Cinema e Futebol – “Bugrinos” estreia em Campinas

Os amantes de cinema e futebol já tem compromisso marcado nos dias 04 e 05 de abril. O filme “Bugrinos“, do professor Samir Cheidaque leciona edição e montagem na Academia Internacional de Cinema (AIC), estreia no cinema em Campinas e começa a ser vendido em DVD. O longa, fruto da paixão pelo clube Guarani Futebol Clube, aborda diversos episódios do time e relata passagens de jogadores em momentos decisivos na trajetória do time campineiro.

As sessões acontecerão no auditório do Memorial do Guarani, no dia 04 às 19h e no dia 05 às 17h. Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados com uma hora de antecedência. Já o DVD será vendido na loja física e virtual do Guarani, com entrega em todo Brasil.

O documentário, que também conta com a participação do professor Cláudio Gonçalves,  reúne depoimentos de quem participou dos grandes momentos do time e do clube nos últimos 100 anos e recupera episódios relevantes, como a ascensão do clube à primeira divisão do futebol paulista em 1950, o trabalho do técnico Carlos Alberto Silva para levar o time ao campeonato brasileiro, o protagonismo das torcidas e a participação de craques na construção da história do time.

Através de um extenso trabalho de pesquisa e de produção, “Bugrinos” combina a cinematografia digital em alta definição captada por câmeras de última geração com imagens garimpadas em arquivos de emissoras de televisão do País. Segundo Samir, o documentário exigiu uma edição cuidadosa, que procurou encaixar cada informação visual numa narrativa ritmada e rica em detalhes sobre os personagens selecionados.

Confira o Trailer

Ficha técnica:

“Bugrinos, O Filme do Guarani Futebol Clube”
Direção: Samir Cheida
Roteiro e montagem: Samir Cheida e Cláudio Gonçalves
Produção: Buzina Filmes e Quintessencia Comunicação
Patrocínio: FICC – Fundo de Investimentos Culturais de Campinas

Exibições:

Memorial do Guarani Futebol Clube
Avenida Imperatriz Dona Teresa Cristina, 11 – Jd. Guarani, Campinas
Dias: 04/05 às 19h; 05/05 às 17h.

 

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Interpretação e Direção de Cinema

Como o ator traz a emoção para uma cena rodeada por aparatos técnicos, câmeras e iluminação de cinema? O cineasta sueco Ingmar

ingmar bergman
Ingmar Bergman – o diretor que ficou conhecido por penetrar na alma dos personagens.

Bergman, autor de algumas das obras mais valiosas do cinema, ficou conhecido pela forma como dirigia os atores em seus filmes. Como conseguia aproximar a câmera do ator e arrancar seus sentimentos, fazendo com que sua lente captasse todo o drama da cena. Inácio Araujo, crítico da Folha, escreveu em um artigo: “Talvez Bergman tenha sido mesmo ‘o cineasta do instante’, como definiu Godard em 1958: era o pensamento que ocorria mesmo que longinquamente a um determinado rosto que sua câmera levava ao espectador. Não penetrava na psique dos personagens. Penetrava na alma, de certa forma, mas sabia que só poderia fazê-lo por meio de seus corpos”.

Fórmulas prontas não existem, e cada diretor tem a sua forma de dirigir atores. No Brasil, é muito popular, inclusive, a figura do preparador de elenco. Em todas as abordagens, ainda que diferentes, uma coisa é certa: o ator tem que estar preparado para entrar no set, e o diretor, para guiá-lo e extrair o melhor da sua performance.

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Diferenças entre Interpretação de Cinema e Teatro

No teatro existe o palco, a relação frontal com o público, um único plano, a entonação e impostação da voz que deve se propagar pelo teatro, o espaço cênico é maior e mais livre, os movimentos mais exagerados etc. Já no cinema não existe uma linearidade narrativa durante as gravações, as cenas são gravadas separadamente e em locações diferentes, a voz e os movimentos do ator são mais naturais, o ator precisa atuar para a câmera, com o diretor ao lado e as cenas podem ser cortadas e editadas.

Henrique Zanoni
O ator e professor Henrique Zanoni em cena do filme “Amador”, do diretor Cristiano Burlan / Foto: Divulgação

As diferenças são muitas e para alterar entre um tipo de interpretação e outro é preciso conhecimento e prática, segundo o ator e professor do curso de Interpretação para CinemaHenrique Zanoni é preciso saber lidar com as diferenças de linguagem. “Hoje em dia não é tão complicado para um ator trabalhar em uma webserie, num curta ou mesmo no meio publicitário. Ou seja, precisamos ajustar nosso ferramental (corpo, voz etc) para nos expressarmos nos diferentes meios. Claro que isso envolve técnicas diferentes, mas também, creio que o ato criativo, seja na linguagem que for, passa necessariamente por algumas coisas: sensibilidade, imaginação, inteligência etc”.

A preparadora de elenco Fátima Toledo, que já orientou centenas de atores e não-atores de grandes filmes nacionais, entre eles “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” diz que para fugir das caricaturas e do senso-comum é preciso descontruir a falsidade, o estereótipo. “O cinema não é texto, é subtexto. É o que não é dito. O ator precisa viver a situação. Não existe fórmula, o que existe é paixão e entrega”, diz.

Como “encarnar” o personagem

Em um dos trechos de Hamlet, uma das mais importantes obras de William Shakespeare, ele dá dicas do que considera uma boa

Wagner Moura Tropa de Elite
O ator Wagner Moura que trabalhou com a preparadora de elenco Fátima Toledo para compor o personagem do Capitão Nascimento em Tropa de Elite / Foto: Divulgação

interpretação. Hamlet ensina:

“Tem a bondade de dizer aquele trecho do jeito que eu ensinei, com desembaraço e naturalidade. […] Também não é preciso ser tímido demais; que o bom senso te sirva de guia; acomoda o gesto à palavra e a palavra ao gesto, tendo sempre o cuidado de não ultrapassar a modéstia da natureza, porque o exagero é contrário aos propósitos da arte dramática, cuja finalidade sempre foi, e sempre será, a de representar um espelho à vida, mostrar à virtude suas próprias feições, ao vício sua imagem e a cada idade e geração sua fisionomia e característica.”

Para o ator Henrique Zanoni, não há fórmulas prontas para o ator: “Depende do filme, depende do papel, depende do diretor, depende da estrutura de produção etc. A nós atores, nos resta ‘apenas’ desenvolver nossa máquina. Independentemente do papel, sempre precisamos estar trabalhando nossa voz, nosso corpo, nossa sensibilidade, nossa Inteligência etc.”

O papel do Diretor em relação ao ator

O diretor é o grande maestro de uma obra audiovisual. A ele compete todo o conceito artístico do filme, além de selecionar, ensaiar e dirigir os atores e de coordenar toda a equipe técnica, como o diretor de arte, o diretor de fotografia, o responsável pelo som, o produtor, o figurinista, o cenógrafo, entre tantas outras funções.

A cineasta Lina Chamie e o ator Fernando Alves Pinto em gravação do documentário "São Silvestre" / foto: Edu Tarran
A cineasta Lina Chamie e o ator Fernando Alves Pinto em gravação do documentário “São Silvestre” / foto: Edu Tarran

É no seu relacionamento com o ator que um filme realmente encontra seu centro. Para a cineasta Lina Chamie, o ator e diretor precisam trabalhar juntos em cada fase do processo e revela como ela faz: “Começamos sempre lendo juntos o roteiro. Falo o que eu penso e ouço o que o ator pensa. É um processo de troca, de comunhão de emoção, a matéria prima de qualquer filme é o ator. Esse processo conjunto exige confiança mutua, já que muitas vezes é um processo de abertura íntima do ator, de desnudamento de ambos. Esse entendimento entre duas pessoas, com suas visões de mundo, as troca de ideia, de sentimentos e percepções é que torna possível criar um personagem e fazer um filme. Acredito muito na troca. O diretor guia o trabalho mas ele precisa se munir da sensação de todos”, conta.

O preparador de elenco

O coach ou preparador de elenco é um profissional cada vez mais presente nas produções nacionais. O trabalho dele acontece durante os ensaios e consiste, basicamente, em munir emocionalmente os atores e ajudá-los a construir o personagem.

Fátima Toledo
A preparadora de elenco Fátima Toledo acredita que “O cinema não é texto, é subtexto. É o que não é dito. O ator precisa viver a situação” / Foto de Caio Gallucci

Em 2012, durante a Mostra de Tiradentes, os preparadores foram criticados. Na ocasião, Selton Mello disse: “dá pra contar nos dedos da mão os cineastas que sabem dirigir um ator no Brasil. Daí a demanda por preparadores de elenco. Os interpretes são a alma do trabalho e o diretor deve lidar com eles diretamente”, criticou durante um discurso que fez na Mostra.

Em contrapartida, a preparadora de elenco Fátima Toledo diz que o preparador não compete nem exerce a função do diretor e sim colabora com o projeto como qualquer outro profissional da equipe. “O conceito do projeto é do diretor. Nós, preparadores, estamos a serviço dele. Ser contra o nosso trabalho é falta de conhecimento do que efetivamente fazemos. Eu faço a ponte entre o ator e o diretor, dou ferramentas para aproximar o ator da realidade do personagem e se movimentar livremente dentro desse universo e durante a gravação saio de cena e o diretor entra, dirigindo o ator. A única diferença é que o ator com preparação fica mais livre, mais solto e tem mais material para trabalhar”.

O assunto é controverso, mas o que importa mesmo, é que o ator dê vida ao seu personagem no cinema, integrado ao projeto cinematográfico do diretor e de toda a sua equipe. Cada pedaço tem de se encaixar, cada membro da equipe tem de fazer o seu papel – e o papel do ator é dar um rosto, um corpo e um alma para o filme.

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Aula aberta com Lina Chamie

Lina Chamie – uma das cineastas brasileiras mais importantes da atualidade. Foto: Aline Arruda

No próximo dia 20 de março, a diretora Lina Chamie, que acaba de lançar seu último filme “São Silvestre”, estará na Academia Internacional de Cinema (AIC) para aula aberta e gratuita do curso de História do Cinema Mundial, que acontece das 09h às 12h.

Lina promete contar um pouco sobre a importância da história do cinema para quem pretende trabalhar na área. “Conhecer a fundo o cinema mudou o próprio cinema e o revolucionou ao longo do século 20, conta Franthiesco Ballerini, coordenador e professor do curso. “A ideia é aliar os conhecimentos históricos da diretora para mostrar como eles podem ser aplicados em filmes contemporâneos. É uma aula aberta até para quem tem pouco repertório na área, mas quer entender como é possível a teoria e a prática andarem de mãos dadas”, conta.

A diretora

Lina Chamie está com dois filmes percorrendo festivais, o longa de ficção “Os Amigos” e o documentário “São Silvestre”, lançado no

Lina dirigindo o ator e amigo Marco Ricca, em "Os Amigos".
Lina dirigindo o ator e amigo Marco Ricca, em “Os Amigos”.

final do ano passado. Lina trabalhou mais de 10 anos no departamento de cinema da New York University, em Nova Iorque, onde se graduou e obteve seu mestrado. Lina também roteirizou e dirigiu: “Tônica Dominante” (2001) que lhe rendeu, entre outros prêmios, o Kodak Vision Award/WIF, em Los Angeles, e o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte, em 2001; “A Via Láctea” (2007), que teve sua estreia mundial na Seleção Oficial no Festival de CANNES, Prêmio “Casa de América”, Madrid/Espanha, com participação em mais de 80 festivais pelo mundo, inúmeros prêmios e reconhecimento da crítica nacional e internacional; “Santos 100 Anos de Futebol Arte” (2012), filme oficial do centenário do Santos F. C..

O Curso de História do Cinema Mundial

O curso que tem início no próximo dia 18 abrange linguagem, estética e história do cinema, trazendo um panorama aprofundado sobre os grandes acontecimentos da história do cinema nos principais países do mundo. Além da história, o curso tem como objetivo treinar o olhar do aluno para entender os códigos e técnicas do cinema-arte, por meio da contextualização histórica do cinema, suas principais correntes, aliado a trechos de filmes e estudo dos grandes diretores. Para saber mais sobre o curso clique aqui.

SERVIÇO:

Dia 20 de março de 2014, das 09h às 12h.
Na AIC – Rua Dr. Gabriel dos Santos, 142.

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Veronica Stigger, coordenadora de Criação Literária da AIC, ganha prêmio da Biblioteca Nacional

Opisanie świataA escritora e coordenadora da Academia Internacional de Cinema (AIC), Veronica Stigger, ganhou o prêmio Machado de Assis, na categoria de Melhor Romance, da Biblioteca Nacional. “Opisanie świata” (Cosac Naify) é o romance de estreia da professora de Criação Literária, após três livros de contos, um livro mix de gêneros, e um livro infantil.

“Fiquei muito feliz com o prêmio Machado de Assis, ainda mais que o resultado foi anunciado alguns dias depois de a exposição “Maria Martins: metamorfoses”, curada por mim, ter sido agraciada com o Grande Prêmio da Crítica da APCA. Dois prêmios em um semana. Está bom, não?”, comenta Veronica sobre a premiação.

O livro é uma espécie de relato de viagens ambientado nos anos 30. A história central é a de Opalka, um polonês de cerca de sessenta anos que, em sua terra natal, recebe uma carta por meio da qual descobre que tem um filho no Brasil – mais especificamente, na Amazônia −, internado num hospital em estado grave. O pai decide viajar ao encontro do filho; no início do percurso, conhece Bopp, um turista brasileiro que, ao tomar conhecimento das razões da viagem de Opalka, resolve abandonar seu giro pela Europa para acompanhá-lo ao Brasil.

Narrativa Cinematográfica

O livro, que segundo os críticos, tem um “ar de cinema”, por conta de sua narrativa que lembra um road movie e um projeto gráfico veronica-stiggervibrante, tomou forma enquanto a autora a escrevia. “Para mim, a história e a forma não são coisas separadas. O “Opisanie świata” tem várias linhas narrativas e eu queria que houvesse uma diferenciação gráfica que deixasse claras essas linhas, mas sem que se recorresse aos tradicionais itálicos ou negritos. Por isso, as cartas, os fragmentos de diário e os outros textos curtos − aqueles que imaginei terem sido recolhidos ou pelo menos lidos por Opalka durante a viagem − aparecem sobre um fundo azul clarinho. A narrativa em terceira pessoa está sobre um fundo claro. E os tercetos, que falam ao viajante europeu o que eles devem esperar da América Latina, se acham sobre um fundo azul escuro. O ar de cinema está nas primeiras páginas do livro. Imaginei a abertura da história como a abertura de um filme. Assim, depois das imagens da Polônia, as cartas são os primeiros textos que aparecem, como uma espécie de cena antes dos “créditos” (o título do livro e minha assinatura em duas páginas). Só depois disso é que vêm as epígrafes, a dedicatória, os capítulos”, conta Veronica.

O Curso de Criação Literária da AIC

Toda narrativa de ficção – todo conto, todo romance – se constitui a partir de alguns elementos fundamentais: narradores e pontos de vista, personagens, diálogos, descrições de pessoas, de objetos, de ambientes. O objetivo do curso de Criação Literária é fornecer aos alunos, a partir de exercícios de escrita e do estudo de autores clássicos e contemporâneos, o conhecimento básico acerca de cada um desses elementos. “O curso de Criação Literária é dirigido tanto àqueles que estão começando a escrever quanto aos que já vêm escrevendo há algum tempo. Cada oficina é voltada para um dos elementos fundamentais da narrativa, seja ela conto ou romance: ponto de vista/narrador, personagem, diálogo, descrição. A ideia é exercitar esses elementos a partir da leitura e discussão de textos exemplares. Além disso, oferecemos um seminário transversal que aborda os principais gêneros literários”, conta. Para saber mais sobre o curso, clique aqui.

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O Papel do ATOR

Henrique Zanoni, ator e professor do Curso de Interpretação para Cinema da Academia Internacional de Cinema (AIC) OLYMPUS DIGITAL CAMERAprotagonizou diversos filmes, entre eles os longas “Sinfonia de Um Homem Só”, “Amador” e “Dilema do Prisioneiro”. Apaixonado pelo que faz, acredita que cada trabalho é único e que, para produzir mais e melhor, é preciso estar sempre rodeado de pessoas interessantes e potentes. Em entrevista exclusiva para a comunicação da AIC, Henrique fala sobre seu trabalho, sobre suas crenças como ator e dá dicas valiosas para quem quer se jogar de cabeça no mundo da atuação para cinema. Confira!

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A Entrevista

AIC – É importante fazer curso específico para atuar em cinema? Por quê?

Henrique Zanoni: Uma das coisas que me maravilha no ofício de ator, seja no teatro ou no cinema, é que acaba…mas nunca estamos prontos! Ou seja, quando nos preparamos para um empreitada artística, sabemos que podemos mergulhar no processo criativo até nosso limite, porque aquilo tem um prazo de validade. Mas você constantemente, repito, seja no cinema ou no teatro, sempre pode ir além, agregar, somar, subtrair. Dessa maneira, acredito que qualquer formação – considerando, claro, aqueles que cada um julgar interessante – é válida.

Dada todas as questões envolvidas no fazer cinematográfico e suas especificidades, claro que um curso ajuda, e muito! Principalmente quando ouvimos “ação”! Mas acredito que a formação vai muito além de apenas um curso. É uma formação diária, constante.

AIC – Muitos atores de cinema e TV parecem não conseguir fugir de caricaturas, parecem sempre ser o mesmo personagem. Como fugir disso?

H.Z.: Claro que todos os atores possuem métodos, rituais, exercício, técnicas etc., para criar seus personagens. Mas isso não pode representar UM método, UM exercício. Temos que nos deixar aberto para o imprevisto, para o jogo com o outro, para a câmera, enfim, para todas os acasos e forças que nos são colocados, a todo momento, num processo criativo.

Henrique em cena do filme "Sinfonia de Um Homem Só", de Cristiano Burlan.
Henrique em cena do filme “Sinfonia de Um Homem Só”, de Cristiano Burlan.

Acho também que todo ator – na realidade, todo nós! – temos nossos muletas, nossos clichês, nossos portos seguros. Como diz Deleuze, ao pegar um papel em branco (um quadro ou um personagem, por exemplo), na verdade ele está cheio de clichês, de lugares comum. O verdadeiro processo está em limpar a “área” para que novas coisas possam surgir. Como fazer isso? Talvez essa seja um grande pergunta!

E, vale ressaltar, que trabalhar com pessoas em quem você confia ou acredita ou te desafia, é de enorme valia. Não estou falando em ser bonzinho, ou agradável; nada disso. Mas algo deve mover o seu “estômago”, seu instinto. Se não, não vale a pena.

AIC – Algumas pessoas questionam as técnicas usadas em cursos de preparação de atores. Qual a sua opinião?

H.Z.: Na minha concepção e nos trabalhos que tenho realizado ou de pessoas que acompanho, essa questão do preparador de atores é um pouco complicada. Isso por três motivos principais:

Em primeiro lugar, acredito que o ator seja o diamante bruto mais precioso para um filme. Nesse sentido, como você irá colocar um terceiro e não o próprio diretor, para lapidar esse mistério? Por mais que o diretor passe as diretrizes para o preparador, as características ou seja lá o que for, as coisas acontecem nos ensaios. Ou melhor, em pequenos instantes dentre de cada ensaio. E você vai deixar isso para outro? Se considerarmos a experiência como algo fundamental, mas experiência num sentido forte da palavra, como por exemplo colocado pelo filósofo Jorge Larossa, então usar um preparador significa tirar nossa capacidade de experimentar! Acredito que as possibilidades de potencialidades, cruzamentos etc., ficam bem prejudicadas.

Em segundo lugar, citaria uma cena que fiz com Jean-Claude Bernardet em meu último longa-metragem, “Amador”, de Cristiano Burlan, em que ele fala que a existência de preparadores de elenco é uma deficiência na formação dos diretores. O teatro é a morada do ator. Então, acho que qualquer diretor deveria passar por essa experiência. Mas não só isso. É preciso ter referências interessantes na música, nas artes plásticas, no cinema etc. Ser diretor é uma enorme dificuldade! Mas acho que quando lidamos com diretores assim, todo o trabalho é profundamente mais potente.

Por fim também acho que os atores tem sua parcela de culpa. Claro que se você é selecionado para um filme que tenha preparador de elenco, você vai se adaptar. Mas os atores são, muitas vezes, pessoas desinteressantes e desinteressadas. Existe um trabalho anterior a todo papel que é extremamente desgastante e obsessivo, que pensamos somente naquele filme ou peça, tudo se relaciona àquilo. Nesse sentido, você é o que você lê, o que você ouve, o que você fala, o que você come. Não dá para colocar o pé no esgoto e sair cheiroso! É preciso haver essa ética do cuidado de si para, quem sabe um dia, chegarmos a fazermos da nossa própria vida uma obra de arte, como dizia Nietzsche.

Com o diretor e amigo Cristiano Burlan em locação do filme "Sinfonia de Um Homem Só".
Com o diretor e amigo Cristiano Burlan em locação do filme “Sinfonia de Um Homem Só”.

AIC – Alguns defendem que o ator deve chegar para filmar em um estado de “virgindade”, de pureza, para que não seja influenciado por estereótipos do senso comum. Que quanto mais intuitivo e espontâneo for o trabalho do ator, melhor será. O que pensa sobre isso?

H.Z.: Acho que cada trabalho é um trabalho. E por isso que acredito que estar cercado de pessoas interessantes e potentes tem que ser um princípio básico! Não sei se existe regra – seja dessa virgindade, seja de uma longa preparação prévia. Cada filme, mas também cada estrutura de produção, muda muito a própria preparação e concepção do filme. E também é necessário levar em conta a própria pesquisa ou perspectiva, seja do diretor seja da linguagem. Bresson preferia o primeiro tipo, os não-atores. Mas se for fazer um filme do David Lynch, claro que a perspectiva é outra. Não podemos querer olhar um Pollack numa perspectiva de Velazques.

No trabalho que estamos desenvolvendo, eu e o Cristiano – estamos indo para nosso 4 longa-metragem juntos pela Bela filmes – esses papéis ficam cada vez mais confusos! Claro que no final ele é o diretor, mas temos um jeito de construir as coisas de maneira bem aberta. Obvio que no final existe alguém que manda! Mas em todas as etapas, participo ativamente das discussões. Quando não tenho esse modo de trabalhar, ou seja, com um roteiro pré-determinado e uma certa distância desse outro processo, depende um pouco das diretrizes dos diretores. Alguns sentam e te falam durante horas sobre o personagem, filme, etc. e você começa a sugerir coisas. Outros, pedem para fazer um trabalho mais longo, digamos assim, na prévia do filme. Mas em ambos os casos, o ator tem muito trabalho para fazer antes de chegar a hora da Ação.

AIC – O que um ator precisa saber para atuar no cinema?

H.Z.: Especificamente no cinema, acho que existe uma coisa fundamental que o Bergman chamava da dança entre o ator e a câmera. A câmera é um monstro e precisamos saber como domá-la, como fazer com que joguemos juntos. Além disso, no cinema, nossa relação com a voz (pela utilização de microfones) e com o corpo (enquadramentos etc.) é bem específica. Uma outra coisa diz respeito ao próprio processo fílmico: filmamos de cenas em ordens totalmente subordinadas à produção. Dessa maneira, precisamos desenvolver nossa capacidade para se adaptar a isso. Mas, novamente, acredito que um ator deve estar constantemente se experimentando, se desafiando em várias áreas e depois se adaptar as singularidades de cada situação.

AIC – Como os movimentos de câmera e os ângulos escolhidos pelo diretor influenciam na performance do ator?

H.Z.: Acho que a própria estrutura de produção já impacta nessa questão. Se filmamos para 5 câmeras ou para 1, faz toda diferença. Precisamos sempre, na medida do possível, saber qual enquadramento, movimento etc., para nos adaptarmos a cada situação e, quem sabe, podermos contribuir no desenho da cena, do filme. Ainda mais no cinema, onde selecionamos para onde e como deve seguir o olhar do espectador. Caso tenhamos apenas uma câmera, por exemplo, muito próxima de você, podemos trazer as palavras para perto do peito ou do estômago. Se for em uma cena aberta, no meio da cidade, talvez seja necessário “aumentar” um pouco gesto e volumes. Mas, no final das contas, a situação vai nos dizer do que precisa e, é claro, um diretor que sabe o que faz – o que não significa não experimente, não erre, não faça por instinto.

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Cristiano Burlan ganha o prêmio Governador do Estado

Cristiano Burlan prêmio Governador do Estado
Cristiano Burlan, ao lado de Helena Ignez, recebendo o prêmio Governador do Estado.

O ex-aluno e professor da Academia Internacional de Cinema (AIC), Cristiano Burlan, ganhou na última segunda-feira (24), o prêmio Governador do Estado, na categoria de Cinema, pelo seu último documentário “Mataram Meu Irmão”. A cerimônia, realizada no Theatro São Pedro, concedeu um total de R$ 520 mil em prêmios para os artistas e instituições vencedoras.

No discurso de agradecimento, Burlan, bastante emocionado, disse que trocaria tudo isso pela vida do irmão. “Mataram meu Irmão” reconstrói, por meio de relatos de parentes e amigos, o assassinato de Rafael Burlan, irmão de Cristiano, morto com sete tiros, em 2001. Além de uma jornada pessoal, o filme retrata a violência de bairros da periferia paulista, como o Capão Redondo, onde ele morava com a família.

Alguns dias antes da cerimônia de premiação, o crítico Jean-Claude Bernardet, publicou em seu blog uma longa entrevista com Cristiano, onde ele revela uma infância complicada, marcada pela violência. “Considerando que, no passado, morou em uma região tão degradada e esquecida pelas políticas públicas, como se sente hoje, ao receber um prêmio do Estado?”, perguntamos a Cristiano. Ele respondeu: “como eu disse ontem no prêmio, é um tanto irônico. Primeiro porque o mesmo governo que me premiou é o governo responsável pela morte do meu irmão. Não só do meu, mas de vários irmãos que vêm sendo assassinados nas periferias brasileiras. O meu irmão foi morto por uma quadrilha comandada por policiais militares. Eu preferiria nem ter feito este filme, trocaria tudo isso pela vida do meu irmão”.

Mesmo depois de ganhar alguns dos prêmios mais importantes do cinema, Cristiano não se deixar afetar. “O filme não se justifica pelos prêmios que vêm angariando ou pelas boas críticas, mas por trazer luz a uma questão aparentemente banal para muitos, a barbárie em que vivemos nos bolsões de pobreza das periferias brasileiras. O mais importante pra mim é se o filme tem a potência necessária para gerar alguma reflexão”, comenta.

Conheça todos os vencedores da noite:

Destaque Cultural

  • Tomie Ohtake, pelo conjunto da obra

Voto do júri

  • Artes visuais José Resende – instalação “A Cabana do Vento” (Sesc Belenzinho)
  • Cinema Cristiano Burlan – “Mataram Meu Irmão”
  • Circo José Wilson Leite – Picadeiro Circo Escola
  • Dança Janice Vieira – Espetáculo “Vis-à-Vis” e trajetória
  • Inclusão cultural Espaço Clariô – Sarau do Binho, Quintasoito e Mostra Teatro do Guedo
  • Música Ná Ozzetti – “Embalar”
  • Teatro Núcleo Bartolomeu de Depoimento – “Antígona Recortada – Contos que Cantam Sobre Pousopássaros”

Voto popular

  • Artes visuais Carlito Carvalhosa – Instalação “Sala de Espera” (MAC – USP)
  • Cinema Tata Amaral – “Hoje”
  • Circo José Wilson Leite – Picadeiro Circo Escola
  • Dança Antonio Nóbrega – Espetáculo “Humus” e trajetória
  • Inclusão cultural Ilu Obá de Min
  • Música Emicida – “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”
  • Teatro Mundana Cia – “O Duelo”
  • Fomento CPFL Energia
  • Inclusão cultural Jardim Miriam Arte Clube (JAMAC)

*Fotos Divulgação e Arquivo Pessoal

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