Academia Internacional de Cinema (AIC)

Naruna Costa fala sobre sua trajetória e seu papel político no audiovisual

Texto Estefania Lima
Foto: Rafael Peixoto

A atriz Naruna Costa abriu, nesta segunda-feira (06), a 17º edição da Semana de Orientação da Academia Internacional de Cinema (AIC). O evento, que não ocorria de forma presencial desde de 2020, em decorrência da Covid-19, recebeu a protagonista da série Irmandade (Netflix) para um bate-papo sobre sua trajetória no audiovisual.

A noite começou com a exibição do primeiro episódio de Irmandade e logo depois Vanessa Prieto, coordenadora acadêmica da AIC, conduziu um bate-papo entre Naruna e os alunos. A atriz iniciou sua fala exaltando a diversidade do público presente e chamou atenção para a ausência de pessoas pretas e periféricas nas escolas e conteúdos de formação em sua geração, nos anos 2000.

De Taboão da Serra, periferia de São Paulo, Naruna estudou na Escola de Artes Dramáticas da USP (EAD) e contou como a experiência na instituição a forjou como artista. Na época, sua turma, com cinco alunos negros, foi o auge da diversidade da escola, que já tinha 56 anos de existência. A experiência marcou sua trajetória pelo acesso a formação artística, mas também pela estranheza de se sentir não pertencente, “eu não me via ali, não me reconhecia, e isso fez com que automaticamente todas as minhas produções se tornassem políticas.”, afirmou.

Ainda sobre seu papel nas artes, Naruna falou sobre como corpos negros nas telas são sempre políticos e têm o poder de questionar e bagunçar o imaginário construído pelo próprio audiovisual que, na maioria das vezes, não representa a população brasileira, nem mesmo numericamente.

Ao ser questionada sobre sua personagem Lila na novela Todas as Flores (Globoplay) que tem muitas cenas eróticas, a atriz afirmou que apesar de ser muito difícil dizer não, já que o audiovisual é seu lugar de sustento, sempre rejeitou papéis que reforçassem estereótipos de hiperssexualização. Ainda assim, aceitou o papel de Lila, porque ele foge do padrão estabelecido. “Ela é rica, uma madame preta, é raro você ver uma madame preta em uma novela.”

Em um segundo momento, questionada sobre a diferença de interpretação para o cinema, séries e TV, a protagonista de Irmandade, comentou que para cada linguagem do audiovisual é necessário um tipo diferente de abordagem e preparação. No entanto, revelou que sua relação com todos os seus personagens foram estabelecidas em primeiro lugar pelo texto. “Há várias estratégias possíveis, depende dos roteiristas, da direção, mas eu procuro respeitar as palavras, o que está contido no roteiro.”, revelou.

Apreço pelo texto que Naruna herdou de sua carreira no teatro, a atriz começou no UTT (União Teatral Taboão), fundou o Espaço Clariô de Teatro, de Taboão da Serra (SP), e destacou-se interpretando Elza Soares no musical Garrincha, dirigido pelo diretor americano Bob Wilson. Sobre a experiência, Naruna diz ter sido uma honra, mas bastante específica, já que a proposta do diretor para a peça foi de uma linguagem quase cinematográfica, e um pouco técnica demais para uma pessoa “quente” como a cantora.

Diretora de teatro, ao ser questionada sobre seu interesse em dirigir produções audiovisuais, Naruna, que tem uma farta bagagem na frente das câmeras, respondeu que, apesar de sentir falta de mulheres negras nessa posição, acredita que ainda não é o momento. “Tenho sido muito convocada ao lugar da direção, mas acho que há uma diferença absurda nas linguagens, ainda preciso estudar.”, afirmou. Ao que, prontamente, Vanessa Prieto respondeu: “Vem estudar na AIC”, arrancando risada de todos os presentes.

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