{"id":9225,"date":"2014-02-28T08:54:54","date_gmt":"2014-02-28T11:54:54","guid":{"rendered":"http:\/\/www.aicinema.com.br\/?p=9225"},"modified":"2018-08-27T16:44:59","modified_gmt":"2018-08-27T19:44:59","slug":"o-papel-do-ator","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/o-papel-do-ator\/","title":{"rendered":"O Papel do ATOR"},"content":{"rendered":"<p><b><a href=\"https:\/\/aicinema.com.br\/professor\/henrique-zanoni\/\">Henrique Zanoni<\/a><\/b>, ator e professor do <a href=\"https:\/\/aicinema.com.br\/curso\/interpretacao-para-cinema\/\" target=\"_blank\" rel=\"noopener\"><b>Curso de Interpreta\u00e7\u00e3o para Cinema<\/b><\/a> da Academia Internacional de <a href=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/dia-do-refugiado-05-filmes-que-retratam-historias-de-esperanca\/\">Cinema<\/a> (AIC) <a href=\"https:\/\/aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2014\/02\/Henrique-Zanoni.jpg\"><img decoding=\"async\" class=\" wp-image-9227 alignright\" style=\"border: 2px solid black;\" src=\"https:\/\/aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2014\/02\/Henrique-Zanoni.jpg\" alt=\"OLYMPUS DIGITAL CAMERA\" width=\"332\" height=\"442\" \/><\/a>protagonizou diversos filmes, entre eles os longas \u201cSinfonia de Um Homem S\u00f3\u201d, \u201cAmador\u201d e \u201cDilema do Prisioneiro\u201d. Apaixonado pelo que faz, acredita que cada trabalho \u00e9 \u00fanico e que, para produzir mais e melhor, \u00e9 preciso estar sempre rodeado de pessoas interessantes e potentes. Em entrevista exclusiva para a comunica\u00e7\u00e3o da AIC, Henrique fala sobre seu trabalho, sobre suas cren\u00e7as como ator e d\u00e1 dicas valiosas para quem quer se jogar de cabe\u00e7a no mundo da atua\u00e7\u00e3o para cinema. Confira!<\/p>\n<p><b>Deixe seu e-mail e Receba&#8230;<\/b><\/p>\n<p>Convite para eventos gratuitos, entrevistas e dicas, promo\u00e7\u00f5es e descontos nos cursos da AIC<\/p>\n<p><script type=\"text\/javascript\" src=\"\/\/mautic.aicinema.com.br\/form\/generate.js?id=19\"><\/script><br \/>\n<b> <\/b><br \/>\n<b> <\/b><br \/>\n<b> <\/b><br \/>\n<b> <\/b><\/p>\n<h4><b>A Entrevista<\/b><\/h4>\n<p><b>AIC &#8211; \u00c9 importante fazer curso espec\u00edfico para atuar em cinema? Por qu\u00ea?<\/b><b><\/b><\/p>\n<p><b>Henrique Zanoni:<\/b> Uma das coisas que me maravilha no of\u00edcio de ator, seja no teatro ou no cinema, \u00e9 que acaba&#8230;mas nunca estamos prontos! Ou seja, quando nos preparamos para um empreitada art\u00edstica, sabemos que podemos mergulhar no processo criativo at\u00e9 nosso limite, porque aquilo tem um prazo de validade. Mas voc\u00ea constantemente, repito, seja no cinema ou no teatro, sempre pode ir al\u00e9m, agregar, somar, subtrair. Dessa maneira, acredito que qualquer forma\u00e7\u00e3o \u2013 considerando, claro, aqueles que cada um julgar interessante \u2013 \u00e9 v\u00e1lida.<\/p>\n<p>Dada todas as quest\u00f5es envolvidas no fazer cinematogr\u00e1fico e suas especificidades, claro que um curso ajuda, e muito! Principalmente quando ouvimos \u201ca\u00e7\u00e3o\u201d! Mas acredito que a forma\u00e7\u00e3o vai muito al\u00e9m de apenas um curso. \u00c9 uma forma\u00e7\u00e3o di\u00e1ria, constante.<\/p>\n<p><b>AIC &#8211; <\/b><b>Muitos atores de cinema e TV parecem n\u00e3o conseguir fugir de caricaturas, parecem sempre ser o mesmo personagem. Como fugir disso?<\/b><b><\/b><\/p>\n<p><b>H.Z.: <\/b>Claro que todos os atores possuem m\u00e9todos, rituais, exerc\u00edcio, t\u00e9cnicas etc., para criar seus personagens. Mas isso n\u00e3o pode representar UM m\u00e9todo, UM exerc\u00edcio. Temos que nos deixar aberto para o imprevisto, para o jogo com o outro, para a c\u00e2mera, enfim, para todas os acasos e for\u00e7as que nos s\u00e3o colocados, a todo momento, num processo criativo.<\/p>\n<figure id=\"attachment_9239\" aria-describedby=\"caption-attachment-9239\" style=\"width: 300px\" class=\"wp-caption alignleft\"><a href=\"https:\/\/aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2014\/02\/eu-na-obra.jpg\"><img decoding=\"async\" class=\"size-medium wp-image-9239\" src=\"https:\/\/aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2014\/02\/eu-na-obra-300x196.jpg\" alt=\"Henrique em cena do filme &quot;Sinfonia de Um Homem S\u00f3&quot;, de Cristiano Burlan.\" width=\"300\" height=\"196\" \/><\/a><figcaption id=\"caption-attachment-9239\" class=\"wp-caption-text\">Henrique em cena do filme &#8220;Sinfonia de Um Homem S\u00f3&#8221;, de Cristiano Burlan.<\/figcaption><\/figure>\n<p>Acho tamb\u00e9m que todo ator \u2013 na realidade, todo n\u00f3s! \u2013 temos nossos muletas, nossos clich\u00eas, nossos portos seguros. Como diz Deleuze, ao pegar um papel em branco (um quadro ou um personagem, por exemplo), na verdade ele est\u00e1 cheio de clich\u00eas, de lugares comum. O verdadeiro processo est\u00e1 em limpar a \u201c\u00e1rea\u201d para que novas coisas possam surgir. Como fazer isso? Talvez essa seja um grande pergunta!<\/p>\n<p>E, vale ressaltar, que trabalhar com pessoas em quem voc\u00ea confia ou acredita ou te desafia, \u00e9 de enorme valia. N\u00e3o estou falando em ser bonzinho, ou agrad\u00e1vel; nada disso. Mas algo deve mover o seu \u201cest\u00f4mago\u201d, seu instinto. Se n\u00e3o, n\u00e3o vale a pena.<\/p>\n<p><b>AIC &#8211; <\/b><b>Algumas pessoas questionam as t\u00e9cnicas usadas em cursos de prepara\u00e7\u00e3o de atores. Qual a sua opini\u00e3o?<\/b><b><\/b><\/p>\n<p><b>H.Z.: <\/b>Na minha concep\u00e7\u00e3o e nos trabalhos que tenho realizado ou de pessoas que acompanho, essa quest\u00e3o do preparador de atores \u00e9 um pouco complicada. Isso por tr\u00eas motivos principais:<\/p>\n<p>Em primeiro lugar, acredito que o ator seja o diamante bruto mais precioso para um filme. Nesse sentido, como voc\u00ea ir\u00e1 colocar um terceiro e n\u00e3o o pr\u00f3prio diretor, para lapidar esse mist\u00e9rio? Por mais que o diretor passe as diretrizes para o preparador, as caracter\u00edsticas ou seja l\u00e1 o que for, as coisas acontecem nos ensaios. Ou melhor, em pequenos instantes dentre de cada ensaio. E voc\u00ea vai deixar isso para outro? Se considerarmos a experi\u00eancia como algo fundamental, mas experi\u00eancia num sentido forte da palavra, como por exemplo colocado pelo fil\u00f3sofo Jorge Larossa, ent\u00e3o usar um preparador significa tirar nossa capacidade de experimentar! Acredito que as possibilidades de potencialidades, cruzamentos etc., ficam bem prejudicadas.<\/p>\n<p>Em segundo lugar, citaria uma cena que fiz com Jean-Claude Bernardet em meu \u00faltimo longa-metragem, \u201cAmador\u201d, de Cristiano Burlan, em que ele fala que a exist\u00eancia de preparadores de elenco \u00e9 uma defici\u00eancia na forma\u00e7\u00e3o dos diretores. O teatro \u00e9 a morada do ator. Ent\u00e3o, acho que qualquer diretor deveria passar por essa experi\u00eancia. Mas n\u00e3o s\u00f3 isso. \u00c9 preciso ter refer\u00eancias interessantes na m\u00fasica, nas artes pl\u00e1sticas, no cinema etc. Ser diretor \u00e9 uma enorme dificuldade! Mas acho que quando lidamos com diretores assim, todo o trabalho \u00e9 profundamente mais potente.<\/p>\n<p>Por fim tamb\u00e9m acho que os atores tem sua parcela de culpa. Claro que se voc\u00ea \u00e9 selecionado para um filme que tenha preparador de elenco, voc\u00ea vai se adaptar. Mas os atores s\u00e3o, muitas vezes, pessoas desinteressantes e desinteressadas. Existe um trabalho anterior a todo papel que \u00e9 extremamente desgastante e obsessivo, que pensamos somente naquele filme ou pe\u00e7a, tudo se relaciona \u00e0quilo. Nesse sentido, voc\u00ea \u00e9 o que voc\u00ea l\u00ea, o que voc\u00ea ouve, o que voc\u00ea fala, o que voc\u00ea come. N\u00e3o d\u00e1 para colocar o p\u00e9 no esgoto e sair cheiroso! \u00c9 preciso haver essa \u00e9tica do cuidado de si para, quem sabe um dia, chegarmos a fazermos da nossa pr\u00f3pria vida uma obra de arte, como dizia Nietzsche.<\/p>\n<figure id=\"attachment_9240\" aria-describedby=\"caption-attachment-9240\" style=\"width: 300px\" class=\"wp-caption alignright\"><a href=\"https:\/\/aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2014\/02\/tiro.jpg\"><img decoding=\"async\" class=\"size-medium wp-image-9240\" src=\"https:\/\/aicinema.com.br\/wp-content\/uploads\/2014\/02\/tiro-300x200.jpg\" alt=\"Com o diretor e amigo Cristiano Burlan em loca\u00e7\u00e3o do filme &quot;Sinfonia de Um Homem S\u00f3&quot;.\" width=\"300\" height=\"200\" \/><\/a><figcaption id=\"caption-attachment-9240\" class=\"wp-caption-text\">Com o diretor e amigo Cristiano Burlan em loca\u00e7\u00e3o do filme &#8220;Sinfonia de Um Homem S\u00f3&#8221;.<\/figcaption><\/figure>\n<p><b>AIC &#8211; <\/b><b>Alguns defendem que o ator deve chegar para filmar em um estado de \u201cvirgindade\u201d, de pureza, para que n\u00e3o seja influenciado por estere\u00f3tipos do senso comum. Que quanto mais intuitivo e espont\u00e2neo for o trabalho do ator, melhor ser\u00e1. O que pensa sobre isso? <\/b><\/p>\n<p><b>H.Z.: <\/b>Acho que cada trabalho \u00e9 um trabalho. E por isso que acredito que estar cercado de pessoas interessantes e potentes tem que ser um princ\u00edpio b\u00e1sico! N\u00e3o sei se existe regra \u2013 seja dessa virgindade, seja de uma longa prepara\u00e7\u00e3o pr\u00e9via. Cada filme, mas tamb\u00e9m cada estrutura de produ\u00e7\u00e3o, muda muito a pr\u00f3pria prepara\u00e7\u00e3o e concep\u00e7\u00e3o do filme. E tamb\u00e9m \u00e9 necess\u00e1rio levar em conta a pr\u00f3pria pesquisa ou perspectiva, seja do diretor seja da linguagem. Bresson preferia o primeiro tipo, os n\u00e3o-atores. Mas se for fazer um filme do David Lynch, claro que a perspectiva \u00e9 outra. N\u00e3o podemos querer olhar um Pollack numa perspectiva de Velazques.<\/p>\n<p>No trabalho que estamos desenvolvendo, eu e o Cristiano \u2013 estamos indo para nosso 4 longa-metragem juntos pela Bela filmes &#8211; esses pap\u00e9is ficam cada vez mais confusos! Claro que no final ele \u00e9 o diretor, mas temos um jeito de construir as coisas de maneira bem aberta. Obvio que no final existe algu\u00e9m que manda! Mas em todas as etapas, participo ativamente das discuss\u00f5es. Quando n\u00e3o tenho esse modo de trabalhar, ou seja, com um <a href=\"https:\/\/www.aicinema.com.br\/como-fazer-um-roteiro\/\">roteiro<\/a> pr\u00e9-determinado e uma certa dist\u00e2ncia desse outro processo, depende um pouco das diretrizes dos diretores. Alguns sentam e te falam durante horas sobre o personagem, filme, etc. e voc\u00ea come\u00e7a a sugerir coisas. Outros, pedem para fazer um trabalho mais longo, digamos assim, na pr\u00e9via do filme. Mas em ambos os casos, o ator tem muito trabalho para fazer antes de chegar a hora da A\u00e7\u00e3o.<\/p>\n<p><b>AIC &#8211; <\/b><b>O que um ator precisa saber para atuar no cinema?<\/b><b><\/b><\/p>\n<p><b>H.Z.: <\/b>Especificamente no cinema, acho que existe uma coisa fundamental que o Bergman chamava da dan\u00e7a entre o ator e a c\u00e2mera. A c\u00e2mera \u00e9 um monstro e precisamos saber como dom\u00e1-la, como fazer com que joguemos juntos. Al\u00e9m disso, no cinema, nossa rela\u00e7\u00e3o com a voz (pela utiliza\u00e7\u00e3o de microfones) e com o corpo (enquadramentos etc.) \u00e9 bem espec\u00edfica. Uma outra coisa diz respeito ao pr\u00f3prio processo f\u00edlmico: filmamos de cenas em ordens totalmente subordinadas \u00e0 produ\u00e7\u00e3o. Dessa maneira, precisamos desenvolver nossa capacidade para se adaptar a isso. Mas, novamente, acredito que um ator deve estar constantemente se experimentando, se desafiando em v\u00e1rias \u00e1reas e depois se adaptar as singularidades de cada situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n<p><b>AIC &#8211; <\/b><b>Como os movimentos de c\u00e2mera e os \u00e2ngulos escolhidos pelo diretor influenciam na performance do ator?<\/b><b><\/b><\/p>\n<p><b>H.Z.: <\/b>Acho que a pr\u00f3pria estrutura de produ\u00e7\u00e3o j\u00e1 impacta nessa quest\u00e3o. Se filmamos para 5 c\u00e2meras ou para 1, faz toda diferen\u00e7a. Precisamos sempre, na medida do poss\u00edvel, saber qual enquadramento, movimento etc., para nos adaptarmos a cada situa\u00e7\u00e3o e, quem sabe, podermos contribuir no desenho da cena, do filme. Ainda mais no cinema, onde selecionamos para onde e como deve seguir o olhar do espectador. Caso tenhamos apenas uma c\u00e2mera, por exemplo, muito pr\u00f3xima de voc\u00ea, podemos trazer as palavras para perto do peito ou do est\u00f4mago. Se for em uma cena aberta, no meio da cidade, talvez seja necess\u00e1rio \u201caumentar\u201d um pouco gesto e volumes. Mas, no final das contas, a situa\u00e7\u00e3o vai nos dizer do que precisa e, \u00e9 claro, um diretor que sabe o que faz \u2013 o que n\u00e3o significa n\u00e3o experimente, n\u00e3o erre, n\u00e3o fa\u00e7a por instinto.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"<p>Henrique Zanoni, ator e professor do Curso de Interpreta\u00e7\u00e3o para Cinema da Academia Internacional de Cinema (AIC) protagonizou diversos filmes, entre eles os longas \u201cSinfonia de Um Homem S\u00f3\u201d, \u201cAmador\u201d e \u201cDilema do Prisioneiro\u201d. 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