Academia Internacional de Cinema (AIC)

Lucía Puenzo falou sobre literatura e cinema argentino

A terceira e mais esperada noite da Semana de Orientação, contou com a presença da escritora, diretora e roteirista argentina Lucía Puenzo. Com o seu espanhol ligeiro, a palestrante cativou os convidados falando sobre literatura e cinema argentino. “A literatura e o cinema são áreas muito distintas. As pessoas acham que são semelhantes, mas não, são processos criativos muito diferentes. Quando escrevo literatura, não sigo um planejamento, escrevo em torno de uma página por dia, mas não sei onde aquilo vai parar, não tem um final pronto. A literatura pra mim é como trabalhar com música, tem um ritmo é um processo de digressão. Já o cinema, em geral, você sabe onde termina, tem várias versões do roteiro, existe toda uma estruturação, muito mais gente trabalhando em volta daquela nova ideia. Quando eu vejo uma nova ideia, eu já sei exatamente se aquilo é literário ou cinematográfico”.

Lucía confessou gostar mais de escrever roteiros e literatura do que de dirigir filmes. “O roteiro é extremamente importante, especialmente quando os filmes não são protagônicos, guiados por um protagonista. Eu gosto muito do cinema de Lucrecia Martel, pois seus filmes parecem um romance, ela trabalha obsessivamente no roteiro, seus roteiros têm 45 versões. Ela consegue trabalhar com aromas, com tons e sons e todas essas questões já estão no roteiro e são muito trabalhadas com toda a equipe”.

Além de roteiro e literatura, Lucía destacou questões sobre preparação de atores, adaptação de literatura para cinema e principalmente sobre como é roteirizar e dirigir seus próprios filmes. Mas, o que mais chamou atenção de todos, foi o polêmico e delicado filme de Lucía, “XXY”, exibido no estúdio da AIC, horas antes da palestra. Quem não conhecia o trabalho da diretora virou fã e quem já conhecia, não via a hora de conversar ao vivo com ela.

O longa-metragem “XXY” mostra a difícil relação de Alex, uma adolescente hermafrodita de 15 anos, que vive com os pais numa casa isolada nas dunas do litoral uruguaio. Um dia a família recebe a visita de um casal de amigos e seu filho Álvaro, de 16 anos. O visitante, que é cirurgião plástico, tem interesse em “ajudar” Alex, porém, ninguém conta com a inesperada atração que acontece entre os dois jovens.

Lucía revelou que o maior trabalho do filme foi encontrar e escolher atores com mais de 18 anos que aparentassem serem adolescentes e que o processo de casting demorou mais de 8 meses. “Depois de encontrar os atores, tivemos um grande trabalho para prepará-los, porque mesmo com o rosto e o corpo de adolescentes, eles tinham 24 anos e pensavam como jovens de 24 anos. Ou seja, foi preciso fazer eles voltarem no tempo”.

A palestra, que mais pareceu um agradável bate papo, acabou com a roteirista contando sobre dados mais técnicos da produção de “XXY” que ganhou mais de 20 prêmios, entre eles o Grand Prix da Crítica no Festival de Cannes 2007. Contou, por exemplo, que o filme custou 800 mil dólares, o tempo de produção do roteiro foi de 6 meses, de filmagem foram 5 semanas e o projeto todo demorou cerca de dois anos para ficar pronto.

*Fotos Alessandra Haro

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