Academia Internacional de Cinema (AIC)

Como se tornar um Showrunner e trabalhar com Criação de Série de TV

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“Qual sua série favorita?” Essa tem sido uma pergunta cada vez mais recorrente em um mundo povoado por serviços de streaming e de televisão a cabo. O formato episódico das séries, muito populares nos Estados Unidos – já que podem ser assistidas em pequenas partes, quando e onde for mais conveniente para o espectador – acabou conquistando também o público brasileiro.

Na onda do sucesso de seriados nacionais, como 3% e O Mecanismo, e estrangeiros, como La Casa de Papel (uma produção espanhola), o vice-presidente de conteúdos internacionais da Netflix, Erik Barmack, afirmou em entrevista à imprensa americana que o investimento previsto este ano para séries originais deve chegar a 8 bilhões de dólares.

Mas quem exatamente é o profissional que fica por trás desse tipo de conteúdo? A pessoa que trabalha com a criação e o desenvolvimento de seriados é chamada de showrunner, uma profissão que une as funções de roteirista e de produtor e que tem ganhado cada vez mais popularidade.

O que faz um showrunner?

Basicamente, o showrunner é quem tem o controle criativo e a gestão das decisões artísticas de um programa de televisão (em inglês, TV show), normalmente criado por ele e da qual participa como roteirista-chefe. O trabalho abrange uma gama de programação que hoje, em um mundo totalmente conectado à internet, inclui os serviços de streaming – como Netflix, HBO Go, Amazon Prime ou Hulu.

Na realidade brasileira, o termo showrunner para definir essa função é algo novo. No entanto, antes da popularização das séries, esse tipo de trabalho já era desenvolvido por roteiristas e diretores em novelas de televisão. Em um mercado audiovisual que cada vez mais exige pessoas multidisciplinares, criativas e flexíveis, é importante que os profissionais da área de roteiro desenvolvam suas habilidades também como criadores e como produtores executivos, para que sejam capazes de pensar seus projetos como um todo: desde a concepção da ideia até sua realização e exibição/distribuição.

Esse perfil de roteirista que sabe vender sua ideia e “fazer acontecer” pode abrir muitas portas em um campo que está em pleno crescimento no Brasil. Na onda do sucesso de seriados nacionais, como 3% e O Mecanismo, e estrangeiros, como La Casa de Papel (uma produção espanhola), o vice-presidente de conteúdos internacionais da Netflix, Erik Barmack, afirmou em entrevista à imprensa americana que o investimento previsto este ano para séries originais deve chegar a 8 bilhões de dólares.

Diversos canais de TV a cabo também têm investido na produção de conteúdos brasileiros, como é o caso da série O Negócio, de Luca Paiva Mello e Rodrigo Castilho, exibida pela HBO. Outros exemplos são Magnífica 70, também da HBO, Rua Augusta, em exibição na TNT, 1 Contra Todos, na FOX, e Onde Nascem os Fortes, criada por George Moura e produzida pela Globo – rede que já tem um longo histórico de séries e minisséries bem sucedidas. Considerado um dos maiores roteiristas do país na atualidade, Moura já foi indicado seis vezes ao Emmy Internacional.

Dificuldades e desafios 

Joana Brea – roteirista da Mixer Films e professora da AIC

Se, no cinema, quem geralmente possui o controle criativo da produção é o diretor, nos seriados esse papel fica a cargo do showrunner. Aqui, sua função é mais importante do que a do diretor, porque ele precisa ter uma visão da série desde seu primeiro episódio até o último, mantendo uma unidade no que diz respeito ao conteúdo e à estética. É comum até que os diversos episódios de uma história seriada sejam dirigidos por diferentes diretores, sem que isso comprometa sua essência.

Não é uma tarefa simples, carregar tanta responsabilidade sobre uma produção audiovisual de longa duração. Para a roteirista e produtora Joana Brea, professora da Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro e orientadora do NOVO curso da escola – Criação de Séries de TV, “há que se ter uma experiência e um perfil profissional muito específico. Antes de mais nada, você precisa ser um bom roteirista; depois, precisa também ser um produtor, entender de mercado, do negócio de televisão”, explica. Ou seja, trata-se de uma profissão versátil que requer conhecimentos básicos a respeito de todos os processos envolvidos na cadeia produtiva de um conteúdo audiovisual, incluindo roteiro, fotografia, direção, montagem e sonorização.

Quais as responsabilidades de um Showrunner? 

“Antes de mais nada, ele guia toda a etapa de desenvolvimento – personagem, arco, sinopses dos episódios, roteiros. É o Showrunner quem detém a propriedade do que deve ser aquela história, trabalho que realiza com a ajuda de uma equipe de roteiro de sua confiança”, detalha Joana.

A segunda etapa da criação de um seriado é a contratação dos profissionais, partindo então para a produção propriamente dita. A partir daí, e em todas as etapas que não envolvem a área de especialidade do Showrunner (que, normalmente, é um roteirista e/ou diretor), ele tem autonomia para interferir sobre as decisões. Isso quer dizer que pode participar da escolha do elenco, por exemplo, ou da aprovação dos figurinos e das locações.

Como é o dia a dia de um Showrunner?

Antigamente, o produtor executivo de um programa de televisão era o responsável pelas escolhas criativas e de produção. Com o tempo, esse título acabou abrangendo uma ampla variedade de funções, desde a pessoa que obtém os recursos financeiros até o investidor cujo nome apenas consta nos créditos, mas que não atua de fato na produção.

O termo showrunner foi criado justamente como uma forma de especificar um profissional mais atuante, ou seja, o produtor que detém também o poder criativo sobre o programa. Pode-se dizer que ele é o “chefe”, o autor da série.

Com promessa de terceira temporada em 2019 a série espanhola foi sucesso de público no Brasil.

Esse híbrido entre artista e gestor é quem contrata os membros da equipe, ao mesmo tempo em que desenvolve a história e pensa nos aspectos necessários para realizá-la. Por isso, suas atividades diárias são as mais diversas – circulando o tempo inteiro pelos vários departamentos envolvidos em um produto audiovisual, desde o roteiro até a produção.

É comum que o autor divida suas tarefas relacionadas à escrita da série, no dia a dia, com uma equipe de roteiristas, já que a demanda por roteiros é enorme. Também pode acontecer de um seriado contar com mais de um showrunner, atuando como co-criadores e gestores, principalmente quando a história envolve múltiplas temporadas.

Questões práticas

Para quem deseja ingressar nesse mercado, uma das primeiras perguntas é: quanto ganha um showrunner? Como essa área ainda está em formação no Brasil, o salário pode variar muito, assim como o tempo de duração de cada seriado, já que ambos dependem do projeto. No entanto, é comum que esse profissional esteja envolvido em todas as fases da produção, portanto é um trabalho que exige comprometimento.

É possível ter uma base de valores observando o piso salarial para as funções de roteirista e produtor. Segundo a tabela do Sindcine (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual dos Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Distrito Federal), os preços mínimos de prestação de serviços para telefilmes, séries, minisséries, novelas e conteúdo audiovisual de produção independente são de aproximadamente R$ 33 mil por roteiro para o autor/roteirista e R$ 3,5 mil por semana para o produtor executivo. Vale ressaltar que nem sempre os cachês praticados são compatíveis com esse piso.

Lembrando que os seriados podem se estender por inúmeras temporadas e, consequentemente, ter duração de diversos meses e até anos. Nesse sentido, o trabalho como showrunner acaba se tornando um dos mais estáveis no que diz respeito à questão financeira, dentro da indústria audiovisual.

Como se tornar um showrunner? 

A roteirista Shonda Rhimes conhecida por séries premiadas, como Scandal e How to Get Away with Murder

De acordo com Joana Brea, a melhor forma de ingressar nesse mercado – se você já atua como roteirista ou diretor profissionalmente – é assistindo a muitas séries, para entender o perfil dos canais e das plataformas, observando seu público e criando uma “carteira de projetos” para colocar à venda.

Nessa fase de pesquisa de referências, vale recorrer a consagrados showrunners internacionais, cujos trabalhos carregam a identidade de seus criadores, como Shonda Rhimes (conhecida por séries premiadas, como Scandal e How to Get Away with Murder), Tina Fey (Unbreakable Kimmy Schmidt), D.B. Weiss e David Benioff (Game of Thrones), Ryan Murphy (Glee, American Horror Story), Vince Gilligan (Breaking Bad) e, mais recentemente, Jonathan Nolan e Lisa Joy (Westworld). Um exemplo de showrunners que, pelo enorme sucesso, acabaram migrando para o cinema, foram J.J. Abrams e Damon Lindelof, criadores da série Lost.

No Brasil, a dinâmica estabelecida entre roteiristas, diretores, produtoras e canais ainda é muito diferente do que acontece na indústria norte-americana, por isso está nas mãos dos profissionais do audiovisual trabalharem para que esse cenário se torne cada vez mais aberto a novos formatos.

No campo da formação profissional, há cursos de roteiro, de produção e produção executiva  – como os cursos que constam no catálogo da Academia Internacional de Cinema, que a partir de 2019, também passa a oferecer um curso de formação profissional específica para quem quer trabalhar com criação de séries. Confira mais sobre o curso aqui.

Criação de Séries de TV

Sempre acompanhando as tendências do mercado, a Academia Internacional de Cinema está desenvolvendo um novo curso, com duração de dois semestres, que busca formar profissionais para essa área em ascensão.

O primeiro semestre do curso de Criação de Séries de TV será totalmente focado nas especificações de criar roteiros – algo que já existia na escola, porém em formato mais reduzido. O objetivo é de que o roteirista saia com uma visão completa e aprofundada da criação de um seriado, o que inclui aulas de repertório, de análise fílmica, de teoria e de prática. A partir disso, os futuros profissionais serão capazes de construir uma “bíblia” com referências para seu projeto e escrever um piloto de sua série.

No segundo semestre, o foco será em todo o processo produtivo envolvido na manufatura de um produto audiovisual, ou seja, quais são as escolhas artísticas que o autor precisa fazer durante o desenvolvimento de uma obra. “Assim, os alunos podem incrementar sua ‘bíblia’ com referências e construir uma manancial imagético para o projeto que, idealmente, os ajudará, no final do curso, a ter um material bom o suficiente para levar para o mercado”, conta a professora Joana Brea.

A primeira turma do curso está prevista para 18/03/2019 no Rio de Janeiro e traz profissionais do mercado nacional de séries, entre os nomes já confirmados estão: Andrea Capella, Carolina Durão, Clara Deak, Juliana Capelini, Lyana Peck e Marcelo Andrade.

Texto e Pesquisa: Katia Kreutz. Fotografia destaque: Bel Junqueira. 

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