Academia Internacional de Cinema (AIC)

Quero Ser Editor de Cinema

Curso de pós-produção

*Por Katia Kreutz e equipe da Academia Internacional de Cinema – Crédito foto: Alessandra Haro

A edição é a essência da arte cinematográfica. É como uma alquimia, uma combinação das cenas e dos momentos de maior intensidade emocional do filme, “colados” um ao outro de maneira a fazer sentido, para contar uma história e gerar determinadas reações no público.

Nos tempos do cinema analógico, em que os filmes eram gravados em película, a edição era um trabalho manual, muito relacionado à colagem, à “costura” de fotogramas. Por isso, a montagem é uma das poucas áreas do fazer cinematográfico em que as mulheres se destacaram na indústria desde o início, já que essa não era considerada tanto uma função artística como algo artesanal e, por assim dizer, braçal.

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Um filme é construído, de fato, na sala de edição. A filmagem, em si, é quase o equivalente a colocar em uma mesa todos os ingredientes para uma receita. Será preciso misturá-los na ordem correta, no tempo certo, para que aquilo dê certo. Assim, a gravação de cada tomada é como estar em um mercado comprando esses ingredientes: é preciso garantir que não vai faltar nada depois.

Contudo, por mais que se tome cuidado na gravação, sempre se descobre muito na pós-produção. É na ilha de edição que o filme nasce, de fato. Afinal, o editor ou montador é a pessoa que vai colocar em ordem todas as peças do quebra-cabeça, tentando contar uma narrativa coesa, que tenha ritmo e consiga passar a essência daquilo que foi filmado.

Neste artigo, vamos responder às principais dúvidas sobre a carreira de um editor:

Veja também nossos outros artigos da série Profissões do Cinema:

O que faz um editor / montador?

Basicamente, a edição cinematográfica é a técnica de montar diferentes cenas em sequências coerentes de imagens. O trabalho do editor, no entanto, não se resume a simplesmente juntar esses planos de forma mecânica. É ele quem dá ritmo ao filme, contribuindo de maneira significativa para a narrativa.

O montador precisa ser também a pessoa que assiste ao material bruto sem o turbilhão de emoções a que o diretor (assim como os demais membros da equipe) foi submetido durante o processo de filmagem. Portanto, cabe a esse profissional, na pós-produção, ter a sensibilidade de captar a real atmosfera do filme, por assim dizer, sempre indo de encontro à visão do diretor.

Dificuldades e Desafios

Nesse importante trabalho de seleção que fica a cargo do editor, é preciso que o profissional desenvolva certa frieza e distanciamento com relação ao material bruto, para manter o frescor de seu olhar e poder decidir se uma cena está funcionando ou não dentro da história (independentemente do quanto ela tenha custado para ser gravada). Essa postura de não envolvimento é saudável e positiva, pois evita que o filme seja prejudicado por planos ruins, simplesmente porque a dificuldade de gravá-los fez a equipe se “apegar” a eles de alguma forma. Então, o montador precisa ser totalmente desapegado.

Outro desafio é alinhar o trabalho do editor com a visão do diretor. É essencial que, durante a pós-produção ou mesmo antes disso, o editor converse com o diretor do filme para definir o conceito e linguagem narrativa. Isso deve acontecer para que exista uma coerência entre o roteiro e a montagem, e para que o montador tenha referências para realizar seu trabalho de maneira consciente, de acordo com o filme que o resto da equipe tinha em mente durante a produção. É somente a prática constante que vai fazer com que você tenha domínio desses programas e, principalmente, sensibilidade para assimilar técnicas mais refinadas de montagem.

A boa notícia é que, hoje em dia, computadores e softwares estão cada vez mais baratos e acessíveis – muito mais do que câmeras, por exemplo. Alguns sistemas operacionais, inclusive, oferecem assinaturas mensais de pacotes com diversos programas, para que o usuário não seja obrigado a desembolsar uma quantia muito alta na compra do software original.

Quais as responsabilidades de um Editor?

A princípio, o editor é responsável por organizar o que foi gravado, ou seja, todo o material que veio do set de filmagem. Na ilha de edição, ele precisa montar essas imagens, assim como os diálogos para contar a história da melhor maneira possível, jogando fora o que não é bom e deixando apenas aquilo que for necessário para narrativa. Sua grande responsabilidade, ao final dessa longa cadeia que é a criação de um longa-metragem, é dar sentido ao filme.

Na maioria dos projetos, em se tratando de longas de ficção, geralmente o editor/montador está presente apenas depois das filmagens, ou seja, na fase de pós-produção. No entanto, é possível que ele participe também de alguns momentos da pré-produção (leitura do roteiro e diálogos conceituais com o diretor) e da finalização (observando ou dando sugestões durante o processo de edição e mixagem de som).

Como é o dia a dia de um editor

Esse é um profissional cujos dias de trabalho são longos e intensos, de muita concentração e foco. O editor também precisa ser uma pessoa extremamente organizada e detalhista, que não se distraia facilmente e que saiba lidar bem com um dia a dia solitário, em uma sala escura, sem interferências externas. Por essa e por outras, o ideal é que ele trabalhe em um ambiente que seja o mais tranquilo e silencioso possível.

O conceituado editor norte-americano Walter Murch tinha o hábito de montar seus filmes em pé, para ter uma postura de domínio sobre o material bruto e se manter ativo durante todo o tempo. Mesmo para quem trabalha sentado, a rotina de edição é cansativa, porque é preciso assistir a todo o material bruto e dominá-lo, de forma a saber onde estão as tomadas de que se precisa em cada momento. O trabalho também requer que se faça muitos testes, tentando montar as cenas de diferentes formas, para ver o que funciona melhor. É um tal de montar, remontar, guardar para depois, voltar para trás…

Em meio a tudo isso, as pausas são tão importantes quanto a montagem em si: tomar um café, descansar a mão e burilar uma ideia, para depois retomar com a mente fresca, são ações que só fazem bem a qualquer projeto. Assim, o trabalho acaba sendo um misto de concentração e distensão, e o ritmo do filme certamente é influenciado por isso.

Cada relação entre editor e diretor tem as suas peculiaridades, mas muitos gostam que o montador faça um primeiro corte do filme, por conta própria. Ele apresenta esse corte ao diretor, que a partir disso conversa e sugere mudanças. Em geral, o segundo corte já conta um pouco mais com o “dedo do diretor”, mas sua presença na ilha de edição varia de acordo com o método de trabalho de cada um.

O que sempre acontece é que a edição, em seus diversos cortes, vai fazendo com que o material seja lapidado até o ponto em que todos estejam satisfeitos com o resultado. Em algum momento, tem que se dar o filme por terminado e parar de mexer, não é mesmo? Ainda assim, vê-se muito por aí versões de filmes que são chamadas de “director’s cut” (ou seja, “corte do diretor”), geralmente um pouco diferentes daquela que foi lançada nas salas de cinema.

De todo modo, o editor não tem o papel de definir o corte final de um longa-metragem (que, nos filmes autorais, fica a cargo do diretor, e nos filmes de estúdio do produtor). Por isso, a humildade do profissional de edição deve ser enorme, fazendo seu trabalho com dedicação para chegar a um bom resultado, que justifique suas escolhas, mas ao mesmo tempo abandonando o ego, porque o cinema é uma arte coletiva, na qual o mais importante é a troca de ideias.

Quanto tempo demora cada projeto?

Não existe uma resposta definitiva para essa questão; especialmente no Brasil, onde a produção e a pós-produção estão muito atreladas às limitações financeiras de projetos independentes.

Uma variável importante nessa conta é, sem dúvida, a quantidade de horas do material bruto. No entanto, orçamento e cronograma também são aspectos práticos que, pelo bem ou pelo mal, influenciam na duração da montagem.

Em média, a edição de um filme de longa-metragem comercial demora cerca de oito semanas, mas há longas que levam até seis meses para serem montados. Já a montagem de um documentário, com muitas horas de material gravado e cujo roteiro acaba sendo construído na ilha de edição, pode levar mais de um ano para ser concluída.

Quanto ganha um editor?

Depende muito do projeto. Existe um piso para a função de editor/montador, determinado pelo Sindcine (2500 reais por semana), porém essa tabela não é muito observada no mercado de trabalho e muitas vezes o valor está abaixo do que se paga aos profissionais de edição.

Em um longa-metragem com um bom orçamento, pode-se ganhar até 30 mil reais para o projeto inteiro. Em curtas, o cachê normalmente fica em torno de 5 mil reais. A média de salário, para quem já trabalha na área de maneira constante, é de aproximadamente 10 mil reais por mês. Mas, no fim das contas, tudo depende da experiência do profissional, da negociação com o contratante e do tamanho do projeto no qual ele irá trabalhar.

A vantagem de ingressar nessa função é o fato de que dificilmente editores ficam sem trabalho. Como são poucas as pessoas que têm real conhecimento de software e domínio das técnicas de montagem, é relativamente fácil encontrar serviço – tanto em longas quanto em curtas, documentários, programas de televisão, webséries, etc. Até mesmo os YouTubers, hoje em dia, têm contratado profissionais da área, para tornarem seus vídeos menos amadores e mais “cinematográficos”.

Como se tornar um editor?

O primeiro passo é gostar de ver filmes. O segundo, é não ter preguiça de praticar. Outra questão importante a observar, para quem quer ingressar na área, é se fazer a seguinte pergunta: você quer fazer filmes, mas não tem vontade de estar no set de filmagem? Se a resposta for sim, é bem possível que seu caminho seja a montagem.

Boas formas de começar são fazendo cursos (principalmente para adquirir o domínio de softwares profissionais de edição) e buscar estágios em produtoras. Muitas empresas contratam profissionais iniciantes para trabalhar de madrugada, por exemplo, ou para fazer assistência de edição.

Ser assistente de um montador experiente é uma das melhores formas de aprender. Sem um mestre para ensinar o “caminho das pedras”, é bem provável que esse caminho seja mais tortuoso. O processo de montagem, por si só, muitas vezes é frustrante e envolve um esforço enorme para se chegar à forma desejada. Com alguém ao seu lado, mostrando como se faz, tudo se torna um pouco mais simples.

Trabalhar em documentários também é algo muito interessante para quem deseja seguir na área de edição. Esse tipo de filme normalmente obriga o montador a lidar com uma quantidade gigantesca de material bruto, uma prática extremamente válida para quem está precisando ganhar experiência.

Outra forma de se destacar no mercado é conhecer outros programas que possam ser úteis, como softwares de After Effects. Pequenas produções costumam valorizar bastante profissionais versáteis, que possuam conhecimentos que vão além do básico. No caso do montador, embora isso não seja um requisito, saber mexer em outros tipos de programas pode contar alguns pontos na hora de ser contratado.

Referências e conselhos

Se você busca referências, o documentário “The Cutting Edge: The Magic of Movie Editing”, dirigido por Wendy Apple, aborda as particularidades da arte da edição. O filme apresenta uma série de trechos de longas com estilos inovadores de montagem, que podem servir de inspiração para quem gosta da área.

O clássico “Um Homem com uma Câmera/Man with a Movie Camera”, de Dziga Vertov, é um verdadeiro marco da história do cinema. O filme é uma observação semi-documental do cotidiano na Rússia dos anos 1920, com uma variedade de cortes extremamente complexos e ousados para a época. Por seu apuro técnico e ritmo dinâmico, o filme consegue se manter envolvente até os dias de hoje.

Outro filme interessante e muito divertido, extremamente recomendado para quem quer se embrenhar pelos caminhos da pós-produção, é “Onde Jaz o Teu Sorriso?”, do cineasta português Pedro Costa. O diretor se fecha em uma sala de edição, documentando todo o processo, em uma verdadeira lição da arte da montagem e do fazer cinematográfico.

Já o curta-metragem “Glauces – Estudo de um Rosto”, de Joel Pizzini, é um filme que talvez desperte em você a vontade de ser editor. Mais do que um documentário, quase um ensaio poético-cinematográfico, o filme consegue mostrar o enorme poder da imagem, sem ser literal.

Finalmente, uma indicação de livro (que é quase a “Bíblia” dos editores) é “Num Piscar de Olhos – A Edição de Filmes Sob a Ótica de um Mestre”, de Walter Murch. No livro, o montador compartilha um pouco de seus mais de 30 anos na área, partindo de uma pergunta aparentemente elementar: O que faz um corte funcionar? Nesse contexto, ele analisa o paralelo entre filmes e sonhos, entre o estado de espírito dos espectadores e a frequência com que piscam os olhos.

Como estamos falando de dicas úteis, nada como bons conselhos de quem já atua na área para quem pretende ingressar agora… e o principal deles é, simplesmente: Veja filmes! Veja com paixão e interesse, com vontade de entender e de aprender, ou mesmo por simples prazer.

Atualmente, há uma facilidade enorme para conseguir material em vídeo para praticar, além de ser possível publicar o que você edita e receber feedback de outras pessoas a respeito. Não tem desculpa para quem quer começar: basta adquirir um software (ou mesmo baixar algum programa gratuito), buscar tutoriais e colocar a mão na massa. Se aparecer um trabalho profissional e você já tiver treinado bastante, vai estar afiado para encarar o desafio com confiança e tranquilidade.

Novamente, vale lembrar que, para aprender todos os tipos de softwares de edição de vídeo, existem os mais variados e específicos cursos ou workshops. Estudar não é apenas importante para adquirir o melhor conhecimento, da forma mais didática possível, mas também para fazer contatos e estabelecer network para futuros trabalhos – o que é essencial para quem pretende sobreviver de edição.

Uma coisa, nessa profissão, é certa: existe um poder enorme em decidir o que fica e o que será cortado do filme. É a possibilidade de, mesmo com todo o processo de pré-produção e filmagem, reescrever o roteiro de alguma forma e construir a versão final da história, aquela que vai para as telas. Dar sentido para um punhado de imagens é algo verdadeiramente mágico, e que só existe dessa maneira no cinema.

O cineasta mexicano Alejandro González Iñarritú certa vez disse que um filme se torna arte apenas depois da edição Ao invés de meramente reproduzir a realidade, o cinema dá um novo sentido a ela, justapondo imagens e expressando outros significados, outras perspectivas. Ou, como diria o cineasta Stanley Kubrick: “A escrita vem da literatura, a atuação vem do teatro, a cinematografia vem da fotografia. Mas a edição é particular do cinema. Você pode ver coisas de diferentes pontos de vista, quase simultaneamente, e isso cria uma nova experiência.”

Leu tudo e se identificou? Confira estes cursos de edição para iniciar ou se aprofundar na área.

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* Fontes consultadas para esse artigo, professores da Academia Internacional de Cinema: Livia Arbex e Samir Cheida

 

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