Academia Internacional de Cinema (AIC)

O que é uma decupagem?

A palavra decupagem vem do francês découpage (do verbo découper, que significa recortar). Na linguagem audiovisual, diz respeito ao processo de dividir as cenas de um roteiro em planos, como parte do planejamento da filmagem.

Basicamente, o diretor precisa “traduzir” o que está escrito no roteiro em imagens, descrevendo em planos como as cenas serão gravadas. Por exemplo, se no um roteiro há um diálogo entre dois personagens, o diretor irá decupar a cena considerando qual a melhor forma de filmar isso: se irá usar plano e contra plano, enquadramento aberto ou fechado, câmera parada ou em movimento, além do tipo de angulação. Ele precisa “ver o filme” em sua mente, para definir a melhor estratégia a ser usada no set.

Um roteiro decupado é aquele que já foi pensado tendo a filmagem como objetivo. Em inglês, a denominação disso é shooting script; já em espanhol, chama-se guión técnico. Há quem utilize também o termo roteiro técnico, para o estágio do desenvolvimento do filme no qual todas as indicações técnicas já foram definidas – inclusive movimentos de câmera e tipos de lente, por exemplo.


“A intuição de um filme, fotogenia embriônica, já pulsa na operação conhecida como decupagem. Segmentação. Criação. Dividir uma coisa para transformá-la em algo diferente. O que não existia antes, agora existe.”

Luis Buñuel


Um pouco de história

 

Alfred Hitchcock, um verdadeiro mestre da decupagem

 

O termo decupagem começou a ser usado de maneira recorrente no cinema a partir dos anos 1910, quando a sétima arte se tornou uma atividade em escala industrial, que passou a demandar uma padronização de processos. Na década de 1940, com o surgimento das teorias de cinema, a palavra decupagem foi empregada também no campo da crítica cinematográfica, para tratar da estrutura do filme como um conjunto ordenado de planos. Mas a noção de decupagem como o processo que vai desde a planificação do roteiro, passando pela filmagem até a montagem se estruturou, de fato, na França dos anos 1950 e 1960.

Inicialmente, o termo era dividido entre dois significados: decupagem (relativa à forma do filme) e decupagem técnica (o detalhamento dos planos a serem filmados, com direções de câmera e edição). Antigamente, os aspectos técnicos eram considerados processos mais manuais do que criativos ou artísticos. Aos poucos, o sentido de decupagem teve sua abrangência ampliada, passando a definir as operações estéticas e industriais para a concepção de um filme, tanto visualmente pelo trabalho da câmera quanto temporalmente, através do sequenciamento de imagens.

A decupagem, planejada na pré-produção e concretizada na filmagem, somente é concluída na sala de edição, quando os planos imaginados pelo diretor são montados. Vale destacar que, no Brasil, esse termo foi usado durante muito tempo, na televisão, como um processo somente relativo à pós-produção: a chamada decupagem de fitas ou minutagem, na qual eram anotadas características de trechos gravados e o minuto específico, para posterior utilização.

 

Importância da decupagem no cinema

O processo de decupagem é importante no fazer cinematográfico porque coloca no papel o planejamento e as ideias para a filmagem de cada cena do roteiro, servindo de orientação para que toda a equipe compreenda exatamente o que precisa ser feito e possa dar suas contribuições específicas. É uma das melhores formas de garantir que todos irão “fazer o mesmo filme”, de acordo com a visão do diretor ou diretora.

 

O detalhismo na decupagem era uma das características do diretor Stanley Kubrick

 

Além disso, essa planificação do roteiro permite que a produção possa organizar o set e seu cronograma, de modo a aproveitar os recursos – locações, atores e outros profissionais da equipe – da melhor forma possível. Ou seja, a decupagem não é somente um processo criativo fundamental para a definição do aspecto visual e narrativo do filme (situando os planos no tempo e no espaço), como ainda torna possível preparar a logística da filmagem.

É preciso ressaltar também que a decupagem não é um processo individual, realizado apenas pelo diretor, mas coletivo e feito com a colaboração de toda a equipe. É nessa fase que o filme será mapeado, planejado e dividido em planos, sendo definidas suas relações de espaço, tempo e ação. É como se a decupagem ajudasse a idealizar e tornar concreto o que foi apenas indicado no roteiro. Ou seja, trata-se de um passo essencial na produção de sentido envolvida na criação de um filme.

 

Passo a passo de uma decupagem

Será que existe maneira certa de fazer uma decupagem? Na verdade, há diversas formas de visualizar um filme e colocá-lo no papel, que variam de acordo com o método de cada diretor ou diretora. Mas alguns passos básicos podem ajudar no desenvolvimento de uma boa decupagem:

 

Quentin Tarantino é conhecido por escrever roteiros praticamente decupados

 

 

Um detalhe importante é não considerar a decupagem como uma regra ou lei, permitindo espaço para improvisação e momentos orgânicos que possam surgir no set, ainda que fujam um pouco do que foi planejado. Afinal, o cinema também é uma arte do improviso.

 

 

Decupar é preciso

Alguns diretores são conhecidos por seus peculiares ou minuciosos processos de decupagem. Alguns exemplos:

Stanley Kubrick

Perfeccionista e obcecado por controle, o diretor era extremamente detalhista na decupagem e tinha uma série de cadernos com pesquisas e anotações diversas sobre seus filmes.

David Fincher

Outro diretor perfeccionista, com uma técnica de decupagem muito precisa. Nos filmes desse cineasta, o roteiro decupado está sempre a serviço da narrativa.

 

 

Quentin Tarantino

O diretor e roteirista se destaca por “decupar no roteiro”, ou seja, muitos de seus roteiros já contam com direções e instruções técnicas, permitindo visualizar como ele pretende filmar.

Alfred Hitchcock

O diretor tinha um estilo muito marcante e clássico de decupagem, utilizando certos tipos de posicionamento de câmera e de enquadramento, de acordo com o teor de cada cena.

 

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Texto de Katia Kreutz / Foto: Divulgação

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