Academia Internacional de Cinema (AIC)

Como Fazer um Roteiro

Como fazer um roteiro

9 passos que os roteiristas profissionais utilizam para fazer seus roteiros, com exemplos e modelos para download.

Por Mônica Wojciechowski com colaboração e consultoria técnica dos professores e roteiristas Clara Meirelles e Paulo Marcelo do Vale

Fazer o roteiro de um filme pode ser uma tarefa hercúlea: exige criatividade, dedicação e persistência para que ideias maturem.

Roteiristas profissionais e experientes muitas vezes demoram anos para escrever e ainda mais tempo para revisar um roteiro e fazer novos tratamentos, ou seja, novas versões da mesma história, a fim de que ela fique perfeita.

Muitos dos longas que conquistaram o público no cinema nacional passaram por um processo extenso de escrita e revisão:

 

Ufa! Mas, isso não é motivo para desistir.

Afinal, já que inspiração não se sustenta sem uma boa dose de transpiração, as grandes histórias, com certeza não foram escritas em uma única sentada em frente ao computador.

Antes de continuarmos com as técnicas, cadastre-se abaixo e receba no seu e-mail os Modelos de Formatação de Roteiro e de Ficha de Personagem.

Para ir realmente a fundo, vale a pena também conhecer os nossos cursos de Roteiro.

 

 

Mas afinal: o que é um Roteiro de Cinema?

Para começar precisamos entender o que é um roteiro e para que ele serve.

Um roteiro nada mais é do que um documento, um guia contendo (basicamente) as cenas e diálogos de um filme ou qualquer outro produto audiovisual.

É como se fosse o filme escrito, antes da gravação.

Ele é essencial para que o projeto tome forma, a produção defina as locações (lugares onde o filme será gravado), o diretor conheça os personagens e possa selecionar os atores, para que os atores conheçam seus personagens e aprendam as suas falas e para que a equipe de produção priorize seu trabalho e decida, por exemplo, a ordem de gravação das cenas.

Doc Comparato, teórico e dramaturgo, define roteiro assim:

É a forma escrita de qualquer audiovisual. É uma forma literária efêmera, pois só existe durante o tempo que leva para ser convertido em um produto audiovisual. No entanto, sem material escrito não se pode dizer nada, por isso um bom roteiro não é garantia de um bom filme, mas sem um roteiro não existe um bom filme.

 

Como começar a escrever um roteiro?

Criamos aqui um passo a passo para ajudá-lo a ordenar o que precisa ser feito para escrever um roteiro, mas, o esforço e determinação são algo pessoal.

Vale lembrar que não existe receita de bolo e que cada autor tem sua própria didática

Os melhores roteiristas leem diversos livros, manuais e fazem muitos cursos antes de se tornarem profissionais.

Mas, consultamos dois roteiristas profissionais, Clara Meirelles e Paulo Marcelo do Vale, professores da Academia Internacional de Cinema (AIC), para tentar facilitar o trabalho de quem está começando.

 

Em resumo:

  1. Planeje – Como Tirar a Ideia da Cabeça e Colocar no Papel
  2. Desenvolva Sua História – Além de uma boa ideia você precisa pesquisar muito
  3. Defina o Conflito do seu filme – Elemento Básico da dramaturgia
  4. Construa personagens consistentes dentro da curva dramática
  5. Faça o Argumento
  6. Desenvolva cada cena: Escaleta, a estrutura do roteiro
  7. Escreva seu ROTEIRO
  8. Revise
  9. Apresente para Alguém e Faça novos Tratamentos

 

1. Planeje – Como Tirar a Ideia da Cabeça e Colocar no Papel

De grandes ideias o mundo está cheio.

Mais do que uma ideia, você precisa de uma história de verdade, com um bom personagem e um excelente conflito (daqui a pouco falaremos mais sobre conflito e personagens).

O que é importante reforçar é que além da história também é importante ter bem claro para quem você está escrevendo, conhecer seu “público”, saber quem pretende atingir.

Outras questões:

Comece fazendo um planejamento, respondendo a essas e outras questões que ache importante.

Desenhe uma estratégia e tenha em mente como torna-la efetiva para que seu projeto saia do papel.

 

2. Desenvolva Sua História – Além de uma boa ideia você precisa pesquisar muito

Grandes filmes nem sempre tem ideias mirabolantes.

Muitas vezes, ideias simples, aquelas que a gente não se perde para contar, acabam rendendo grandes histórias.

Como é o caso do clássico filme francês “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” que parte de uma caixinha que a personagem encontra escondida em seu apartamento, com brinquedos e outros objetos.

A protagonista decide encontrar o dono da caixa para devolvê-la, pois ela acredita ser valiosa para o proprietário. A partir daí toda a história se desenrola.

Uma ideia aparentemente simples, mas desenvolvida com maestria.

Como será que os roteiristas Jean-Pierre Jeunet e Guillaume Laurant tiveram essa boa ideia?

PESQUISA! Sim, muita pesquisa.

Muitas vezes as ideias brotam da observação de pessoas na rua, no metrô, tomando um café ou lendo uma matéria no jornal. O importante é que você não se prenda a ideia romântica da originalidade.

Um novo olhar sobre algo corriqueiro pode render um bom filme.

Cada escritor tem uma técnica, mas todos defendem que uma pesquisa ampla sobre o tema é essencial.

Vá em busca de livros, peças, filmes e outras histórias sobre o mesmo tema.

O que já foi feito e o que você pode acrescentar de novo?

Qual abordagem e linguagem será a mais original?

Também é preciso definir o gênero que está escrevendo. É um drama? Uma comédia? Ou quem sabe uma comédia romântica?

É importante lembrar que um roteiro não conta uma história, ele mostra uma história.

Por isso, um roteirista precisa criar ações que imageticamente traduzam o que ele quer dizer.

Por exemplo, não é no roteiro que você irá descrever minuciosamente um jardim. Você precisa dizer o que acontece no jardim, qual a ação.

 

3. Defina o Conflito do seu filme – Elemento Básico da dramaturgia

A vida é um emaranhado de conflitos.

Temos conflitos diários para resolver, alguns simples como “saio para almoçar ou faço almoço em casa? ”

Nos filmes é a mesma coisa.

O personagem precisa tomar decisões o tempo todo e, como na vida, existem obstáculos.

Na dramaturgia clássica o conflito é gerado a partir da necessidade do personagem, quando ele não consegue cumprir seus objetivos.

Nesse sentido, o conflito geralmente vai contra o protagonista.

O roteirista Robert McKee diz que “em uma história, nada se move para frente se não for através de conflito”.

Pois bem, qual o conflito da sua história?

Se ainda não tem, precisa encontrar.

Assim como na vida também existem diferentes tipos de conflito.

Vamos aos mais clássicos:

As tramas mais complexas abrigam mais de um tipo de conflito.

 

Para que não restem dúvidas sobre o que é conflito, vamos aos exemplos:

Conflito interno: em “Despedida em Las Vegas” Nicolas Cage vive um roteirista alcoólatra que resolve beber até morrer e vive vários conflitos com a sua consciência;

Conflito pessoal: é bem comum nas comédias, como esquecer dos desentendimentos entre Ben Stiller e Robert De Niro em “Entrando numa Fria”?;

Conflito extrapessoal: Julia Roberts vivendo Erin Brockovich e lutando contra a empresa de energia PG&E ou James Franco vivendo o alpinista Aron Ralston que fica preso em uma fenda quando uma pedra cai no filme “127 Horas”.

 

Que tal tentar lembrar o nome de um filme que traga mais de um conflito? Está aí um bom exercício.

Enfim, o que você precisa saber é que todo bom roteiro tem um conflito essencial e deve ser resumido em uma única frase.

 

4. Construa personagens consistentes dentro da curva dramática

Defina os personagens

Os roteiristas são unânimes ao dizer que um bom filme precisa de personagens consistentes.

Syd Field diz que personagem é ação e que não existe personagem sem história, nem história sem personagem.

Você conhece a fundo seu personagem?

Mesmo que essas informações não apareçam no roteiro, quanto mais nuances e camadas você construir mais real ele irá parecer.

Você precisa saber e entender do protagonista como se ele fosse um amigo próximo.

Existem várias técnicas para traçar o perfil de um protagonista.

A mais conhecida são as fichas ou formulários onde o roteirista preenche as informações com as características do personagem.

Preparamos uma ficha para você começar. Ela contém algumas informações básicas e você pode (e deve) incluir outras tantas questões. Lembrando que quanto mais souber do personagem, melhor.

Todos os livros de dramaturgia dedicam um capítulo aos personagens.

O húngaro Lajos Egri, autor de “The Art of Dramatic Writing”, foi o que mais se dedicou ao estudo do personagem.

 

Desenhe a Curva Dramática

 

 

A curva dramática consiste no crescimento da situação dramática até o cume, depois ela começa a descer, até voltar à normalidade.

Ela está intimamente ligada ao arco do personagem.

Por meio de uma trama, um personagem corrige ou não uma falha, supera ou não um trauma.

A curva dramática é a responsável por nos deixar ansiosos ou tensos na poltrona do cinema.

É basicamente as variações de intensidade do filme.

Na curva dramática clássica a história começa de um ponto de partida que mostra o recorte escolhido para apresentar ao espectador a situação, o estado inicial de repouso ou equilíbrio do protagonista.

Por algum motivo há uma ruptura do conforto inicial, então o protagonista parte para a busca de um novo equilíbrio, que é representado pelo crescimento da curva.

O ponto de clímax é o ponto onde o conflito alcança seu grau máximo e se resolve.

 

5. Faça o Argumento

Com a história e o conflito na cabeça é hora de escrever o argumento, que é um documento escrito antes da Escaleta.

O argumento é um texto corrido que conta de forma simples a sua história.

Você deve escrevê-lo em forma de prosa (parágrafos e discurso direto), no tempo presente e mantendo a estrutura de atos: começo, meio e fim.

Também é o momento de apresentar todos os personagens importantes para o enredo.

Não existe muito consenso com relação ao tamanho do argumento. Para autores iniciantes recomenda-se algo em torno de 3 a 5 páginas.

Afinal, você precisa cativar rapidamente um possível produtor que recebe dezenas de projetos semanalmente.

Por fim, leia o argumento em voz alta e dê para outras pessoas lerem e contarem o que entenderam da sua história.

Reescreva quantas vezes achar necessário, para que fique atraente e de fácil entendimento.

 

6. Desenvolva cada cena: Escaleta, a estrutura do roteiro

Após colocar toda a ideia do roteiro no papel através do argumento é hora de estruturar como o roteiro será desenvolvido.

A escaleta é esta estrutura, o esqueleto do roteiro, com o resumo de cada cena.

Ela deve conter a indicação e separação das cenas, as situações e ações do personagem.

Nesse momento você ainda não precisa se preocupar com o diálogo.

Roteiristas profissionais defendem que a escaleta é essencial, é um estudo do roteiro.

É na escaleta que o ritmo do filme deve ser acertado e é também quando a ordem da história será apresentada.

Uma técnica bastante usada é separar as cenas em cartelas, assim você pode mudar a sequência delas.

Post Its coloridos também funcionam. Você pode usar as cores para separar tramas especificas.

 

7. Escreva seu ROTEIRO

Com o argumento escrito e redondo e a escaleta feita é hora de se concentrar nos diálogos.

Nessa fase você já deve conhecer seus personagens mais do que a si mesmo e está pronto para tirar todas as frases da boca dele.

Então, só sentar em frente ao computador e deixar os diálogos fluírem.

Como você já viu por aí, existem padrões de formatação para escrever roteiros e é importante que você os siga.

O mais conhecido e utilizado é o formato Master Scenes.

Nesse formato você irá utilizar a fonte Courier New tamanho 12.

A fonte se parece com as letras das antigas máquinas de escrever e esse padrão fará com que cada página de roteiro corresponda a mais ou menos 1 minuto de cena no filme.

As páginas trarão os seguintes elementos:

Cabeçalho:

O cabeçalho introduz uma nova cena. Geralmente criamos uma nova cena quando existe alguma mudança de espaço (lugar) ou tempo.

O cabeçalho aparece sempre em letras maiúsculas e traz as informações sobre onde a cena acontece e em qual tempo.

Se a cena é dentro de alguma locação usamos a sigla “INT” e se for externa, cenas filmadas em ambientes abertos como praças a indicação é “EXT”.

Veja o exemplo abaixo:

INT. BIBLIOTECA DA ESCOLA – DIA

EXT. PRAÇA DA CIDADE – NOITE

Ação

Depois do cabeçalho vem a ação, que é a descrição do que ocorre na cena, sempre no tempo presente:

“Maria lentamente coloca a mão na maçaneta e abre a porta de casa”.

Por fim, o bloco de diálogo, composto pelo nome do personagem e o que ele fala.

Clique na figura abaixo para visualizar cada um desses elementos e conhecer outros.

 

8. Revise

Depois de pronta a primeira versão, revise.

Não apenas 1 vez, mas 10.

Talvez 100.

Ler em voz alta também é uma técnica bem utilizada.

Você precisa visualizar cada cena que criou e escutar cada frase saindo da boca do protagonista.

 

9. Apresente para Alguém e Faça novos Tratamentos

É muito legal apresentar o roteiro para alguém mais experiente. Se possível para um roteirista profissional.

Para isso existem cursos e laboratórios de roteiro.

Novos olhares em cima de um trabalho que você está debruçado e apegado pode render boas e novas versões.

 

 

Dicas importantes

 

Guia AIC de Roteiro Para Cinema

Se interessou pelo universo da escrita? Então não perca tempo e receba nosso e-book repleto de conteúdo e dicas para escrever suas histórias.

 

 

Deu para perceber que para se tornar roteirista precisa de muita dedicação, esforço e estudo, né?

Mas com esse passo-a-passo dá para começar a se aventurar!

 

 

Se você gostou do artigo e quer conhecer ainda mais, estudar referências e praticar a escrita de roteiros, conheça os nossos cursos na área de Roteiro:

 

Além dos cursos de Roteiro a AIC oferece cursos de cinema que abrangem toda a cadeia produtiva do audiovisual – da ideia à distribuição. Os formatos e duração variam de acordo com a área e com a proposta dos cursos: cursos online ao vivo, cursos mais curtos e concentrados – como os intensivos de férias, cursos semestrais de curta e média duração, cursos anuais de formação livre em áreas específicas do cinema e os cursos Técnicos: Filmworks e Atuação para Cinema e TV, com duração de dois anos. Um catálogo com mais de 50 cursos oferecidos durante todo o ano nas unidades Online, São Paulo e Rio de Janeiro. Confira:

 

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*Além das entrevistas com os roteiristas Paulo Marcelo do Vale e Clara Meirelles, os livros consultados para esse artigo foram: “Manual de Roteiro”, de Leandro Saraiva e Newton Cannito e “O poder do Clímax –  Fundamentos do Roteiro de Cinema e TV”, de Luiz Carlos Maciel.

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