{"id":11607,"date":"2015-05-28T10:24:49","date_gmt":"2015-05-28T13:24:49","guid":{"rendered":"http:\/\/www.aicinema.com.br\/?p=11607"},"modified":"2015-05-28T10:24:49","modified_gmt":"2015-05-28T13:24:49","slug":"dicezar-leandro-ganha-premio-de-melhor-direcao-de-arte-no-cine-pe-pelo-filme-o-segredo-da-familia-urso","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aicinema.com.br\/dicezar-leandro-ganha-premio-de-melhor-direcao-de-arte-no-cine-pe-pelo-filme-o-segredo-da-familia-urso\/","title":{"rendered":"Dicezar Leandro ganha pr\u00eamio de Melhor Dire\u00e7\u00e3o de Arte no Cine PE pelo filme \u201cO Segredo da Fam\u00edlia Urso\u201d"},"content":{"rendered":"
\"A<\/a>
A atriz Gilda Nomacce em cena.<\/figcaption><\/figure>\n

Um filme que se passa na d\u00e9cada 70, com a ditadura militar de pano de fundo e um qu\u00ea de terror e suspense. Tudo isso visto pelos olhos de uma menina (muito fofa!) de 8 anos. \u201cO Segredo da Fam\u00edlia Urso\u201d conta com a Dire\u00e7\u00e3o de arte<\/a> de Dicezar Leandro, professor na Academia Internacional de Cinema<\/a> (AIC) e ganhador do pr\u00eamio de Melhor Dire\u00e7\u00e3o de Arte no XIX Cine PE (2015) por este trabalho. O filme, dirigido pela catarinense C\u00edntia Domit Bittar, tamb\u00e9m ficou com os pr\u00eamios de Melhor Dire\u00e7\u00e3o, Melhor Filme \u2013 J\u00fari Popular, Melhor Atriz e Melhor Edi\u00e7\u00e3o de Som.<\/p>\n

\"Dicezar<\/a>
Da direita pra esquerda, Dicezar Leandro, Daniela Aldrovandi (cen\u00f3grafa), C\u00edntia Domit Bittar e Jonatan Gentil (contra-regra), todos conferindo a quadro.<\/figcaption><\/figure>\n

Dicezar conta suas impress\u00f5es sobre a narrativa do curta-metragem: “O Segredo da Fam\u00edlia Urso conta a hist\u00f3ria de uma menininha se confrontando com a realidade da ditadura militar de uma forma t\u00e3o doce e natural que sustenta uma trama assustadora. Ao mesmo tempo, a perda de inoc\u00eancia dela sobre “o lado cruel do mundo” tem mais a ver com as descobertas dentro das suas rela\u00e7\u00f5es familiares do que com as quest\u00f5es hist\u00f3ricas da \u00e9poca. Assim, trazemos com o filme, uma met\u00e1fora para reflex\u00e3o da nossa pr\u00f3pria gera\u00e7\u00e3o, que acaba, por vezes, se relacionando de maneira ignorante e fantasiosa com o per\u00edodo da ditadura no Brasil.”<\/p>\n

\"Aqui,<\/a>
Aqui, um outro peda\u00e7o da cozinha, mostrando com mais detalhe a transforma\u00e7\u00e3o dos azulejos, das paredes e arm\u00e1rios, ainda que o \u00e2ngulo n\u00e3o seja o mesmo.<\/figcaption><\/figure>\n

Sobre a sensa\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o a essa conquista Dicezar acrescenta “antes de estar contente por esse reconhecimento, estou muito contente por ter vivenciado esse processo e pelo filme estar ganhando plat\u00e9ia. Sou muito grato a equipe de uma maneira geral, pois todos influenciaram positivamente nosso trabalho, mas n\u00e3o posso deixar de refor\u00e7ar uma gratid\u00e3o especial a minha equipe, que divide esse pr\u00eamio comigo.”<\/p>\n

Um Pouco Sobre o Processo de Arte<\/b><\/h4>\n
\"A<\/a>
A paleta de cores do filme: tons past\u00e9is e refer\u00eancia aos anos 1970 e, principalmente, aos filmes daquela \u00e9poca.<\/figcaption><\/figure>\n

A primeira grande dificuldade foi achar uma casa de dois andares, com uma porta menor que as outras e um longo corredor, conta C\u00edntia no blog da Novelo Filmes. Esses quesitos eram imprescind\u00edveis por conta da narrativa. \u201cDepois de muito exerc\u00edcio de imagina\u00e7\u00e3o acabamos escolhendo a casa\u2026 S\u00f3 n\u00e3o escolhemos essa casa logo de cara porque precis\u00e1vamos sentar e avaliar toda a interven\u00e7\u00e3o que a mesma receberia e o custo disso tudo. Isso porque ningu\u00e9m mais morava naquela casa havia tempo, as paredes eram brancas e ap\u00e1ticas, os m\u00f3veis da cozinha n\u00e3o seriam aproveitados, al\u00e9m de termos que tirar o fog\u00e3o a lenha dali. Mas a dona da propriedade era um amor de pessoa e foi muito sol\u00edcita. Nos avisou que poder\u00edamos fazer o que quis\u00e9ssemos, at\u00e9 derrubar alguma parede, caso fosse necess\u00e1rio, pois, provavelmente, a casa iria para a demoli\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n

\"Esse<\/a>
Esse plano caiu no corte final, por isso est\u00e1 sem a cor corrigida. Mas \u00e9 o melhor enquadramento para poder mostrar a interven\u00e7\u00e3o da dire\u00e7\u00e3o de arte nesse \u00e2ngulo da sala. O arm\u00e1rio sob a escada foi aproveitado, sem algumas portas e com objetos.<\/figcaption><\/figure>\n

Dicezar, que est\u00e1 no terceiro filme com C\u00edntia, diz que ela tem precis\u00e3o no que prop\u00f5e e ainda d\u00e1 espa\u00e7o para que a equipe desenvolva criativamente a proposta. \u201cPara a Dire\u00e7\u00e3o de Arte do filme a gente buscou trabalhar com cores que flertavam com sensa\u00e7\u00f5es acrom\u00e1ticas. N\u00e3o trabalhamos somente com o cinza, branco e preto (originalmente acrom\u00e1ticos); e sim com verdes, ocres, vinhos, azuis, rosas e amarelos. Todas essas cores sem vibra\u00e7\u00e3o e intensidade. Tamb\u00e9m buscamos um filme com resultado opaco; escolhas em busca de uma atmosfera que potencializasse a proposta dramat\u00fargica.\u201d<\/p>\n

Dicezar tamb\u00e9m conta que ao todo tiveram uma semana de concep\u00e7\u00e3o e duas semanas de pr\u00e9-produ\u00e7\u00e3o. \u201cEntramos com interven\u00e7\u00f5es na loca\u00e7\u00e3o com dez dias de anteced\u00eancia e tivemos um trabalho realmente grande, pois n\u00e3o houve parte da casa que n\u00e3o tenha sofrido interven\u00e7\u00e3o. Trocamos portas de lugar, colocamos papel de parede, constru\u00edmos paredes falsas, estampas de azulejo falsas, pintura em todos os c\u00f4modos (ferraria da escada, batentes, rodap\u00e9, porta e janelas), mobiliamos ela inteirinha\u201d, acresenta.<\/p>\n

Os Segredos de Dicezar Leandro e da Fam\u00edlia Urso<\/b><\/h4>\n
\"\u201cO<\/a>
\u201cO resultado que mais me surpreendeu durante as capta\u00e7\u00f5es foi os das cenas no quarto, sem d\u00favida penso que o quarto funcionou muito mais pro filme do que pra \u201cvida\u201d, ou melhor, a princ\u00edpio esse cen\u00e1rio n\u00e3o tinha me deixado muito satisfeito, mas o enquadramento valorizou muito a ambienta\u00e7\u00e3o que fizemos e achei que a arte cresceu e de certa forma acabou me surpreendendo.\u201d<\/figcaption><\/figure>\n

Para Dicezar, um diretor de arte \u00e9 um profissional que tem que ter o conhecimento e estar preparado, acima de tudo, para fazer escolhas. Ele acredita que seu repert\u00f3rio sobre a \u201cmem\u00f3ria do mundo\u201d \u00e9 que vai ajud\u00e1-lo a estabelecer os crit\u00e9rios que nortear\u00e3o essas escolhas; no intuito de traduzir um pensamento criativo na constru\u00e7\u00e3o de uma imagem narrativa, e n\u00e3o meramente decorativa.<\/p>\n

\u201cUm diretor de arte em cinematografia \u00e9, como diz Cl\u00f3vis Bueno (primeiro profissional a assinar esse t\u00edtulo no Brasil), um \u2018especialista em generalidades\u2019. Temos que entender do universo arquitet\u00f4nico, do design, das indument\u00e1rias, da pintura, da maquiagem, dos objetos, bem como quest\u00f5es mais human\u00edsticas, comportamentais e t\u00e9cnicas relacionadas a todas as artes. Primeiramente, estamos num processo de contar uma hist\u00f3ria, de construir uma narrativa visual coerente e que d\u00ea pot\u00eancia \u00e0 linguagem cinematogr\u00e1fica de uma obra em quest\u00e3o. Num segundo momento, nossa cria\u00e7\u00e3o \u00e9 toda material, pois, a partir desse pensamento dramat\u00fargico, temos que construir as caracteriza\u00e7\u00f5es dos ambientes e dos personagens, al\u00e9m dos efeitos\u201d.<\/p>\n

\"Mesmo<\/a>
Mesmo considerando a diferen\u00e7a entre as lentes, d\u00e1 pra ter uma ideia da transforma\u00e7\u00e3o da cozinha. Os batentes e portas foram pintados de marrom escuro, foi colocada uma porta l\u00e1 no fundo, o fog\u00e3o a lenha foi removido, os azulejos foram decorados com adesivos em vinil, a parte de cima da parede foi pintada em um tom capuccino, enfim… at\u00e9 o interruptor foi substitu\u00eddo.<\/figcaption><\/figure>\n

Sobre \u201cO Segredo da Fam\u00edlia Urso\u201d, Dicezar conta que foram feitas muitas interven\u00e7\u00f5es na loca\u00e7\u00e3o e que a produ\u00e7\u00e3o de objetos ultrapassou o n\u00famero de 500 itens.<\/p>\n

\u201cAl\u00e9m da quantidade de objetos, est\u00e1vamos num filme de \u00e9poca e nos lan\u00e7amos ao desafio de trabalhar somente com o repert\u00f3rio modernista do design e da arquitetura. Esse acervo, n\u00e3o considerando redesign\u00a0extremamentes\u00a0comuns hoje em dia, \u00e9 bem mais escasso de encontrar\u00a0que um mobili\u00e1rio colonial ou proven\u00e7al, por exemplo”.\u00a0Tamb\u00e9m abusamos de padr\u00f5es gr\u00e1ficos, atrav\u00e9s dos pap\u00e9is de parede e dos figurinos, a fim de reconstituir uma atmosfera que fosse um pouco descolada de algo realmente naturalista, principalmente pelo tom fant\u00e1stico que o filme possui. Nesse sentido, havia um contraste previamente demarcado entre a carga de informa\u00e7\u00e3o expressiva dos padr\u00f5es gr\u00e1ficos e os detalhes minimalistas do acervo de objetos de design moderno dos anos 40 a 70. De uma maneira geral, o desejo era criar uma atmosfera r\u00edgida, dura e um tanto ass\u00e9ptica nas ambienta\u00e7\u00f5es da casa dessa fam\u00edlia com valores morais burgueses marcados por essas mesmas caracter\u00edsticas\u201d.<\/p>\n

Confira o Making Of:<\/h4>\n