Academia Internacional de Cinema no Rio2C 2019

Entre os dias 23 a 28 de abril acontece na Cidade das Artes – no Rio de Janeiro, mais uma edição do Rio2C, o maior encontro de criatividade e inovação da América Latina, evento referência no mercado audiovisual desde 2010. A Academia Internacional de Cinema (AIC) participa do evento com duas programações, uma no dia 25 dentro da Conferência e outra nos dias 27 e 28 no Festivalia.

Dia 25 | Bate-Papo sobre Cenário Atual do Mercado de Trabalho

O diretor e professor Hernani Heffner e a Head de Conteúdo Original da Fox Networks Group Julia Priolli debatem sobre o desafio de preparar profissionais tecnicamente qualificados e criativos para um mercado audiovisual cada vez mais especializado, dinâmico, multifacetado e internacionalizado.  A mesa será mediada pelo coordenador acadêmico da AIC, Martin Eikmeyer.

O debate acontecerá na arena de conteúdo, na sessão Prime Time, no dia 25/04 (quinta-feira), das 17h45 às 18h45.

As conferências vão reunir mais de 700 keynotes / palestrantes e 420 players em 12 salas simultâneas de conteúdo de audiovisual, música, animação, games e editorial.

Dia 27 e 28 | Oficina Minuto Lumiére no Festivalia

O Festivalia, que acontece após os quatro dias de conferências, traz uma série de experiências destinadas a estudantes e jovens profissionais que buscam inspiração, informações e networking.

A oficina Minuto Lumiére, ministrada pela professora Clarissa Nanchery, resgata a história e as origens do cinema a partir dos irmãos considerados seus inventores. Com caráter expositivo e prático, se propõe a atentar para a importância de rodar um único plano, tendo em vista noções de enquadramento, composição, movimento e disposição –  gestos fundamentais em todo fazer cinematográfico.  Todos os participantes da oficina filmam seus próprios Minutos Lumière dentro da Cidade das Artes, e ao final, os filmes terão uma exibição aberta ao público.

A oficina acontece nos dias 27/04 (sábado) e 28/04 (domingo), das 12h às 14h, numa sala reservada para até 20 pessoas.

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A possível e bela experiência de estudar cinema a distância

O cineasta Steven Spielberg conquistou seu diploma de graduação por meio de estudos a distância. Photo by Paul Marotta/Getty Images

Em 1969, o então estudante de cinema Steven Spielberg abandonou os estudos na California State University, Long Beach, para se dedicar à produção de seu primeiro curta-metragem. Mais de 30 anos depois, já consagrado como diretor e vencedor de diversos Oscars, ele finalmente conseguiu seu diploma de Bacharel em Artes graças ao ensino a distância. Spielberg completou seu curso por meio de trabalhos escritos, estudos independentes e a submissão de um filme: o premiado A Lista de Schindler. “Eu desejei conquistar isso por muitos anos como um agradecimento aos meus pais, por me darem a oportunidade de ter uma educação e uma carreira, e como um lembrete à minha própria família – e aos jovens em todos os lugares – sobre a importância de realizar seus objetivos acadêmicos”, declarou o cineasta.

Assim como Spielberg, o ator, fisiculturista e ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger também conseguiu completar sua graduação por meio da educação a distância. Nascido na Áustria, ele ganhou fama em Hollywood com os filmes Conan, o Bárbaro e O Exterminador do Futuro. Depois de estudar inglês no Santa Monica College, seu bacharelado foi realizado através de um curso por correspondência pela University of Wisconsin–Superior, em marketing internacional e administração.

Nos dias de hoje, a internet tornou o ensino a distância uma forma de aprendizado cada vez mais fácil, versátil e dinâmica. Embora ainda exista alguma resistência no Brasil para esse tipo de educação, o cenário tem se ampliado no mesmo passo em que a tecnologia avança.

Esse movimento acontece também na área audiovisual, envolvendo um forte componente prático. A Academia Internacional de Cinema (AIC) foi a primeira escola audiovisual a mergulhar no ensino a distância – e com entusiasmo. “Olhamos para as particularidades de cada disciplina e desenvolvemos um currículo sob medida, construído de forma a potencializar os aspectos práticos de cada curso, refletindo sempre a metodologia hands on que é a marca registrada da AIC”, diz Steven Richter, fundador e diretor de desenvolvimento da AIC.

Os diferenciais dos cursos online oferecidos pela AIC estão certamente nas aulas ao vivo, com professores que atuam do mercado, além da possibilidade de interação com pessoas das mais diversas partes do país – e até do mundo.

Arnold Schwarzenegger concluiu sua graduação em marketing internacional e administração por correspondência

Trata-se de uma nova alternativa, bastante flexível, para os aspirantes a cineastas que não podem participar dos cursos presenciais. A intenção não é de substituir uma modalidade de ensino pela outra, mas de que as possibilidades de formação para futuros cineastas sejam ampliadas, aproveitando cada vez mais os avanços tecnológicos na área audiovisual. A relação entre aluno e professor continua existindo, ainda que de forma virtual. Basta que o estudante tenha um computador com acesso à internet, podendo conferir os conteúdos conforme sua própria conveniência. No entanto, é preciso ter disciplina e dedicação, já que estudar longe de uma sala de aula permite maiores distrações e a vontade de aprender depende unicamente do aluno.

Entre os cursos disponíveis atualmente no site da AIC estão:

ENTREVISTA: Steven Richter

O diretor de desenvolvimento e fundador da AIC fala sobre as novas possibilidades e as particularidades do estudo audiovisual a distância no Brasil e no mundo.

AIC: Por que vocês decidiram criar os cursos online na AIC?

Steven Richter, diretor de desenvolvimento e fundador da AIC – foto de Cora Coronel

Steven Richter: Tenho pesquisado escolas online por um bom tempo, observando como elas evoluem, e pensei como o ensino a distância seria perfeito para a AIC, porque podemos começar a alcançar pessoas de todo o país, e até do mundo, com formação audiovisual de qualidade. Temos em nossos programas alunos do Brasil inteiro e também dos Estados Unidos, Portugal, Alemanha e outros países. Isso realmente nivela o campo em termos de educação. Estamos prestes a abrir uma escola “irmã” da AIC nos Estados Unidos, chamada International Academy of Film & Arts. A maior parte das aulas, no início, será online. Mas o que mais me empolga é a criação de uma escola verdadeiramente internacional, em que os professores vêm de todas as partes do mundo e compartilham sua experiência e conhecimento com os alunos, que também são do mundo todo. A ideia é trazer estilos cinematográficos de pessoas de diferentes lugares, com novas perspectivas.

AIC: Algumas pessoas têm a impressão de que o ensino à distância não é tão bom quanto aulas presenciais. Nesse sentido, o que você diria que é o diferencial dos cursos da AIC?
S.R.:
Essa era uma tendência de pensamento que existia inicialmente, também nos Estados Unidos, mas agora todas as principais universidades do mundo possuem cursos online – Harvard, Stanford, USC, etc. A internet está se tornando uma escolha para muitas pessoas que vivem longe de uma escola de cinema, que trabalham e precisam conciliar sua vida profissional com os estudos, ou aquelas que simplesmente preferem estudar no conforto de suas casas, podendo determinar quando querem realizar seus estudos, sem ter que obedecer a um cronograma estabelecido. Na AIC, a maioria de nossos programas são ao vivo. Temos um cronograma, mas as aulas também são gravadas para os alunos que não puderem ver naquele dia, então é extremamente flexível. Acho que há muitos benefícios pedagógicos em estudar online. Tudo é gravado, por isso você pode assistir quantas vezes quiser. As questões dos seus colegas ficam registradas na plataforma da turma; assim, se você esquecer, elas estão ali nos fóruns e nas perguntas ao professor. Vejo muitos cursos online usando aulas pré-gravadas, mas a maioria dos nossos a cursos distância são ao vivo, porque acreditamos que essa é uma forma de preservar o ambiente criativo da sala de aula e incentivar a comunicação. Tentamos tornar a experiência a mais interativa e dinâmica possível, com os professores interagindo em tempo real, respondendo às perguntas e dando feedback como dariam pessoalmente. Há interação até mesmo entre os alunos, o que torna nossas salas de aula virtuais tão próximas da realidade.

AIC: Você acredita que o cinema seja um campo de trabalho mais fácil para o aprendizado a distância, uma vez que ele já envolve tecnologia e conteúdo audiovisual?
S.R.: Há vantagens óbvias em aprender cinema de forma presencial, mas também há inúmeros benefícios para o aprendizado online. Eu acredito (assim como está acontecendo nos Estados Unidos atualmente) que surgirão muitas maneiras híbridas de aprender, tanto estudos online quanto presencialmente. O que é importante é que você pode receber uma educação de qualidade em cinema, de qualquer lugar – seja no bairro paulistano de Itaim, estudando em um café em Ipanema, fazendo um curso de Floripa ou Lisboa, ou mesmo em Los Angeles. É o que está acontecendo agora. Isso está aproximando as pessoas e eu não poderia estar mais animado.

ENTREVISTA: Martin Eikmeier

O coordenador acadêmico da AIC fala sobre como visão criativa e tecnologia quebram tabus e transformam o cenário do ensino de cinema a distância.

AIC: O que levou a AIC a criar os cursos online?

Martin Eikmeier, coordenador acadêmico da AIC

Martin Eikmeier: Observamos uma enorme representação de alunos de outros estados (fora de São Paulo e Rio de Janeiro) nos nossos cursos de férias. Também recebemos com muita frequência convites de instituições em outros estados, para formar parcerias e oferecer cursos nesse formato prático no qual a escola aposta. Ainda que existam universidades e faculdades de cinema em muitos lugares, a AIC foi a primeira escola no Brasil a oferecer cursos com profissionais atuantes no mercado de trabalho, especializados em uma área específica do cinema. Essa composição de profissionais, assim como toda a pedagogia que desenhamos e repensamos todos os dias, muda por completo a maneira pela qual se dá a formação. O que está em jogo é a experiência sempre atual, real e concreta de como funciona o mercado de trabalho no cinema. Ao considerar esses fatores, procuramos imaginar como poderíamos traduzir a nossa lógica pedagógica para o universo online. Isso nos permitiria ter o alcance que estava sendo demandado da escola, mas que, por questões físicas, era menos possível do que desejaríamos. A única aposta que nos pareceu possível foi encontrar estratégias dentro do ensino a distância em que os alunos tivessem, em primeiro lugar, um contato real com os professores; não apenas uma aula gravada, mas uma ferramenta que permitisse a vivência mais próxima de uma sala de aula. Em segundo lugar, que fosse possível a esses alunos colaborarem entre si, tal como acontece no trabalho em um filme. Encontramos a ferramenta ideal para esse fim, depois de tatear entre várias possibilidades. Hoje, temos um curso online em que as aulas são ao vivo, os alunos se veem, colaboram entre si e realizam tarefas que são examinadas pelos professores e tutores. Um dos pilares da escola, a integração, também foi reproduzido no ambiente online. Já tivemos, por exemplo, um aluno do curso de Som, realizando a edição de som de um curta-metragem da turma do último semestre do FilmWorks – ele em Porto Alegre, os diretores em São Paulo.

AIC: Muitas pessoas olham o ensino à distância com desconfiança, considerando-o menos abrangente do que as aulas presenciais. O que você responderia para esse público?
M.E.: São coisas diferentes, não há dúvida quanto a isso. Mas não significa que um ensino seja melhor ou pior, apenas diferente. Hoje, digo com tranquilidade que existem dinâmicas de um curso presencial que são impossíveis de serem reproduzidas no ambiente virtual. Mas também podemos afirmar o oposto: temos dinâmicas no ambiente virtual que são impossíveis de serem reproduzidas presencialmente. A AIC entrou com tudo nessa história e temos várias pessoas pensando juntas as soluções mais modernas que existem no universo EAD para nosso ambiente virtual. O aluno com certeza vai encontrar uma experiência surpreendente com nossos cursos.

AIC: Você acredita que o cinema, por envolver tecnologia e conteúdo audiovisual, é uma área em que o ensino online se aplica bem?
M.E.: Sim, perfeitamente bem. Como é uma área que se realiza sempre numa perspectiva coletiva – ou seja, cinema precisa de muita gente junta para dar certo – é natural que as pessoas julguem o ambiente online inadequado, já que boa parte das nossas interações com esse universo se dão de forma individual. Mas, atualmente, temos ferramentas que permitem um nível surpreendente de integração, não apenas no ensino, mas também em experiências de entretenimento.  O conhecimento nasce de desafios práticos, em que a integração e a colaboração são fundamentais. Isso porque, no mundo do trabalho em audiovisual, integrar e colaborar é uma prerrogativa fundamental.

No ambiente online, tudo se resume à ferramenta correta. Atualmente, trabalhamos com uma plataforma de LMS, com recursos bastante avançados nesse sentido. Temos uma sala virtual, na qual professores e alunos se encontram em tempo real. Diferente de aulas ao vivo em streaming, nessa plataforma os alunos interagem por si próprios com vídeo e áudio, além de poderem interagir com texto. É possível compartilhar arquivos e desenhar sobre esses arquivos. Também é possível dividir a sala virtual em grupos de alunos, para trabalhos integrados. O professor tem acesso a cada um desses grupos, podendo interagir com o trabalho de cada aluno. Outra possibilidade é deixar vídeo e áudio liberados para todos, o que pode ser feito a pedido do aluno, clicando em um ícone que simula a mão levantada em uma sala de aula real. O professor pode ainda mostrar telas de seu computador e ter acesso a um quadro branco para escrever ou desenhar, como em uma lousa de verdade. É o que há de mais próximo a uma sala de aula real.

*Por Katia Kreutz

 

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Inscrições abertas para o Festival de Cinema de Vitória

O 26º Festival de Cinema de Vitória está com inscrições abertas até o dia 20 de maio. O evento acontecerá entre os dias 24 e 29 de setembro, no Centro Cultural Sesc Glória, Cineclube Metrópolis e Hotel Senac Ilha do Boi de Vitória, no ES.

O festival aceita inscrições de curtas e longas-metragens de gêneros variados, incluindo documentários, animações, videoclipes, experimental e ficção. As obras devem ter sido realizadas a partir de 1º de janeiro de 2018.

Serão 11 mostras competitivas: Mostra Competitiva Nacional de Curtas; Mostra Competitiva de Longas; Mostra Foco Capixaba; Mostra Corsária; Mostra Quatro Estações; Festivalzinho de Cinema de Vitória; Mostra de Animação; Mostra Mulheres no Cinema; Mostra Cinema e Negritude; Mostra Nacional de Videoclipes e Mostra Nacional de Cinema Ambiental.

Para mais informações acesse o site: https://festivaldevitoria.com.br/26fv/

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Capitã Marvel

Mudanças na indústria cinematográfica

Filme exterminador do futuro
O Exterminador do Futuro 2 (1991) de James Cameron

 

Cinema é uma arte e também uma indústria multimilionária. Embora Hollywood siga ditando tendências desde a década de 1920, outros países têm ingressado nesse mercado. Em um contexto cada vez mais amplo e multifacetado, no qual as salas de cinema competem com a televisão e serviços de streaming, é importante entender de que maneira os aspectos comerciais de uma produção podem determinar seu sucesso junto ao público. Para tanto, basta analisar as principais mudanças da indústria cinematográfica nas últimas décadas.

 

Mercado competitivo

Atualmente, a indústria de cinema hollywoodiana produz de 600 a 800 longas-metragens por ano. Já Bollywood, cerca de 1200 filmes – a maior parte deles para seu próprio mercado. A China não fica para trás, com 400 produções – a maior parte delas assistidas localmente, pela enorme população do país. O Brasil tem uma média anual mais baixa, produzindo aproximadamente 150 filmes nacionais.

O fato é que um número gigantesco de produções está disponível anualmente para o circuito distribuidor. Com tantas opções, as salas de exibição precisam limitar o tempo em que cada filme ficará em cartaz. Antigamente, alguns filmes eram exibidos durante anos. Esse intervalo passou para alguns meses, até chegar à média de um blockbuster na atualidade: no máximo oito semanas.

 

 

Além disso, salas mais alternativas, voltadas a filmes artísticos, estão se tornando cada vez mais raras – e caras. Os chamados “filmes de autor” não atraem grandes multidões, o que faz com que alguns proprietários de cinemas não consigam manter a viabilidade de seus negócios. Além disso, o hábito que muitos cinéfilos tinham de ver o mesmo filme diversas vezes no cinema foi se alterando no decorrer das últimas décadas, devido aos preços dos ingressos e à variedade de opções.

No geral, os lucros da bilheteria de um filme dependem de quanto foi gasto em sua produção, divulgação e distribuição. Longas com grandes orçamentos, de franquias conhecidas pelo público e repletos de efeitos especiais, tendem a atrair muitos espectadores. A indústria de Hollywood cresceu justamente por conta de seu sucesso junto às massas, dentro e fora dos Estados Unidos.

Essa expansão do mercado hollywoodiano para o resto do mundo se potencializou entre os anos 1960 e 1970, quando os norte-americanos passaram a investir em blockbusters com orçamentos milionários, pensados para agradar os mais diversos tipos de público. O dinheiro gerado por esses longas permitiu a produção de mais filmes, movendo as engrenagens de uma máquina que ainda hoje é uma das mais bem-sucedidas no planeta.

 

Top Gun - Ases Indomáveis
Top Gun – Ases Indomáveis (1986) de Tony Scott

 

Nos anos 1980, com a popularização do VHS (Video Home System, ou “sistema de vídeo caseiro”), a indústria cinematográfica tentou equilibrar a queda nas vendas de ingressos cobrando preços bastante altos pelas fitas – a VHS de um filme chegava a custar mais de 80 dólares. O longa Top Gun – Ases Indomáveis (1986) revolucionou esse mercado, tendo sua fita lançada por apenas 26,95 dólares. Isso foi possível porque a Paramount Pictures incluiu um comercial de Pepsi antes dos créditos do filme, em troca da divulgação do longa nas campanhas da marca na TV.

Com a chegada do DVD (Digital Video Disc, ou “disco digital de vídeo”), no início dos anos 2000, os distribuidores de filmes voltaram a aumentar seus lucros, já que a nova tecnologia era mais cara do que as fitas VHS – graças à sua maior capacidade de armazenamento e qualidade de resolução superior. Um processo semelhante ocorreu com a invenção do Blu-ray, disco óptico capaz de armazenar filmes em full HD, porém essa tecnologia não chegou a se popularizar no Brasil. Isso porque, entrando na década de 2010, as mídias digitais (e, com elas, a pirataria), assim como os serviços de streaming, já começam a surgir.

Como o público passou a frequentar menos as salas de cinema, muitas vezes optando por assistir filmes pela televisão ou internet, a indústria cinematográfica (especialmente Hollywood) abordou essa mudança de maneira conservadora, apostando cada vez mais em projetos de baixo risco e lucro garantido: franquias, reboots, remakes e sequências de grandes sucessos, ao invés de produções originais.

 

Do herói clássico à geração videoclipe

A Era de Ouro de Hollywood (anos 1920 a 1960) estabeleceu um modo de fazer filmes que precisou ser atualizado com a chegada da televisão. Com o passar dos anos, a indústria cinematográfica viu seus filmes se tornarem mais dinâmicos e ambiciosos, com cortes cada vez mais rápidos e uma grande quantidade de efeitos digitais. A necessidade de atrair multidões provocou uma mudança no tom e nas técnicas de fazer cinema.

As maiores bilheterias de todos os tempos tendem a refletir os aspectos culturais e sociais de sua época. Nos anos 1940 e 1950, muitas pessoas buscavam esquecer a Segunda Guerra Mundial com histórias positivas, focadas no heroísmo ou escapismo, evitando temas como sexo e violência. Já nos anos 1960, iniciou-se um movimento de produções mais ousadas, densas e experimentais, que se potencializou nos anos 1970 com sucessos norte-americanos como O Poderoso Chefão / The Godfather (1972), Taxi Driver (1976) e O Franco Atirador / The Deer Hunter (1978).

 

Guerra nas Estrelas
Guerra nas Estrelas / Star Wars (1977) de George Lucas

 

Aos poucos, o público acabou se cansando da violência gratuita e do constante pessimismo. Com o lançamento de Guerra nas Estrelas / Star Wars (1977), uma nova onda se popularizou: histórias em que os mocinhos venciam no final. Por conta disso, os anos 1980 se caracterizaram por filmes mais otimistas e aventureiros, com protagonistas carismáticos em situações inusitadas, quase sempre com final feliz. Exemplos disso são E.T.: O Extraterrestre / E.T. the Extra-Terrestrial (1982), Os Caça-Fantasmas / Ghostbusters (1984), De Volta para o Futuro / Back to the Future (1985) e Curtindo a Vida Adoidado / Ferris Bueller’s Day Off (1986).  

Os anos 1990 substituíram os longas de aventura pelos de ação. O público jovem, em especial, passou a ter contato com novas mídias e essa influência da tecnologia se refletiu nas histórias vistas nas telas: os heróis passaram a usar mais a cabeça do que os músculos, em tramas envolvendo inteligência artificial e ficção científica, como O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final / Terminator: Judgment Day (1991), O Parque dos Dinossauros / Jurassic Park (1993), e Independence Day (1996).

Nos anos 2000, muitos filmes voltaram a temas mais pesados, inclusive envolvendo terrorismo e extremismo, até mesmo nas populares franquias de super-heróis. Batman: O Cavaleiro das Trevas / The Dark Knight (2008) exemplifica bem esse período, que substituiu os vilões cômicos por ameaças reais. Essa visão mais pessimista do mundo, gerada por conflitos políticos e ataques terroristas (principalmente aos Estados Unidos), abriu espaço para produções como Filhos da Esperança / Children of Men (2006) e Guerra ao Terror / The Hurt Locker (2008). O cinema brasileiro também entrou nessa onda mais realista, com Cidade de Deus (2002).

Atualmente, as gerações que cresceram assistindo a videoclipes na televisão e vídeos curtos na internet são as maiores frequentadoras das salas de cinema. Por conta disso, os filmes que se tornam grandes sucessos são blockbusters hollywoodianos que abusam dos cortes rápidos e efeitos especiais, preferencialmente com histórias já conhecidas pelo público, como as franquias de super-heróis originadas nos quadrinhos. As mais bem-sucedidas exploram múltiplas sequências e spin-offs para permanecer no topo das vendas, mantendo seus roteiros em um território “seguro”, sem grandes ousadias, e apostando no bom humor para entreter os espectadores.

 

O poder da tecnologia

A tecnologia foi o que levou o cinema de uma indústria silenciosa, em preto e branco, para espetáculos visuais em alta definição, capazes de transportar o público para dentro do filme. Nesse sentido, os avanços tecnológicos tiveram enorme impacto sobre o fazer cinematográfico – em especial no decorrer das últimas décadas. Da steadicam ao CGI (computer generated imagery, ou “imagens geradas por computador”), os avanços tecnológicos têm influenciado o teor e o tipo de histórias desenvolvidas, principalmente em Hollywood. Hoje em dia, não há praticamente nada que se possa imaginar que também não possa ser realizado com a ajuda da tecnologia digital.

 

Os sets de filmagem atuais utilizam com frequência técnicas como chroma key

 

Esses avanços podem ser vistos nos próprios sets de filmagem. Entre os anos 1940 e 1960, a maioria dos filmes eram gravados em estúdios ou em ambientes controlados, para evitar imprevistos que pudessem colocar em risco as gravações. A partir dos anos 1960, a melhor qualidade das câmeras e do aparato cinematográfico permitiu que os cineastas passassem a gravar em locações externas, possibilitando também maior realismo aos filmes. Essa liberdade permitiu experimentações – como comprovaram os cineastas da Nouvelle Vague francesa, por exemplo.

Com o passar das décadas, os filmes se tornaram cada vez mais próximos da realidade, indo ainda mais longe com o desenvolvimento da tecnologia 3D, fazendo com que o espectador se sentisse imerso no mundo retratado na tela. Os sets de filmagem, hoje em dia, utilizam com frequência técnicas como chroma key (efeito visual inserido na pós-produção por meio do anulamento de uma cor padrão, em geral uma tela verde) e motion capture (captura digital de movimento).

Nesse contexto, o conceito de autoria também se modificou com o tempo. No passado, muitos filmes tinham como figura principal o produtor ou o ator principal (o star system de Hollywood ilustra bem esse período). Aos poucos, em especial após movimentos de vanguarda como o Neorrealismo italiano e a Nouvelle Vague, o diretor conquistou o papel de maestro da equipe, sendo responsável pelas decisões criativas mais importantes. Já com a era dos blockbusters, os produtores executivos ganharam poder sobre o produto final, uma vez que o dinheiro é extremamente importante para a realização desses filmes. Tem sido cada vez mais comum em Hollywood (recentemente, em filmes de super-heróis), a demissão e a contratação de diretores durante o processo.

Por outro lado, as mudanças tecnológicas simplificaram bastante o processo de fazer um filme, permitindo que o cinema independente florescesse. Há cerca de 50 anos, as câmeras precisavam de uma equipe inteira para serem operadas e era praticamente impossível fazer tomadas aéreas por conta do peso do equipamento. A edição da película era feita em um aparelho chamado moviola – o editor/montador fisicamente cortava e colava o filme. Fazer cinema era um processo longo e difícil, que ainda assim resultava em imagens de baixa qualidade. No mundo totalmente digital no qual vivemos, é até difícil imaginar esses desafios.

A tecnologia afeta não apenas a maneira como os filmes são gravados e editados, mas o modo de serem vistos pelo público. Jovens nascidos na última década assistem a programas na internet e televisão em altíssima resolução (4K), com uma amplitude de cores enorme e até mesmo maior velocidade de fotogramas (frame rate). Tudo aponta para uma convergência das mídias: em um futuro não muito distante, TV e internet acabarão se fundindo, para dominar ainda mais esse mercado que antes era das redes exibidoras de filmes.

 

No escurinho do cinema

Todas essas vantagens da tecnologia tornaram o ato de ir ao cinema um certo luxo, já que demanda tempo e dinheiro. A televisão a cabo e os serviços on-demand, além das plataformas de streaming como a Netflix, facilitaram a vida dos espectadores e provocaram uma crise no circuito exibidor. Hoje em dia, boa parte dos lucros das salas de cinema não estão nas vendas de ingressos, mas nas bombonières (que vendem pipoca, refrigerante, doces, etc).

 

O filme Pantera Negra mostrou nas bilheterias que a representatividade é importante para a indústria

 

Para os grandes estúdios, além da necessidade de atrair grandes bilheterias, é importante investir em franquias que permaneçam populares durante muitos anos, possibilitando a venda de outros produtos – como roupas e brinquedos. Os universos de super-heróis das gigantes Marvel e DC competem com animações da Disney e spin-offs de Harry Potter. Vale tudo para monetizar a atenção do público.

O universo digital traz a possibilidade de inovar e criar de maneira multimídia, confundindo as barreiras que separam a arte do entretenimento. Apesar desse contexto voltado essencialmente para o lado comercial das produções, há quem ainda acredite que a experiência de ver um filme no escurinho do cinema e os aspectos artísticos do fazer cinematográfico são imprescindíveis. Afinal, existe um público para cada tipo de filme produzido, basta que seja encontrado esse nicho.

Embora os equipamentos de home theater estejam se aproximando cada vez mais da experiência cinematográfica e muitas pessoas tenham se acostumado a ver conteúdos audiovisuais em seus celulares, o prazer de compartilhar um filme com outras pessoas em uma tela grande, no escurinho do cinema, ainda deve perdurar por mais algumas décadas. Conforme a competição vai se acirrando no mercado, a tendência é de que os realizadores passem a buscar não apenas o sucesso nas bilheterias, mas a atenção de um público específico por meio da qualidade e originalidade de seus conteúdos.

 

 

Mudanças de posicionamento

Talvez um dos aspectos mais positivos da evolução da indústria cinematográfica nas últimas décadas, especialmente a partir do início do século 21, tem sido a preocupação com a diversidade e a representatividade. Os movimentos por representações mais abrangentes, tanto no que diz respeito a questões raciais quanto de gênero, têm provado que as temáticas dos filmes também podem ser influenciadas pelo contexto histórico na qual são criadas.

 

Patty Jenkins no set de Mulher-Maravilha
Wonder Woman 1984 (2020) de Patty Jenkins

 

Discussões e atitudes em favor da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, por exemplo, clamam por mudanças estruturais na indústria cinematográfica. Depois de escândalos como as denúncias de assédios e abusos em Hollywood que vieram à tona em 2017, com os movimentos #MeToo e #TimesUp, outras iniciativas passaram a pedir a maior inclusão feminina – na frente e atrás das câmeras.

De acordo com o que anunciou a atriz Tessa Thompson, em janeiro deste ano, um grupo de celebridades hollywoodianas está se unindo para estimular o trabalho de cineastas mulheres na indústria. O chamado 4% Challenge (ou Desafio das 4%) surgiu da estatística de que apenas 4% dos diretores dos 1,2 mil filmes mais bem-sucedidos nas bilheterias de 2007 a 2018 eram mulheres.

 

A atriz Brie Larson de Capitã Marvel
Capitã Marvel (2019) co-dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck

 

Ao lado de Tessa Thompson estão nomes como Brie Larson, Reese Witherspoon, J.J. Abrams, Jordan Peele, Armie Hammer, Paul Feig, Amy Schumer, Nina Jacobson, Constance Wu e Kerry Washington. Esses artistas e muitos outros declararam que nos próximos 18 meses irão anunciar um filme que será realizado por uma diretora mulher. Dois grandes sucessos de bilheteria recentemente, Mulher-Maravilha (dirigido por Patty Jenkins) e Capitã Marvel (co-dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck) ajudaram a pavimentar o caminho para diretoras em um universo antes essencialmente masculino.

A verdade é que a indústria está descobrindo que a diversidade pode ser lucrativa. Pantera Negra, o primeiro filme de super-heróis a ser protagonizado por um ator negro, faturou mais de 1,3 bilhão de dólares no ano passado, foi indicado a sete Oscars (inclusive de melhor filme) e já tem uma sequência garantida. Roma, longa produzido por uma plataforma de streaming (Netflix), em preto e branco e todo falado em espanhol, levou 10 indicações ao Oscar e se consagrou pela vitória em categorias importantes (como a de melhor diretor). Nesse sentido, o mercado acompanha as demandas por representações mais verdadeiras de seu próprio público.

No que diz respeito aos serviços de streaming, o fato de a Netflix concorrer em igualdade com grandes estúdios tem causado certa preocupação nos gigantes do mercado, mas a competição pode ser algo muito positivo para os espectadores e os realizadores. A mudança de paradigmas certamente permite um grau maior de liberdade criativa aos showrunners de séries e aos diretores de filmes produzidos pela plataforma, possibilitando experimentações e estimulando conteúdos originais. Como disse o cineasta Joel Coen, que lançou há alguns meses A Balada de Buster Scruggs na Netflix: “Eles são as pessoas que estão se posicionando e gastando dinheiro em filmes que não são de quadrinhos da Marvel, franquias de ação ou esse tipo de coisa”. Uma renovação mercadológica, principalmente no que diz respeito aos meios de distribuição, é muito bem-vinda.

 

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*Texto e pesquisa Katia Kreutz imagens divulgação

 

 

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Mostra Competitiva Brasil do Cine Esquema Novo 2019 – Arte Audiovisual Brasileira

As inscrições para a mostra Competitiva Brasil do Cine Esquema Novo 2019 – Arte Audiovisual Brasileira estão abertas até o dia 30 de junho. O evento será em Porto Alegre, de 21 a 27 de novembro.

As produções podem ser de qualquer duração ou formato, pensados para diferentes ambientes (cinema, galeria etc.), realizados por brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil e finalizadas a partir de 30 de junho de 2018.

A mostra Competitiva Brasil pretende apresentar um amplo panorama da recente produção autoral e independente do País e dará, ao final do evento, o Grande Prêmio Cine Esquema Novo e até cinco Prêmios Especiais do Júri.  A programação deste ano também contará com outras atividades: além das exibições das obras, oficinas e debates, o Cine Esquema Novo 2019 terá uma Rodada de Negócios.

As inscrições podem ser feitas aqui.

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Confira os cursos Anuais da AIC

Novos Cursos Online

Novos Cursos Online na Academia Internacional de Cinema | 16 semanas de estudo e aulas AO VIVO

 

Conheça os três novos cursos online que a AIC acaba de lançar:

 

Cinema Online | Próxima turma 11 de maio

Criação e Produção para TV | Próxima turma 10 de maio

Direção de Fotografia | Próxima turma 09 de maio

 

  • A experiência AO VIVO reproduz o ambiente da sala de aula, possibilitando interatividade entre professores e alunos em tempo real (podendo também acessar versões gravadas das aulas a qualquer hora.)
  • Flexibilidade de equipamentos para cursos mais técnicos, incluindo o uso de câmeras de celular.
  • Professores especializados para cada disciplina e atuantes no mercado.
  • Conteúdos desenvolvidos sob medida, com a metodologia prática voltada para a realização de filmes e de projetos que é a marca registrada da AIC e faz da escola uma referência no ensino audiovisual.

Conheça também os outros cursos online da escola: Direção Cinematográfica, Documentário, Assistência de Direção, Edição, Produção Audiovisual, Roteiro, Produção Executiva, Som para Cinema e TV e História do Cinema.

 

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