Academia Internacional de Cinema (AIC)

O arquiteto Ricardo Bonnet conta sobre o projeto e a finalização da obra no casarão da AIC no Rio de Janeiro

Ricardo Bonnet, arquiteto responsável pelo projeto da AIC Rio de Janeiro, ainda no começo da obra do estúdio.
Ricardo Bonnet, arquiteto responsável pelo projeto da AIC Rio de Janeiro, ainda no começo da obra do estúdio.

O casarão que abriga a nova unidade da Academia Internacional de Cinema (AIC), no Rio de Janeiro, está com as obras em andamento. Vez ou outra aparece alguém nos portões. Muita gente curiosa para saber sobre a casa e tudo o que está sendo feito por lá. Pensando nisso, a AIC preparou uma entrevista com Ricardo Bonnet, o arquiteto responsável pelo projeto da nova unidade.

Ricardo, carioca da gema, é arquiteto e urbanista formado pela UFRJ. Mestre na área de conforto ambiental e eficiência energética (PROArq\UFRJ ), também participou de um programa de MBA na Alemanha, na área de gestão da sustentabilidade e, há mais de vinte anos se dedica ao desenvolvimento e execução de projetos, aliando técnica, qualidade e preocupação ambiental.

Conheça algumas curiosidades sobre a casa, a restauração que está sendo feita, o estúdio novinho que está sendo construído e entenda mais sobre todo projeto.

Entrevista

Parte do andar de cima do casarão, já com a pintura sendo finalizada. A marcenaria (móveis) começam a ser instalados ainda nesta quarta-feira.

AIC – Conte um pouco sobre a escolha da casa. O que, na sua opinião, fez com que essa casa fosse a melhor escolha, dentre tantas outras que foram vistas.
Ricardo Bonnet: Quando o Adriano Diniz, um dos diretores da AIC, me procurou, ele já tinha pesquisado alguns imóveis e, como eu estava trabalhando em outro projeto ali próximo, me dispus a ajudar na escolha desde o início. A casa foi uma das primeiras que vimos. Chamou nossa atenção porque o espaço tinha muito potencial, mas também demandava muitas obras para implantar o programa exigido para as instalações da AIC. O ponto também era muito bom. Depois perdi a conta de quantas outras vimos pela região, mas os sócios concordaram desde o princípio que esse era o imóvel que mais reunia aspectos positivos. Creio que acabou-se decidindo sem maiores dúvidas.

AIC – Trata-se de uma casa tomabada, certo? De que ano é a construção? Conte um pouco sobre a história da casa e o que está sendo feito para preservá-la.
R.B.: A casa é tombada pelo estado, escriturada em 1938, mas, sendo possivelmente mais antiga. Imagino que a obra seja bem do início do século XX. O estilo eclético em lotes estreitos, típicos do bairro de Botafogo, marca bem a época e produziu belos casarões burgueses naquele momento. Nos fundos do terreno, havia um conjunto de puxados construídos recentemente, sem tombamento histórico, e em péssimo estado de conservação, o que dava margem pra se pensar na construção, da estaca zero, de um estúdio profissional. Quanto à preservação, o tombo exige que toda parte externa do casarão e, em linhas gerais, o interior, sejam preservados segundo as características originais. Muito trabalho de recomposição de elementos como esquadrias, assoalhos, forros, ornamentos e mesmo estruturas já foi feito, o que, por si só, é um ganho cultural para a sociedade carioca.

Fachada da casa (ainda sem pintura), construída em 1939, tombada historicamente, pelo estado do Rio de Janeiro.

AIC – Conte um pouco sobre a região/localização da casa.
R.B.: Localizada em Botafogo, com um “pé” em Humaitá, a região é muito agradável, próximo da vida cultural e do que o Rio tem de mais bonito e bem cuidado. Espaços de arte, produtoras, bares e restaurantes, além de uma diversidade de empresas, povoam a região e servem aos moradores e visitantes com diversidade numa atmosfera arejada. Por mais que se pense em Botafogo como um bairro agitado, a rua é de uma tranquilidade impressionante, pois fica num corredor cultural com outros imóveis tombados, diminuindo a densidade local. Ali, às vezes parece que você está em outro lugar ou outra época.

AIC – E o projeto da casa? Conte um pouco sobre suas referências e inspirações.
R.B.: Acho que o projeto realizou o potencial que já havia no imóvel. Quando o arquiteto visita um imóvel assim, mesmo estando mal conservado, já enxerga lá na frente essas possibilidades. A casa é um charme. Tem um pátio agradável e o programa de necessidades da AIC casava muito bem com grande parte das divisões existentes, mantendo a espacialidade original, que por sinal, é muito boa. Além de conhecer as instalações da AIC em São Paulo, visitei outros locais dedicados ao cinema no Rio e até em Buenos Aires, para entender melhor seu significado e como pensa este público. Além disso, o projeto tem um caráter ambiental bastante forte, investindo em racionalização energética e da água, permitindo o uso de iluminação e ventilação natural de forma flexível ao longo das estações do ano. É um traço do nosso escritório esta preocupação em basicamente todos os projetos, desde quando não se falava muito do assunto. Agora todo mundo vai percebendo isso como necessidade…

Uma das salas de aula da casa, já com a tubulação e pontos para projetor.

AIC – O estúdio foi construído do zero. Quais as vantagens?
R.B.: Partimos do zero mesmo, o que, apesar de intensamente trabalhoso, deve resultar benéfico para a escola, pois suas especificidades são grandes e dificilmente imagino adaptações alcançando o mesmo resultado. Procuramos também prover esta estrutura com instalações modernas e eficientes, consultando técnicos em visitas a espaços de referência como o Projac.

AIC – Em cima do estúdio teremos um jardim suspenso, com a belíssima vista do Cristo Redentor, possibilitando um espaço agradável e aconchegante aos alunos. E quem assina o projeto é uma empresa que também está trabalhando no paisagismo da cidade olímpica, certo? Conte um pouco sobre isso.
R.B.: Quando estávamos executando a laje de cobertura do estúdio, estava lá em cima e vi o Cristo, nos dando benção. Fiz na hora uma foto com o celular e mandei para os sócios da escola, que também ficaram muito contentes. Desde o início planejamos o jardim sobre o estúdio. Também teremos bastante verde no pátio, mas este jardim é especial, pois foi concebido como um espaço de estar e convivência aberto, como é bastante propicio na cidade. Ao longo de muitos anos vimos desenvolvendo e executando este tipo de elemento com ótimos resultados. No caso da AIC o substrato que serve ao jardim tem múltiplas funções: além de servir de base à vegetação, sua grande espessura e composição de camadas constitui-se em excelente isolante térmico e acústico ao estúdio, drenam e filtram as águas das chuvas incidentes no jardim e telhado do casarão, que chegam a reservatórios elevados, permitindo seu uso para limpeza geral e irrigação. Para arrematar bem a ideia, convidamos nossos parceiros da Embyá, que têm se destacado no cenário de grandes projetos cariocas, para desenvolver e implantar o paisagismo. O projeto ficou muito bacana mesmo e, certamente, valoriza a chegada da AIC em uma nova era da cidade.

Escada original da casa, sendo toda restaurada por um artesão.

AIC – Fale um pouco sobre o processo todo da obra. O que será feito no último mês de obras?
R.B.: Estamos trabalhando já há quatro meses na implantação do projeto e Fevereiro será o mês final, quando cuidaremos de acabamentos, pintura externa e de muitos detalhes. Tudo precisa ser bem coordenado e as equipes devem estar afinadas. Estamos muito orgulhosos deste projeto e temos trabalhado ininterruptamente para entregarmos uma obra dentro do exigente padrão definido pela AIC.

*Fotos: Mônica Wojciechowski

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