A ex-aluna Isadora Maria Torres e o Diretor de Som Leonardo Bortolin, captando o som direto durante as gravações do curta.
O curta-metragem brasileiro “A moça que dançou com o diabo”, de João Paulo Miranda Maria, saiu vitorioso da 69ª edição do Festival de Cannes, levando o prêmio especial do júri na cerimônia de premiação, que aconteceu ontem à noite (22/5). O filme conta com a participação da ex-aluna do FILMWORKS Isadora Maria Torres na captação de som. O curta disputava a Palma de Ouro com outras nove produções. “Timecode”, do catalão Juanjo Gimenez, ficou com o prêmio principal.
A vitória apenas confirma o excelente estado de saúde do cinema brasileiro, cada vez mais presente nas grandes competições internacionais. Além de “A moça”, o documentário “Cinema Novo”, do brasileiro Erick Rocha, ficou com o prêmio Olho De Ouro. E, mesmo sem prêmio, o filme “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, foi amplamente aclamado pela crítica internacional.
O diretor João Paulo Miranda Maria e os atores durante as gravações.
“A moça que dançou com o diabo” traz uma releitura contemporânea de uma lenda do interior paulista, contada há mais de cem anos. Na versão adaptada, uma menina vive conflitos que envolvem religião e suas descobertas da adolescência. “O filme é baseado em uma lenda da cidade de São Carlos e a história se passa dentro de um enredo de festividades católica. A moça age de maneira contrária às tradições da igreja e acaba se envolvendo com um forasteiro conhecido como Diabo. O curta é uma adaptação desta estória, porém com questões muito atuais e discutíveis como política, religião, subjetividade e o fantástico. Acredito que o filme possa assumir um papel provocador na sociedade, em tempos de dualidade e discussões efervescentes”, conta Isadora.
É a segunda vez que um aluno da Academia Internacional de Cinema (AIC) participa de um curta que concorre no Festival de Cannes. A primeira vez foi em 2014, quando o ex-aluno Ricardo Saraíva montou o filme “Leidi”, do diretor colombiano Simon Mesa-Soto, que recebeu o prêmio Palma de Ouro de curta-metragem.
A Associação Brasileira de Cinematografia divulgou ontem a lista dos filmes finalistas do Prêmio ABC 2016. Os vencedores serão conhecidos na cerimônia de premiação, que acontece no próximo dia 14 (sábado), na Cinemateca Brasileira – SP.
Dentre os finalistas estão os filmes “Greta”, dirigido pela aluna Ana Salek e Gabriel Sales e fotografado pelo aluno André Magalhães, da Academia Internacional de Cinema (AIC) do Rio de Janeiro que concorre na categoria Melhor Direção de Fotografia Filme Estudantil e, “Rio Cigano”, filme da diretora Julia Zakia, que leva a assinatura da diretora de arte e professora Monica Palazzo e concorre na categoria de Melhor Direção de Arte Longa-Metragem.
GRETA é uma representação do processo de desconstrução e deslizamento de uma identidade em processo. A partir de memórias e fragmentos de uma noiva, busca-se o lugar do feminino como plasticidade e criação, no embate com vozes difusas que a interpelam em sua trajetória.
RIO CIGANO tem narrativa inspirada na tradição oral cigana, o filme conta a história de duas meninas ciganas, Kaia e Reka, violentamente separadas na infância e criadas em mundos distantes.
Amanhã começa a Semana ABC, evento aberto ao público que conta com mesas de debates (sem necessidade de inscrição – retirada das senhas 1 hora antes de cada mesa até a lotação da sala). No dia 13, às 13h45, o Coordenador do Curso FILMWORKS, Martin Eikmeier fará parte da mesa que discute o tema: “Educação – As instituições de cinema e os estudantes”, a intenção é falar sobre o papel das instituições e organizações de cinema na formação dos estudantes, além dos desafios para manter a qualidade do cinema, valorizando a sua história e aproveitando as ferramentas do digital. A mesa será mediada pelo também professor da AIC, André Moncaio. A Semana acontece entre os dias 11 e 13 de maio na Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino – São Paulo).
O diretor, montador e professor da Academia Internacional de Cinema (AIC), Frederico Benevides, está na Alemanha para a exibição do curta-metragem “Entretempos”, codirigido por ele e por Yuri Firmeza. O filme será exibido no próximo dia 07 e compete na 62ª edição do Festival de Oberhausen, um dos mais antigos festivais de curtas-metragens do mundo e uma das principais plataformas internacionais de exibição deste formato.
Exibido também na VII Semana dos Realizadores, onde recebeu uma Menção Honrosa, a sinopse do curta diz que o filme é sobre um canto que evoca. Uma cidade que desmorona. Um prédio que se ergue. Um povo que embranquece. Uma família que convulsiona. Um silêncio que corta. Benevides conta que o filme parte de imagens de maquetes eletrônicas da cidade do Rio de Janeiro e traz músicas das caixeiras de Alcântara, no Maranhão – senhoras devotas que cantam e tocam caixa. “O filme é um entrecruzamento de espaço-tempos proposto como uma experiência audiovisual sem diálogos ou dramaturgia aparente, mas lançando mão de colagens e sobreposições”, conta.
Professor do Curso Técnico em Cinema da AIC, o FILMWORKS, Frederico Benevides é mestre em Estudos de Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense e traz em seu currículo a instalação Viventes (exibida na 56th Berlinale – Forum Expanded) e o curta-metragem “Visita ao Filho”. Como montador, entre outros, fez “Tremor”, de Ricardo Alves Jr. (melhor montagem no 46 Festival de Brasília) e “Nada É”, de Yuri Firmeza (prêmio Ricardo Miranda de Montagem de Invenção na VI Semana dos Realizadores – RJ e Desenho Sonoro no 9º CineMúsica – RJ).
Além do nome mitológico a atriz é filha de duas figuras míticas do cinema brasileiro: Rogério Sganzerla e Helena Ignez. Djin trabalhou em dezenas de filmes nacionais e recebeu o Troféu APCA 2008 de melhor atriz por “Meu Nome é Dindi”, de Bruno Safadi, e o Troféu Candango do Festival de Brasília 2007 de melhor atriz coadjuvante por “Falsa Loura”, de Carlos Reichenbach. Também atuou em “Luz Nas Trevas: A Volta do Bandido da Luz Vermelha” (2010), codirigido por sua mãe e no próximo dia 5 estará em cartaz nos cinemas estrelando o filme “Ralé”, também de Helena Ignez.
Djin, que esteve na Academia Internacional de Cinema (AIC) de São Paulo na Semana de Orientação de 2012, diz que “o bom ator é o ator-criador, aquele que sabe ouvir, sabe trocar e sabe compor o personagem com arte”. Dia 5 de maio a atriz fará palestra especial para os alunos do Curso de Interpretação para Cinema, coordenado por Cristiano Burlan.
Conheça um pouco mais sobre a atriz em entrevista concedida para a AIC.
ENTREVISTA
O que lhe motivou a atuar no cinema?
Em cena de “O Prefeito” , de Bruno Safadi, com previsão de estreia ainda para esse ano. Foto de Jade Mariane
Djin Sganzerla: Como vim de uma família de artistas, tive um processo interessante, precisei confirmar esta vontade muito forte dentro de mim para ter certeza de que não era algo que meus pais tinham interferido ou me influenciado. Filha de pais com personalidades fortes e expressivas, herdei este espírito libertário e com uma busca de uma personalidade própria, única.
A possibilidade de poder me transformar completamente em outro ser, de poder mergulhar nestas vidas cheias de riquezas, cheias de cores, desamores, dores, alegrias e sentir que através de mim, do meu corpo, da minha expressão artística eu poderia ajudar a tocar alguém e quem sabe de alguma maneira mobilizá-las de uma forma transformadora. Poder revelar as mil facetas que existem dentro de nós e que muitas vezes não temos a possibilidade de vive-las em uma só vida.
Esse ano você entra em cartaz com um novo filme. Quando ele estreia no cinema e como foi a experiência de fazê-lo?
D.S.: “Ralé”, longa de Helena Ignez, entra em cartaz nos cinemas a partir de 05 de maio. Fazer Nastia, personagem de Ralé, foi um bom desafio. Filmamos em pouco tempo e a diretora fez algumas alterações no texto da personagem, em constante construção. Tinha que estar aberta ao inesperado e a mudanças o tempo todo. Por exemplo, assim que a filmagem acabou começou um grande temporal de verão e percebemos que poderia ser incrível, fui para chuva, o fotógrafo logo começou a filmar e não tive tempo de avisá-la que estávamos já filmando. Comecei a improvisar com o vento, a chuva e um guarda-chuva. A cena ficou tão boa que entrou no filme. Para trabalhar com Helena você precisa estar atenta a tudo e aberta às mudanças, o que só fortalece o ator.
“O Prefeito”, de Bruno Safadi, com quem já trabalhei anteriormente e ganhei prêmios com o filme “Meu Nome é Dindi”, também deve estrear neste ano. O filme acaba de ganhar o prêmio de Melhor Filme Iberoamericano no 34º Festival do Uruguai e teve sua estreia no Festival de Locarno no ano passado. Gosto muito de trabalhar com o Bruno, a comunicação entre nós é rápida e de muita confiança, o que é maravilhoso para o ator. Ele me convidou para fazer a Alma Errante, um personagem meio fantasmagórico, um pouco mítico, é ela quem traz a morte e a destruição do Prefeito. Eu estava em cartaz em SP com a peça “Ilhada em Mim” e filmando no Rio, foram poucos dias de filmagem, numa locação incrível, nos escombros da demolição da Perimetral no Rio, o que só aumentou o desafio para os atores e equipe. O resultado ficou incrível, mas a poeira e as dificuldades da locação foram um desafio bom de ser enfrentado. Filmes com orçamento pequeno, filmados em poucos dias, requerem ainda uma entrega maior, se é que é possível dizer isso, pois cada instante no set é único, são diretores que repetem a cena poucas vezes, dando chance mínima ao erro. Temos que estar 100% inteiros e presentes, mas o resultado é sempre gratificante.
Fiz o filme de equipe e diretor português, “Ornamento e Crime”, de Rodrigo Areias, rodado em Guimarães e arredores, em Portugal. Sou a única atriz brasileira do filme, foi uma experiência ótima, conhecer mais de perto o cinema português e aquele país com um povo e uma cultura muito interessantes. Ornamento e Crime estreou na Mostra de Cinema de SP no ano passado e ganhou o Prêmio de Público de Melhor Filme no 19º Festival Luso Brasileiro em Portugal. O filme do Rodrigo é um filme de gênero, Noir, faço uma “femme fatale” que se revela e vira o jogo no final do filme. Foi uma experiência única, ainda não tinha atuado em filme de gênero. A sedução e frieza juntos são sempre ótimos de trabalhar.
Como você constrói os seus personagens?
D.S.: Cada personagem pede uma forma de trabalhar, com mais ou menos intensidade e aprofundamento. Há personagens mais simples e leves, com menos contradições, que são ótimos também.
Em cena do filme “Ralé” dirigido por Helena Ignez, foto Toni Nogueira
Mas geralmente construo as personagens de dentro para fora, um processo as vezes um pouco longo, mas que geralmente chega aonde estou procurando ir… Sou uma atriz bastante intuitiva e técnica quando preciso ser. Sinto a personagem nas primeiras leituras do roteiro. Dele tento extrair o máximo de informações sobre ela, sua personalidade, seus objetivos, o que a move, tento visualizar como é esta personagem. Depois parto para a parte sutil, o que não é dito, o que é subjetivo, as suas contradições, suas lutas internas, a vida intima da personagem. Construo-a por inteira dentro de mim, esse processo costuma nascer organicamente, uma paixão que me envolve… procuro não decorar o texto, e sim ler tantas vezes que naturalmente irei internaliza-lo, entendendo o que está sendo dito para que ele saia de dentro de mim com a maior verdade, necessidade e cheio de vida interior, como acontece na vida. No set sou bastante concentrada, acredito que essa concentração, essa energia direcionada, imprima de alguma forma na tela.
O set pode ser muitas vezes um local muito ingrato para o ator, quase que contra o trabalho dele, mas se você está ali preparada, inteira e se lança no jogo com o outro ator, algo acontece.
A personagem nasce com a câmera, mesmo nos ensaios, aqueles que fazemos um pouco antes de rodar, são concentrados e intimistas para que no momento da “ação” a “mágica aconteça”. Me lanço, com todas estas ferramentas, com a preparação e com este personagem dentro de mim, no abismo e no desconhecido, para que o inesperado aconteça. Procuro nos personagens o que não é dito, o que não é revelado. E não busco desvenda-lo, mas sim vive-lo, deixa-lo existir dentro de mim.
Quais atrizes ou atores lhe inspiram e por quê?
D.S.: A primeira que me vem à cabeça é a Gena Rowlands, extraordinária, quem sempre me inspira. Sinto esse frescor o tempo todo na interpretação dela, cheia de vida, de perigo, de incertezas, de fragilidades. Ela hipnotiza a câmera, vai fundo na sua verdade, ela é um belo exemplo deste voo incerto, este salto no abismo dentro do mistério de nós mesmos. Sempre me atraí por atores que carregam dentro de si o mistério, talvez o mistério de suas próprias vidas, o mistério da vida.
Giulietta Masina me inspirou muito, acho suas construções de personagens incríveis, cheias de inteligência e força, regada de vulnerabilidade. Ela é outra que sabe enfeitiçar a câmera, sempre com escolhas nada obvias e surpreendentes.
Gosto também de trabalhos bem contidos, por exemplo como nos filmes My Sweet Peperland (Minha Doce Terra Amarga) e Pedra da Paciência, ambos protagonizados por Golshifteh Farahani, atriz iraniana que vive na França. A repressão que as mulheres vivem no Irã está contida no universo destes personagens e na sua composição. São atuações cheias de vida interior e silêncios.
Gosto do trabalho do ator Ryan Gosling, como no filme Drive e Blue Valentine, tipo de ator que trabalha camadas de humanidade no silêncio. Também gosto de Carey Mulligan e outras ótimas atrizes.
Qual o conselho você daria para um jovem ator que está começando a fazer cinema?
D.S.: Vejam muitos filmes, muitos mesmo. De preferência com ótimos atores e diretores. Acredito que ótimas referências ficam na retina, na memória e na imaginação. Muitas vezes assisto a um filme estudando-o, dissecando-o, vendo as opções que o ator fez na composição da personagem. Pode ser uma aula. Estudem muito também, acredito que o ator deva estar sempre em constante aprendizado, mas no início da carreira, quando se tem mais tempo, é o momento ideal para nos lançarmos completamente nisso. Pesquisem técnicas de interpretação, façam o máximo de cursos, leiam sobre o tema, leiam biografias de atores. O ator precisa dominar o seu oficio, conhecer bem o que ele pretende fazer. Assistir a bons atores, seja no cinema ou no teatro é sempre uma experiência, e não importa a linguagem, você sempre aprende algo se estiver disposto.
E pratiquem, o máximo que puderem, é um excelente exercício ver o seu trabalho na tela. Sejam generosos com vocês mesmos, sem excesso de autocrítica e vejam no que realmente poderiam ser melhores da próxima vez. Assistir ao “video assist” durante a filmagem ou o resultado final sempre foi uma grande escola para mim. Acho que o ator tem que estar em constante movimento e mergulhar no mistério e no inesperado que a criação artística propõe.
*Entrevista feita por Cristiano Burlan – foto em destaque (pb) do filme “Ornamento e Crime” (Jorge Quintela)
O curta-metragem “A moça que dançou com o diabo“, de João Paulo Miranda Maria, conta com a participação da ex-aluna do FILMWORKS Isadora Maria Torres, que fez a captação de som do filme. O filme disputa a Palma de Ouro na 69ª edição do Festival de Cannes com outras nove produções de diferentes países.
O filme traz uma releitura contemporânea de uma lenda do interior paulista, contada há mais de cem anos. Na versão adaptada, uma menina vive conflitos que envolvem religião e suas descobertas da adolescência. “O filme é baseado em uma lenda da cidade de São Carlos e esta história se passa dentro de um enredo de festividades católica. A moça age de maneira contrária às tradições da igreja e acaba se envolvendo com um forasteiro conhecido como Diabo. O curta é uma adaptação desta estória, porém com questões muito atuais e discutíveis como política, religião, subjetividade e o fantástico. Acredito que o filme possa assumir um papel provocador na sociedade, em tempos de dualidade e discussões efervescentes”, conta Isadora.
A ex-aluna Isadora Maria Torres e o Diretor de Som Leonardo Bortolin, captando o som direto durante as gravações do curta.
Isadora também conta que seu primeiro contato com o diretor João Paulo foi em uma oficina ministrada por ele no Coletivo Kino-olho, foi lá que ela começou a fazer cinema. “Depois que participei dessa oficina acabei virando integrante do Coletivo e, por conseguinte, comecei a participar de outras atividades do Kino. Nesta época eu cursava o ensino médio e para um trabalho escolar escrevi um roteiro de um curta chamado “Brás Cubas – Delírios” que foi vencedor em um Festival de Curtíssimas da Claro. Foi aqui que decidi estudar cinema e entrei na Academia Internacional de Cinema (AIC). Foi quando percebi que se podia discutir e expressar muitas coisas através do cinema. Eu vi nesta linguagem uma possibilidade e um caminho de organizar as minhas ideias e anseios e me expressar artisticamente”, conta.
O som do Curta
Foi durante o FILMWORKS que Isadora descobriu seu interesse pela área de som, quando se formou e voltou para Rio Claro voltou para o coletivo e começou a trabalhar com Leonardo Bortolin, que assina a Direção de Som do curta.
O diretor João Paulo Miranda Maria e os atores durante as gravações.
Leonardo conta que o projeto contou com inúmeras reuniões de pré-produção e que foram nessas reuniões que eles tiveram a ideia de pensar nos sons fora de quadro, com a intenção de ampliar a narrativa fílmica e criar imagens sonoras informativas e independentes da imagem. “O som direto foi muito valorizado, já que a acústica de cada cenografia sonora influencia as interpretações das personagens e informa favoravelmente o espaço sonoro, numa espécie de localização de si e dos diversos elementos fílmicos. O ruído foi encarado como força positiva e inserido esteticamente num sentido deslocado da interferência. O filme traz uma dúvida partindo de uma construção realista, verossimilhante. A todo momento somos tensionados e colocados em questão devido ao teor do próprio enredo e das encenações frias frente à câmera. Também tentamos reproduzir essa dúvida nos sons”, conta.
Festival de Cannes
Este ano o festival acontece entre 11 e 22 de maio e o comitê que seleciona os curtas recebeu 5.008 mil filmes, destes, apenas 10 foram escolhidos para a mostra competitiva.
Além do curta de João Paulo Miranda Maria, outros dois filmes brasileiros estão no Festival. O curta “O delírio é a redenção dos aflitos”, do diretor Fellipe Fernandes, selecionado para a mostra competitiva da Semana da Crítica e o longa “Aquarius”, do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, que disputa a Palma de Ouro.
O cinema brasileiro muito bem representado. Agora só nos resta torcer!
Matias Liebrecht estará na AIC em abril para workshop de animação em stop-motion
Brincando de Deus, feito um Doutor Frankenstein. É assim que o animador Matias Liebrecht se sente enquanto trabalha com seus bonecos e animações. “É muito impressionante este sentimento de ‘criador’, onde damos vida a um corpo inanimado”, conta.
Dentre os trabalhos que desenvolveu, Matias Liebrecht trabalhou no longa preto e branco “Frankenweenie”, de Tim Burton, movimentando o menino Victor e o cão Sparky. A animação foi indicada ao Oscar e ganhou 11 prêmios internacionais. Também atuou no indicado ao Oscar “Os Boxtrolls” (2014) do estúdio Laika, e “Kubo”, que será lançado este ano, com Charlize Theron e Matthew McConaughey. Fez diversos longas, comerciais, séries de TV e curtas, além da animação em stop-motion mais famosa do Brasil, “Minhocas” (2013) e a animação para TV Disney Presents: “We wish you a Merry Walrus” (2014).
Victor e o cão Sparky animador por Matias no longa “Frankenweenie”, de Tim Burton
Liebrecht estará nas duas unidades da Academia Internacional de Cinema (AIC) para um Workshop sobre Animação em STOP-MOTION. Nos dias 09 e 10 de abril em São Paulo e nos dias 22 e 23 de abril no Rio de Janeiro.
Além de abordar a animação de forma teórica, trazendo um panorama histórico, de linguagem e sobre as diferentes técnicas, entre elas a 3D, o curso mergulha na técnica do stop-motion (técnica na qual se fotografa algo quadro-a-quadro, alterando o seu estado ou posição entre cada fotograma, criando assim a ilusão de movimento). Todo o foco do workshop será o contato direto com o personagem (os bonecos articulados trazidos por Matias) e o aprofundamento nas técnicas de expressão, atuação, coreografia e encenação.
ENTREVISTA – Matias Liebrecht
AIC – Como e onde começou a paixão pelo stop-motion?
Matias Liebrecht: Eu já tinha interesse na coisa há tempo, desde que fui estudante de cinema da FAAP nos anos 90. Mas foi há 13 anos, quando morava na Alemanha e estudava design, que fiz meu primeiro curta-metragem em stop-motion “Fingerspitzengefuehl”, como trabalho semestral universitário, em parceria com um estúdio de animação, na cidade de Frankfurt. A paixão e a entrega vieram mesmo quando vi aquele meu personagem criar vida em minhas próprias mãos. É muito impressionante este sentimento “criador”, a partir de um corpo inanimado (daí o nome – animação). A gente se sente como um doutor Frankenstein, brincando de Deus.
Depois disso não parei mais. Agarrei todas as oportunidades que tive para aperfeiçoar a minha técnica, indo de curtas para séries de TV, comerciais e longas-metragens, e nunca mais tive outro trabalho na vida. É um privilégio o qual eu tento honrar sempre.
AIC – Conte um pouco sobre como é trabalhar com Tim Burton.
Matias nos bastidores de Frankenweenie,
M.L.: Tim Burton é um apaixonado e parece uma criança entusiasmada com cada cena que fica pronta. Isso é muito inspirador. Ele faz questão de parabenizar pelo trabalho bem-sucedido. Stop-motion é um processo extremamente lento e maçante, não podendo acontecer sem a total paixão e devoção. Fui um dos animadores em seu filme “Frankenweenie” (2012), que para mim é muito especial, não só por eu ter passado 18 meses imerso neste projeto, mas porque também foi um de seus filmes mais pessoais, e por isso mesmo dos mais vigorosos.
Stop-motion tem uma história de mais de um século, e Tim Burton é sem dúvida um dos maiores responsáveis pela sobrevivência desta técnica hoje em dia. Vide “O estranho mundo de Jack”, “Noiva cadáver” e “Frankenweenie”. E isso pode ser constatado em sua mostra retrospectiva, atualmente no MIS.
AIC – Sabemos que para fazer um curta usando a técnica de stop-motion é um processo trabalhoso e demorado. Como é encarar esse desafio dentro de um longa?
M.L.: “O dia-a-dia num longa é como nas trincheiras”, dizia um diretor meu. E é mesmo, porque demanda disciplina, resistência, persistência, e muito punho, para manter seu processo criativo em alto nível, segurar a barra quando houver conflitos de opiniões (todo dia), e não desabar com a pressão externa e interna (o anjinho do perfeccionismo sentado no seu ombro), afinal você produz como animador uma média de um a dois segundos de filme por dia!!! Ou seja, às vezes uma única cena, pode durar meses, dependendo da complexidade.
Na verdade, um curta e um longa têm uma produtividade parecida. Nos dois costuma-se investir extremo esmero, pelo caráter único que têm como obra. Já uma série de TV, é todo o contrário, por ser um produto mais digerível, feito com a alta rotatividade e fácil comunicação com o público em mente. Em séries e comerciais a agilidade e eficiência são ainda mais importantes.
AIC – Conte sobre o workshop que dará na AIC?
M.L.: Este workshop terá o caráter de volta às raízes. Algo importante neste mundo a jato nosso. Stop-motion envolve muita coisa, construção de bonecos, personagens, luz, câmera e mais. Nós iremos abordar somente a animação. Com isso poderemos mergulhar em nossos personagens, e desenvolve-los com cuidado, lapidando o nosso toque.
Eu vou trazer um boneco articulado por participante, para que cada um possa se concentrar na sua coreografia, atuação e encenação, e tentarei repassar todos os truques que fui juntando durante anos. Trabalhei em oito longas diferentes, e aprendi muitas técnicas distintas, mas o que não há, são limites para a expressividade do animador.
*Matéria publicada na ZOOM Magazine ** Fotos Divulgação