Academia Internacional de Cinema (AIC)

ABC DOS FESTIVAIS

O professor Michael Wahrmann, que coordena o novo programa AIC NOS FESTIVAIS respondeu algumas perguntas sobre AIC09-02-6335festivais e conta alguns segredinhos para quem está começando. Confira o que está por trás das grandes mostras e festivais.

 

AIC – O que um filme precisa ter para entrar numa mostra ou festival importante?

Michael Wahrmann: Acho que essa é uma pergunta muito complicada, pois tem diferentes tipos de festivais (aproximadamente 3-4 mil festivais de cinema no mundo) e ainda mais, diferentes tipos de filmes. Além disso, cada festival é composto por um grupo de curadores com gosto variado. Do mesmo jeito que pessoas diferentes gostam de diferentes filmes. Cinema não é uma ciência, e não temos como definir objetivamente se um filme é bom ou não. Tudo sempre é discutível e subjetivo. Do mesmo jeito, funcionam os programadores dos festivais. Mas acho que o mais importante é nunca ter medo nem ficar preso ao que dizem os professores e amigos. Ninguém sabe realmente nada sobre esse assunto. Tem filmes que podem ser detonados em uma banca da AIC mas ter o maior sucesso em festivais. E vice versa. Então o mais importante é acreditar no seu filme e não desistir.

AIC – Qual a dinâmica dos maiores festivais?

M.W.: Geralmente um festival importante já funciona como um chamativo para uma serie de convites para outros festivais e pode garantir uma longa carreira de festivais ao filme. Mas muitas vezes, um festival menor, pode funcionar como plataforma para descobrimento de um filme que pode ser convidado para um festival maior. Por exemplo, passar em um festival universitário pode levar a passar em um festival de curtas importante no Brasil, onde tem algum curador internacional que fica de olho no seu filme. E caso não tivesse passado no universitário, talvez ninguém notasse a existência dele. E vice versa, muitas vezes um filme não é selecionado no festival universitário, mas sim em Cannes, e aí tudo muda.

Por exemplo, eu estreei meu primeiro curta “Avós”, no festival de Super 8mm de Curitiba, um festival pequeno e de nicho, onde o curta ganhou vários prêmios. Quando fiz a inscrição do filme no festival de Berlin, ele já chegou como um reconhecimento anterior, que fez os curadores de lá prestarem mais atenção no curta. Em grandes festivais, são milhares de inscrições e a gente precisa de alguma forma tentar se destacar.

AIC – Que dicas sobre festivais você daria?

M.W.: A melhor dica para alunos da Academia Internacional de Cinema é ler o manual de festivais que criamos. É uma apostila muito ampla e didática que explica a melhor forma para se aproximar dos festivais. Como fazer as inscrições certas, como fazer capa, e muito mais.

AIC – Dá pra medir a qualidade de um filme pela quantidade de mostras que ele passou? Ou de prêmios que ganhou?

M.W.: Olha, isso é complicado. Pois além de um filme ser bom ou não, muitas vezes ele precisa de sorte. Pois festivais também tem muito jogo politico. Quem assistiu o curta inscrito? De que humor essa pessoa estava? Já que cinema é tão subjetivo, às vezes você pega alguém na hora errada e o cara nem vê seu filme direito. Outras vezes você se inscreve e o curador, por acaso tem um interesse pessoal com a temática do seu filme. Enfim, nunca se sabe. Pode ter um filme bom, que não teve sorte. Mas de forma geral, é importante vermos os filmes que tiveram reconhecimento em festivais, pensar e discutir sobre eles, pois são eles que mostram uma tendência e descobrimento de novas linguagens.

AIC – Como escolher para que festivais mandar cada filme? Essa seleção se faz apenas pelo tema do filme?

M.W.: Acredito que temos que ter um parâmetro básico para essa questão. Uma espécie de estratégia. Definirmos uma quantidade de festivais ao longo de um ano, nacionais e internacionais e começar a enviar um por um. Se após esse leva, não entrou em nenhum, aí, a vida do filme acaba aí. Se entrou em algum, tem que sentir a recepção do curta no festival e refletir em como prosseguir, se vale a pena tentar ampliar as inscrições. Naturalmente, quanto mais inscrições, mais chances o filme tem de ser selecionado.

A princípio, na AIC, fazemos uma primeira tiragem dos festivais mais importantes no Brasil e fora, que valem ter inscrições dos alunos.

AIC – Existem algumas entidades nacionais que apoiam o envio de filmes para festivais internacionais, como é o caso da ANCINE. O que você acha dessas iniciativas? Existe alguma dica para conseguir esse tipo de apoio?

M.W.: A ideia é que os cineastas, geralmente, não tem a capacidade de representar seus filmes em festivais internacionais. Pois raramente os festivais pagam passagens internacionais e ajudam com os custos. Assim a Ancine – Agencia Nacional de Cinema e o departamento de cinema do MRE – Ministério de Relações Exteriores criaram vários mecanismos de apoio a filmes selecionados em festivais internacionais. Claro que é uma iniciativa muito bem vinda, pois a participação do diretor nos festivais é extremamente importante para criar sua rede de contatos e representar seu filme.

Dessa forma, as duas entidades criaram regras e uma lista de festivais para quais eles prestam apoio. Não existe dica, pois o negocio é bastante objetivo e claro. E no manual da AIC, existe um capitulo detalhando esses assuntos de forma bem clara, com a lista dos festivais que recebem apoio e como fazer o pedido.

AIC – Você poderia citar alguns festivais que estão com as inscrições abertas nos próximos meses?

M.W.: Vale destacar no Brasil os festivais de cinema de Gramado e Brasília, como os mais importantes, que ainda estão com as inscrições abertas. O Festival de curtas de São Paulo (Kinoforum), o mais importante dentro do mercado de curtas, fecha as inscrições agora, dia 31 de maio. Assim como o Curta Cinema, festival de curtas do RJ, que também esta com suas inscrições abertas e é tão importante quanto o de SP. Os dois festivais mais interessantes, jovens e com a mais exigente curadria, são do nordeste, a Janela Internacional de Cinema de Recife (dirigido pelo Kleber Mendonça Filho, dir. Do Som ao Redor) e o Panorama Coisa de Cinema da Bahia em Salvador dirigido por um jovem casal de diretores. Os dois, com um olhar mais aberto e independente, tem vários curadores internacionais entre seus convidados e são uma ótima janela de exibição de curtas, semelhante ao festival de Tiradentes que é no começo do ano que vem. E por ultimo, o FBCU, festival de cinema universitário, que é o melhor lugar para começar exibir seu filme e conhecer gente nova.

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*Foto: Gustavo Lourenço

 

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