Roteiro

Curso de roteiro para o público infantojuvenil explora mercado em ascensão

Por Katia Kreutz

Aprender a escrever para um nicho específico amplia chances de trabalho como roteirista

Você já pensou em criar histórias para crianças? Se acredita que tem algum talento para isso, a boa notícia é que o mercado audiovisual voltado ao público jovem está em alta. Com a facilidade de acesso à TV paga e aos meios digitais, o nicho infantojuvenil – especialmente para quem deseja se profissionalizar na área de roteiro – só tende a crescer ainda mais.

Pensando nisso, as roteiristas Renata Mizrahi, Joana Brea e Clara Meirelles desenvolveram o curso Roteiro para Conteúdos Infantojuvenis, com inscrições abertas na Academia Internacional de Cinema (AIC). “Temos um histórico de escrever para crianças, por isso nos unimos para realizar um curso que mostrasse a importância de pensar em conteúdo para esse público, abordando temas pertinentes, e como seria entrar nesse mercado”, explicam as professoras.

Renata é autora, diretora e roteirista, com ampla experiência no teatro, em peças infantis premiadas como Joaquim e as Estrelas e o musical Coisas Que a Gente Não Vê. Joana, produtora e roteirista, trabalha desde 2013 em um canal infantil, supervisionando todos os roteiros de produção nacional, amparada por acompanhamento pedagógico e pesquisa sobre a faixa etária. Clara também é produtora e roteirista, já trabalhou em diversas produções infantis e educativas, escreveu os gibis da Luluzinha Teen e hoje escreve uma série para o público pré-adolescente, que será exibida no canal Futura. Além disso, as três participaram do premiado programa do Gloob Tem Criança Na Cozinha.

O BOOM do Mercado

Detetives do Prédio Azul
No consolidado mensal do Ibope, Detetives do Prédio Azul, do Canal Gloob, garantiram (por meses consecutivos) o terceiro lugar na preferência das crianças, deixando o canal entre os dez mais vistos da TV por assinatura. O seriado, que começou em 2012, virou filme recentemente, de tanto sucesso que faz e foi distribuído em mais 400 salas de cinema.  Foto: divulgação

A proposta do curso surgiu para auxiliar os roteiristas de hoje no entendimento do mercado em que atuam. Nas últimas décadas, o conteúdo audiovisual para crianças e adolescentes, os chamados “filmes para toda a família”, tem passado por um boom de produção e de público. De acordo com estatísticas da Motion Picture Association of America (MPAA), cerca de 25% da receita nas bilheterias dos cinemas no ano passado foi para espectadores com menos de 18 anos. Além disso, quase 50% das vendas de ingressos para filmes em 3D são para essa faixa etária. Isso tudo sem mencionar a televisão, que é uma das maiores diversões (muitas vezes contribuindo até na educação) dos nossos jovens.

O Curso da AIC

Nesse contexto, roteiristas que têm interesse em escrever histórias para crianças e adolescentes precisam ter em mãos algumas ferramentas. O curso Roteiro para Conteúdos Infantojuvenis mescla teoria e prática com o intuito de desenvolver a técnica e a criatividade dos alunos, oferecendo um amplo leque de referências, para que eles tenham contato com diferentes formatos de narrativas. ​”O foco será em roteiro para televisão, sem deixar de falar sobre outras plataformas, como teatro, quadrinhos e literatura”, descrevem as professoras.

O curso é composto por três módulos. No primeiro, os alunos terão um panorama do mercado audiovisual para crianças e adolescentes no Brasil. As três profissionais irão explicar a importância, para o roteirista, de desenvolver um olhar de produtor, além de conhecer o perfil do público. Esse módulo aborda também um breve histórico dos programas de TV infantojuvenis no país.

No segundo módulo, serão apresentados diferentes formatos de narrativas e referências de conteúdos para televisão, Internet, cinema, teatro, literatura e quadrinhos, estudando a transversalidade entre esses formatos. Renata, Joana e Clara também irão comentar sobre os desafios e as oportunidades da produção cinematográfica nacional voltada para esse público.

Osmar, a primeira fatia do pão
Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma, produzido pela 44 Toons, da ex-aluna da AIC Carol Frattini. Foto: divulgação

O terceiro módulo do curso corresponde à parte prática do curso: os alunos colocam a “mão na massa”, desenvolvendo seus próprios projetos. A ideia é que cada um possa criar seu argumento de série ou de longa-metragem, escrevendo com a orientação das profissionais e, ao final, simulando um pitching (apresentação) entre os colegas.

“O mercado infantil está muito aquecido. Os canais nacionais e estrangeiros têm investido em produções locais, com excelentes resultados, desde o início da vigência da Lei da TV Paga (Lei 12.485, determinando um mecanismo de cotas que garante uma demanda potencial mínima e possibilita a existência da produção nacional)”, ressaltam as roteiristas. Para quem busca oportunidades de trabalho, vale lembrar que essa área está sempre carente de bons profissionais.

Como escrever um roteiro para esse público, agradando pais e crianças?

De acordo com as professoras, é importante que o roteiro para crianças seja escrito de maneira diferente das histórias para adultos, já que se trata de um público em formação. “Temos que pensar em conteúdos que contemplem entretenimento e reflexão, sem subestimar a lógica da criança”, afirmam. Nesse sentido, a oficina abrange ainda temas profundos, como racismo, separação, autoestima e novos modelos familiares.

Uma ressalva das roteiristas é que não se pode fazer branded contente (inserção de conteúdo relacionado a marcas) em programas para o público infantil, por isso é interessante que os aspirantes à profissão conheçam as formas de obter recursos. “Muitos canais trabalham com dinheiro próprio e outros usam fundos de financiamento”, conta Joana.

“No mundo digitalizado em que vivemos, a janela de exibição em si não é mais o que dita as regras”, aponta a roteirista. Com a possibilidade de “universos expandidos” na criação, podendo-se adaptar conteúdos de literatura, quadrinhos ou teatro para cinema e televisão isso sem contar a internet, é fundamental que o profissional compreenda a linguagem, o formato e as possibilidades de interação de cada um desses meios e saiba propor o tipo de conteúdo que funcione melhor para cada mídia.

As Janelas de Exibição

Além das possibilidades de transversalidade, as plataformas onde os programas podem ser exibidos são inúmeras e incluem não apenas a TV, mas video-on-demand (VOD) e over-the-top content (OTT), streaming (por exemplo, em sites como Netflix), YouTube e redes sociais. Isso é válido para o conteúdo adulto e ainda mais para o infantil, cujos espectadores já nasceram sob a égide da multiplataforma.

Nino, personagem principal da famosa série Castelo Rá-Tim-Bum, produzida e exibida pela TV Cultura originalmente entre 1994 e 1997. Faz sucesso até hoje! Foto: divulgação

“A coisa toda se retroalimenta. Você conta uma história no episódio que passa no canal linear, então faz vídeos exclusivos mais curtos, que só o assinante do aplicativo do canal pode consumir, com informações extras que aumentam o entendimento da história. Também pode fazer vídeos curtíssimos no estilo boomerag, para promover em redes sociais, ou em formatos distintos – como desafios e tutoriais, que são típicos da internet. É muito material a ser produzido, por isso não dá para economizar ideia”, completa Joana.

Dá pra criança assistir tanta televisão?

No entanto, há quem critique o excesso de televisão à que crianças são expostas nos dias de hoje. Tendo em vista essa realidade, como se sobressair e produzir um conteúdo que os pais queiram mostrar aos filhos? “A intensidade de consumo de TV e afins é uma questão que será decidida pelos pais, mas os roteiristas têm o compromisso de gerar um bom conteúdo sempre”, observa a professora. A questão está na pergunta: bom para quem? Afinal, dependendo da faixa etária, nem tudo o que é interessante para os pequenos tem o mesmo conceito na visão dos adultos.

As profissionais dão a dica: para crianças em fase pré-escolar, de 2 a 4 anos, são os pais, sim, que decidem quais canais os filhos podem assistir. Essa é uma fase na qual o conteúdo educativo é mais comum, mais aderente e mais importante. “Já na faixa dos 6 a 10 anos, se você quiser ser educativo vai acabar encontrando uma resistência muito maior”, ressalta Joana, acrescentando que, nessa idade, a criança já tem mais autonomia e quer escolher por conta própria aquilo que irá consumir. “Normalmente, o que ela mais quer é rir. O problema é que costuma achar graça em várias coisas que talvez os pais preferissem que ela não visse: piada de pum, arroto, melecas, zoeiras em geral.”

Um canal de televisão comercial vive de audiência. Logo, ele faz tudo para agradar a criança. Contudo, se algum programa passar dos limites, os pais podem proibir seus filhos de assistirem e até mesmo processar a emissora. Por isso, o suporte pedagógico é fundamental na hora de dosar as brincadeiras ou piadas. “Aprendi no Gloob que existe uma diferença muito grande entre valores e bons modos”, relata Joana, que nessa experiência foi entendendo as melhores formas de criar conteúdos com bons valores, mas que não parecessem didáticos – eles estão lá, dentro da história, só que de forma divertida.

Tem Criança na Cozinha
Renata Mizrahi, Joana Brea e Clara Meirelles fazem parte da equipe do programa do Gloob, Tem Criança na Cozinha. Foto: divulgação

 

Naturalmente, existe a questão de que dramaturgia é conflito e, se os personagens forem 100% bonzinho, não existe história. Isso quer dizer que as atitudes deles podem ser questionáveis, mas sempre precisa haver algum tipo de punição ou aprendizado com os erros. “O que nunca podemos ter é uma personagem fazendo algo condenável, que nossos telespectadores não devem reproduzir em casa, como machucar um amigo”, orienta a roteirista.

Na verdade, as profissionais destacam que também faz parte do aprendizado – mas, nesse caso, dos adultos – simplesmente relaxar e deixar a criança ser criança. “Os pais também podem rir de bobeiras e de coisas nojentinhas, sem levar tanto a sério, porque não vai ser uma piada de pum que fará dos seus filhos seres humanos piores”, completa Joana.

Nesse sentido, de que maneira funciona o trabalho dos roteiristas em conjunto com os profissionais de pedagogia? “Quando iniciamos uma série, fazemos uma apresentação para nossa pedagoga e ela lê todos os roteiros, avaliando-os conforme os parâmetros definidos”, relata Joana. Muitas vezes, são realizadas reuniões, para lidar com questões pontuais – por exemplo, morte ou namoro. A ideia não é blindar as crianças para a realidade do mundo, mas compreender a maturidade de cada faixa etária e sua capacidade de digerir as informações, sabendo quais as melhores formas de abordar ou apresentar determinados assuntos.

O que os roteiristas precisam ter em mente é que, no fim das contas, as narrativas infantis são espaço de muita liberdade criativa e humor. Joana, Renata e Clara escrevem para televisão há vários anos e atuam no mercado audiovisual voltado aos jovens porque acreditam que podem fazer a diferença. Mais do que um modo único de contar histórias, escrever para crianças é também formar uma nova geração de espectadores, pensadores, líderes e artistas. É trabalhar todos os dias com um olhar no futuro.

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Peripatético, da ex-aluna Jéssica Queiroz, ganha dois prêmios no Festival de Brasília

Peripatético, da ex-aluna Jéssica Queiroz, ganha dois prêmios no Festival de Brasília

Jéssica Queiroz, ex-aluna do curso Filmworks da Academia Internacional de Cinema (AIC), recebeu dois prêmios ontem na cerimônia de premiação do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O curta-metragem “Peripatético” ganhou o troféu candango de Melhor Roteiro (Ananda Radhika) e Prêmio Especial.

Peripatético, da ex-aluna Jéssica Queiroz, ganha dois prêmios no Festival de Brasília. Foto Humberto Araujo – Festival de Brasilia

Jéssica, a primeira mulher negra a participar da Mostra Competitiva de curtas de Brasília, trouxe à tona questões urgentes e retratou cenas pouco vistas no cinema nacional – jovens negros da periferia e suas buscas por profissões, indo além das cenas tradicionais dos conhecidos filmes de favela. Jéssica não estava sozinha, a maioria dos cineastas que levaram troféus representaram (lindamente!) nas telas minorias com filmes produzidos na periferia, ou contando histórias de mulheres, negros ou povos indígenas.

A justificativa do júri, ao dar o prêmio especial para “Peripatético” foi: “Por retratar um dos muitos episódios de violência da história recente do Brasil sob uma ótica pessoal e original; por ressignificar códigos já postos no cinema propondo a descolonização das narrativas, o prêmio especial do júri é atribuído ao curta-metragem Peripatético”.

O professor da AIC e crítico de cinema Fillipo Pitanga, falou nas redes sociais sobre o filme ter ganho a homenagem especial: “Peripatético, de Jéssica Queiroz, mereceu E MUITO o prêmio. O filme que com sua duração de curta-metragem enfrentou e desconstruiu um Golias vazando um longa-metragem de 6 milhões, para provar que dinheiro não é documento quando a arte pode falar mais alto e melhor”.

festival de brasilia
Ganhadores do 50º Festival

O prêmio de melhor curta foi para “Tentei”, dirigido por Laís Melo e o prêmio de melhor longa foi para “Arábia”, dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans. Confira a lista com todos os premiados aqui.

Peripatético

Quinze minutos não é muito tempo para contar uma história, especialmente se ele for inspirada em acontecimentos reais. No entanto, a cineasta Jéssica Queiroz consegue levar o espectador para dentro da vida de três adolescentes da periferia.

peripatético, filme jéssica queiroz
Cena de Peripatético, de Jéssica Queiroz

Mulher, negra e periférica, a diretora sempre sentiu na pele as dificuldades da vida na “quebrada”, assim como a solidariedade entre os moradores. Enquanto o resto da cidade simplesmente se recusa a reconhecer essas pessoas, limitando suas oportunidades e vendo-as apenas em papéis de servidão, os jovens que nascem e crescem à margem da sociedade tentam buscar alternativas e ir atrás de seus sonhos. Contudo, nunca é fácil. “O curta fala sobre como é pesado ser jovem negro na periferia, mas a gente sempre arruma um jeito de sobreviver e r(existir) de alguma forma”, explica Jéssica.

Peripatético acompanha alguns dias na vida de Simone, Thiana e Michel, moradores da periferia de São Paulo. Simone procura o primeiro emprego, Thiana tenta passar no vestibular de medicina e Michel ainda não sabe o que quer fazer de sua vida. A história se passa em maio de 2006, período no qual a capital paulista sofreu diversos ataques da facção criminosa PCC. O filme se inspirou na luta do movimento Mães de Maio, uma reação à violência contra inúmeros jovens inocentes que foram assassinados durante o conflito.

O roteiro é de Ananda Radhika, que estudou com Jéssica no Instituto Criar. Por vários anos, a história ficou na gaveta, por falta de recursos para ser produzida. Em 2015, a diretora inscreveu o curta no Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), um edital da Prefeitura de São Paulo, e recebeu verba para realizá-lo. “Ainda assim, a grana foi pouca e tivemos muito aperto, mas a equipe era tão apaixonada pelo roteiro quanto eu”, conta. De acordo com a cineasta, mesmo tendo se passado mais de uma década desde os acontecimentos da história, a temática ainda é urgente. “Precisamos falar sobre o que está acontecendo no lado de cá da ponte. Muita coisa não mudou.”

A ficha técnica ainda conta com o professor de Direção de Arte da AIC, Dicezar Leandro, e os alunos Luiz Augusto Moura na Direção de Fotografia e Bianca Santos e Isadora Torres na Direção de Som.

*Crédito fotos: Júnior Aragão e Humberto Araujo / Divulgação Festival

Assista ao trailer

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Antes do Fim, de Cristiano Burlan - Jean-Claude Bernardet e Helena Ignez

“Antes do Fim”, de Cristiano Burlan, é destaque no Festival de Brasília

Por Katia Kreutz

Longa-metragem fala sobre um casal de artistas confrontando a morte

 

antes do fim
Os atores de Antes do Fim. Da esquerda para direita, Jean-Claude, Helena Ignez, Ana Carolina Marinho e Henrique Zanoni.

Em que momento a vida deixa de ser um direito e passa a ser um dever? Essa é uma das questões abordadas por Antes do Fim, longa-metragem do professor da Academia Internacional de Cinema (AIC) Cristiano Burlan, que estreia dia 17 de setembro na Mostra Esses Corpos Indóceis do Festival de Brasília. O filme também conta com a participação dos ex-alunos Renato Maia (montagem), Lucas Negrão (finalização de imagem), Helder Martins (fotografia), Emily Hozokawa (assistente de direção), Amanda Bortolo (produção de set) e dos professores Ana Carolina Marinho e Henrique Zanoni no elenco.

Uma coprodução entre a Bela Filmes e o Canal Brasil, tendo como protagonistas os veteranos Jean-Claude Bernardet e Helena Ignez, o filme trata com leveza de questões existenciais relacionadas ao corpo e à velhice, encarando o suicídio como um ato de resistência. “Jean sente-se preso na lógica de longevidade que a indústria farmacêutica impõe sobre ele e, por isso, planeja se suicidar”, explica o diretor. “No entanto, ao convidar sua parceira para acompanhá-lo, ela hesita.”

Essa não é a primeira parceria entre Burlan e Bernardet. “Quando finalizamos o filme Fome, que foi uma experiência muito forte para mim, a questão foi que eu não sabia direito como evoluir a partir disso”, conta o ator francês, radicado no Brasil. Contudo, o fato de o diretor trabalhar muito com improvisação acabou se mostrando um desafio interessante para Bernardet.

Já Helena Ignez, uma das mais importantes atrizes brasileiras e verdadeiro ícone do Cinema Marginal, afirma que atuar nesse filme foi uma experiência inspiradora. “Antes do Fim é reflexão e poesia. Cristiano Burlan é um mestre na criação da mise-en-scène e na relação do ator com a câmera”, ressalta a atriz, que viu o processo de interpretar uma personagem com a mesma profissão que a sua como uma espécie de autoindagação.

“Fatalmente, todas as pessoas percebem os efeitos do tempo em seus rostos”, diz Burlan, que tem buscado mais representatividade em seu cinema.  Nesse trabalho, a proposta foi questionar o lugar do idoso na sociedade. De acordo com o diretor, todos nós envelhecemos, mas continuamos sendo seres humanos e sentindo a vida em toda a sua intensidade. “O silêncio entre o casal, na história, não revela distância, mas intimidade. São anos de afeto compartilhado, mas ele quer dançar a morte, enquanto ela segue ensaiando a vida.”

Para Burlan, mais importante do que a oportunidade de trabalhar com duas figuras extraordinárias do cinema brasileiro foi explorar o encontro de dois corpos em uma fase na qual muitas pessoas simplesmente abandonam a vontade de viver. “O filme fala sobre a relação que se descobre entre esse casal de artistas, antes do fim. É uma celebração da vida, uma aceitação do tempo”, completa.

O cineasta e os atores estarão presentes no Festival de Brasília neste final de semana, para a exibição do filme. Essa é a terceira vez que Burlan participa do festival com um longa-metragem (anteriormente, ele competiu com Fome e Estopô Balaio). “São centenas de longas de muita qualidade. Estar entre os selecionados é bastante significativo para mim”, observa.

Cristiano Burlan nasceu em Porto Alegre, mas abraçou São Paulo como seu berço criativo há mais de uma década. Formado pela AIC, atua como diretor de cinema e de teatro, além de professor. Sua filmografia inclui mais de 20 filmes, entre eles o premiado documentário Mataram Meu Irmão. Atualmente, está finalizando seu mais recente longa-metragem, O Projecionista.

*Fotos Helder Martins 

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peripatético

“Peripatético”, filme da aluna Jéssica Queiroz, estreia amanhã no Festival de Brasília

Por Katia Kreutz

Curta-metragem fala sobre a invisibilidade dos jovens da periferia

cartaz peripateticoQuinze minutos não é muito tempo para contar uma história, especialmente se ele for inspirada em acontecimentos reais. No entanto, a cineasta Jéssica Queiroz, ex-aluna da Academia Internacional de Cinema (AIC), consegue levar o espectador para dentro da vida de três adolescentes da periferia em seu curta Peripatético, que estreia dia 16 de setembro na Mostra Competitiva do Festival de Brasília e segue para a Mostra Diálogo de Porto Alegre.

Mulher, negra e periférica, a diretora sempre sentiu na pele as dificuldades da vida na “quebrada”, assim como a solidariedade entre os moradores. Enquanto o resto da cidade simplesmente se recusa a reconhecer essas pessoas, limitando suas oportunidades e vendo-as apenas em papéis de servidão, os jovens que nascem e crescem à margem da sociedade tentam buscar alternativas e ir atrás de seus sonhos. Contudo, nunca é fácil. “O curta fala sobre como é pesado ser jovem negro na periferia, mas a gente sempre arruma um jeito de sobreviver e r(existir) de alguma forma”, explica Jéssica.

Peripatético acompanha alguns dias na vida de Simone, Thiana e Michel, moradores da periferia de São Paulo. Simone procura o primeiro emprego, Thiana tenta passar no vestibular de medicina e Michel ainda não sabe o que quer fazer de sua vida. A história se passa em maio de 2006, período no qual a capital paulista sofreu diversos ataques da facção criminosa PCC. O filme se inspirou na luta do movimento Mães de Maio, uma reação à violência contra inúmeros jovens inocentes que foram assassinados durante o conflito.

 

jéssica queiroz
A diretora Jéssica Queiroz na última Semana de Cinema e Mercado da AIC, no Painel de Mulheres Cineastas. Foto: Alê Borges

O roteiro é de Ananda Radhika, que estudou com Jéssica no Instituto Criar. Por vários anos, a história ficou na gaveta, por falta de recursos para ser produzida. Em 2015, a diretora inscreveu o curta no Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), um edital da Prefeitura de São Paulo, e recebeu verba para realizá-lo. “Ainda assim, a grana foi pouca e tivemos muito aperto, mas a equipe era tão apaixonada pelo roteiro quanto eu”, conta. De acordo com a cineasta, mesmo tendo se passado mais de uma década desde os acontecimentos da história, a temática ainda é urgente. “Precisamos falar sobre o que está acontecendo no lado de cá da ponte. Muita coisa não mudou.”

A ficha técnica ainda conta com o professor de Direção de Arte da AIC, Dicezar Leandro, e os alunos Luiz Augusto Moura na Direção de Fotografia e Bianca Santos e Isadora Torres na Direção de Som.

A maior parte do filme foi rodada em Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. Para a diretora, gravar no “quintal de casa” acabou se mostrando uma experiência maravilhosa. “Foi uma semana de filmagem corrida, com chuva, muita chuva! A maior parte das cenas são externas e praticamente ficamos ilhados”, lembra. O que fez a diferença foi a força dada pelos pais e pela irmã, especialmente no preparo das refeições para a equipe. “Até tias e vizinhos vieram ajudar!”

Como o curta possui animações, o processo de pós-produção foi demorado e também muito trabalhoso. “Sem os parceiros, que apoiaram o projeto nessa etapa de finalização, não teríamos conseguido entregar o filme a tempo para o festival”, ressalta. Segundo Jéssica, a Produtora de Som Mugshot mixou e fez algumas trilhas e a Quanta Post foi responsável pelo DCP (arquivo final de vídeo e áudio para exibição).

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Cena do filme Peripatético que estreia amanhã no Festival de Brasília. “Meus filmes têm muito de mim e de onde venho. Acredito que negros e periféricos precisam ser bem representados na tela, de uma forma positiva, para fazer com que as pessoas saibam que a periferia é um lugar possível”, diz Jéssica em entrevista para a AIC.

Com uma equipe majoritariamente feminina, a diretora buscou, em todos os momentos da produção, imprimir veracidade e autenticidade à história. Na direção de arte, o maior desafio foi escapar de cenografias muito caricatas, com “cara de novela”. Já na direção de fotografia, o conceito foi fugir da “estética da pobreza” e realizar um filme cheio de cor e vida.

Jéssica iniciou sua carreira com teatro e literatura, em um grupo dentro de sua escola, chamado Os Mesqueiteiros. Depois de participar de uma oficina de audiovisual ministrada por professores do Instituto Criar, ela se apaixonou pela sétima arte e seguiu se aperfeiçoando. “Fiz curso técnico em edição no Instituto e comecei a trabalhar com edição dentro de agências de publicidade. Passei pela Repense, Africa, e agora estou na Talent Marcel.”

Cursando o FILMWORKS – o curso técnico em direção cinematográfica da AIC, Jéssica foi diretora do documentário Vidas de Carolina. Como trabalho de conclusão, dirigiu o curta Número e Série, exibido no Pausa pro Café do Canal Brasil e selecionado para o Curta Cinema e o Festival Comunicurtas. “Meus filmes têm muito de mim e de onde venho. Acredito que negros e periféricos precisam ser bem representados na tela, de uma forma positiva, para fazer com que as pessoas saibam que a periferia é um lugar possível”, afirma a cineasta, cuja jornada em busca de representatividade está apenas começando.

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peripatético, filme jéssica queiroz

Equipe, professores e alunos da Academia Internacional de Cinema no 50º Festival de Brasília

O primeiro festival de cinema nacional chega hoje em sua 50ª edição. Entre os filmes selecionados de alunos e professores da Academia Internacional de Cinema (AIC) para esta edição estão:

  • O curta “Peripatético” dirigido pela ex-aluna (do FILMWORKS) Jéssica Queiroz, selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas.
  • antes do fim
    Os atores de Antes do Fim, de Cristiano Burlan, filme que traz a tona questões sobre o suicídio. Da esquerda para direita, Jean-Claude, Helena Ignez, Ana Carolina Marinho e Henrique Zanoni.

    Antes do Fim”, com direção do professor Cristiano Burlan e a participação dos ex-alunos Renato Maia (montagem), Lucas Negrão (finalização de imagem), Helder Martins (Fotografia), Emily Hozokawa (assistente de direção), Amanda Bortolo (Produção de set) e dos professores Ana Carolina Marinho e Henrique Zanoni no elenco, além dos consagrados protagonistas Helena Ignez e Jean-Claude Bernardet. O filme integra a mostra Esses Corpos Indóceis, que traz temáticas relacionadas aos corpos que não se enquadram nos padrões tradicionais.

  • Ainda na mostra Esses Corpos Indóceis, o filme “Estamos Todos Aqui”, com direção de Chico Santos e Rafael Mellim e direção de produção da Coordenadora de Produção da AIC, Juliana Salazar, e trilha sonora do Coordenador de Cursos de São Paulo Martin Eikmeier.

estamos todos aquiPara comemorar as cinco décadas de festival, uma programação ainda mais robusta, com duração de dez dias – de 15 a 24 de setembro. Além das tradicionais mostras competitivas, sessões e mostras paralelas, como a mostra “50 anos em 5 dias”, uma retrospectiva de longas e curtas-metragens que marcaram a história do festival. A edição também conta com debates, palestras, oficinas, lançamentos, consultorias especializadas e ambiente de negócios.

Ao todo foram 778 inscritos e 21 filmes selecionados para concorrem na Mostra Competitiva. Hoje, na abertura, será exibido o inédito “Não Devore Meu Coração”, de Felipe Bragança, que competiu em Sundance e também foi selecionado em Berlim.

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*Foto em destaque: frame do filme Peripatético, crédito Luiz Augusto Moura

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