O orgulho que se filma: histórias LGBTQIAPN+ nas lentes do cinema brasileiro
Dia 28 de junho não é apenas mais uma data — é o marco que inaugurou o movimento moderno por direitos LGBTQIAPN+ , em 1969, quando travestis, gays, lésbicas e pessoas queer decidiram dizer basta ao abuso policial. Um grito que segue vibrando em diferentes esferas, especialmente no cinema: palco de denúncia, acolhimento, afeto e potência política.
No último 22 de junho, a 29ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de São Paulo tomou a Avenida Paulista, reunindo milhares de pessoas. Se em 1969 houve luta, hoje há festa — corpos que eram silenciados voltam-se à luz, com orgulho e alegria.
Na luta por direitos, representatividade não pode ser só vitrine. Ela exige compromisso, escuta e atitude. Não se trata de erguer bandeiras uma vez por ano — mas garantir presença, visibilidade e voz em todos os espaços, o ano inteiro.
A seguir, fizemos uma curadoria de filmes brasileiros que atravessam a temática LGBTQIAPN+ com coragem, beleza e protagonismo.
Lista de Filmes:
- Baby (2024) Dir. Marcelo Caetano – uma história sobre juventude, desejo e marginalidade. Em um Brasil de poucos futuros, Baby acompanha a relação entre dois jovens em busca de liberdade e afeto nas bordas da cidade, explorando os limites entre amor, sexo e sobrevivência. Disponível na Prime Vídeo (Telecine).
- O Homem com H (2025) – Dir. Esmir Filho – Cinebiografia de Ney Matogrosso, com Jesuíta Barbosa brilhando em um retrato caleidoscópico da sexualidade político-cultural do artista. Disponível no catálogo da Netflix.
- Bixa Travesty (2018) – Dir. Kiko Goifman e Claudia Priscilla – Documentário extraordinário que acompanha Linn da Quebrada em sua performance, autoafirmação e denúncias sobre identidade trans. Disponível na Apple para aluguel digital.
- Socrates (2018) – Dir. Alex Moratto – Um adolescente preto e gay luta por dignidade sob situação de abandono — um retrato brutal e sensível do Brasil real. Disponível no Amazon Prime Video e aluguel digital.
- As Boas Maneiras (2017) – Dir. Juliana Rojas & Marco Dutra – Harmonia entre maternidade e fantasia queer: uma enfermeira contrata uma babá para uma gravidez misteriosa — filme que transborda originalidade.
- 13 Sentimentos (2015) – Dir. Gabriel Mascaro – Seis retratos íntimos de pessoas LGBTQIAPN+ em poéticas e breves narrativas. Cinema de afeto em estado puro.
- Praia do Futuro (2014) – Dir. Karim Aïnouz – Romance homoerótico entre um salva-vidas brasileiro e um turista alemão — Berlinda e Fortaleza se reencontram num exílio afetivo de rara beleza. Disponível no Globo Play.
- Tatuagem (2013) – Dir. Hilton Lacerda Amor – Punk, arte e desejo na Recife dos anos 1970. A subcultura queer desafia a ditadura militar. Disponível para locação.
- Madame Satã (2002) – Dir. Karim Aïnouz – Biografia visceral de João Francisco, ícone transvesti do Rio. Corpo, arte e revolta em cena de resistência.
- Orgia ou O Homem Que Deu Cria (1970) – Dir. João Silvério Trevisan – Cinema marginal brasileiro em estado puro, com foco em figura travesti — ácido, visceral e raro, cheia de potência.
Para além dos Longas
Além dos longas, existe uma diversidade imensa na direção de curtas e médias metragens. Destacamos o trabalho de Nicole Gullane, Juh Almeida e Julia Katherine, fortes referências na produção lésbica e trans — suas obras merecem destaque, com narrativas sensíveis que exploram afetos, política e tempo presente.
Se Stonewall foi o grito em 1969 — e a Parada pulsou visibilidade em 22/6/2025 —, cada filme é hoje um manifesto vivo: de corpos, rompimentos, amores e insurgência.
Assista. Questione. Compartilhe. E, se puder, apoie — seja dando voz, recursos ou espaço. Porque o futuro do cinema queer será tão plural quanto exigem os dias que vivemos.
* foto em destaque: Jesuíta Barbosa interpretando Ney Matogrosso em Homem com H