.

Na lista de longas de sucesso nas telas de cinema estão ainda Praia do Futuro, de Karim Aïnouz; Faroeste Caboclo, de René Sampaio; Boa Sorte, de Carolina Jabor; Rio Corrente, de Paulo Sacramento; Entre Nós, de Pedro e Paulo Morelli; Somos Tão Jovens, de Antonio Carlos da Fontoura; Irmã Dulce, de Vicente Amorim; Os homens são de Marte e é pra lá que eu vou, de Marcus Baldini; Chico Xavier, de Daniel Filho; Qualquer Gato Vira-Lata 2, de Tomas Portella; Xingu, de Cao Hamburger; O Palhaço, de Selton Mello; e Os Amigos, de Lina Chamie, cineasta e professora da Academia Internacional de Cinema (AIC).

As comédias, em especial, proporcionaram retornos financeiros consideráveis para o FSA, em certos casos até dobrando o valor investido. Entre as mais vistas pelo público – e também mais lucrativas – estão De Pernas pro Ar, Até que a Sorte nos Separe e Loucas pra Casar, de Roberto Santucci; Cilada.com, de Bruno Mazzeo; e Minha Mãe é uma Peça, de Andre Pellenz.

Produtores menores e filmes de estados fora do eixo Rio/São Paulo também têm seu espaço entre os contemplados pelo fundo, que preza pela diversidade de vozes no cinema brasileiro. Nas chamadas públicas mais recentes para produções independentes, foram aplicados recursos em projetos de Santa Catarina, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Amapá e Distrito Federal.

Sobre o Fundo

O FSA é composto por recursos federais, destinados ao desenvolvimento de toda a cadeia produtiva do audiovisual no país. Criado em 2006 e regulamentado em 2007, o fundo recolhe taxas geradas dentro da própria atividade audiovisual e reinveste esse dinheiro em projetos como:

  • Desenvolvimento, produção e distribuição de obras para cinema e TV (longas-metragens e séries);
  • Desenvolvimento de jogos eletrônicos;
  • Ações de infraestrutura (como a construção e modernização de salas de cinema);
  • Financiamento de empresas de pós-produção;
  • Inovação e capacitação profissional.

O FSA reúne, atualmente, um conjunto de editais, operados principalmente pela Ancine, mas também pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, ou em parcerias com secretarias de cultura e outros órgãos estaduais e municipais, por meio de editais regionais de investimento – como os da SP Cine e Riofilme.

Para quem quer produzir um projeto audiovisual, vale pesquisar sobre as diversas linhas de ação do fundo, com programas direcionados a todos os segmentos da indústria, incluindo o PRODECINE (Programa de Apoio do Desenvolvimento do Cinema Brasileiro), o PRODAV (Programa de Apoio do Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro) e o PROINFRA (Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Infraestrutura). 

Passo a passo

  1. O primeiro passo para buscar recursos do FSA é ter uma empresa registrada na Ancine e classificada como agente econômico brasileiro independente. Essa é a condição inicial para acessar a maioria das chamadas públicas.
  2. O segundo passo é ler os textos das chamadas, publicados no site: http://www.brde.com.br/fsa/. A partir daí, é necessário elaborar uma proposta de acordo com o perfil do projeto que o produtor deseja inscrever, tendo em vista todos os requerimentos do edital e prestando muita atenção aos prazos.
  3. O proponente deverá então preencher a inscrição eletrônica específica para seu processo de seleção, disponível no Sistema FSA/BRDE, apresentando também todos os documentos solicitados.
  4. Os projetos passam por uma triagem documental, para verificar se estão aptos a serem analisados. Por fim, a análise leva em conta quesitos como coerência, relevância e experiência da equipe envolvida.
  5. O produtor precisa estar atento aos comunicados no site e verificar as listas de projetos deferidos.

Dica dos profissionais da AIC: A melhor forma de acessar os recursos do FSA é elaborar um projeto relevante e bem escrito. Um ponto que merece atenção é o descritivo do projeto, já que os textos de apresentação e de justificativa devem ser claros e objetivos, atendendo às demandas do edital. Se possível, tente também encontrar um parceiro, tanto uma empresa coprodutora quanto um distribuidor ou canal de televisão disposto a contribuir para tornar o projeto uma realidade.

A visão dos produtores

Uma das grandes dificuldades dos produtores iniciantes diz respeito aos documentos de inscrição exigidos pelos editais. Outro desafio é adequar o projeto aos formulários, que estabelecem um formato padrão de apresentação das propostas. Tanto no FSA como em qualquer outro concurso, é preciso prestar muita atenção às regras e detalhes, para que os requisitos de participação sejam plenamente atendidos.

De modo geral, para inscrever um projeto em um edital público, o produtor executivo precisa saber interpretar o roteiro, conhecendo suas necessidades no que diz respeito aos recursos humanos, técnicos, artísticos e logísticos. Essas informações permitem ao profissional traçar um orçamento e um cronograma corretos.

No caso de produtores que ainda não possuem muita experiência no mercado audiovisual, é aconselhável começar com concursos mais simples do que o FSA, como o Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem (fique atento, os primeiros editais devem ser lançados ainda no mês de março) ou editais privados. Assim, pode-se aprender a visualizar e orçar bem um projeto, antes de partir para fontes de recurso de maior complexidade.

Ideias no papel

Mas como aprender a preparar o projeto perfeito? Como tudo na vida, é uma questão de prática: o produtor aprende errando e acertando. Uma possibilidade é buscar cursos na área de produção, que tenham aulas especificamente sobre pitching e inscrição de projetos em editais e leis de incentivo. Afinal, esse é um mercado que depende muito de recursos públicos, por isso estar preparado para defender seu projeto é sempre uma habilidade valiosa.

Lembre-se: você não vai conseguir aprovar todos os projetos que inscrever. “O importante é continuar tentando e não desistir”, observa Alessandra Haro, professora de Produção na Academia Internacional de Cinema. Uma vez que a defesa do projeto esteja no papel, o trabalho maior já foi feito. Ou seja: se não for aprovado no FSA, basta buscar outros editais ou concursos e fazer os ajustes necessários. É sempre um exercício.

Outra dica de Alessandra é entrar em contato com o órgão que vetou o projeto e descobrir as razões pelas quais ele não foi aprovado. “Essa é uma forma de entender o que deu errado, em que aspectos ele poderia ter pontuado melhor e ser bem-sucedido em uma tentativa futura”, explica.

Além de conhecer o funcionamento do fundo e as regras do edital em que se pretende inscrever, é interessante participar de festivais de cinema e de outros eventos do mercado. Eles são fundamentais para ter contato com produtores mais experientes e conhecer a trajetória de projetos vencedores.

O que esperar para 2018

De acordo com Leonardo Lima, professor no curso de Produção Executiva da AIC e servidor da Ancine no cargo de especialista em regulação, este ano devem ser implementados ajustes nas regras de acesso e de avaliação das empresas e de projetos para o FSA. Algumas mudanças já foram aplicadas no novo edital, lançado em março de 2018, voltado à produção de longas-metragens para o cinema.

“O Ministério da Cultura, através da Secretaria do Audiovisual, recentemente anunciou também o lançamento de editais voltados a políticas afirmativas, com cotas para mulheres, negros, indígenas e projetos de empresas localizadas fora do eixo Rio/São Paulo”, ressalta Leonardo. Só para esses editais, está prevista a alocação de R$ 80 milhões. O orçamento total do FSA este ano deve ficar em torno de R$ 700 milhões, permanecendo no mesmo patamar de 2017.

Confira nossos cursos de produção audiovisual para iniciar ou se aprofundar na área.

* Escrito por Katia Kreutz. Fontes consultadas para esse artigo, professores da Academia Internacional de Cinema: Leonardo Lima e Alessandra Haro

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