Academia Internacional de Cinema (AIC)

Alunos da AIC no Festival de Gramado

A Página - Foto: Divulgação

“A PÁGINA” de Guilherme Andrade e “MEMÓRIA DA PEDRA” de Luciana Lemos estão em um dos festivais mais importantes do Brasil.

O dia 07 de julho foi um grande acontecimento para todos que esperavam o resultado dos filmes selecionados para um dos festivais de maior prestígio nacional, o Festival de Cinema de Gramado. Em sua 44º edição, o festival recebeu mais de 500 produções de todo o país, e foram escolhidas somente 14, e os curtas “A Página” e “Memória da Pedra” dos alunos da Academia Internacional de Cinema (AIC), Guilherme de Andrade e Luciana Lemos estavam entre elas. “Recebemos a notícia com muita surpresa, mas acho que o curta tem uma trama forte e um importante tema para ser discutido; uma mensagem a ser transmitida” afirma Guilherme, que apesar de acreditar na trama, não esperava que fosse selecionado para algum festival. “Foram mais de 13 festivais, em 06 países. Produzimos o filme sem muitas pretensões, e quando veio o primeiro festival nos surpreendeu muito. Depois, a surpresa se perde um pouco, apesar da alegria sempre estar lá”.

A Página – Foto: Divulgação

Para Guilherme, Gramado tem um sabor especial, “Já estive lá como público há três anos. Fiquei no último lugar, distante do palco, ainda não sabia nem ligar uma câmera profissional, e a sensação de voltar com um curta dirigido por mim em tão pouco tempo é de muita felicidade e realização. Estou muito feliz que o Festival tenha se aberto aos projetos de diretores iniciantes e espero que o público receba bem nosso curta”.

Já Luciana inscreveu o curta em Gramado, “por ser um festival importante no Brasil, que possibilitaria que o filme fosse visto por muitas pessoas. Ficamos muito felizes com a notícia que havíamos sido selecionados”.

 A PÁGINA

Perguntado sobre como nasceu a ideia do filme, o diretor e roteirista diz que surgiu de uma pesquisa de caso feita no curso Filmworks. “Fomos entrevistar um casal que havia perdido seu filho em um latrocínio, e uma das coisas que mais me marcou foi quando a mãe me disse que a bala perfurou a cabeça de seu filho como um liquidificador e ficou em silêncio, segurando seu choro. Um dia depois, eu procurei a mãe do menor que cometeu esse crime, ela me atendeu, e aos gritos, disse: “me deixem em paz! Vocês, jornalistas, estão causando um inferno na minha vida! Meu filho está estudando, está em paz, me deixa. E desligou o telefone. Fiquei em silêncio, e naquele momento fiquei incomodado internamente, refleti muito sobre tudo que pesquisamos. E aí surgiu o nosso curta, que é sobre o amor de duas mães por seus filhos e mostra a realidade das famílias ligadas por um crime. Uma é a mãe do assassino e a outra a mãe da vítima”.

 DOIS LADOS, UMA MESMA HISTÓRIA

Quando produziu o filme, Guilherme “queria que as pessoas sentissem na pele o drama dessas mães, que estão em lados opostos de uma mesma situação, é um curta sobre sentimento… Eu exponho a fratura da questão, desse drama das personagens, e a partir disso surgem os debates e reflexões, sejam elas internas ou através de um bate-papo entre o público, em um festival, ou após uma exibição. Entender que há outro lado da história, e que ele merece ser visto, é um exercício de maturidade, que tem de ser feito por muitos”.

 A EQUIPE

O filme conta com o trabalho dos alunos José Roberto (Diretor de Produção e Produtor Executivo), Paulo Fischer (Diretor de Fotografia), Gabriel Silvestre (Operador de Som Direto, Mixador de Som e Editor), Ana Piller (Diretora de arte), Jessica Domingues (Assistente de Arte) e o ex-aluno Hugo Farias (Assistente de Direção).

Memória da Pedra – Foto: Divulgação
 MEMÓRIA DA PEDRA

É um curta-metragem documental da diretora Luciana Lemos, gravado em 2014 e a ideia surgiu quando Luciana estava lendo Glauber Rocha, “Cartas ao Mundo”, obra organizada por Ivana Bentes; “No livro, há cartas do tempo em que Glauber estava filmando “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, em Monte Santo, e ele comentava sobre as pessoas da cidade, o estranhamento geral quando eles chegaram, na década de 60, com uma câmera em pleno sertão baiano, para filmar a história de um vaqueiro e um matador de cangaceiro. Em seguida, li “A Primavera do Dragão”, de Nelson Motta, no qual também há relatos sobre a filmagem de “O Dragão da Maldade sobre o Santo Guerreiro” e do “Deus e o Diabo”… passagens sobre a situação da região naquela época, a seca, uma pobreza brutal… Esses dois livros geraram uma imensa curiosidade em mim, que nasci no interior da Bahia, em Ubaitaba, e tenho uma mãe da região do semiárido. O que me levou a pensar sobre qual teria sido o destino daquelas crianças, das pessoas que acompanharam as gravações desses filmes e, principalmente, o que teria sido daquelas duas cidades, passados esses cinquenta anos de história do Brasil, e uma política (neo) desenvolvimentista”.

Com a curiosidade aguçada e muita força de vontade, Luciana formou uma pequena equipe para viajar por Canudos, Jorro, Monte Santo e conhecer mais sobre a passagem de Glauber e outros cineastas do Cinema Novo pelo sertão da Bahia. Para a diretora, “foi incrível conhecer essas cidades, e voltar em algumas que já conhecia, após ler e escutar os relatos que havíamos coletado na pesquisa. Parecia que nada havia mudado; continuavam ali: a fé, a crença na água milagrosa, os sertanejos corajosos… Dessa viagem surgiu o argumento para o documentário”.

 O ENREDO

O enredo do filme é uma volta às cidades de Milagres e Monte Santo, mesmas locações dos filmes O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro e Deus e o Diabo na Terra do Sol, ambos dirigidos por Glauber Rocha, que propõe uma reflexão sobre a passagem do tempo, suas marcas; o sertão de hoje e o sertão mostrado por Glauber. “A história dessas duas cidades como uma espécie de retrato da história do Brasil, dos caminhos do país nesses últimos cinquenta anos” afirma Luciana.

 CURIOSIDADE

Sendo um curta documental, foi filmado com pessoas das cidades. Luciana diz que “foram selecionando os participantes ao longo da pesquisa, e também durante os dias de filmagem… o boca a boca também trouxe muita gente até nós”.

 FICHA TÉCNICA

Com: Zeneide de Santana, Lenita Andrade, Eunice Dias, Everaldo, Adriano (Adril), Salviano da Fonte, Jorge Cintra, Zeilda Cintra, Antônia Silva Santos, Rogenilson Araújo.

Roteiro e Direção: Luciana Lemos

Produção Executiva: Eliana Mendes e Flavia Santana

Direção de Fotografia: Julia Zakia

Montagem: Andre Francioli

Desenho de Som: Napoleão Cunha

Empresa Produtora: Giro Produções Culturais e Caranguejeira Filmes

FESTIVAL
A Página – Foto: Divulgação

Este ano o Festival acontece entre os dias 26 de agosto e 03 de setembro, e assim tem acontecido desde os anos de 1990. Mas suas primeiras edições ocorriam no verão, isso lá pelos anos de 1970. O 1º Festival de Cinema de Gramado aconteceu em 1973 e surgiu devido a um movimento causado pelas entusiasmadas comunidade artística, imprensa e a própria população de Gramado, para que o evento ocorrido nas mostras promovidas durante a Festa das Hortênsias, entre 1969 e 1971 tivesse caráter oficial. Com ajuda da Prefeitura, a Embrafilme, Secretarias de Turismo, de Educação e Cultura do Estado, finalmente o primeiro festival aconteceu entre os dias 10 e 14 de janeiro daquele ano de 1973. E desde então, tem acontecido anualmente. Com um começo marcado pelo sensacionalismo de pessoas que buscavam fama, hoje ele é considerado um dos mais importantes do gênero, por proporcionar um espaço para divulgação, discussão, crítica e incentivo ao cinema nacional.

Prêmio maior do festival, o Kikito, simbolizando o deus do humor, antigamente era o símbolo da cidade, somente mais tarde tornou-se o troféu da competição. Confeccionado pela artista plástica Elizabeth Rosenfeld, possui 33 centímetros de altura e atualmente é fabricado em bronze.

Saiba mais sobre a programação do festival, acessando o link.

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