{"id":20305,"date":"2019-02-26T16:02:20","date_gmt":"2019-02-26T19:02:20","guid":{"rendered":"http:\/\/aicinema.site.brtloja.com.br\/?p=20305"},"modified":"2024-04-11T18:08:54","modified_gmt":"2024-04-11T21:08:54","slug":"a-historia-do-cinema-brasileiro","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/a-historia-do-cinema-brasileiro\/","title":{"rendered":"A Hist\u00f3ria do Cinema Brasileiro"},"content":{"rendered":"

A hist\u00f3ria do cinema<\/a> brasileiro pode ser dividida em \u00e9pocas muito distintas, que de certa forma moldaram as produ\u00e7\u00f5es nacionais no decorrer de mais de um s\u00e9culo da s\u00e9tima arte no pa\u00eds. Em nossa historiografia cinematogr\u00e1fica, esses per\u00edodos incluem os primeiros filmes e o dom\u00ednio de Hollywood<\/strong><\/a>, o surgimento do cinema sonoro, as chanchadas, o Cinema Novo<\/strong><\/a> e o \u201cudigr\u00fadi\u201d, a Embrafilme, a crise dos anos 1980, a Retomada e a P\u00f3s-Retomada.<\/p>\n

O\u00a0cinema teve seu pontap\u00e9 inicial no Brasil em 1896, quando foram exibidos no Rio de Janeiro uma s\u00e9rie de filmes curtos retratando o cotidiano nas cidades europeias. Depois dessa primeira exibi\u00e7\u00e3o, o pa\u00eds construiu uma hist\u00f3ria cinematogr\u00e1fica rica e variada, que atravessou muitas fases e conquistou reconhecimento ao redor do mundo. Ao longo de seus diferentes per\u00edodos hist\u00f3ricos, as obras cinematogr\u00e1ficas brasileiras acompanharam e incorporaram influ\u00eancias do contexto social, econ\u00f4mico, cultural e pol\u00edtico do pa\u00eds.<\/p>\n

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Hoje, nosso mercado interno ainda \u00e9 muito influenciado por filmes estrangeiros, embora as iniciativas para o fomento da ind\u00fastria e a busca por profissionaliza\u00e7\u00e3o na \u00e1rea estejam se ampliando.<\/p>\n

Segundo dados da Ag\u00eancia Nacional do Cinema (ANCINE)<\/a>, no ano de 2017 o p\u00fablico de filmes nacionais ultrapassou 17 milh\u00f5es de espectadores, gerando uma renda de 240 milh\u00f5es de reais. Entre os 463 longas-metragens lan\u00e7ados no pa\u00eds, 160 eram brasileiros. <\/b>
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O Pagador de Promessas (1962) de Anselmo Duarte<\/figcaption><\/figure>\n

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Primeiros filmes<\/strong><\/h3>\n

Os irm\u00e3os italianos Paschoal Affonso e Segreto podem ser considerados os primeiros cineastas do pa\u00eds, j\u00e1 que realizaram grava\u00e7\u00f5es da Ba\u00eda de Guanabara em 19 de junho de 1898. Embora n\u00e3o exista registro desse material, a data \u00e9 considerada, at\u00e9 hoje, o Dia do Cinema Brasileiro.<\/p>\n

A estrutura\u00e7\u00e3o do mercado exibidor no pa\u00eds se deu entre 1907 e 1910. Naquela \u00e9poca, a falta de eletricidade dificultava a implanta\u00e7\u00e3o de salas de cinema, muitas das quais possu\u00edam suas pr\u00f3prias equipes de filmagem. A maior parte dos filmes exibidos, no entanto, era importada de outros pa\u00edses \u2013 principalmente da Europa.<\/p>\n

Os primeiros filmes gravados no pa\u00eds foram, em sua maioria, documentais. O curta-metragem Os Estranguladores<\/em> (1908), de Francisco Marzullo e Ant\u00f4nio Leal, \u00e9 considerado a primeira pel\u00edcula de fic\u00e7\u00e3o do Brasil. J\u00e1 o primeiro longa-metragem foi O Crime dos Banhados<\/em> (1914), dirigido por Francisco Santos.<\/p>\n

As produ\u00e7\u00f5es de fic\u00e7\u00e3o, conhecidas como filmes \u201cposados\u201d, eram realizadas pelos propriet\u00e1rios das salas de cinema do Rio de Janeiro e S\u00e3o Paulo. Muitas das hist\u00f3rias eram inspiradas em crimes reais, mas havia algumas com\u00e9dias. Os chamados filmes \u201ccantados\u201d, nos quais os atores dublavam a si mesmos por tr\u00e1s da tela, tamb\u00e9m fizeram sucesso nesse per\u00edodo. Outra f\u00f3rmula bem-sucedida junto ao p\u00fablico eram as adapta\u00e7\u00f5es para o cinema de obras liter\u00e1rias.<\/p>\n

O mercado nacional sofreu mudan\u00e7as estruturais durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Com a diminui\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o europeia, as salas de exibi\u00e7\u00e3o brasileiras passaram a ser dominadas pelos filmes de Hollywood<\/strong><\/a> (que entravam no pa\u00eds isentos de taxas alfandeg\u00e1rias), fator esse que tamb\u00e9m enfraqueceu o cinema produzido localmente.<\/p>\n

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Ganga Bruta (1933) de Humberto Mauro<\/figcaption><\/figure>\n

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J\u00e1 na d\u00e9cada de 1930, foi criado o primeiro grande est\u00fadio do Brasil: a Cin\u00e9dia. Os filmes brasileiros mais relevantes desse per\u00edodo foram Limite<\/em> (1931), de Mario Peixoto, A Voz do Carnaval <\/em>(1933), de Ademar Gonzaga e Humberto Mauro, e Ganga Bruta<\/em> (1933) de Humberto Mauro. Foi tamb\u00e9m nessa \u00e9poca que se propagou no pa\u00eds o cinema sonoro, cujo filme nacional pioneiro foi a com\u00e9dia Acabaram-se os Ot\u00e1rios (<\/em>1929), de Luiz de Barros.<\/p>\n

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Dom\u00ednio de Hollywood<\/strong><\/h3>\n

Entre os anos 1930 e 1940, as distribuidoras de filmes norte-americanos no pa\u00eds investiram em publicidade e equiparam as salas de cinema para vender seus talkies<\/em> (filmes falados). O p\u00fablico acabou se adaptando \u00e0s legendas e se acostumou ao estilo que caracterizou o cinema<\/strong> cl\u00e1ssico<\/strong><\/a> de Hollywood: narrativas lineares, com in\u00edcio, meio e fim bem definidos, geralmente com finais felizes.<\/p>\n

Assim, a Cin\u00e9dia passou a produzir filmes com aspectos que lembravam as produ\u00e7\u00f5es hollywoodianas: hist\u00f3rias rom\u00e2nticas, musicais, com grandes cen\u00e1rios e estrelas como Carmem Miranda. Exemplos disso s\u00e3o os filmes Al\u00f4, Al\u00f4, Brasil<\/em> (1935), Al\u00f4, Al\u00f4, Carnaval<\/em> (1936), Bonequinha de Seda<\/em> (1936) e Pureza<\/em> (1940). No entanto, as produtoras nacionais n\u00e3o foram capazes de alavancar o mercado: dos 409 filmes lan\u00e7ados em 1942 no pa\u00eds, apenas um era brasileiro.<\/p>\n

\u201cOs primeiros longas-metragens realizados no Brasil copiavam a est\u00e9tica do cinema americano. Um dos exemplos s\u00e3o os est\u00fadios da Vera Cruz, inaugurados em 1949, em cujos filmes encontramos a est\u00e9tica hollywoodiana\u201d, explica Lucilene Pizoquero, pesquisadora do Cinema Brasileiro e professora da AIC.<\/p>\n

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O primeiro filme brasileiro a vencer o pr\u00eamio internacional no Festival de Cannes saiu dessa produtora: O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto.<\/figcaption><\/figure>\n

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Com seus grandes est\u00fadios e equipamentos modernos, diretores estrangeiros e elencos fixos, a cria\u00e7\u00e3o da Vera Cruz foi um verdadeiro marco da industrializa\u00e7\u00e3o do cinema no pa\u00eds. O primeiro filme brasileiro a vencer o pr\u00eamio internacional no Festival de Cannes<\/a> saiu dessa produtora: O Cangaceiro<\/em> (1953), de Lima Barreto. J\u00e1 as com\u00e9dias de Mazzaropi obtiveram enorme sucesso de p\u00fablico.<\/p>\n

Em 1950, surgiu a primeira emissora de televis\u00e3o no pa\u00eds, a Tupi, fazendo com que alguns atores do cinema migrassem para a TV. Alguns anos depois, em 1954, as dificuldades de distribui\u00e7\u00e3o e as d\u00edvidas acabaram levando a Vera Cruz \u00e0 fal\u00eancia. Nesse mesmo ano, foi lan\u00e7ado o primeiro filme em cores do Brasil: Destino em Apuros<\/em>, de Ernesto Remani.<\/p>\n

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As chanchadas<\/strong><\/h3>\n

O g\u00eanero das chanchadas (filmes c\u00f4micos, musicais, de baixo or\u00e7amento) despontou na d\u00e9cada de 1940, com a funda\u00e7\u00e3o da empresa carioca Atl\u00e2ntida Cinematogr\u00e1fica, cujos principais atores foram Oscarito, Grande Otelo e Anselmo Duarte. Embora os investimentos em estrutura fossem poucos, a bem-sucedida ideia da Atl\u00e2ntida era manter uma produ\u00e7\u00e3o constante, em parceria com um circuito exibidor para a distribui\u00e7\u00e3o dos filmes \u2013 no caso, o grupo de Luiz Severiano Ribeiro.<\/p>\n

Tendo como principal tema o carnaval, a Atl\u00e2ntida produziu in\u00fameras com\u00e9dias musicais, de tramas f\u00e1ceis e apelo popular, como Este Mundo \u00e9 um Pandeiro<\/em> (1947) e Carnaval no Fogo<\/em> (1949), ambos de Watson Macedo. \u201cOs filmes carnavalescos possu\u00edam a est\u00e9tica do teatro de revista brasileiro: narrativa frouxa costurada por n\u00fameros musicais, com os grandes artistas do r\u00e1dio. J\u00e1 a chanchada agregou a gag<\/em> ao novo g\u00eanero, tipicamente brasileiro\u201d, ressalta Lucilene.<\/p>\n

Al\u00e9m do carnaval, as hist\u00f3rias passaram a explorar a com\u00e9dia de costumes e os tipos folcl\u00f3ricos do Rio de Janeiro. Exemplos de s\u00e1tiras dessa \u00e9poca s\u00e3o Nem Sans\u00e3o Nem Dalila<\/em> (1954) e Matar ou Correr<\/em> (1954), de Carlos Manga.<\/p>\n

Embora o p\u00fablico gostasse das chanchadas, a cr\u00edtica as considerava ruins. O pr\u00f3prio nome vem da palavra espanhola para \u201csafadeza\u201d. Eventualmente, essa f\u00f3rmula acabou se esgotando e o cinema brasileiro foi tomado por movimentos revolucion\u00e1rios, influenciados pelos vanguardistas europeus.<\/p>\n

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Cinema Novo e \u201cudigr\u00fadi\u201d<\/strong><\/h3>\n

Um dos precursores do Cinema Novo<\/strong><\/a> no Brasil foi o filme Rio, 40 Graus<\/em> (1955), de Nelson Pereira dos Santos. Uma leva de jovens cineastas passou a questionar as tentativas da ind\u00fastria cinematogr\u00e1fica brasileira de imitar Hollywood. O foco desse novo tipo de cinema estava nas tem\u00e1ticas populares, com preocupa\u00e7\u00f5es de cunho social e pol\u00edtico, e na busca pelo realismo, em favor de uma arte aut\u00eantica.<\/p>\n

\u201cA \u2018est\u00e9tica da fome\u2019, termo criado por Glauber Rocha, surgiu com o Cinema Novo, inspirada nas obras de baixo or\u00e7amento das produ\u00e7\u00f5es Neorrealistas<\/strong><\/a> italianas e da Nouvelle Vague<\/strong><\/a> francesa. Em um pa\u00eds subdesenvolvido, os parcos recursos se transformaram em est\u00e9tica\u201d, observa Lucilene Pizoquero. Com o mote \u201cuma c\u00e2mera na m\u00e3o e uma ideia na cabe\u00e7a\u201d, Glauber liderou um movimento que repercute at\u00e9 a atualidade na cultura cinematogr\u00e1fica mundial.<\/p>\n

Considerado um dos maiores cineastas brasileiros, Glauber Rocha dirigiu alguns dos filmes que se tornaram s\u00edmbolos do Cinema Novo, como Deus e o Diabo na Terra do Sol<\/em> (1964), Terra em Transe<\/em> (1967) e O Drag\u00e3o da Maldade Contra o Santo Guerreiro<\/em> (1968). Destacam-se, tamb\u00e9m, Vidas Secas<\/em> (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e Os Fuzis<\/em> (1964), de Ruy Guerra.<\/p>\n

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Vidas Secas (1938) de Graciliano Ramos<\/figcaption><\/figure>\n

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Em pleno regime militar, entre o final da d\u00e9cada de 1960 e o in\u00edcio de 1970, outro grupo de cineastas optou por um movimento mais radical: o cinema marginal (ou \u201cudigr\u00fadi\u201d, termo que brinca com a palavra underground<\/em>, que denominava os artistas da contracultura norte-americana). A \u201cest\u00e9tica do lixo\u201d, proposta por esses diretores, rejeitava as f\u00f3rmulas tradicionais de narrativa e buscava um cinema experimental. Os principais expoentes desse movimento foram Rog\u00e9rio Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha<\/em>) e J\u00falio Bressane (Matou a Fam\u00edlia e Foi ao Cinema<\/em>).<\/p>\n

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A Embrafilme<\/strong>\u00a0<\/strong><\/h3>\n

A cria\u00e7\u00e3o da Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes), em 1969, \u00a0teve o objetivo de financiar as produ\u00e7\u00f5es cinematogr\u00e1ficas que se alinhassem \u00e0s exig\u00eancias do governo militar. Sob o controle do estado, uma ind\u00fastria nacional passou a se estruturar, regulamentada pelo Conselho Nacional de Cinema (Concine). A ideia era promover uma conquista de mercado pelo cinema brasileiro \u2013 ou pelo menos para os filmes que fossem aprovados pela censura.<\/p>\n

A exibi\u00e7\u00e3o de longas nacionais nas salas de cinema de todo o pa\u00eds tamb\u00e9m foi estimulada, o que culminou em alguns sucessos de bilheteria, incluindo Dona Flor e Seus Dois Maridos<\/em> (1976), de Bruno Barreto, cujo recorde de p\u00fablico (10,7 milh\u00f5es de espectadores) foi superado apenas em 2010, com o lan\u00e7amento de Tropa de Elite 2<\/em>, de Jos\u00e9 Padilha. As com\u00e9dias dos Trapalh\u00f5es<\/em> tamb\u00e9m atra\u00edram milhares de pessoas aos cinemas, naquela \u00e9poca.<\/p>\n

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Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), adaptado por Bruno Barreto, Eduardo Coutinho<\/a> e Leopoldo Serran, foi baseado no livro hom\u00f4nimo de Jorge Amado. A dire\u00e7\u00e3o de fotografia \u00e9 de Murilo Salles.<\/figcaption><\/figure>\n

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Ao mesmo tempo em que a Embrafilme impulsionava a produ\u00e7\u00e3o cinematogr\u00e1fica de vi\u00e9s comercial, os cineastas paulistanos da chamada Boca do Lixo passaram a realizar as pornochanchadas \u2013 filmes inspirados pelas com\u00e9dias populares italianas dos anos 1960, com muito conte\u00fado er\u00f3tico. A mistura de humor e erotismo tornou o g\u00eanero bastante popular nos anos 1970, aproveitando-se da reserva de mercado para filmes nacionais nos circuitos exibidores, mas entrou em decad\u00eancia com a populariza\u00e7\u00e3o do mercado pornogr\u00e1fico hardcore<\/em>, na d\u00e9cada de 1980.<\/p>\n

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