O produtor executivo e documentarista Camilo Cavalcanti, que assina a Produção Executiva do longa A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, filme ganhador da Mostra “Un Certain Regard” do Festival de Cannes 2019 e indicado para representar o Brasil no Oscar 2020, vai bater um papo com os alunos da AIC RJ no próximo dia 10 de dezembro, às 19h30. O evento é aberto e gratuito. Para participar, preencha o formulário abaixo.
Camilo Cavalcanti produziu e coordenou vários projetos internacionais, passando por Cuba, África, Ásia e Europa. Antes de se dedicar integralmente à Clariô Filmes, produtora que fundou em 2013, esteve por 3 anos à frente da Produção Executiva da LC Barreto, uma das mais tradicionais produtoras do cinema brasileiro. Como Produtor, assina projetos feitos em parceria com HBO, Canal Brasil, Globo Filmes, Canal Curta, entre outros. Entre eles se destacam Em Busca de Anselmo, serie em coprodução com HBO e com estreia prevista pra 2020, Barretão, documentário sobre a figura icônica de um dos maiores produtores brasileiros – o filme recebeu prêmio de melhor produção no Festival de Trieste 2019, e Amar e Mudar as Coisas, documentário sobre o cantor, compositor e poeta Belchior, ainda em produção.
Bate Papo com Camilo Cavalcanti
Academia Internacional de Cinema
Rua Martins Ferreira, 77 (ao lado da Cobal do Humaitá).
No próximo dia 9 de dezembro, às 18h, a Academia Internacional de Cinema (AIC) de São Paulo exibe o premiado filme Chuva é cantoria na aldeia dos mortos. A sessão será seguida de bate-papo com os diretores João Salaviza e Renée Nader Messora, mediado pelo coordenador acadêmico da AIC Martin Eikmeier. O longa, que percorreu mais de cinquenta festivais internacionais, é vencedor do Prêmio Especial do Júri na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes, onde fez sua estreia em 2018.
A sessão comentada é aberta e gratuita. Para participar, preencha o formulário abaixo.
Chuva é cantoria na aldeia dos mortos acompanha a história de Ihjãc, um jovem da etnia Krahô, que mora na aldeia Pedra Branca, em Tocantins. Após a morte do pai, ele se recusa a se tornar xamã e foge para a cidade. Longe de seu povo e da própria cultura, Ihjãc enfrenta as dificuldades de ser um indígena no Brasil contemporâneo.
Renée e João, que passaram vários meses na aldeia Pedra Branca, explicaram que o filme foi inspirado em uma história real : “O filme é inspirado na história de um desses jovens cineastas indígenas, que em uma das nossas viagens à aldeia, começou a se sentir fraco e assustado porque um pajé tinha jogado um feitiço nele. Se ficasse na aldeia, ele achava que iria morrer, então fugiu para a cidade. Este caso, que acompanhamos muito de perto, foi o disparador. Depois, com a nossa convivência na aldeia, participando da rotina da comunidade, o filme começou a ganhar novos contornos. Quando finalmente decidimos que o Ihjãc seria o protagonista, ele também trouxe todo o seu núcleo familiar, suas questões cotidianas e sua maneira muito particular de se relacionar com o mundo. Então o filme vai se moldando, ancorado numa forte presença de elementos reais, do dia a dia na aldeia, naquele núcleo familiar específico. Queríamos filmar a intimidade daquela família”.
O cineasta português João Salaviza, professor da IAFA (escola irmão da AIC), estudou cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, e na Universidad del Cine, em Buenos Aires. Seu primeiro longa-metragem, Montanha, teve estreia mundial na Semana da Crítica do Festival de Veneza, em 2015. Veio na sequência de uma trilogia de curtas formada por Rafa (Berlinale Golden Bear 2012), Arena (Palme d’Or no Festival de Cannes 2009) e Cerro Negro (Rotterdam em 2012). Recentemente voltou ao Festival de Berlim com os curtas Altas Cidades de ossadas e Russa (codirigido com Ricardo Alves Jr). Chuva é cantoria na aldeia dos mortos é seu segundo longa-metragem.
Renée Nader Messora é paulista, formada em Direção de Fotografia pela Universidad del Cine, em Buenos Aires. Por 15 anos trabalhou como assistente de direção no Brasil, Argentina e Portugal. Em 2009, Renée Nader Messora conheceu os Krahô e, desde então, ela trabalha com a comunidade, contribuindo na organização de um coletivo de jovens cinegrafistas. O foco do trabalho do grupo Mentuwajê Guardiões da Cultural é usar as ferramentas audiovisuais para o fortalecimento da identidade cultural e a autodeterminação da comunidade. Chuva é cantoria na aldeia dos mortos é seu primeiro longa-metragem.
Sessão + Bate-Papo na AIC de São Paulo
18h exibição do filme Chuva é cantoria na aldeia dos mortos (114 minutos) 20h bate-papo com os diretores João Salaviza e Renée Nader Messora Rua Doutor Gabriel dos Santos, 142 – Higienópolis. Fone: +55 11 3660-7883
O maior motivo de a jornada do herói ter um apelo tão grande é que as pessoas adoram histórias. Essa afirmação parece trivial a cineastas, e também já é verdade aceita por publicitários, jornalistas e outros que dependem do audiovisual para transmitir uma mensagem cativante.
É fato, ainda, que as histórias funcionam melhor quando se desenvolvem segundo estruturas que sejam reconhecíveis pelos ouvintes ou espectadores. A jornada do herói é uma dessas estruturas e, talvez, a mais conhecida delas. Pode ser identificada em obras hollywoodianas, nos quadrinhos e romances da alta literatura, por exemplo.
Neste artigo, você vai aprender como utilizá-la em suas próprias produções audiovisuais, aumentando a identificação do público com as histórias que você conta. Confira!
O que é a jornada do herói
Essa teoria foi baseada em um conceito um pouco mais antigo, cunhado por Joseph Campbell, um célebre antropólogo que se dedicou a estudar as narrativas dos povos antigos e encontrar padrões que as unissem.
Campbell percebeu que uma estrutura se repetia incessantemente nessas histórias, e a chamou de “monomito”. Segundo o estudioso, quase todos os enredos se desenvolvem segundo as mesmas etapas, e cada uma dessas etapas tem uma mesma função narrativa.
O monomito se desenvolveu como teoria, e acabou ficando conhecido como a jornada do herói, que pode ser dividida em 4 estágios bem definidos.
1. A apresentação do problema
O herói aparece aqui pela primeira vez. Ele é apresentado de modo que suas características despertem empatia no telespectador. Repare que isso não quer dizer que ele seja totalmente bom ou perfeito.
Assim como nós, o herói pode apresentar dilemas éticos e comportamento duvidoso em alguns momentos. O essencial, no entanto, é que ele seja humano e esteja envolvido em algo (o problema, propriamente dito).
É esse embate entre um protagonista e um problema que faz com que a história exista. É também essa relação que sustenta a atenção das pessoas até o fim, por meio da curiosidade sobre a jornada do herói.
2. A recusa do chamado
A primeira atitude do herói frente o problema é a recusa. Ele teme, sente-se inseguro ou resolve evitá-lo, fingir que não existe. Em tramas mais complexas, isso pode ter a ver com falhas anteriores, que o deixaram com medo de errar mais uma vez.
Em alguns casos, a recusa é uma necessidade moral. Por exemplo, o herói pode se negar a participar de uma batalha por não acreditar na guerra como maneira de resolver os problemas.
3. Superação e decisão
Algo faz o herói mudar de opinião, no entanto. Em uma trama rica, pode haver algum elemento que cause pressão sobre ele, levando-o a questionar sua primeira opção de se esquivar do problema.
O embate entre esses dois sentimentos acaba compelindo o herói para a sua jornada. Ele resolve enfrentar o próprio medo e seguir — ou aceita a necessidade de algo que condenava moralmente — mesmo que as probabilidades estejam contra ele.
Deve haver uma certa dificuldade na solução desse problema. Essa dificuldade deve parecer (mas apenas parecer) desproporcional às forças do herói, de modo que ele duvide de sua capacidade.
4. A conclusão
O prêmio que o herói recebe pela sua conduta corajosa não é necessariamente a vitória. Pode ser a mudança. Face aos desafios que deve enfrentar, ele se torna alguém melhor do que era, mais resistente, convicto ou realizado.
Repare que o elemento que mais aproxima o telespectador do herói não é vencer a batalha, mas a sua evolução como pessoa. Se a vitória acontece, ela se dá como consequência dessa transformação, muitas vezes tornando o herói mais sábio ou arrazoado.
Como utilizar esse método no audiovisual
No contexto da criação audiovisual, conhecer a jornada do herói facilita muito na criação de roteiros. Você passa a enxergá-los do ponto de vista formal, e isso permite despertar sensações mais intensas no público sem grandes esforços intelectuais.
Abaixo, listamos um passo a passo para você escrever o seu próximo roteiro. Repare que a estrutura já está pronta. Tudo que você deve fazer é preencher com os elementos que a sua criatividade permitir, como numa espécie de template.
Escolha o ambiente da sua história
De certa forma, a luta do herói é contra o meio em que vive. Ele pode desafiar costumes, a opinião pública para viver um relacionamento, entre outros.
Assim, em cenários pós-apocalípticos, por exemplo, o maior problema do herói é sobreviver. Por outro lado, se o ambiente é excessivamente tranquilo e não apresenta adversidades, ele pode ser convidado a lutar contra o tédio, procurando uma vida mais emocionante.
Ou seja, definir o pano de fundo da sua história é o primeiro passo. Aspectos desse lugar vão determinar não apenas o que o herói pensa e pretende fazer, mas também quem ele é.
Pense em um conflito ou situação-problema
O que incomoda o herói? Por que ele deve se colocar em movimento em busca de uma aventura? Se não houvesse um conflito a ser resolvido, ele continuaria no seu lugar de conforto.
O conflito, no fundo, é o motivo de a sua história existir. Ele deve ser forte o suficiente para comover as pessoas, mas deve ser proporcional às forças do herói, que vai resolvê-lo.
Entregue uma mensagem envolvente
Um filme ou história, em geral, não é sobre alguém que pretende fazer alguma coisa e não está conseguindo. É sobre nós mesmos, e a história é uma grande metáfora da nossa própria realidade, por mais surreal ou fantástica que ela possa parecer.
Assim, existe um subtexto, uma camada mais profunda da sua narrativa que vai despertar o interesse do telespectador. Ela forma um pano de fundo emotivo e que é perfeitamente coerente com a natureza humana e a falha do herói.
Estruture um enredo que cative as pessoas
Se você souber estruturar a jornada do herói e, com isso, fizer dele alguém humano, os telespectadores vão se reconhecer. Lembre-se que um enredo que cativa, muitas vezes, é aquele que parece improvável e absurdo.
Isso porque o absurdo está presente no dia a dia das pessoas, e a curiosidade por como alguém comum reage a situações incomuns sempre cativa e causa interesse.
Contar histórias é algo quase tão antigo quanto a espécie humana. E chega a ser curioso notar como esse hábito se manteve por tanto tempo baseado em pressupostos tão simples, não é mesmo?
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Estão abertas as inscrições para a 9ª edição da Mostra Ecofalante de Cinema até o dia 15 de janeiro. A Mostra é gratuita e será realizada em São Paulo, em junho de 2020.
Serão aceitas obras latino-americanas, finalizadas a partir de 2018 e que não foram exibidas comercialmente na cidade de São Paulo antes da data do festival. Não há restrições quanto a gênero ou duração. Os filmes devem tratar de temáticas socioambientais tais como: energia, água, mudanças climáticas, consumo, povos e lugares, ativismo socioambiental, resíduos sólidos, contaminação ou poluição, políticas públicas socioambientais, questões urbanas, mobilidade, habitação, alimentação, economia, globalização, vida selvagem, sustentabilidade, entre outras.
O regulamento e formulário de inscrição estão disponíveis no site da mostra.
O diferencial do cinema contemporâneo produzido na Bahia fica por conta das temáticas com foco na representatividade
Um pouco de história
Bahia, Glauber Rocha acabou produzindo filmes em diversos lugares do país e do mundo.
Nascido na Bahia, Glauber Rocha acabou produzindo filmes em diversos lugares do país e do mundo.
A cinematografia baiana, que conta com nomes de peso como Glauber Rocha, já passou por diversas fases ao longo da história. Tudo começou em 1959, com o lançamento do primeiro longa-metragem gravado no estado, que iniciou também a carreira do ator Geraldo Del Rey: Redenção, de Roberto Pires. Um detalhe curioso é que o cineasta criava os equipamentos usados em seus filmes de maneira artesanal e foi responsável pela invenção de uma lente anamórfica, o Igluscope (semelhante ao Cinemascope).
O sucesso dessa produção impulsionou o chamado Ciclo Baiano de Cinema (1959-1963); que, por sua vez, fomentou o movimento do Cinema Novo – o qual teve como um de seus expoentes, claro, o baiano Glauber Rocha. Foi um encontro casual entre o (na época ainda inexperiente) cineasta e o produtor Rex Schindler que deu origem à Escola Bahiana de Cinema, com uma proposta de implantar uma infraestrutura cinematográfica local. Dessa associação surgiu o primeiro longa de Glauber, Barravento (1962). Entre os postulados da Escola estavam a valorização das raízes e da cultura do estado, o que não seria possível sem um sistema para a produção de filmes de maneira contínua, movimentando uma indústria que fosse capaz de se auto sustentar. Assim, a Bahia se tornou uma verdadeira Meca do cinema brasileiro, aglutinando cineastas também de outras regiões do país.
No início dos anos 1960, a Escola Bahiana de Cinema, tendo Schindler como principal produtor, realizou os filmes Barravento, A Grande Feira (1961) e Tocaia no Asfalto (1962). Outras produções que se destacam, desse período, são O Caipora (1963), de Oscar Santana, produzido por Winston Carvalho; Sol sobre a Lama (1964), uma produção realizada com dinheiro do próprio bolso por João Palma Neto e dirigida por Alex Viany; e O Grito da Terra (1964), filme aclamado de Olney São Paulo, que tem no elenco Helena Ignez. E enquanto Glauber buscava recursos para realizar suas obras em outros estados, Schindler investiu em uma coprodução entre Brasil e Portugal: A Montanha dos Sete Ecos (1963), de Armando de Miranda, longa todo filmado na cidade histórica de Cachoeira, que chegou a ser exibido em algumas capitais.
Embora Glauber Rocha seja um dos nomes mais lembrados quando se pensa em cineastas baianos (ainda que ele também tenha atuado em outros locais do país), foram muitos os realizadores que ajudaram a construir a história do cinema no estado, incluindo Roberto Pires, Olney São Paulo, Luiz Paulino dos Santos, Orlando Senna, Geraldo Sarno, Moacir Gramacho, Alexandre Robatto, Braga Neto, Luis Paulino dos Santos, Trigueirinho Neto e Oscar Santana, além de críticos importantes para o país, como Walter da Silveira, criador do Clube de Cinema da Bahia.
‘O Pagador de Promessas’ foi o único longa brasileiro a conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Durante o regime militar, o cinema documental foi a ferramenta de protesto de cineastas como Agnaldo Azevedo, Guido Araújo, Tuna Espinheira, José Telles, Timo Andrade, Roberto Gaguinho, Lázaro Torres, Kabá Gaudenzi, José Walter Lima, Wandeoursen, Lucio Mendes, Roque Araújo e Alonso Rodrigues. Na onda da contracultura, destacaram-se nomes como André Luiz de Oliveira, Álvaro Guimarães e Zé Humberto Dias, enquanto Fernando Coni Campos e José Frazão emplacaram sucessos no grande circuito, com o apoio da Embrafilme.
Ainda sob o regime militar, o surgimento do Super 8 possibilitou o cinema de Pola Ribeiro, Fernando Belens, Edgard Navarro, Jorge Felippi e Joel de Almeida. Nessa época, o Grubacin foi um grupo que reuniu profissionais liberais para produzir filmes, como os fotógrafos Robson Roberto, Ailton Sampaio, Milton Gaúcho, Cícero Bathomarco e Carlos Modesto. Surgiu também um movimento que se denominou “neonovíssimo Cinema Novo”, do qual fizeram parte Virgilio Carvalho e Marcus Sergipe. Já Chico e Alba Liberato produziram uma pioneira animação de longa-metragem.
Já na década de 1990, o cinema baiano continuou se desenvolvendo, mesmo com a crise do governo Collor. Com a retomada do cinema nacional, houve uma mobilização dos cineastas do estado em busca de melhores políticas públicas para o setor. Entre os nomes de realizadores dessa fase estão Sergio Machado, Jorge Alfredo, Rosana Almeida, Antônio Olavo, Edyala Iglesias, Roberto Duarte, Monica Simões, Solange Lima, Adler Paz, Lula Oliveira, Kiko Povoas, Caó Cruz Alves, Henrique Dantas, João Rodrigo Mattos e Sofia Federico, Karina Rabinovtiz, Élson Rosário, Fábio Rocha e Daniel Lisboa.
Mais recentemente, a partir dos anos 2000, destacam-se longas como Samba Riachão (2001), de Jorge Alfredo; Esses Moços (2004), de José Araripe Jr.; Cascalho (2004), de Tuna Espinheira; Cidade Baixa (2005), de Sérgio Machado; Eu me Lembro (2005), de Edgard Navarro; A Cidade das Mulheres (2005), de Lázaro Faria; Revoada (2008), de José Umberto Dias; Estranhos (2009), de Paulo Alcântara; Pau Brasil (2009), de Fernando Belens; Filhos de João (2009), de Henrique Dantas; e O Jardim das Folhas Sagradas (2011), de Pola Ribeiro; além de inúmeros curtas premiados.
Cinema baiano contemporâneo
‘Cidade Baixa’, longa baiano com Wagner Moura, Alice Braga e Lázaro Ramos.
São diversos os cineastas que têm mostrado trabalhos interessantes no cinema baiano contemporâneo. Entre esses artistas estão Ramon Coutinho, Amaranta Cesar, Glenda Nicácio e Ary Rosa, Marcus Curvelo, Vinicius Eliziáriu, Leon Sampaio, Daniel Lisboa, Viviane Ferreira, Maria Carol e Igor Souza, Pedro Perazzo e Rodrigo Luna, Safira Moreira, Michelle Mattiuzze, Cláudio Marques e Marília Hughes, João Lins e Maria do Socorro Carvalho, além de Gabriela Amaral (que atualmente tem produzido em São Paulo).
De acordo com Ramon Coutinho, nascido na cidade de Conceição do Coité, no interior da Bahia, e morador de Salvador, o cinema produzido atualmente no estado tem como diferencial as pautas focadas em questões de representatividade. “Acabamos agora o Panorama, o festival mais importante daqui no que diz respeito ao escoamento da produção independente. Eu acho que estamos em um momento, nos últimos anos, de afirmação – quanto a questões de raça, de negritude, de sexualidade”, explica o realizador. Para ele, tratar de tais assuntos é uma forma de o cinema baiano firmar sua posição a esse respeito, talvez de maneira mais direta do que outros cinemas da região Nordeste. “Arrisco dizer que a maioria dos curtas que vi nos últimos tempos tratava desses temas. Temos um cinema muito pautado em questões políticas, em debates de inclusão de novos sujeitos na tela”, completa.
Ramon é formado em história e desenvolve pesquisas relacionando sua área ao cinema, além de já ter atuado como crítico. “Cursei bacharelado interdisciplinar em artes, com área de concentração em cinema e audiovisual, e foi nesse curso que comecei minhas primeiras experiências práticas. Foi nessa experiência que o coletivo Cual se formou, em 2011”, conta. O coletivo já realizou diversos filmes, além de atuar em oficinas, mostras e cineclubes. “Atualmente, mais que ‘cineasta’, eu me considero um ‘audiovisuero’ – ou seja, alguém que se envolve com diversas atividades na área. Sinto que esse termo se contrapõe ao glamour em torno da ideia de fazer cinema.”
Uma das características mais marcantes do trabalho do Cual diz respeito ao modelo de produção. Na mesma época de sua criação, começaram a surgir uma série de coletivos por todo o Brasil. “A gente foi muito influenciado por essa nova forma de criação, sem privilegiar a produção de filmes em si, mas se propondo a elaborar atividades em todos os campos do audiovisual. Por exemplo, a gente criou mostras e um cineclube que dava espaço para curtas-metragens independentes, feitos com baixíssimo orçamento. Também fizemos mostras de filmes baianos pelo interior”, ressalta.
Making of da série ‘Eu, Empresa’, do baiano Ramon Coutinho.
Segundo Ramon, a Oficina Urgente de Audiovisual do coletivo, voltada à produção de baixo custo, era um espaço de formação tanto para os alunos quanto para os próprios realizadores. “O Cual se destacou, nesses anos, tanto por prêmios como pela circulação de alguns curtas, mas principalmente por essa atitude diferente, essa necessidade de produção intensa”, afirma. “No contexto em surgimos, a média de tempo para se fazer um longa na Bahia que era de três a quatro anos. A gente ficava muito chocado com essa dificuldade toda. Desde o início, quisemos burlar isso, esse modo de produção muito ‘limpinho’; tanto que nossos filmes são realmente um pouco ‘loucos e toscos’. Mas a gente se orgulha deles.”
Conforme explica Ramon, a produção das turmas de Cachoeira é uma das mais fortes nos dias de hoje, no estado da Bahia. “Eles têm um curso de audiovisual muito forte e um festival importante (Cachoeira Doc). Criou-se uma cena interessante. Acho que eu destacaria a Glenda Nicário, da Rosza Filmes, que ganhou o Festival de Brasília com Café com Canela (codirigido por Ary Rosa). É uma produção muito forte, a desses grupos e novos cineastas, a partir de ideias de identidade e raça”, salienta o cineasta, que considera como um clássico inegável do cinema de sua terra o longa SuperOutro (1989), de Edgard Navarro. “Eu destacaria também um filme de performance e dança, de um coletivo daqui, chamado Pinta (2013), de Jorge Alencar. É um longa arriscado, muito diferente do que é produzido aqui.”
Para Ramon, o cinema baiano atual está calcado em uma base temática, focada na representatividade. “Nosso cinema ainda possui uma estética muito formalista, no sentido de contar claramente essas histórias, de incluir essas personagens e esses conflitos, principalmente a partir da questão de raça e de negritude. Acho que a gente ainda se arrisca muito pouco por aqui, no que diz respeito à experimentação audiovisual. Boa parte dos filmes produzidos na Bahia estão muito vinculados a uma dramaturgia mais clássica. Não que isso seja necessariamente ruim, apenas que o risco estético é pequeno”, observa.
‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’, gravado na Bahia, é um dos maiores sucessos do cinema nacional.
Como no resto do Brasil, o cenário audiovisual da Bahia também depende de editais públicos, que têm enfrentado problemas para manter uma certa constância no apoio aos filmes. “A política do estado não é muito regular e isso prejudica a cadeia de produção local, porque a gente depende disso. No Cual, tratamos de maneira diversa essa questão da participação do dinheiro público no nosso trabalho. Tentamos fazer filmes tanto com esses recursos quanto sem dinheiro algum, como uma resposta, uma afirmação de que a gente não precisa fazer cinema apenas a partir de edital, ou justificar a ausência de uma produção de conteúdo porque não temos edital. Acredito que produzir filmes seja uma das formas mais eficientes de exigir e de cobrar políticas públicas mais constantes”, conclui o realizador.
Filmes imperdíveis
Conheça alguns filmes baianos que vale a pena assistir, para saber um pouco mais sobre o cinema produzido nesse estado tão rico em histórias e heranças culturais:
O Pagador de Promessas (1962)
Embora o diretor Anselmo Duarte seja paulista, o filme foi rodado em Salvador. Considerado um dos mais importantes do país, foi o único longa brasileiro a conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França. A história fala de Zé do Burro, dono de uma pequena propriedade no interior da Bahia. Quando seu burro Nicolau adoece, ele promete dividir suas terras entre os pobres e carregar uma cruz até a Igreja de Santa Bárbara, na capital.
Barravento (1962)
Primeiro longa-metragem de Glauber Rocha, filmado na praia do Buraquinho, em Itapuã. A história acompanha uma aldeia de pescadores, de antepassados africanos, que mantém cultos místicos ligados ao candomblé. Firmino, um antigo morador que retorna ao povoado, encomenda um despacho para se livrar de um rival amoroso, mas o alvo acaba sendo a própria aldeia.
Meteorango Kid – Herói Intergalático (1969)
Um clássico do cinema underground, o longa dirigido por André Luiz Oliveira ganhou vários prêmios no Brasil e no exterior. Conta as aventuras de Lula, um estudante universitário de uma geração oprimida pelo regime militar. No dia de seu aniversário, o anti-herói atravessa o labirinto cotidiano através de seus delírios libertários.
Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976)
Dirigido pelo carioca Bruno Barreto, mas gravado em Salvador, o filme é uma adaptação da obra de um renomado baiano – Jorge Amado. Recordista de bilheterias durante várias décadas e um dos maiores sucessos do cinema nacional, conta a história de uma sedutora viúva (Sônia Braga), que tem um caso com o fantasma do ex-marido.
Boi Aruá (1983)
A primeira animação produzida na Bahia, com direção de Chico e Alba Liberato, levou dois anos para ser concluída e passou por diversos festivais europeus. Baseada no folclore sertanejo, a história trata de um fazendeiro arrogante, cujo o poder é desafiado pela figura fantástica do Boi Aruá.
Cidade Baixa (2005)
Dirigido por Sérgio Machado, o filme mostra um triângulo amoroso entre uma stripper e dois homens que trabalham com transporte marítimo para a Cidade Baixa de Salvador. Ela pega carona com eles e interfere na dinâmica da dupla. O longa retrata o cotidiano da população local, em uma realidade de pobreza, violência e prostituição.
Ó Paí, Ó (2007)
Com direção de Monique Gardenberg, o filme conta com a participação de Caetano Veloso na trilha sonora e diversos atores do Bando de Teatro Olodum no elenco. A história se passa em meio ao Carnaval, em um animado cortiço do centro histórico do Pelourinho. É quando uma vizinha religiosa resolve acabar com a festa, fechando o registro de água do prédio.
Quincas Berro D’Água (2010)
‘Café com Canela’, premiado filme baiano de Glenda Nicário e Ary Rosa.
O filme de Sérgio Machado, protagonizado por Paulo José, conta a história de um funcionário público cansado de sua vida, que resolve abandonar a família e cair na farra, tornando-se “o rei dos vagabundos”. Algum tempo depois ele é encontrado morto e os familiares resolvem apagar os vestígios dessa fase duvidosa no funeral, até que aparecem seus amigos… com outros planos.
Capitães de Areia (2011)
A neta de Jorge Amado, Cecília, adaptou a obra do avô para o cinema. Na história, que se passa nos anos 1930, um grupo de meninos abandonados vive em um trapiche e pratica pequenos assaltos na cidade de Salvador, liderados pelo malandro Pedro Bala.
Café com Canela (2017)
O longa baiano, que conquistou três prêmios no Festival de Brasília, fala sobre Margarida, uma mulher que vive isolada por conta da dor de perder seu filho. Ela reencontra uma antiga conhecida, também marcada pelo luto, e entre faxinas e cafés as duas vão ressignificando suas vidas. O filme aborda questões como amizade, machismo e homofobia.
* Texto e pesquisa Katia Kreutz fotos divulgação dos filmes – foto destaque filme Café com Canela.
A escola Carolina Patrício é a nova parceira da Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Em 2020, o Curso Cinema Teens – Intensivo Férias vai ser realizado na AIC, em Botafogo, do dia 21/01 a 01/02, e na unidade da Barra da escola Carolina Patrício, de 27/01 a 09/02.
No Curso Intensivo de Férias – Cinema TEENS o aluno, em duas semanas, vivencia a rotina de um set de cinema, passa por todas as etapas de produção de um filme, realiza um curta-metragem, faz novos amigos e contatos e, ainda, tem seu filme exibido em uma Sessão Especial para pais e convidados.
O curso acontece na Academia Internacional de Cinema (AIC) e na Escola Carolina Patrício, e conta com professores experientes, que acompanham os alunos integralmente, estimulando-os a descobrirem suas potencialidades artísticas, além de proporcionar o desenvolvimento das atividades em grupo, chamando a atenção para o fato de que o cinema é uma arte coletiva.
Os Alunos da Escola Carolina Patrício têm desconto especial para o curso Cinema Teens, que será realizado na unidade da Barra. Os interessados podem procurar o nosso atendimento.