Academia Internacional de Cinema (AIC)

Peripatético, da ex-aluna Jéssica Queiroz, ganha dois prêmios no Festival de Brasília

Peripatético, da ex-aluna Jéssica Queiroz, ganha dois prêmios no Festival de Brasília

Peripatético, da ex-aluna Jéssica Queiroz, ganha dois prêmios no Festival de Brasília. Foto Humberto Araujo - Festival de Brasilia

Jéssica Queiroz, ex-aluna do curso Filmworks da Academia Internacional de Cinema (AIC), recebeu dois prêmios ontem na cerimônia de premiação do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O curta-metragem “Peripatético” ganhou o troféu candango de Melhor Roteiro (Ananda Radhika) e Prêmio Especial.

Peripatético, da ex-aluna Jéssica Queiroz, ganha dois prêmios no Festival de Brasília. Foto Humberto Araujo – Festival de Brasilia

Jéssica, a primeira mulher negra a participar da Mostra Competitiva de curtas de Brasília, trouxe à tona questões urgentes e retratou cenas pouco vistas no cinema nacional – jovens negros da periferia e suas buscas por profissões, indo além das cenas tradicionais dos conhecidos filmes de favela. Jéssica não estava sozinha, a maioria dos cineastas que levaram troféus representaram (lindamente!) nas telas minorias com filmes produzidos na periferia, ou contando histórias de mulheres, negros ou povos indígenas.

A justificativa do júri, ao dar o prêmio especial para “Peripatético” foi: “Por retratar um dos muitos episódios de violência da história recente do Brasil sob uma ótica pessoal e original; por ressignificar códigos já postos no cinema propondo a descolonização das narrativas, o prêmio especial do júri é atribuído ao curta-metragem Peripatético”.

O professor da AIC e crítico de cinema Fillipo Pitanga, falou nas redes sociais sobre o filme ter ganho a homenagem especial: “Peripatético, de Jéssica Queiroz, mereceu E MUITO o prêmio. O filme que com sua duração de curta-metragem enfrentou e desconstruiu um Golias vazando um longa-metragem de 6 milhões, para provar que dinheiro não é documento quando a arte pode falar mais alto e melhor”.

Ganhadores do 50º Festival

O prêmio de melhor curta foi para “Tentei”, dirigido por Laís Melo e o prêmio de melhor longa foi para “Arábia”, dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans. Confira a lista com todos os premiados aqui.

Peripatético

Quinze minutos não é muito tempo para contar uma história, especialmente se ele for inspirada em acontecimentos reais. No entanto, a cineasta Jéssica Queiroz consegue levar o espectador para dentro da vida de três adolescentes da periferia.

Cena de Peripatético, de Jéssica Queiroz

Mulher, negra e periférica, a diretora sempre sentiu na pele as dificuldades da vida na “quebrada”, assim como a solidariedade entre os moradores. Enquanto o resto da cidade simplesmente se recusa a reconhecer essas pessoas, limitando suas oportunidades e vendo-as apenas em papéis de servidão, os jovens que nascem e crescem à margem da sociedade tentam buscar alternativas e ir atrás de seus sonhos. Contudo, nunca é fácil. “O curta fala sobre como é pesado ser jovem negro na periferia, mas a gente sempre arruma um jeito de sobreviver e r(existir) de alguma forma”, explica Jéssica.

Peripatético acompanha alguns dias na vida de Simone, Thiana e Michel, moradores da periferia de São Paulo. Simone procura o primeiro emprego, Thiana tenta passar no vestibular de medicina e Michel ainda não sabe o que quer fazer de sua vida. A história se passa em maio de 2006, período no qual a capital paulista sofreu diversos ataques da facção criminosa PCC. O filme se inspirou na luta do movimento Mães de Maio, uma reação à violência contra inúmeros jovens inocentes que foram assassinados durante o conflito.

O roteiro é de Ananda Radhika, que estudou com Jéssica no Instituto Criar. Por vários anos, a história ficou na gaveta, por falta de recursos para ser produzida. Em 2015, a diretora inscreveu o curta no Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), um edital da Prefeitura de São Paulo, e recebeu verba para realizá-lo. “Ainda assim, a grana foi pouca e tivemos muito aperto, mas a equipe era tão apaixonada pelo roteiro quanto eu”, conta. De acordo com a cineasta, mesmo tendo se passado mais de uma década desde os acontecimentos da história, a temática ainda é urgente. “Precisamos falar sobre o que está acontecendo no lado de cá da ponte. Muita coisa não mudou.”

A ficha técnica ainda conta com o professor de Direção de Arte da AIC, Dicezar Leandro, e os alunos Luiz Augusto Moura na Direção de Fotografia e Bianca Santos e Isadora Torres na Direção de Som.

*Crédito fotos: Júnior Aragão e Humberto Araujo / Divulgação Festival

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