Academia Internacional de Cinema (AIC)

Diretora Ana Carolina Marinho na Semana de Orientação 2024

Semana de Orientação AIC

O segundo dia da Semana de Orientação recebeu a roteirista, diretora, atriz, escritora e ex-aluna do curso de Interpretação da AIC, Ana Carolina Marinho, para um bate-papo sobre o seu processo criativo e como ser uma profissional multitarefas na indústria audiovisual.

Ana iniciou sua palestra compartilhando sobre a sua vinda de Natal (RN) para São Paulo com o desejo de se tornar atriz. Ao chegar, conheceu o teatro documental e aprofundou-se em aprender a contar histórias reais. Nesse período, foi convidada pelo ex-aluno do filmworks e diretor Cristiano Burlan para atuar em Hamlet e, a partir de então, começou a sua carreira no audiovisual.

Como produzir filmes com baixo orçamento?

A diretora foi bastante sincera sobre os desafios enfrentados durante a concepção dos seus filmes, principalmente no que tange os aspectos financeiros. Para ela, os realizadores não devem romantizar os filmes de baixo orçamento, porém não podem deixar de contar as suas histórias esperando a quantia ou o momento ideal.

“Não dá para esperar a situação ideal para começar a produzir. Não estou romantizando a questão de fazer filmes com pouco dinheiro, mas, não podemos não produzi-los.  Na minha trajetória quase nunca deu para fazer filmes nas situações ideais”.

Para ela, um filme que saiu dessa curva foi Mãe, de Cristiano Burlan, no qual ela assinou o roteiro. Mãe é o filme mais convencional, pois seguiu essa regra do cinema feito por editais. Todos os outros foram feitos na Guerrilha. E mesmo assim ele é considerado um filme de baixo orçamento, que são 2 milhões de reais, o que é engraçado porque eu estava acostumada com filmes de 10 mil”.

Filme destaque na Mostra de Tiradentes

Ana Carolina estreou como diretora de longa-metragem no filme “Eu também não Gozei”, que estreou na 27ª Mostra de Tiradentes. Ela dividiu sobre como a história surgiu, quando soube que uma amiga estava grávida e com 4 homens podendo ser o pai. Quando ela soube da história, surgiu o interesse em fazer um filme e, logo na semana seguinte, começaram as filmagens.

“Não tínhamos tempo para edital, já estávamos no terceiro mês de gestação. Não sabia o que seria do filme, ele foi se desenrolando no processo de gravidez dela. Poderia virar um curta-metragem ou um longa. Não sabíamos quando e como ele iria terminar”.

Sem um roteiro pré-estabelecido, Ana compartilhou que as filmagens eram pensadas em cima do cronograma mensal de Leticia Bassit, personagem principal, e, a partir daí, iam desenhando o que poderia ser interessante para o filme.

Sobre a falta da presença física das figuras masculinas no filme e no desafio de abordar um assunto denso e bastante presente na sociedade, como abandono parental, ela diz que a não fisicalidade dessas figuras foi feita de maneira estratégica, mostrando a ausência deles durante aquela gestação.

“A ausência dos pais é a presença deles no filme, então não tem rosto e não tem nome, a ausência é sentida do início ao fim. Isso é uma escolha estética e política porque queríamos transformar essa ausência em linguagem, mas também é o que era possível”, respondeu Ana Carolina.

Machismo no Audiovisual

Algumas das perguntas feitas pelo público foram como driblar situações enfrentadas pelas mulheres em um mercado ainda monopolizado por homens.

Para Ana Carolina, o machismo existe, porém não foi o principal fator que a esbarrou em seus trabalhos. Para ela, o fato de ser nordestina a tirou de mais locais e oportunidades.

“Mais do que ser mulher, é ser nordestina. Minhas alianças foram fundamentais para me proteger de muitas situações. O fato de ser nordestina, apesar de não estar no estigma nordestino, que cruza questões raciais, fez com que a minha fala me retirasse de muitos lugares. Isso é algo que eu tenho consciência e vivi muito nessa cidade”.

Segunda Ana Carolina, ela viveu a misoginia escancarada durante o Festival de Tiradentes ao ouvir comentários, como “se bem que ela (a protagonista) poderia ter pedido para os homens usarem camisinha” ou “esse filho aí é meu, vou cobrar paternidade”. Ana compartilhou que ela e toda a equipe ficaram paralisadas e horrorizadas com os comentários, sem saber como reagir.

Mais mulheres no audiovisual

Para aumentar a representatividade de mulheres no audiovisual, ela sugeriu que as mulheres participem de editais e festivais voltados para realizadoras, pois muitos desses eventos promovem debates e diálogos, oferecendo oportunidades para conhecer outras profissionais. Além disso, destaca a importância de estabelecer parcerias e construir alianças, permitindo sinalizar se algum amigo(a) ultrapassou determinados limites.

Um dos festivais recomendados por ela é o Cine Marias, em Vitória (ES), que não apenas promove debates, mas também se preocupa com a capacitação das mulheres. A discussão inclui a ausência de figuras femininas liderando equipes criativas e a predominância de mulheres na direção de documentários em comparação com a ficção.”

Assumir diferentes funções em um set de filmagem

Realidade de muitos profissionais do audiovisual, Ana Carolina – que começou na atuação – percebeu que teria que desenvolver seus próprios projetos para conseguir permanecer na área. “Quando eu migrei eu não cumpria uma série de expectativas para me encaixar no projeto de outras pessoas, então entendi que precisaria construir meus personagens para me encaixar e comecei a produzir meus próprios projetos”.

Para ela, uma situação inusitada é trabalhar em uma só área, como é o caso de ser roteirista em um longa-metragem de animação de uma grande produtora, que ela preferiu não entrar em detalhes.

Como é o processo de construção de um roteiro

O processo de roteirizar é visualizar o filme na sua cabeça. Para Ana Carolina, o roteirista deve ser cauteloso para não invadir a função e a criatividade de outros profissionais, como diretores e diretores de fotografia. “Nenhum roteiro que eu faço tem planos, eu simplesmente descrevo a cena. Esse é meu processo, eu penso em tudo, mas não coloco o que cada função deve fazer. Se você é roteirista, eu acho de bom tom e generoso dar espaço para os diretores e diretores de fotografia pensarem e decuparem com os seus olhares”.

Além disso, ela defende a função da montagem para além de só editar o material, mas como um novo filme contado. “A montagem não é só uma edição de como foi roteirizado, a montagem pode mudar o filme inteiro e precisamos dar espaço para outras pessoas criarem e construírem”.

 

Semana de Orientação

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*Texto Caroline Cherulli e Fotos Victor Poncioni.

 

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