Gilda Nomacce e Donizeti Mazonas no curso de Formação Livre em Roteiro

O roteiro ganha voz e corpo no curso de Formação Livre em Roteiro.

O roteirista é quem transforma uma ideia em história. É ele que decide a hora do público se emocionar, a hora que a bomba explode ou que o casal se beija.

Muitas vezes, a ideia do roteirista não fica clara no roteiro ou não surte o efeito que imaginou. Descrever uma cena no papel, com riqueza de detalhes, é uma tarefa que exige prática e muitas vezes, inúmeras versões, ou tratamentos, como são chamadas as reescritas de um roteiro. O curso de Formação Livre em Roteiro da Academia Internacional de Cinema – AIC, no ano de 2014, promoveu um encontro entre os futuros roteiristas alunos da AIC e atores em uma aula diferente; Gilda Nomacce e Donizeti Mazonas deram vida aos textos dos alunos.

O nosso curso é focado na escrita, mas é muito importante para quem escreve para cinema ouvir a voz de seus personagens.

A EXPERIÊNCIA PARA OS ALUNOS

A aluna Beatriz Calazans, formada também em estudos cinematográficos pela Université de Montréal, considerou a experiência bastante enriquecedora, “experimentar, vivenciar e poder refletir sobre o que você está aprendendo é a maneira mais eficaz de incorporar o aprendizado. Dar forma a sua história é muito bacana. A partir do momento que o texto ganha vida, seja na mão do diretor, seja na voz dos atores, seja no olhar do diretor de arte, ele passa a ter vida própria e não pertence mais a quem escreveu. Acho que isso deve ser encarado como ‘um grande exercício ao desapego’. O importante é garantir que a essência do roteiro esteja “impressa” na tela”.

Essa também foi a impressão do aluno Yan Della Torre, que trabalha nas duas frentes, tanto com o texto escrito quanto com o ator. Yan é aluno do curso de Formação Livre em Roteiro, preparador de atores e Arte Educador, estudou Roteiro em Londres, na London City Academy. E seu currículo ainda conta com a direção de um curta “Drácula” e um documentário “Mi Buenos Aires Querido”. Mesmo com tamanho conhecimento, Yan conta que foi surpreendente. “Foi um dos encontros mais valiosos do programa porque aproxima o mundo real do mercado. O Roteiro é uma obra viva, que passa por uma equipe gigantesca durante o processo de um filme. Os atores dão sua visão de mundo sobre aquele universo criado por roteiristas. E cinema é equipe. Um depende do outro, um precisa do outro. Um filme é uma obra coletiva, e o cinema é uma experiência coletiva…”

VOZ AO TEXTO

A atriz Gilda Nomacce possui uma vasta filmografia e premiações, como de melhor atriz coadjuvante no 44º Festival de Brasília, além de representar o Brasil no Festival de Cannes 2012 durante a mostra “Um Certo Olhar”. Trabalhou com nomes como Regina Duarte e Bárbara Paz. Já Donizeti Mazonas é ator e bailarino com ampla experiência no teatro.

“Os alunos do Curso Livre de Formação em roteiro passam oito meses criando histórias, construindo personagens e refletindo sobre as diferentes maneiras de se estruturar um roteiro. A aula especial com os atores Gilda Nomacce e Donizeti Mazonas permitiu que eles, finalmente, ouvissem seus personagens. A dupla de atores foi extremamente generosa, dando corpo e voz às cenas previamente elaboradas pela turma. Foi uma experiência riquíssima, de troca e também de embate entre texto e realização concreta das cenas”, conta Thais.

Para Yan, ver Gilda interpretar os textos tornou-os mais real, “conheço muitos atores e atrizes, mas a Gilda Nomacce é uma das melhores atrizes desse país. Ela domina a técnica da interpretação e é versátil. Eu e meu grupo de roteiristas escrevemos sem nos atermos ao tempo cênico, o tempo do ator, da respiração. A Gilda tornou nosso texto mais real, não decorou, e a improvisação deu o ar de realismo que queríamos enquanto contadores de histórias. Ela dominou o tempo da personagem, da cena, alcançou nuances do inconsciente da personagem, com muita maestria, em um exercício de fé cênica, mostrando que roteirista e ator devem andar de mãos dadas”.

Depois da encenação de cada diálogo, a Gilda e o Donizeti falaram da sua percepção como atores, do texto, das falas.

EVENTO SINGULAR

Percebendo o êxito da aula, já está todo mundo na expectativa e torcendo para repetir a dose na próxima edição do curso. Fiquem no aguardo!

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Desconsolo em quatro festivais

ATT00004A Academia Internacional de Cinema mais uma vez está sendo bem representada nos festivais de cinema do país. Dessa vez, o curta-metragem “Desconsolo” de Jardel Tambani, aluno do curso de formação em cinema Filmworks, acaba de ser selecionado em quatro festivais.

O Festival Internacional de Cinema da Bienal de Curitiba e a 8ª Mostra CineBH, que acontecem no final de outubro e o 4º Festival de Cinema Universitário de Alagoas e a 8ª Mostra Curta Audiovisual de Campinas que acontecerão em novembro. Já, a primeira exibição do “Desconsolo” foi no Filmworks Film Festival de 2014, da própria Academia, e levou o prêmio de melhor ator para Henrique Larré, do longa “Os Famosos e os Duendes da Morte”. O curta promete.

 

A IDEIA

ATT00003O filme retrata a história de Pedro, um garoto que está partindo de sua cidade natal e em sua última semana, faz registros dos habituais pontos de encontro, de sua casa, seu quarto, sua mãe e assim, o curta consegue apresentar as delicadas relações que envolvem o personagem.

“’Desconsolo’ surgiu da vontade de partilhar um pouco da minha experiência sobre partidas, de tratar sobre a dificuldade de falar sobre as coisas”, revela Jardel. “Apresentei o roteiro para o Diego Sá, ex-aluno da AIC e enquanto isso, eu já estava negociando com a prefeitura de Ibirama, minha cidade natal, um suporte para gravar o filme lá, pois queria aproveitar da atmosfera peculiar e da própria familiaridade com o local”.

 

 

PRODUÇÃO, FOTOGRAFIA E MONTAGEM

Tambani assina a direção do curta, mas teve muita ajuda na concepção do filme. Camila Watanabe ficou com a produção, Miguel Horta com a fotografia e montagem, ambos, alunos do curso Filmworks. A assistência de direção ficou por conta de Diego Carvalho Sá, que já tem no currículo outro curta, o “Antes das Palavras”, filme vencedor de vários prêmios no ano passado.

 

EXPERIÊNCIA

Jardel adquiriu experiência e autoconfiança para rodar seu curta e mandar para os festivais com a ajuda de pessoas que encontrou na escola e em seu trabalho na Vitrine Filmes, uma das distribuidoras de filmes mais importantes do Brasil hoje, responsável pelos lançamentos de filmes como “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, vencedor de diversos prêmios, incluindo Festival de Gramado e “Frances Ha”, que é um filme de coprodução brasileira e americana. “Minha experiência foi adquirida na AIC, porém o trabalho me proporciona conhecer o meio cinematográfico e acrescentar mais conhecimento à minha visão como diretor”, diz Jardel. Antes do curta “Desconsolo”, os alunos já haviam produzido outro curta-metragem chamado “Ausência”, selecionado em vários festivais e ganhador do Filmworks Film Festival 2013.

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Ciclo de 10 – Edição 2014

No próximo dia 18, das 09h às 12h, acontece mais uma edição do Ciclo de 10 no Espaço Itaú de Cinema da Frei Caneca. A mostra destaca os 10 melhores filmes produzidos ao longo do ano por alunos do FILMWORKS – o curso técnico em direção cinematográfica da Academia Internacional de Cinema (AIC).

O Ciclo de 10 é uma das principais oportunidades dos alunos exibirem os trabalhos e sentirem a reação da plateia. A mostra é aberta ao público e com entrada franca, para participar, basta fazer sua inscrição no final da página.

Os 10 filmes selecionados ficam automaticamente inscritos para a próxima edição do Filmworks Film Festival, o festival interno da AIC, que premia os melhores filmes em diversas categorias.

Filmes selecionados

  • Habitar, DIR. Andrea Mendonça
  • Criptonita, DIR. Melquior Brito
  • Déjà Vécu, DIR. André Leite
  • Memórias, DIR. Conrado Rezende Soares
  • 190, DIR. Germano Pereira
  • Boi, DIR. Vinicius del Duque
  • Arroz, Feijão e Lasanha, DIR. Paulo Vidiz
  • Desacordes, DIR. Manu Abussafi
  • Vidas Ausentes, DIR. Ronaldo Dimer
  • Sonho Sobre Metrópole, DIR. Bruno Prada

Serviço:

Dia 18 de outubro de 2014, das 09h às 12h.
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca
Shopping Frei Caneca (3º Piso) Rua Frei Caneca, 569 – Consolação

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Matias: da Floresta para os Festivais de Cinema no Mundo

matiasConhecer um remanescente sertanejo, que vive isolado em uma reserva florestal já é um daqueles momentos na vida que a gente não tira nunca da memória. Conviver com o personagem, entrar em seu habitat e documentar sua história para exibi-la em festivais de cinema mundo afora, é algo indescritível, conta o diretor do filme e ex-aluno da Academia Internacional de Cinema (AIC), Felipe Tomazelli, que cursou o Filmworks – Curso de Direção Cinematográfica em 2006.

A História

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O Parque Estadual Nascentes do Paranapanema (PENAP), criado em 2012, onde vive Matias.

O documentário registra cenas do cotidiano de Matias, um remanescente sertanejo de 61 anos que nasceu e sempre viveu no mesmo local, o Parque Estadual Nascentes do Paranapanema (PENAP), criado em 2012. Em 26 minutos, o filme mostra Matias totalmente integrado aos ciclos e ambiente da floresta, em meio a criação de animais e cultivo de subsistência. A linguagem prioriza as imagens, sem falas, com sons do ambiente e trilhas.

Felipe e Ricardo Martensen, parceiros na direção do filme e sócios da produtora Trilha Mídia, conheceram Matias por intermédio do irmão de Ricardo, um biólogo que trabalhava no Parque.

Como o filme nasceu

Preocupados com o destino de Matias, uma vez que a legislação brasileira não permite a permanência de moradores que não sejam indígenas depois que um parque é criado, resolveram apostar num pequeno vídeo para registrar o cotidiano do eremita e comprovar sua profunda relação com a terra. A ideia era apenas usar o filme para demonstrar que sua permanência no local não causaria qualquer impacto indesejável ao parque. Mas, a paixão pelo projeto cresceu.matias

“Depois de enfrentar três horas de trilha, atravessando a mata fechada num 4X4, chegamos a um belíssimo vale, onde se via uma construção bem simples, a casa do Matias. Foi esse o nosso primeiro contato com Matias. Ele dividia seu tempo com galinhas e cachorros. Descobrimos que nasceu naquela casa e suas únicas companhias são os animais. Percebemos que Matias não procurou o isolamento, apenas se recusou a abandonar a floresta. Indissociável de sua terra, tem papel fundamental para manter o equilíbrio da floresta. Após o contato inicial, fascinados pelo personagem, voltamos decididos a escrever um projeto e buscar financiamento para fazer um documentário sobre aquela história. Um ano e meio depois estávamos de volta ao belo vale, onde ficamos uma semana filmando”, conta Felipe.

Os Festivais

matiasA história deu tão certo que o filme está rodando o mundo. Em maio esteve na Polônia na seleção oficial do 54º Krakow Film Festival.  Entre os dias 22 e 30 de outubro estará na seleção oficial documental sobre o meio ambiente do 31º Festival de Cine de Bogotá, na Colômbia. Entre os dias 15 e 22 de novembro estará no Camerimage, também na Polônia. No dia 09/10, às 20h, o filme será exibido em São Paulo, no Cine MIS.

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coloquio ruidoso

Colóquio Ruidoso I – Michael Wahrmann e Cristiano Burlan

Uma conversa bombástica. Um bate-papo filosófico. Um debate repleto de conteúdo, acidez, reflexão e porque não, diversão. Essa é a primeira edição do Colóquio Ruidoso, nova série de matérias que a Academia Internacional de Cinema (AIC) preparou para você.

O Debate

Nesta primeira edição temos os diretores e professores da AIC, Michael Wahrmann (diretor do premiado “Avanti Popolo”) e Cristiano Burlan (vencedor do É Tudo Verdade 2013 com “Mataram Meu Irmão”). O assunto? Cinema Arte.

Aprecie o debate e no final, de a sua opinião!

Mônica_ A Jornalista: Pessoal, pra começar toda essa discussão, quero botar em xeque uma citação do Nietzsche, do livro “Humano, Demasiado Humano” …

“A arte deve antes de tudo e primeiramente embelezar a vida, portanto, fazer com que nós próprios nos tornemos suportáveis e, se possível, agradáveis uns aos outros: com essa tarefa em vista, ela nos modera e nos refreia, cria formas de trato, impõe aos indivíduos leis do decoro, do asseio, de cortesia, de falar e calar no momento oportuno. A arte deve, além disso, ocultar ou reinterpretar tudo o que é feio, aquele lado penoso, apavorante, repugnante (…).

Michael Wahrmann: Eu não faço a mínima ideia do que o Nietzsche está falando. E você, Cris?

Cristiano Burlan:  Eu também não Misha! Rsrs!!!

M. W.: É Mônica. A gente é cineasta. Não entendemos muito dessas coisa ai de arte. Quer provocar de novo? Ou explicar pra gente esse parágrafo?

Mônica: Mas cinema não é arte? Vocês concordam com a definição que Nietzsche dá para a arte, que tem de ser bela, esconder o que é feio, repugnante etc.?

M. W.: Eu me sinto um pouco desconfortável em discutir quem tem e quem não tem que fazer arte. Eu faço cinema. Pode chamar de arte, pode chamar do que quiser. A questão é que eu, como cineasta, não chamo nada de nada. Não defino o papel da arte de forma teórica. Tem gente que faz arte para esconder, tem outros que fazem para mostrar. Tem uns que acham que o belo é feio e outros que o feio é belo. Enfim… Nós como cineastas temos que fazer filmes. Não discutir se o que fazemos é arte ou não, e se é bela ou não. Pra isso existem os teóricos, intelectuais, críticos, filósofos e jornalistas. Cineasta faz filme.

C. B.: Que perguntas capciosas, Mônica! Rs. Me interesso muito pouco por discutir o que é arte e o que não é, o que é belo e o que é feio. Realmente não trabalho bem com essa raça que chamam de artistas. Sou um trabalhador de cinema, não tenho tanto tempo para afetações, tampouco para tentar embelezar algo. Não se faz filmes impunemente, se paga um preço muito alto. Tentamos encontrar o tempo todo função e utilidade para aquilo a que chamamos arte, retiramos, com isso, a sua potência e a sua força em ser inútil e não estar a serviço de nada, nem de ninguém. A arte não serve a nada, não tem função. Reside ai uma problemática, em tempos em que o argumento e a justificativa surgem antes da própria obra, a arte surge já tentando ser útil e necessária. Temos pouco espaço para uma produção espontânea.

M. W.: E nesse sentido a dificuldade ainda é maior no caso do cinema. Pois ao contrário da literatura, pintura, etc., o cinema exige um investimento maior pois tem equipe, técnicos, estrutura (seja enxuta ou não). E ai voltando a questão do Cristiano, de que não conseguimos justificar nossas obras, nem achar nelas um sentido maior. Além disso não conseguimos justificar seu preço. Por que investir um dinheiro em alguma coisa sem sentido? Alguma coisa inútil? Um quadro pode embelezar uma sala, um livro pode ser lido na internet quase a custo zero. E um filme? E ai talvez a saída seja na busca pelo cinema pessoal, íntimo, que exige um mínimo de investimento (mesmo assim maior que qualquer outra arte), e se justifica, pelo menos, no egoísmo e egocentrismo do realizador. Toda arte se justifica como tal, claro, mas o cinema que trabalha o pessoal, essa justificativa esta explicita. É dada. Clara, honesta. Eu faço filmes sobre mim, porque eu quero e é o que me interessa nesse mundo. E claro, a outra saída é o cinema comercial. E ai a justificativa está no produto. Eu faço um filme porque ele vai gerar lucro. Porque ele é uma indústria. Que não é o nosso caso. Ao contrário. A gente só fica mais pobre a cada filme que a gente faz. Então porque a gente os faz?

C. B.: Sempre me pergunto por que fazer filmes. Acredito que o ato de fazê-los está próximo a um sacerdócio. Filmar é se desinteressar, em certa medida, uma certa renúncia à arte e à própria vida. Eu não posso falar de outra coisa senão do meu amor pelos filmes e da maneira como eu os realizo. Outros são motivados por tentações distintas a minha, mas não há como criticá-los, porque são apenas diferentes, são motivações diferentes. As decepções de uma vida compõem uma obra, as mentiras da vida também tecem a própria vida e a obra. Há muita crueldade nisso e há muita força para se realizar filmes a partir disso. Mas não falo de uma sublimação freudiana e tampouco de resiliência. Mas que as minhas dores são detonadores para a criação. Nesse lugar entre o dia e à noite, entre o infinito e a finitude, entre a vida e a morte não existem só filmes, a vida lá fora talvez seja mais interessante e urgente.

M. W.: Eu fico feliz com a resposta do Cristiano. Pois ele me dá uma esperança de que tem gente com verdades e crenças sobre o cinema. Eu pessoalmente não faço a mínima ideia do porquê de fazer filmes. Para mim realmente não faz muito sentido. Antigamente talvez fez. Eu acreditava em algum poder sublime da arte, do cinema. Em alguma forma de expressão que realmente consiga conter todas essas angustias das quais Cristiano fala. Esse choque com a vida. Mas em um momento isso parou de fazer sentido para mim. Acho que o próprio fazer cinematográfico é uma mentira e uma autoilusão. A gente crê que esta expressando e abrindo uma autocatarse. Mas é mentira. Exibir essa angustia/dor/alma publicamente já a transforma em representação e a representação frente ao outro, não é verdadeira. É uma ilusão do que queremos que os outros pensem que somos através do que, supostamente sinceramente expressamos. E ai essa honestidade na nossa apresentação da dor vira um autoengano. E não sobra nada. Fica um filme que supostamente representa uma alma, mas que na verdade, representa o que nós gostaríamos que nossa alma represente frente ao outro.

Então todo esse processo se vira contra nós e nos mantém no mesmo lugar. Talvez ilusionados de que superamos ou encaramos alguma crueldade urgente. Me parece uma carência de autor tentando afirmar sua insegurança frente ao mundo. Como qualquer outra expressão carente. Como qualquer angústia subjetiva do indivíduo frente ao mundo. E não mais a angustia totalizadora frente ao sistema. E é ai que esquecemos Baudelaire. E ai fazer um filme ou não fazê-lo dá na mesma. Ou não, depende do grau da autoimportância e autoilusão que atribuímos a nós mesmos e a nossa obra. E ai volto e me pergunto. Se cinema de arte me deixa pobre, se ele não serve mais como uma expressão sincera de um sentimento genuíno, para que então? E continuo sem uma boa resposta. A única que consigo dar é porque tenho 35 anos e é tarde demais para mudar de profissão. Porque é a única coisa que sei fazer. (E olha lá.) E ai só sobra a metalinguagem. O fazer para falar do fazer para que alguém que saiba como, ou porque fazer, o faça melhor.

Ou talvez para continuar uma busca. Pois já que é tarde para mudar e parar, fico com a esperança de que algum dia em algum momento de todo esse processo, eu consiga entender porque eu faço filmes. E ai provavelmente vou parar de fazer filmes.

C. B.: Compreendo o seu niilismo, Misha, já fui muito assim também, meus amigos me chamavam de niilista, agnóstico, iconoclasta e corinthiano, o que me tornava uma pessoa muito descrente. Mas de uns tempos para cá, tenho pensado muito sobre por que fazer filmes e começo a perceber que talvez seja um ato de fé e uma certa curiosidade em questões mais primitivas. Acredito que os filmes deveriam ser feitos mais com o estômago do que com o intelecto. Me interesso muito mais pelos filmes do que pelo “cinema” e pelo que vem no pacote dele – festivais, prêmios, editais… Eu não faço cinema, eu faço filmes. E realmente me interesso muito pouco por aquela parte. Também não acredito que partindo de questões pessoais como matéria para se expressar através dos filmes possamos chegar em algum lugar. Se nem eu sei ao certo por que faço os filmes, porque deveria querer que outros defendam, assistam ou aceitem os meus filmes?

Obrigado Misha e Mônica, gostei muito do papo. Abraços, Cristiano.

M. W.: Aqui vai a minha última resposta. Foi ótimo sim. Acho que todo cineasta tem que ser um pouco niilista. É o que nos salva de virarmos Jesus na nossa própria imagem. Não acho que o cinema tem que salvar o mundo. Nem salvar a nós mesmos. Fazer filmes é uma profissão, não uma religião. Já o cinema, você tem razão, é mais religioso sim. Ele exige um ritual. Uma adoração. É para os crentes. (Por isso que eu só vejo filmes no Netflix).

E se você realmente não se interessa pelos editais/festivais/prêmios, além de Corinthiano está virando Franciscano. E fazer filmes com o estomago (vazio)…ai realmente, sua fé… que nos salva.

Mas eu concordo. Somos muito cínicos. Talvez por isso falamos coisas nas quais não acreditamos. Talvez por isso queremos que outros defendam, assistam e aceitem nossos filmes, sem nem, se quer, sabermos porquê. Ou será que é por causa da nossa fé? Pela esperança de converter todo mundo a nossa religião fílmica? Ou cinematográfica.

Não sei. Graças a deus, sou ateu. Abraços!

Mônica: Participe você também do colóquio, deixe sua opinião nos comentários.

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