Editais e festivais

CINE PE 2019 Abre inscrições

As inscrições para as mostras competitivas do Cine PE 2019 estão abertas até o dia 15 de fevereiro. Os realizadores poderão inscrever seus filmes nas Mostras de Curta-Metragem Pernambuco, Curta-Metragem Nacional e Longa-Metragem, nas categorias ficção, animação ou documentário.

Os filmes das Mostras Competitivas de Curta-Metragens deverão ter até 22 minutos de duração e em formato 35mm ou digital HD. Já os filmes Longas-Metragens, deverão ser brasileiros, com duração acima de 70 minutos.

A 23ª edição do Cine PE acontecerá de 28 de maio a 3 de junho de 2019, no Cinema São Luiz, em Recife. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas no site do evento www.festivalcinepe.com.br

CINE PE 2019 Abre inscrições Read More »

Retrospectiva 2018

2018 foi intenso – entre Copa e Eleições, a Academia Internacional de Cinema (AIC) teve um ano movimentado e de muitas produções.

O ano começou com uma produção nacional diversa, os jornais mostrando o crescimento do cinema brasileiro – num ritmo maior que a economia nacional. Nesse contexto, os filmes de professoras, professores, alunas e alunos trouxeram reflexões sobre arte, política, resistência e sobrevivência.

Também foi ano de ir além do eixo Rio-São Paulo e inaugurar a AIC ONLINE, estendendo a mesma qualidade dos cursos presenciais a todo o país – ampliando os espaços de representação das diversas culturas brasileiras.

Grandes nomes passaram pela AIC, em palestras e aulas especiais, fortalecendo a contínua conversa sobre a prática do audiovisual.

Abaixo a gente conta um pouco de tudo o que aconteceu. E já começa a contagem regressiva para 2019!

Quem Esteve na AIC em 2018

Abrindo o ano letivo, a Semana de Orientação contou com palestras do diretor e montador Daniel Rezende, das diretoras Tata Amaral e Mini Kerti e dos atores, diretores e professores da AIC Pedro Freire, Vanessa Prieto e Isadora Ferrite.

Semana de Orientação 2018 - Daniel Rezende
O montador e diretor Daniel Rezende conta para alunos e convidados da Semana de Orientação, na Academia Internacional de Cinema (AIC), sobre a produção do seu primeiro longa-metragem como diretor, “Bingo – O Rei das Manhãs”. Foto André Gardenberg

Para comemorar os 50 anos do clássico “O Bandido da Luz Vermelha” a AIC recebeu a atriz e diretora Helena Ignez, símbolo do Cinema Marginal.

O segundo semestre começou com a Semana de Cinema e Mercado. A produtora executiva Carol Alckmin e o roteirista e analista de projetos Erez Milgrom, ambos da O2 Filmes, abriram o ciclo de palestras em São Paulo e o roteirista Sergio Goldenberg abriu a edição carioca do evento. Também teve Eduardo Piagge e Tiago Mello, da Boutique Filmes, falando sobre conteúdo brasileiro na Netflix; Breno Silveira, da Conspiração, falando sobre o aquecimento do mercado de séries para TV; e Krishna Mahon e João Daniel Tikhomiroff.

Ainda teve aula inaugural do curso de documentário com Maria Augusta Ramos e mostra especial dedicada a documentarista; a cineasta alemã Evelyn Schmidt falando sobre as diferenças de atuação no teatro e no cinema; a atriz e roteirista Karine Teles contando curiosidades sobre o filme “Benzinho”; e a diretora Julia Murat no cineclube organizados pelos alunos no Rio de Janeiro.

Filmes, Estreias, Festivais e Eventos

No início do ano, o ex-aluno Ricardo Saraiva foi selecionado para o Festival de Sundance, e as ex-alunas Jéssica Queiroz e Andressa Matias Carvalho, além de vários professores, para a Mostra de Tiradentes. “Bixa Travesty”, do professor Kiko Goifman, estreou e saiu premiado do Festival de Berlim. “Los Silencios”, da ex-aluna Beatriz Seigner, selecionado para a Quinzena dos Realizadores do 71º Festival de Cannes.

Linn da Quebrada, bixa travesty
Em suas músicas, em seus discursos e em seu cotidiano, a vida nada fácil de Linn da Quebrada é apresentada no documentário “Bixa Travesty”, vencedor do prêmio de Melhor documentário com temática LGBTI no 68º Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Os filmes “Ouroboros” e “Pontos de Vista” fizeram carreira em festivais.

“Sempre Verei Cores no Seu Cinza”, de Anabela Roque, venceu a edição carioca do Filmworks Film Festival e “Sentir”, de Olavo Ribeiro, ganhou em São Paulo.

O documentário “Caminho do Mar”, do roteirista e professor Bebeto Abrantes estreiou nos cinemas e o ex-aluno Gláucio Ayala assinou a direção de fotografia do clipe “Indivídua”, de João Cavalcanti.

Através do seus alunos, alunas e professores e professoras a AIC participou dos grandes festivais que fecharam o ano. “Estamos todos aqui” recebeu prêmio Especial do Júri em Gramado; “Los Silencios” e “Bixa Travesty” receberam prêmios no Festival de Brasília; “Buba”, de Nini Cartaxo, entrou na competição nacional do Curta Cinema, além de filmes selecionados no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, no Festival do Rio e na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Parcerias e Apoios

Em 2018 a AIC apoiou muitos festivais e cedeu muitas bolsas para diversas pessoas e instituições.

Em parceria com a Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro – APAN em São Paulo e o Educafro no Rio de Janeiro, lançamos uma convocatória para selecionar alunas negras para o Curso Livre de Formação em Roteiro da escola.

A AIC também apoiou o Instituto Criar, a Associação Vida.Com e o Educafro.

A cerimônia de encerramento do Goiânia Mostra Curtas. A Academia Internacional de Cinema, parceira do festival, premiou os melhores diretores das Mostra Brasil e Mostra Goiânia com bolsas de estudo para cursos livres da escola. Foto Divulgação

A escola premiou vencedores em diversos festivais do Brasil, entre eles: o Tudo Sobre Mulheres, o Hell de Janeiro, o Festival de Teatro Universitário, o Festival de Curtas da UERJ e o Goiânia Mostra Curta.

Pelo segundo ano consecutivo AIC participou do Festival de Cinema GUARNICÊ, levando um time de professoras para ministrar oficinas em São Luís, no Maranhão; Os alunos da escola trabalharam no Festival do Rio e também participaram da Noite de Kino e da Mostra Programação em Curso, eventos organizados pelo Festival Internacional de curtas-metragens de São Paulo; os alunos se beneficiaram da parceria com o Itaú Cultural, que disponibiliza ingressos para a Mostra “Terças-Feiras de Cinema”.

A AIC tornou-se parceira da ABRA – Associação Brasileira de Autores Roteiristas, do STIC – Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual e do CTAv – Centro Técnico Audiovisual.

Novos Cursos e AIC Online

O ano começou com o novo Curso Técnico em Atuação para Cinema e TV. Em agosto a AIC lançou a Escola de Cinema Online, oferecendo os cursos de Roteiro, Produção, Produção Executiva, Som para Cinema e TV e Edição.

O sucesso foi tanto que em outubro mais quatro cursos online foram criados: Direção, Documentário, História do Cinema e Assistência de Direção.

Para fechar o ano, um novo curso foi lançado, pensando na grande expansão do mercado brasileiro de criação de séries de TV e em pessoas que queiram ampliar suas habilidades narrativas e de gestão de projetos. O Curso de Criação de Séries de TV desenvolve um perfil emergente no mercado audiovisual brasileiro: o do roteirista que elabora e acompanha todas as etapas da criação e execução de um projeto de série para TV.

Muito Mais Conteúdo

Em 2018 o site da AIC gerou ainda mais conteúdo, publicando dezenas de matérias sobre o mercado audiovisual, carreira, correntes cinematográficas e muitos mais. Se você deixou de ler alguma, confira aqui os principais conteúdos deste ano:

Tem o Guia Comparativo de Carreiras do Cinema para quem não sabe qual carreira do audiovisual quer seguir. Tem matéria sobre o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), sobre cinegrafia, fotografia, showrunner, também falamos sobre as diferenças entre Filmmaker e Videomaker e entre filmes de ficção e documentário. Tem textão sobre dramaturgia, documentários brasileiros e até ensinando como fazer filme. E-book com calendário, para baixar e guardar, sobre festivais nacionais; entrevista especial sobre Realidade Virtual, Produção Executiva e Atuação para cinema.

Para as profissionais mulheres – e homens antenados – tem artigo especial e inspirador falando sobre representatividade no audiovisual, teste de Bechdel e entrevista com a atriz e diretora Sabrina Greve.

Por fim, a série incrível de artigos sobre os movimentos cinematográficos, com textos sobre o Expressionismo Alemão, o Neorrealismo Italiano, a Nouvelle Vague, o Cinema Novo, o Cinema Soviético  e Dogma 65.

Retrospectiva 2018 Read More »

Dogma 95

O que foi o movimento cinematográfico, suas principais características estéticas, filmes e cineastas mais importantes e seu legado para o cinema.

“Um filme deveria ser como uma pedra no sapato.” Lars von Trier

 

 

O que foi o movimento

O movimento Dogma 95 começou, como o próprio nome já diz, em 1995. Foi uma iniciativa dos diretores dinamarqueses Lars von Trier e Thomas Vinterberg. Juntos, os cineastas criaram o “Manifesto Dogma 95” e o “Voto de Castidade”, estabelecendo algumas regras para o fazer cinematográfico, baseadas em valores tradicionais – como história, atuação e tema, desprezando o uso de efeitos especiais elaborados ou de recursos tecnológicos. Foi uma forma de colocar novamente o poder nas mãos do diretor, como artista, ao invés de simplesmente dar aos estúdios a autonomia sobre a criação dos filmes.

Ensaio de François Truffaut para a revista Cahiers du Cinéma: “Uma certa tendência do cinema francês”, de 1954.

Posteriormente, juntaram-se ao movimento os diretores Kristian Levring e Søren Kragh-Jacobsen, também dinamarqueses. Esse grupo de cineastas formou o Coletivo Dogma 95 (Dogma Brethren). O movimento atuou até o ano de 2005, avançando da Dinamarca para diversos outros países do mundo. Outras figuras importantes foram Jean-Marc Barr, Harmony Korine, Anthony Dod Mantle, Paprika Steen, Susanne Bier, Richard Martini e Lone Scherfig.

Um pouco de história

Lars von Trier e Thomas Vinterberg foram os responsáveis por escrever, em co-autoria, o manifesto e os “votos” que o acompanharam. De acordo com Vinterberg, o texto foi escrito em 45 minutos. A intenção inicial do documento era resgatar alguns ideais lançados por François Truffaut, em seu ensaio para a revista Cahiers du Cinéma, Une certaine tendance du cinéma français” (Uma certa tendência do cinema francês), de 1954. Afinal, a essência da Nouvelle Vague, que inspirou o Dogma 95 em vários aspectos, era libertar o cinema de suas amarras por meio de filmes experimentais. O diferencial dos dinamarqueses estava na maneira de buscar essa experimentação.

O movimento foi anunciado por seus dois fundadores em março de 1995, em Paris, na França, durante uma conferência de cinema na qual diversos profissionais do mundo inteiro haviam se reunido para celebrar o primeiro século da sétima arte e contemplar seu futuro incerto, diante da hegemonia dos filmes comerciais, principalmente dos grandes estúdios hollywoodianos. Quando foi chamado para dissertar sobre o tema, Lars von Trier surpreendeu o público do evento com uma verdadeira chuva de panfletos vermelhos, falando sobre o Dogma 95.

Em respostas às críticas ao movimento, von Trier e Vinterberg declararam que seu desejo era simplesmente estabelecer um novo extremo. Afinal, em uma indústria baseada em orçamentos multimilionários, os cineastas concluíram que era necessário equilibrar essa dinâmica de alguma forma.

Cena de “Festa de Família” (Festern, 1998), de Vinterberg – o primeiro filme do movimento.

Curiosamente, a iniciativa surtiu impacto na produção independente dinamarquesa, já que o governo do país aumentou o apoio financeiro ao cinema em 70% durante o período no qual o Dogma 95 atuou na Europa.

O primeiro filme do movimento foi Festa de Família / Festern (1998), de Vinterberg. Vencedor do Festival de Cannes no ano de seu lançamento, o longa foi muito aclamado pela crítica. O segundo filme do Dogma, Os Idiotas / Idioterne, dirigido por Lars von Trier, também foi lançado no mesmo ano em Cannes, apesar de inicialmente não ter sido tão bem sucedido quanto seu predecessor.

O cineasta franco-americano Jean-Marc Barr foi o primeiro não dinamarquês a dirigir um filme do movimento, com Lovers (1999), produzido na França. O longa Julien Donkey-Boy (1999), do popular diretor norte-americano Harmony Korine, também é considerado parte do Dogma 95. No total, 35 filmes lançados entre 1998 e 2005 constituem a lista completa do movimento.

Principais características estéticas

Influenciado por movimentos anteriores, como o Neorrealismo e a Nouvelle Vague, o coletivo Dogma 95 surgiu com o objetivo de “purificar” o fazer cinematográfico. Enquanto os italianos e franceses buscavam uma maior liberdade criativa, os dinamarqueses acreditavam que a única forma de devolver ao cinema sua autenticidade era impor regras rígidas de produção, abrindo mão de recursos caros ou de efeitos especiais, assim como de truques técnicos de câmera ou pós-produção. Os diretores deveriam se concentrar na história e na performance dos atores. O movimento foi considerado um marco mundial na produção cinematográfica de baixo orçamento.

Cena de “Os Idiotas” (Idioterne), dirigido por Lars von Trier – o segundo filme do movimento.

Os cineastas envolvidos acreditavam que uma abordagem livre de artifícios seria capaz de prender o espectador de forma mais profunda, já que o público não seria alienado ou distraído por elementos superficiais, tão comuns em blockbusters. Para fundamentar essa filosofia, Lars von Trier e Thomas Vinterberg criaram dez regras dentro das quais qualquer filme que quisesse fazer parte do movimento deveria se encaixar. O documento, muito claro e específico em suas exigências, era uma forma de estimular os cineastas do grupo a manterem os princípios do Dogma 95 em suas produções.

O Voto de Castidade*

Eu juro manter as seguintes regras, criadas e confirmadas pelo Dogma 95:

  1. As filmagens devem ser feitas em locações, não em estúdios. Objetos e acessórios não devem ser levados para o local (se algum objeto específico é necessário para a história, a locação deve ser escolhida de modo que já contenha tal objeto).
  2. O som nunca deve ser produzido separadamente das imagens, ou vice-versa (trilhas musicais não podem ser usadas, a menos que a música esteja tocando no local onde a cena é gravada).
  3. O filme deve ser gravado com a câmera na mão. Qualquer movimento ou sensação de imobilidade obtidos manualmente são permitidos.
  4. O filme deve ser em cores. Iluminação especial não é aceitável (se há pouca luz, a cena deve ser cortada ou uma única lâmpada pode ser anexada à câmera).
  5. Trabalhos ópticos e filtros são proibidos.
  6. O filme não deve conter ações superficiais (assassinatos, armas, etc., não podem ser incluídos).
  7. Alienações temporais e geográficas não são permitidas (ou seja, o filme deve acontecer aqui e agora).
  8. Filmes de gênero não são aceitos.
  9. O formato do filme deve ser de 35 mm.
  10. O diretor não pode ser creditado.

Além disso, eu juro como diretor me abster de gostos pessoais. Não sou mais um artista. Juro me abster de criar uma “obra”, já que considero o instante mais importante do que o todo. Meu objetivo supremo é obrigar a verdade a sair de meus personagens e locações. Juro fazer isso de todas as formas possíveis e a custo de quaisquer considerações estéticas ou relativas ao bom gosto.

Assim, faço meu VOTO DE CASTIDADE. (Copenhagen, segunda-feira, 13 de março de 1995. Em nome do DOGMA 95. Lars von Trier | Thomas Vinterberg) – * tradução livre

Se uma obra fosse aceita como parte do Dogma 95, o certificado do manifesto era inserido em sua sequência inicial, assim como o número do filme dentro do movimento. A ideia era reforçar a coletividade e a liberdade criativa, ainda que as imagens granuladas desses filmes e a câmera em constante movimento muitas vezes criassem uma sensação de incômodo e desorientação no público. Para os cineastas do grupo, o debate e a polêmica eram vistos como reações positivas à sua arte, já que atraíram a atenção do mundo para o movimento.

Embora as regras do Dogma fossem bastante específicas, elas acabaram sendo quebradas ou dribladas por alguns cineastas do movimento. Exemplo disso foi o próprio Vinterberg, que confessou ter coberto a luz de uma janela em uma cena de Festa de Família, rompendo com o voto de não inserir objetos alheios ao set e de não usar nenhum tipo de iluminação especial nas filmagens.

Lars von Trier, cineasta dinamarquês que junto de Thomas Vinterberg criaram o “Manifesto Dogma 95” e o “Voto de Castidade”.

Von Trier também desobedeceu aos próprios “mandamentos”, já que usou música de fundo no filme Os Idiotas. Com esses pequenos rompimentos das regras, a partir de 2002 um cineasta não precisava mais ter sua obra verificada pelo conselho original do Dogma 95 para identificar seu filme como parte do movimento. Os próprios fundadores começaram a trabalhar em novos projetos experimentais e acabaram se tornando um pouco reticentes quanto à interpretação externa do Manifesto como um estigma ou gênero.

Sem dúvida, as estritas normas do movimento dividiram opiniões, mas os filmes produzidos durante o período também trouxeram uma nova forma de fazer cinema, extremamente provocadora e livre de grandes orçamentos ou aparatos técnicos. Para os criadores do Dogma 95, ter total liberdade de criação poderia ser uma faca de dois gumes, prendendo a criatividade sob a ilusão de possibilidades ilimitadas. Nesse sentido, colocar a criatividade dentro de uma caixa, metaforicamente falando, seria uma forma de obrigar os artistas a encontrarem formas de se libertarem.

Legado para o cinema

Thomas Vinterberg, que junto de Lars von Trier deram origem ao movimento, estabelecendo algumas regras para o fazer cinematográfico, baseadas em valores tradicionais.

“Acredito que o Dogma foi inspirador para muitas pessoas e, de certa forma, iniciou um movimento digital. Pessoalmente, achei muito estimulante e fantástico fazer filmes dentro do Dogma, mas me senti completo com Festa de Família. Creio que esse foi o fim da linha do Dogma para mim. Foi o mais longe que eu poderia ir”, afirmou Thomas Vinterberg.

Apesar de controverso em alguns sentidos, o Dogma 95 certamente influenciou outros movimentos culturais, em especial os filmes Mumblecore (subgênero do cinema independente que despontou a partir de 2002, caracterizado por atuações naturalistas e diálogos improvisados, com foco nos relacionamentos de personagens na faixa de 20 a 30 anos e produção de baixo orçamento). Já na literatura, inspirou os New Puritans ou Novos Puritanos (movimento atribuído aos participantes de uma antologia de contos chamada All Hail the New Puritans, de 2000, um projeto que se destacou por seu minimalismo e autenticidade).

O longa experimental Hotel (2001), dirigido por Mike Figgis, faz diversas menções ao estilo do produção do Dogma 95 e foi descrito como “um filme Dogma dentro de um filme”. Esse estilo também é mencionado no episódio Hino Nacional / The National Anthem, na primeira temporada da série Black Mirror. Outro exemplo de artista inspirado pelo movimento é o músico e produtor musical Money Mark (Mark Ramos Nishita), que usou princípios do Dogma 95 em seu álbum Mark’s Keyboard Repair.

Com o passar dos anos, diretores associados ao Dogma 95 começaram a se afastar da fórmula tradicional do movimento, criando seus próprios métodos para realizar filmes artísticos de baixo orçamento. Além disso, com a qualidade e acessibilidade dos formatos digitais de vídeo, a película de 35mm acabou se tornando, nos dias de hoje, quase um luxo para cineastas independentes.

Em 2015, o Museum of Arts and Design (MAD), em Nova York, homenageou o movimento com a retrospectiva Director Must Not Be Credited: 20 Years of Dogma 95 (em tradução livre, O Diretor Não Deve Ser Creditado: 20 Anos do Dogma 95).

Dogma Feijoada

Tomando como base o Dogma 95, um grupo de cineastas negros – em especial, paulistas – resolveu criar seu próprio movimento, intitulado Dogma Feijoada. Esse manifesto apareceu pela primeira vez em 2000, no 11º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Seu propósito era colocar em foco o trabalho dos cineastas negros brasileiros.

O cineasta Jeferson De, autor do manifesto Dogma Feijoada.

De acordo com Lucilene Pizoquero, pesquisadora do Cinema Brasileiro e professora da Academia Internacional de Cinema, a denominação Dogma Feijoada surgiu com um tom provocador e jocoso. “No melhor sentido tropicalista, o movimento procurava canibalizar o Dogma europeu. Se este primava pela austeridade e sisudez, aquele remetia à maleabilidade e plasticidade, significando a própria inversão de qualquer sistema rígido. Afinal, nada menos dogmático do que a feijoada, considerada um prato típico da culinária brasileira, que amalgama ingredientes de diferentes tradições culturais”, explica Lucilene. Essa ambiguidade saltava aos olhos e, de modo travesso, contribuiu para divulgar o movimento.

O manifesto Dogma Feijoada, escrito pelo cineasta Jeferson De, indicava sete fundamentos para o cinema negro:

  • O filme tem de ser dirigido por realizador negro brasileiro;
  • O protagonista deve ser negro;
  • A temática do filme tem de estar relacionada com a cultura negra brasileira;
  • O filme tem de ter um cronograma exequível. Filmes-urgentes;
  • Personagens estereotipados negros (ou não) estão proibidos;
  • O roteiro deverá privilegiar o negro comum brasileiro;
  • Super-heróis ou bandidos deverão ser evitados.

Faziam parte do movimento Dogma Feijoada, além do idealizador Jeferson De, Lilian Solá Santiago, Ari Cândido, Billy Castilho, Daniel Santiago, Luiz Paulo Lima, Noel Carvalho e Rogério Moura.

 

Banner-de-cursos-de-Direção-Cinematográfica

 

Lista completa de filmes e cineastas

  • Dogma # 1: Festa de Família / Festen (1998)
    Direção: Thomas Vinterberg
    Dinamarca
  • Cena do Filme “Festa de Família”(Festern, 1998), de Thomas Vinterber.

    Dogma # 2: Os Idiotas / Idioterne (1998)
    Direção: Lars von Trier
    Dinamarca

  • Dogma # 3: Mifune / Mifunes Sidste Sang (1999)
    Direção: Søren Kragh-Jacobsen
    Dinamarca
  • Dogma # 4: O Rei Está Vivo / The King Is Alive (2000)
    Direção: Kristian Levring
    Dinamarca
  • Dogma # 5: Lovers (1999)
    Direção: Jean-Marc Barr
    França
  • Dogma # 6: Julien Donkey-Boy (1999)
    Direção: Harmony Korine
    Estados Unidos
  • Dogma # 7: Interview (2000)
    Direção: Daniel H. Byun (também creditado como Hyuk Byun)
    Coreia do Sul
  • Dogma # 8: Fuckland (2000)
    Direção: Jose Luis Marques
    Argentina
  • Cena do filme “Lovers”(1999), do diretor Jean-Marc Barr.

    Dogma # 9: Babylon (2001)
    Direção: Vladan Zdravkovic
    Suécia

  • Dogma # 10: Chetzemoka’s Curse (2001)
    Direção: Rick Schmidt, Maya Berthoud
    Estados Unidos
  • Dogma # 11: Diapason (2001)
    Direção: Antonio Domenici
    Itália
  • Dogma # 12: Italiano Para Principiantes / Italiensk For Begyndere (2000)
    Direção: Lone Scherfig
    Dinamarca
  • Dogma # 13: Amerikana (2001)
    Direção: James Merendino
    Estados Unidos
  • Dogma # 14: Joy Ride (2000)
    Direção: Martin Rengel
    Suíça
  • Dogma # 15: Camera (2000)
    Direção: Richard Martini
    Estados Unidos
  • Dogma # 16: Bad Actors (2000)
    Direção: Shaun Monson
    Estados Unidos
  • Cena do filme “Verdadeiramente Humano
    (Et Rigtigt Menneske, 2001), de

    Dogma # 17: Reunion ou American Reunion (2001)
    Direção: Leif Tilden, Mark Poggi
    Estados Unidos

  • Dogma # 18: Verdadeiramente Humano / Et Rigtigt Menneske (2001)
    Script and Direção: Åke Sandgren
    Dinamarca
  • Dogma # 19: Cabin Fever / Når Nettene Blir Lange (2000)
    Direção: Mona J. Hoel
    Noruega
  • Dogma # 20: Strass (2001)
    Direção: Vincent Lannoo
    Bélgica
  • Dogma # 21: Kira’s Reason / En kærlighedshistorie (2001)
    Direção: Ole Christian Madsen
    Dinamarca
  • Dogma # 22: Era Outra Vez (2000)
    Direção: Juan Pinzás
    Espanha
  • Dogma #23: Resin (2001)
    Direção: Vladimir Gyorski
    Estados Unidos
  • Dogma #24: Security, Colorado (2001)
    Direção: Andrew Gillis
    Estados Unidos
  • Cena do filme “Corações Livres” (Elsker Dig For Evigt, 2002), de Susanne Bier.

    Dogma #25: Converging With Angels (2002)
    Direção: Michael Sorenson
    Dinamarca, Estados Unidos

  • Dogma #26: The Sparkle Room (2001)
    Direção: Alex McAulay
    Estados Unidos
  • Dogma #27: Come Now (2001)
    Direção: Desconhecido
    Estados Unidos
  • Dogma #28: Corações Livres / Elsker Dig For Evigt (2002)
    Direção: Susanne Bier
    Dinamarca
  • Dogma #29: The Breadbasket (2002)
    Direção: Matthew Biancaniello
    Estados Unidos
  • Dogma #30: Días de Boda (2002)
    Direção: Juan Pinzás
    Espanha
  • Dogma #31: El Desenlace (2005)
    Direção: Juan Pinzás
    Espanha
  • Dogma #32: Old, New, Borrowed and Blue / Se til venstre, der er en Svensker (2003)
    Direção: Natasha Arthy
    Dinamarca
  • Dogma #33: Residencia (2004)
    Direção: Artemio Espinosa
    Chile
  • Cena do filme “Em Suas Mãos” (Forbrydelser, 2004), dirigido por Annete K. Olesen.

    Dogma # 34: Em Suas Mãos / Forbrydelser (2004)
    Direção: Annette K. Olesen
    Dinamarca

  • Dogma #35: Così x Caso (2004)
    Direção: Cristiano Ceriello
    Itália

(Fonte: http://www.Dogma95.dk/)

*Texto e pesquisa: Katia Kreutz
**Foto Destaque: Os Idiotas de Lars von Trier

Confira também os outros artigos sobre os Movimentos Cinematográficos:

Dogma 95 Read More »

rodada de roteiros AIC

II Rodada de Apresentação de Roteiros na AIC do Rio de Janeiro

Com o objetivo de fazer circular os projetos escritos nos cursos de roteiro e estimular a troca entre roteiristas formados na escola, estudantes dos diversos cursos, professores, produtores e curadores de festivais de cinema, a AIC promove a II Rodada de Apresentação de Roteiros. O evento acontece dia 08 de dezembro (sábado), de 13h às 17h, na AIC do Rio de Janeiro.

Foram selecionados 8 projetos de alunos e a banca será formada por Eduardo Valente, curador de Festivais, Camila Agustini, roteirista integrante da ABRA, e Fabricio Motta, um dos sócios da Produtora Seu Filme. As apresentações são abertas para alunos e alunas de outros cursos da AIC. Participe.

Conheça os roteiros selecionados:

  1. Matilde | de Thiago Freitas Rosestolato
  2. Meu Nome é Julia | de Nina Ramos
  3. Desculpa o atraso | de João Schlaepfer
  4. Uber Caveirão | de Alfredo Maio
  5. Eu sou um monstro | de Armando Moya de Souza
  6. Do outro lado do muro | de Pedro Zé
  7. Em cada canto | de Luciano Ribeiro
  8. E se ele tiver voz de menina? | de Evelin Nery Schmidt

*Foto: Bel Junqueira

II Rodada de Apresentação de Roteiros na AIC do Rio de Janeiro Read More »

Join Waitlist We will inform you when the product arrives in stock. Please leave your valid email address below.
Academia Internacional de Cinema (AIC)
Privacy Overview

Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar este site, você aceita nossa Política de Privacidade e Política de Cookies.