Academia Internacional de Cinema (AIC)

Dicezar Leandro ganha prêmio de Melhor Direção de Arte no Cine PE pelo filme “O Segredo da Família Urso”

A atriz Gilda Nomacce em cena.
A atriz Gilda Nomacce em cena.

Um filme que se passa na década 70, com a ditadura militar de pano de fundo e um quê de terror e suspense. Tudo isso visto pelos olhos de uma menina (muito fofa!) de 8 anos. “O Segredo da Família Urso” conta com a Direção de arte de Dicezar Leandro, professor na Academia Internacional de Cinema (AIC) e ganhador do prêmio de Melhor Direção de Arte no XIX Cine PE (2015) por este trabalho. O filme, dirigido pela catarinense Cíntia Domit Bittar, também ficou com os prêmios de Melhor Direção, Melhor Filme – Júri Popular, Melhor Atriz e Melhor Edição de Som.

Da direita pra esquerda, Dicezar Leandro, Daniela Aldrovandi (cenógrafa), Cíntia Domit Bittar e Jonatan Gentil (contra-regra), todos conferindo a quadro.

Dicezar conta suas impressões sobre a narrativa do curta-metragem: “O Segredo da Família Urso conta a história de uma menininha se confrontando com a realidade da ditadura militar de uma forma tão doce e natural que sustenta uma trama assustadora. Ao mesmo tempo, a perda de inocência dela sobre “o lado cruel do mundo” tem mais a ver com as descobertas dentro das suas relações familiares do que com as questões históricas da época. Assim, trazemos com o filme, uma metáfora para reflexão da nossa própria geração, que acaba, por vezes, se relacionando de maneira ignorante e fantasiosa com o período da ditadura no Brasil.”

Aqui, um outro pedaço da cozinha, mostrando com mais detalhe a transformação dos azulejos, das paredes e armários, ainda que o ângulo não seja o mesmo.

Sobre a sensação em relação a essa conquista Dicezar acrescenta “antes de estar contente por esse reconhecimento, estou muito contente por ter vivenciado esse processo e pelo filme estar ganhando platéia. Sou muito grato a equipe de uma maneira geral, pois todos influenciaram positivamente nosso trabalho, mas não posso deixar de reforçar uma gratidão especial a minha equipe, que divide esse prêmio comigo.”

Um Pouco Sobre o Processo de Arte

A paleta de cores do filme: tons pastéis e referência aos anos 1970 e, principalmente, aos filmes daquela época.

A primeira grande dificuldade foi achar uma casa de dois andares, com uma porta menor que as outras e um longo corredor, conta Cíntia no blog da Novelo Filmes. Esses quesitos eram imprescindíveis por conta da narrativa. “Depois de muito exercício de imaginação acabamos escolhendo a casa… Só não escolhemos essa casa logo de cara porque precisávamos sentar e avaliar toda a intervenção que a mesma receberia e o custo disso tudo. Isso porque ninguém mais morava naquela casa havia tempo, as paredes eram brancas e apáticas, os móveis da cozinha não seriam aproveitados, além de termos que tirar o fogão a lenha dali. Mas a dona da propriedade era um amor de pessoa e foi muito solícita. Nos avisou que poderíamos fazer o que quiséssemos, até derrubar alguma parede, caso fosse necessário, pois, provavelmente, a casa iria para a demolição”.

Esse plano caiu no corte final, por isso está sem a cor corrigida. Mas é o melhor enquadramento para poder mostrar a intervenção da direção de arte nesse ângulo da sala. O armário sob a escada foi aproveitado, sem algumas portas e com objetos.

Dicezar, que está no terceiro filme com Cíntia, diz que ela tem precisão no que propõe e ainda dá espaço para que a equipe desenvolva criativamente a proposta. “Para a Direção de Arte do filme a gente buscou trabalhar com cores que flertavam com sensações acromáticas. Não trabalhamos somente com o cinza, branco e preto (originalmente acromáticos); e sim com verdes, ocres, vinhos, azuis, rosas e amarelos. Todas essas cores sem vibração e intensidade. Também buscamos um filme com resultado opaco; escolhas em busca de uma atmosfera que potencializasse a proposta dramatúrgica.”

Dicezar também conta que ao todo tiveram uma semana de concepção e duas semanas de pré-produção. “Entramos com intervenções na locação com dez dias de antecedência e tivemos um trabalho realmente grande, pois não houve parte da casa que não tenha sofrido intervenção. Trocamos portas de lugar, colocamos papel de parede, construímos paredes falsas, estampas de azulejo falsas, pintura em todos os cômodos (ferraria da escada, batentes, rodapé, porta e janelas), mobiliamos ela inteirinha”, acresenta.

Os Segredos de Dicezar Leandro e da Família Urso

“O resultado que mais me surpreendeu durante as captações foi os das cenas no quarto, sem dúvida penso que o quarto funcionou muito mais pro filme do que pra “vida”, ou melhor, a princípio esse cenário não tinha me deixado muito satisfeito, mas o enquadramento valorizou muito a ambientação que fizemos e achei que a arte cresceu e de certa forma acabou me surpreendendo.”

Para Dicezar, um diretor de arte é um profissional que tem que ter o conhecimento e estar preparado, acima de tudo, para fazer escolhas. Ele acredita que seu repertório sobre a “memória do mundo” é que vai ajudá-lo a estabelecer os critérios que nortearão essas escolhas; no intuito de traduzir um pensamento criativo na construção de uma imagem narrativa, e não meramente decorativa.

“Um diretor de arte em cinematografia é, como diz Clóvis Bueno (primeiro profissional a assinar esse título no Brasil), um ‘especialista em generalidades’. Temos que entender do universo arquitetônico, do design, das indumentárias, da pintura, da maquiagem, dos objetos, bem como questões mais humanísticas, comportamentais e técnicas relacionadas a todas as artes. Primeiramente, estamos num processo de contar uma história, de construir uma narrativa visual coerente e que dê potência à linguagem cinematográfica de uma obra em questão. Num segundo momento, nossa criação é toda material, pois, a partir desse pensamento dramatúrgico, temos que construir as caracterizações dos ambientes e dos personagens, além dos efeitos”.

Mesmo considerando a diferença entre as lentes, dá pra ter uma ideia da transformação da cozinha. Os batentes e portas foram pintados de marrom escuro, foi colocada uma porta lá no fundo, o fogão a lenha foi removido, os azulejos foram decorados com adesivos em vinil, a parte de cima da parede foi pintada em um tom capuccino, enfim… até o interruptor foi substituído.

Sobre “O Segredo da Família Urso”, Dicezar conta que foram feitas muitas intervenções na locação e que a produção de objetos ultrapassou o número de 500 itens.

“Além da quantidade de objetos, estávamos num filme de época e nos lançamos ao desafio de trabalhar somente com o repertório modernista do design e da arquitetura. Esse acervo, não considerando redesign extremamentes comuns hoje em dia, é bem mais escasso de encontrar que um mobiliário colonial ou provençal, por exemplo”. Também abusamos de padrões gráficos, através dos papéis de parede e dos figurinos, a fim de reconstituir uma atmosfera que fosse um pouco descolada de algo realmente naturalista, principalmente pelo tom fantástico que o filme possui. Nesse sentido, havia um contraste previamente demarcado entre a carga de informação expressiva dos padrões gráficos e os detalhes minimalistas do acervo de objetos de design moderno dos anos 40 a 70. De uma maneira geral, o desejo era criar uma atmosfera rígida, dura e um tanto asséptica nas ambientações da casa dessa família com valores morais burgueses marcados por essas mesmas características”.

Confira o Making Of:

Créditos de Arte

DIREÇÃO DE ARTE – Dicezar Leandro / CENOGRAFIA – Daniela Aldrovandi e Dicezar Leandro / PRODUÇÃO DE ARTE – Cecília Castiñeira Garcia e Dicezar Leandro / ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO DE ARTE – Vinícius Todeschini / CENOTECNIA – Everton Nunes (Choco) / ADEREÇOS e PINTURA DE ARTE – Daniela Aldrovandi / PRODUÇÃO DE OBJETOS – Vanessa Rosa Gasparelo e Joana Grechi Krás / PRODUÇÃO GRÁFICA – Fernanda Assato e Will Martins / CONTRAREGRAGEM – Jonatan Gentil / FIGURINO – César Martins / MAQUIAGEM – Carolina Pires Campos

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